Por Lalitha
AVISO IMPORTANTE:
Então,
gente, antes de entrarmos no material relativo ao oitavo capítulo do
livro da Dina, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e
entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e
às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do
trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro
inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo
o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e
de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca
particular.
O
material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por
post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a
apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e
para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa
forma.
8 - Hossam
•
Vídeos?
Em
2002, Dina está em casa, seu marido está no trabalho, quando dizem pra ela que
algo muito ruim aconteceu. Ela ainda não sabe do que se trata, só sabe que é
grave.
"Tem vídeos. Indecentes. Eu estou surpresa, não entendo, procuro saber. Vídeos? Por Allah, vídeos de mim? De quê? Já sei! Alguém deve ter me filmado enquanto eu ia ao banheiro, com certeza. Uma câmera de segurança, ou algo assim. Meu deus, do quê se trata?"
•
O
escândalo
Nos
jornais todas as manchetes só falam do escândalo. O empresário Hossam Aboul
Fatouh foi preso, acusado de lavagem de dinheiro, e quando revistaram o seu
apartamento acharam muitos vídeos. Vídeos de mulheres fazendo sexo com ele. E
Dina estava entre elas.
Dina
foi casada com ele 12 anos antes (1990), mas o casamento foi escondido. E eles
se separaram logo em seguida. Isso foi possível porque no Egito
os casamentos são considerados como contratos privados, podendo ser públicos ou
não. Dina, por exemplo, já foi casada diversas vezes de forma privada. (Você
pode ter uma idéia de como funcionam esses contratos nos livros da Trilogia do Cairo)
•
Fugindo
Dina
não aguenta a pressão da mídia e resolve que vai visitar o irmão, Samir, em
Atlanta. Ela
precisa de um tempo para respirar.
Os jornais
cobrem a sua viagem como se ela estivesse fugindo da polícia e por isso tinha
saído às pressas do Egito.
•
Voltando
para casa
Mas
Dina sabe que precisa voltar e limpar o seu nome, porque sabe que ela não fez
nada de errado. Afinal, ela havia feito sexo com o seu marido, portanto não era
ilegal.
Com
toda a confusão e publicidade negativa, todos os seus amigos somem de uma hora
pra outra. Ninguém quer ficar perto dela ou ser associado com o seu nome. Seu
atual marido pede divórcio sem nem conversar sobre o assunto.
Dina
fica tão nervosa com tudo isso que seus cabelos caem (o que gera mais uma
fofoca, dessa vez de uma doença desconhecida).
•
Entendo
tudo
Quando
ela chega ao aeroporto do Cairo, a polícia está lá esperando por ela, como se
ela fosse uma criminosa, para deleite dos jornais sensacionalistas. Mas ela
sabe que não vão prendê-la, porque Hossam já havia dito que os filmes eram da
época que eles eram casados e confirma o casamento escondido.
Ela sai
do aeroporto e vai direto para a delegacia, onde explicam toda a situação pra
ela. Outras mulheres também foram filmadas por Hossam. Assim como elas, Dina é
uma vítima. E Dina aproveita para prestar queixa contra o ex-marido por tê-la
filmado sem o seu consentimento.
O
desfecho desse processo da Dina contra Hossam é incerto, pois as fontes
(jornais da época e o livro) divergem. Segundo Dina, ela ganhou a ação contra o
marido, e ele teve a pena aumentada por conta do caso, mas os jornais dizem que
Dina desistiu do processo por ter revelado que consentiu a filmagem. Levando em
consideração como é o jornalismo egípcio, é realmente difícil ter certeza de
que o que eles publicam é realmente verdade.
De
qualquer forma, nesse momento o país inteiro só fala disso. Cópias do vídeo da
Dina podem ser encontradas até em bancas de jornal. Mesmo em outros países árabes
o escândalo chega às primeiras páginas.
Dina
se refugia na casa do pai e entra em depressão.
•
Hajj
Sentindo
que só deus pode ajudá-la, Dina resolver fazer o Hajj, a peregrinação a Meca,
que é um dos pilares do islamismo, sendo uma obrigação ou objetivo de vida para
os muçulmanos fazê-la pelo menos uma vez na vida.
Os
jornais deitam e rolam com a notícia, aproveitando para contar de outros
artistas que também fizeram o hajj à toa, porque não mudaram a sua forma de
viver quando voltaram, pois não se arrependeram dos seus pecados (aqui o que
eles referem como pecado é trabalhar como ator/atriz, cantor/cantora e, claro,
bailarina). O governo saudita chega a tentar impedir que ela faça a peregrinação,
não concedendo o visto, mas acaba cedendo em cima da hora. Dina vai a Meca
acompanhada de sua mãe (isso segundo os jornais, ela não menciona esse detalhe
no livro).
"Sobre a minha cama está minha roupa de peregrina. Eu parto essa noite, para a terra santa do islã. Eu vou à Meca.Eu me viro para Allah. O único que sabe o que se passa no meu coração, na minha alma. Aos olhos dos homens e mulheres, eu me sinto nua, suja na minha honra e dignidade.Eu canto os rakaat, as preces, e me entrego a Deus, liberando minha alma dos seus tormentos. Aqui, eu sou uma peregrina entre peregrinos, uma filha do islã como as outras, não sou mais a Dina mas apenas uma muçulmana... Ninguém me olha e ninguém me julga..."
•
Voltando
a vida
Quando
ela retorna da peregrinação, os jornais se enchem novamente de fofocas, como
Dina ainda está deprimida e tem medo de sair em público, é dito que ela passou
a usar véu. Dizem até mesmo que ela abandonou a carreira de bailarina e que vai
passar a receber pessoas em casa para estudar o corão (prática bastante comum
aparentemente).
Dina
passa a ter crises de pânico e não consegue nem mesmo sair para desdizer as
fofocas a seu respeito. Porém, ela ainda possui alguns amigos, como os atores
Ahmed el-Sakka e Samir Sabri, que vão atrás dela e a ajudam a sair de casa, ver
pessoas, e que querem voltar a trabalhar com ela. Uma bailarina que tinha sido
muito famosa, Sahar Hamdi, que parou de dançar para usar o véu, também fica ao
seu lado. (foi ela que Dina foi substituir quando voltou de Dubai, detalhes no
Cap.4 - Se tornando Dina)
Um
dia, um número desconhecido aparece no celular de Dina, e ela não tem coragem
de atender. É uma mulher, que vai até a casa dela e deixa um recado, assinado
Nanou. Ela é empresária, dona de lojas de roupa, famosa entre a alta sociedade cairota.
Dina resolve telefonar pra ela.
"- Dina, eu vou ficar ao seu lado, para te ajudar a atravessar esse momento difícil. Você foi falsamente acusada, foi pega no meio de um escândalo onde você não é responsável por nada. É uma injustiça, e eu detesto injustiças. E depois.... depois, você decidirá se vamos continuar amigas ou não. Mas, por enquanto, deixe-me te ajudar."
Nanou
fica ao lado da Dina, a ajuda a sair de casa, a voltar a frequentar algumas
festas, ver pessoas importantes. Nos jornais, as notícias já estão saindo de
que foi o marido dela que a enganou, que eles eram casados na época da filmagem.
Aos poucos Dina percebe que os olhares direcionados a ela não são mais de
desprezo, mas de pena e de compreensão.
Dina
percebe também que ela foi usada como bode expiatório, nesse momento a sociedade
egípcia está passando por uma onda de denúncias de corrupção, os homens de
dinheiro e o estado estão se misturando demais, e para distrair o povo, os
vídeos encontrados com Hossam foram perfeitos. (lembrem que nessa época Mubarak
ainda estava no poder)
Aos
poucos Dina volta a dançar, mas no início só no exterior. Nanou insiste que ela
volte a se produzir no Egito. Assim, ela toma coragem e cede uma entrevista a
Hala Sarhan, host de um programa de auditório muito famoso.
"Sob a luz escaldante dos projetores, Hala me faz perguntas. E eu conto tudo, como fui enganada por um homem que abusou da minha confiança. Quando as luzes se apagam, eu me sinto como uma casca vazia. Eu dei tudo o que tinha para dar, eu disse tudo, me deixei levar com toda sinceridade."
Nanou
ajuda Dina a abrir uma loja de roupas femininas, e assim ela consegue manter
contato com outras mulheres e perceber mais uma vez que as pessoas olham pra
ela de forma diferente do que antes. Isso inclusive dá origem a mais fofocas no
jornal, de que Dina largou a dança para virar empresária.
•
Sequelas
Mas
esse escândalo afetou também a família de Dina. E seu pai ficou extremamente
abatido com todo o ocorrido. Dina vê que ele vai definhando aos poucos, até que
um dia ele sofre um AVC e morre.
Dina
entra novamente em depressão, e pensa seriamente em se matar.
•
Dando
a volta por cima
"Sinto minhas forças se recuperando. Sei que apesar de tudo, depois de tudo o que passei, depois da minha infância sofrida, depois de toda a concorrência na dança, a morte de Sameh, após a infâmia do escândalo, o que é que pode me destruir? Nada."
Então
ligam para Dina e oferecem a ela um trabalho no Egito. Ela está tão sedenta
para voltar a trabalhar que aceitaria não importando qual fosse, mas é a
televisão do estado que a chama para pegar um papel numa série. Praticamente serviço
público. E ela então sente que as pessoas finalmente entenderam que ela é
inocente, já que até o governo a está chamando para trabalhar. Logo depois ela
volta a entrar em cartaz no Egito.
Aguardem o próximo e último capítulo!
Capítulos anteriores:
Para maiores informações e notícias da época vejam:
Aguardem o próximo e último capítulo!
Capítulos anteriores:
- Prefácio
- Antes de começarmos - linha do tempo
- Capítulo 1 - Raqs Sharki
- Capítulo 2 - Mamãe
- Capítulo 3 - Aprendizado
- Capítulo 4 - Se tornando Dina - parte I
- Capítulo 4 - Se tornando Dina - parte II
- Capítulo 5 - A última bailarina do Egito
- Capítulo 6 - Sameh
- Capítulo 7 - Liberdade
Para maiores informações e notícias da época vejam:
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