terça-feira, 27 de março de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 4 - Se tornando Dina - Parte II


Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao quarto capítulo do livro da Dina. Eu considero o quarto capítulo o mais importante do livro, pois trata da essência da Dina como bailarina e do porque dela ser tão controversa, portanto é o capítulo mais longo dentre os posts. Por conta disso vou dividí-lo em duas partes, para que fique menos cansativo. Além disso, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro ou de outras fontes (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.

4. Se tornando Dina

          Preconceitos




Por levar uma vida dupla, Dina sofre com preconceito dos dois lados. As outras bailarinas a criticam, tanto a sua forma de dançar, como a sua roupa, e também o fato dela estar na faculdade. Ei, intelectualóide, volte pra casa para fazer seus deveres de casa ao invés de brincar de ser bailarina.

E ela sofre também do outro lado. Um dia ela é chamada na administração da faculdade, e lhe dizem que ela deixa ou outros alunos sem graça por conta do seu carrão. Ela sabe que não são os seus colegas de turma que se sentem mal, e sim os professores, que não conseguem aceitar uma bailarina na sua turma, ainda mais uma com um mercedes.


          Revolucionando a moda

Para “piorar” a situação, Dina resolveu revolucionar o traje tradicional da dança do ventre. Dina faz as suas primeiras roupas com a famosa costureira Hagga Abla.

"Eu mostro para ela o que eu quero. Nada de lantejoulas. Tenho horror a isso. Ela torce o nariz, morde os lábios,objeta. Mas eu teimo e consigo o que quero. 20 anos depois quando lembro nessa época, não consigo deixar de rir da cara escandalizada das pessoas diante das minhas roupas pouco tradicionais! Apesar da sua resistência, em poucos meses Hagga Abla começa a copiar meus modelos originais para outras bailarinas."


A coisa mais controversa em Dina certamente é o seu guarda-roupa. Ela sabe que a roupa é importante para valorizar os movimentos, mas ela também sabe que precisa ser diferente e resolve revolucionar o "uniforme" da dança. Vivendo sempre entre pessoas muito criativas, que a ajudaram diversas vezes a improvisar novas roupas, e sendo fã da alta costura, especialmente a italiana, Dina quebra barreiras. 

   
Agora uma pequena demonstração da mudança da Dina ao longo dos anos...


Vamos começar com um vídeo, o único que encontrei onde ela aparece com um traje "normal" de dança do ventre:



E logo depois ela começa a sua "revolução":

Aqui ela ainda está bem "normal"

Uma das primeiras mudanças dramáticas que ela faz é no comprimento da saia:
Dina na Gilded Serpent, em 1993. Note que ela está de salto, como ela costumava começar suas apresentações, e depois tirava chutando-os perto da osquestra.

Outra foto da mesma Gilded Serpent, de 1993, mais uma roupa de saia curta no mesmo show.
Aqui uma das suas criações mais famosas e comentadas:

Dina em 1994 com sua famosa roupa de alfinetes baseada na alta costura italiana. Foto de 1994 - The Best of Habibi

Essa você pode ver em ação nesse vídeo:



Mas ela também usou na mesma época  figurinos mais "normais":

Se você ignorar a transparência é uma roupa bastante comum. Foto de 1994 - The Best of Habibi
Essa é realmente tradicional! Foto de 1994 - The Best of Habibi

Mas ela realmente é ousada nas suas roupas:

Essa ela usou no seu primeiro show nos EUA em 2003. Deixou as americanas chocadas.

Quando ela voltou a Dallas em 2004 ela pegou bem mais leve:




Essa, inclusive, é uma raridade, pois esconde a barriga!
Vale notar que apesar da sua criticada ousadia, Dina realmente revolucionou a moda na dança do ventre, ao introduzir novos tecidos e um estilo novo, de roupas mais justas e sem paetês ou franjas, que é usado por todas as bailarinas hoje em dia.

Mas às vezes, ela exagera na criativade....

Outra roupa famosa, a da guerreira! Que, bom... melhor não dizer nada, apenas que ela usou essa roupa quando veio ao Brasil. Foto de 2005
Essa é uma das roupas da fase "calcinha de fora", mais abaixo veremos mais sobre essa moda que Dina inventou. Foto de 2005

Mais uma mini saia... com uma transparência por cima. Por incrível que pareça essa roupa provavelmente passaria pela regulamentação egípcia. Foto de 2008 da Gilded Serpent
Outra moda que ela inventou foi das roupas baseadas em ternos masculinos:

Saca as gravatinhas? Pois é. Foto de 2008 da Gilded Serpent.
E agora, para colocar uma cerejinha... a mistura do terno com a calcinha de fora!

Roupa "lindja" que ela usou num show na Embaixada Francesa no Cairo em 2009. Foi um bafafá!
Essa roupa em particular foi parar nos jornais árabes da internet, dizendo o seguinte:


Fonte: WALEG
"O que você acha da bailarina egípcia Dina? Ela é uma bailarina de classe ou uma sedutora? Ou talvez você a ache vulgar e barata?

Bom, não importa o que você acha, nós temos fotos que vão fazer você ficar chocado.

Dina, que ficou conhecida pela sua coragem nas suas roupas de dança e por suas constantes mudanças de estilo, tomou o inesperado passo de quase se despir numa festa para diplomatas na embaixada francesa do Cairo.

Você vai entender porque usamos a palavra se despir quando vir as fotos."

A cara do francês babão é impagável!

Pelo menos a galera parece estar se divertindo...

Apesar de não mostrar a sua calcinha de verdade (gente a tal "calcinha" quase cobre o umbigo dela!!) nem de não mostrar nada demais comparado às outras roupas que ela já usou, essa aí foi massacrada pelo jornal.
 "Dina, que fez um excelente trabalho entretendo os diplomatas, vestiu uma roupa preta, inspirada num smoking, que ela alterou para incluir alguns toques femininos... na sua quase inexistente saia, que tinha a cintura baixa, deixando a mostra a sua lingerie, uma calcinha preta, que aparecia de forma a arregalar os olhos e fazia parte da diversão!"

Você pode conferir uma dessas roupas da "fase calcinha" aqui:



Mas a Dina também acerta:

Gente, essa roupa imitando renda é linda!!! Foto de 2008 da Gilded Serpent
Dina no Ahlam Wa Sahlam de 2009
Acertando ou não, mais ou menos ousada, é inegável que Dina mudou o figurino da dança! E gostando ou não, todos sempre pagaram para ver suas novas modas.

Aguardem o próximo capítulo! 

Capítulos anteriores:

sexta-feira, 23 de março de 2012

Kisses from Kairo - Drama da Deportação da Dança


Segunda-feira, 6 de junho, 2011
Drama da Deportação da Dança
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Meu problema com a "Polícia da Dança do Ventre" egípcia


Na hora não foi engraçado, mas agora quando penso no dia em que quase fui deportada eu dou gargalhada. Quer dizer, quem iria pensar que dançar dança do ventre num cruzeiro no Nilo poderia te levar à cadeia e te fazer ser expulsa do Egito? Será que as autoridades egípcias não têm nada melhor para fazer do que prender bailarinas estrangeiras?

Aconteceu assim. Depois de fazer o teste para o Nile Memphis em agosto do ano passado, o gerente me colocou para dançar todas as noites. Às vezes eu me apresentava duas vezes, às vezes seis, dependendo de como estava a lotação do barco. Depois de dois meses de trabalho contínuo, as bailarinas egípcias que costumavam dançar ali antes de mim, começaram a se ressentir do fato de que agora elas só eram chamadas para trabalhar duas vezes por semana - nas minhas folgas. Ao invés de irem até o navio para verificarem a concorrência e entenderem porque eu praticamente as tinha substituído, elas tentaram acabar com a minha carreira de dança no Egito. Elas achavam que poderiam recuperar a posição delas se eu fosse embora. Então, elas chamaram a "polícia da dança do ventre" e disseram a eles que eu estava dançando ilegalmente, sem meu visto de trabalho.

Apesar de eu já ter sido contratada no Semiramis dois meses antes, minha permissão para trabalhar tinha sido cancelada por conta de um problema que envolvia eu não ter "cedido" para o gerente. Mas mesmo que ela ainda estivesse válida, ainda assim seria ilegal eu dançar diariamente em qualquer lugar que não fosse o Semiramis.

Então, quando eu saí do palco numa noite de quinta-feira e fui me trocar e colocar minha roupa de Saidi, encontrei dois policiais da dança do ventre me esperando no meu camarim. Eles foram extremamente hostis, me tratando como se eu tivesse cometido uma atrocidade. Eles me impediam o tempo todo de tirar a minha roupa de dança e vestir minhas roupas normais. Eu não entendi na hora, mas eles queriam me levar para a delegacia vestida com o meu figurino para provar que eu ainda por cima tinha infringido mais uma lei - a que requer que as bailarinas cubram completamente o ventre com um tecido. Qualquer tipo de tecido, mesmo que seja transparente (é assim que as autoridades egípcias enganam a si mesmas, pensando que assim eles cumprem os valores islâmicos de modéstia feminina). E lá estava eu, de pé, vestindo a roupa de dança do ventre MAIS SEXY do planeta! Não estava com a barriga a mostra, como também tinha todo tipo fenda do estilo stripper na parte mais alta da saia.

Então, lá estava eu, culpada de dois crimes: dançar sem permissão, e sem cobrir a barriga. Pela primeira vez em muito tempo eu fiquei sem saber o que fazer. E então o meu agente entrou voando pela sala, de punhos erguidos, pronto para nocautear a polícia da dança do ventre para me proteger. Essa não, eu pensei. Isso só está piorando. Eu gritei para o meu agente para que ele não batesse nos policiais, que isso só o levaria para a cadeia junto comigo. Meu agente, então, me mandou ir para o banheiro trocar de roupa. Obedeci imediatamente, mesmo que a polícia tenha me dito o contrário. Assim que terminei de me trocar, meu agente me mandou colocar o figurino num saco de lixo e jogar no Nilo!

"Espera, O QUÊ?!?" Eu berrei. "Jogar meu figurino no Nilo? Mas pra quê?" "Assim eles não vão poder levá-lo para provar que o figurino não cobre a barriga", ele respondeu. "Mas isso é ilegal", eu respondi. "É como se estivéssemos alterando provas!" "E daí?", ele disse, "Nesse caso eles terão de provar que além de estar vestindo esse figurino, que você o jogou no Nilo. Eles não conseguirão fazer isso. Será a palavra deles contra a sua."

Para a minha sorte, as coisas não evoluíram para chegar nesse ponto, e eu consegui ficar com o meu figurino. Porque enquanto eu trocava de roupa, o gerente do barco acalmou os policiais e os convenceu a não me prender nem me deportar. Mas foi por pouco. A parte engraçada de toda essa confusão é que os policiais admitiram que viram a primeira parte do meu show e ficaram muito impressionados com a minha dança. Eles até disseram para o meu agente que eu danço melhor do que as egípcias. "Eu sei", ele respondeu. "É por isso que nós a contratamos esse tempo todo! E ela ainda chega no trabalho na hora e não dá dor de cabeça!"

Os policiais se desculparam por todo o drama causado e prometeram que não iriam me dedurar. Mas eles fizeram um pedido, em troca. Eu devia aparecer na segunda de manhã cedinho para ganhar uma aula sobre o erro de dançar dança do ventre sem permissão. Claro que fiquei sentada engolindo aquilo tudo, mas pensando em todos os problemas que afetam o Egito - problemas que muito mais dignos de atenção do governo do que minha dança do ventre irregular. Mais isso iria requerer que o governo egípcio acertasse as suas prioridades.

De qualquer forma... MAIS UMA experiência na longa lista de histórias que aconteceram comigo no Cairo. :)

terça-feira, 20 de março de 2012

Violência contra a mulher no Oriente Médio

Imagem de Habibi de Craig Thompson

Semana passada eu li um post de um historiador americano especializado no Oriente Médio, o Juan Cole, que fala de uma tentativa de se passar uma nova lei no Líbano que seria parecida com a nossa Maria da Penha. Essa lei permitiria que mulheres libanesas entrassem na justiça contra os maridos por conta de abusos, tanto por violência física, quanto por abusos verbais e por estupro marital (gente, me assusta saber que isso existe, até mesmo aqui no Brasil).

A lei está barrada no senado do Líbano por conta das bancadas religiosas. A desculpa? Vai confundir a definição de família no Líbano, diminuindo o poder que o homem tem dentro de casa e como chefe de família. É sério isso.

Agora alguns números "legais" sobre o mundo árabe:

Num estudo de 2002 com 1418 mulheres, 35% relataram já ter passado por alguma experiência de violência doméstica. Dentre elas, 88% sofreram abuso verbal, 66% violência física, e 57% relataram sua experiência para alguém, família, amigos ou autoridades, e seus pedidos de ajuda foram em vão.

Segundo a UNICEF, no Egito, 35% das mulheres são espancadas pelo marido pelo menos uma vez durante a duração do relacionamento, e em Israel (sim, Israel), 32% das mulheres já relatou pelo menos um caso de violência causada pelos parceiros.

Página de Habibi, de Craig Thompson: "Houve um tempo em que eu usava o meu corpo para me beneficiar - mas mesmo então ele não me pertencia - em vez disso, ele era possuído pelos desejos dos homens"


E agora outros números, do mundo, tirados daqui:

“Mais de um milhão de mulheres são vítimas de violência. E essa é a maior causa de invalidez feminina entre 16 e 44 anos e mais de dez mulheres morrem por dia no país em decorrência da violência doméstica. Enquanto você lê este texto, a casa 15 segundos, uma mulher é agredida e os agressores são 70% seus namorados, maridos, companheiros ou ex-companheiros.” (FATOR, 2012)

"Em algum momento de suas vidas, metade das latino-americanas é vítima de alguma violência." (Fonte: Unifem, 1999)

"De acordo com a Organização de Saúde, de 85 a 115 milhões de meninas e mulheres são submetidas a alguma forma de mutilação genital por ano, em várias partes do mundo." (ONU, 1999)

"Estima-se que pelo menos uma vez ao ano, 50% das mulheres árabes casadas são espancadas por seus maridos e 25%, uma vez a cada seis meses." (Control Ciudadano, Instituto Del Tercer Mundo, 1999)

"Em 1993 o Banco Mundial diagnosticou que a pratica de estupro e de violência doméstica são causas significativas de incapacidade e morte de mulheres na idade produtiva, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento." (CMI 2004)

"No Brasil a cada 4 (quatro) minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar, por uma pessoa com quem mantém uma relação de afeto." (CMI 2004)


"O Banco Mundial estima que uma em cinco mulheres no mundo já foram atacadas física ou sexualmente." (CMI 2004)

Acho importante a gente falar sobre isso quando se fala de dança do ventre, cultura árabe e feminino. Acho que devemos difundir a cultura, mas devemos estar sempre alertas para o lado negativo de cada sociedade (inclusive a nossa, viu?) e termos cuidado com os valores que passamos e usamos no dia a dia. A dança do ventre traz uma valorização da mulher, com uma definição de feminino na maior parte das vezes delicado, mas isso jamais deve ser usado como justificativa para torná-la inferior ao homem.

Nada justifica a violência física, ainda mais numa relação amorosa, seja ela tradicional ou não. E isso eu acho importante ressaltar, porque a dança do ventre é uma arte não-violenta, que celebra especialmente a vida. E como ela trabalha a nossa auto-estima, acho importante que seja disseminada entre as mulheres, porque quanto maior a nossa auto-estima, maior será a nossa indignação perante esses números e maior a nossa força para resistir e lutar contra esses abusos, estamos nós mesmas vivenciando-os ou não.

Caso vocês queiram saber mais sobre essa lei no Líbano, dêem uma olhada no blog do Juan Cole, aqui, em inglês.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Kisses from Kairo - "Les danseuses du Caire" - As bailarinas de dança do ventre do Cairo



Ufa!!!! Finalmente consegui terminar essa tradução! O vídeo no final me tomou muuuuuuuuito tempo... espero que vocês gostem :-) Perdoem a tradução dos nomes, é complicado tirar de ouvido e colocar na grafia correta (eu chutei descaradamente hahaha)... espero que dê, pelo menos, para entender rsrsrs


Domingo, 5 de junho, 2011
"Les danseuses du Caire" - As bailarinas de dança do ventre do Cairo
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Documentário sobre o mundo da Dança do Ventre do Cairo do canal francês de TV TF1


Alguns meses atrás, eu tive o privilégio de ser filmada para um documentário francês sobre a dança do ventre no Cairo. Três jornalistas franceses do TF1 passaram um dia inteiro me seguindo, desde o minuto em que acordei (literalmente), até o minuto em que terminei a minha última apresentação no Nile Memphis. O objetivo deles era documentar um dia típico na vida de uma bailarina de dança do ventre do Cairo. Eles também seguiram a bailarina brasileira Soraya Zayed, uma bailarina egípcia de estilo cabaré, e a famosa estilista Sahar Okasha.

A experiência de ser seguida foi muito divertida e cheia de gargalhadas do início ao fim. Eu agradeço à bailarina francesa Maya Sarsa do Cairo por me recomendar para esse projeto.
http://www.youtube.com/user/mayasarsa

Os jornalistas logo descobriram que a minha vida como bailarina de dança do ventre no Cairo é emocionante, engraçada e frustrante ao mesmo tempo. Ver a reação deles conforme eu fui contando como eu tinha sido expulsa do meu apartamento por ser bailarina, despedida do Semiramis porque não dormi com o gerente, e quase ser deportada por dançar sem ter os papéis de permissão, não teve preço. E era exatamente esse tipo de coisa que eles queriam ouvir.

Depois de me entrevistar sobre minhas experiências no Cairo, os jornalistas me filmaram montando uma coreografia no meu apartamento. Então eles me filmaram me arrumando para o meu show, e me acompanharam no Nile Memphis para filmar o meu show. Eles acharam especialmente engraçado a forma como eu embrulho a minha bengala de lantejoulas de Said num saco de lixo preto para escondê-la das pessoas no caminho para o trabalho.

A segunda parte desse documentário fala dos desafios diários enfrentados pelas típicas bailarinas egípcias de estilo cabaré. Similarmente ao que fizeram comigo, os jornalistas seguiram uma bailarina de dança do ventre egípcia, indo com ela até em casa, ao salão de beleza, e às suas performances. Eles conseguiram transmitir direitinho as dificuldades que essa bailarina tem, escondendo a sua dança de membros da família, vizinhos e amigos.

E por último, mas não menos importante, os jornalistas passaram um dia com a famosa bailarina de dança do ventre brasileira Soraya Zayed e com a estilista Sahar Okasha, que explicou perfeitamente os rígidos regulamentos que regem o figurino da dança do ventre. Também tem uma parte em que os jornalistas entrevistam um membro da Irmandade Muçulmana sobre o seu ponto de vista sobre a dança do ventre - pontos de vista que são típicos e, bem, já esperados.

O resultado desse interessante experimento é esse fantástico documentário chamado Les danseuses du Caire, ou As bailarinas de Dança do Ventre do Cairo. O trabalho espetacular dos jornalistas e o seu  interesse genuíno pelo mundo da dança do ventre do Cairo são de tirar o chapéu. :) Espero que vocês gostem de assistir!



Apresentador - A sua profissão remonta à época dos faraós. as bailarinas de dança do ventre do Cairo e sua sensualidade, apreciadas pelos turistas, estão hoje ameaçadas de desaparecer. A islamização da sociedade egípcia as tornou párias. Vejam na reportagem de Stéphanie D'avoigneux e Carole Drecaux.

Narradora - O Cairo nunca dorme, no rio Nilo não Bateux Mouches (N.T.:barcos grandes típicos do rio Sena  em Paris), mas sim barcos-cabaré.

Narradora - Turistas do mundo inteiro se abarrotam para ver o folclore local. Tem o derviche rodopiante e seus 50 giros e, claro, a inevitável dança do ventre.

Narradora - Luna (N.T.: a reportagem afrancesou o nome da Luna, chamando-a de Diana) toma posse da pista, vestida com a roupa tradicional de 2 peças com patês, seus movimentos incluem arabesques e gestos impulsionados.

Narradora - A dança do ventre é uma das mais antigas do mundo, e uma das mais sensuais também. O público é conquistado.

Turista (mulher) - É obrigatório assistir a dança do ventre quando se vai ao Egito, é como as pirâmides.

Turista (homem) - Eu não posso ver tanto quanto eu gostaria.

Repórter - Por que?

Turista (homem) - Por causa da minha esposa.

Narradora - A bailarina Luna é americana, ela fez todo um caminho para viver e aprender a dançar no Egito, onde, há mais de 5 milhões de anos, nasceu a dança do ventre. Ela levou 5 anos para dominar esses movimentos.

Repórter - É difícil fazer isso?

Luna - Depois de muito treino não é mais tão difícil, mas no início... é preciso tempo para se acostumar. E aqui outro movimento, a gente inspira, prende, e contrai os músculos.

Narradora - Uma prática ancestral que, no entanto, está desaparecendo. Luna é uma das últimas bailarinas de verdade do Cairo.

Narradora - Nos anos 50, a dança do ventre egípcia ainda era aclamada no mundo inteiro.

Narrador antigo - E a adorável bailarina Samia Gamal fez um sucesso triunfal no palco do Teatro Municipal.

Narradora - As bailarinas são estrelas que se apresentam para a alta sociedade árabe. Com orquestra em trajes formais, a dança oriental é considerada uma arte superior.

Narradora -Nós esquecemos, mas na época, nas ruas do Cairo, as jovens andavam de saias curtas e de cabelos soltos.

Narradora - 50 anos mais tarde, as coisas mudaram muito. Quase todas as mulheres estão de vestidos e roupas longas, que escondem os cabelos, pernas e braços. Então, evidentemente, que essas bailarinas que mostram o seu ventre se tornaram párias, mulheres do pecado.

Narradora -No seu apartamento no Cairo, Luna, a artista americana, repete sua última coreografia. Ela fez mais de 10 anos de balé clássico, vir ao Egito era o seu sonho, mas a realidade a deixou encurralada. Por medo de represálias, ela esconde de todo o mundo que é bailarina.

Narradora -Quando ela se prepara para sair para trabalhar, ela tem medo que a sua maquiagem a denuncie para os vizinhos.

Luna - Para eles uma bailarina é uma mulher de má reputação, uma prostituta. Eles podem passar a informação para o proprietário e é muito ruim para a reputação dele se os vizinhos souberem que eu sou bailarina. Então isso me trará problemas. Eu prefiro evitar. É melhor para mim ser discreta e não falar nada com ninguém sobre o que eu faço.

Narradora - Luna sabe do que está falando, o proprietário do seu apartamento anterior a expulsou depois de descobrir, por acaso, que ela é bailarina. Desde então ela dobrou as precauções.

Luna - Todo o mundo sabe que é um acessório de bailarina, e como eu não quero que ninguém saiba a minha profissão, eu a escondo. Claro que não é nada elegante, é apenas um saco de lixo.

Narradora - Luna aceita, então, viver a sua paixão na clandestinidade. E no Egito, essa vida de bailarina não é desejada por ninguém.

Narradora - Essas mulheres estão na mira de muitos religiosos e políticos, como Moussa Rahdi, deputado da assembléia egípcia e membro do partido Irmandade Muçulmana, ele prega o Islã radical e quer a proibição total da dança do ventre.

Deputado - Quando uma menina tem a sua menarca e se torna uma mulher, é totalmente inaceitável que ela exerça a profissão de bailarina de dança do ventre, porque essa atividade estimula os mais baixos instintos sexuais. Ela não está de acordo com a verdadeira natureza da mulher.

Narradora -Nesse bairro popular, entretanto, há um lugar com os vidros pintados onde podemos encontrar bailarinas. Um salão de beleza onde se aceitam aquelas com a profissão mais vergonhosa do Egito. Aifa é bailarina há 2 anos. Aqui ela é arrumada e maquiada sem precisar se esconder.

Aifa - Todas as pessoas que trabalham aqui vem do meio artístico, então ninguém nos olha torto. Entre nós, bailarinas, nos sentimos protegidas.

Narradora -E agora chega Assaleya, uma amiga de Aifa. E é preciso acreditar que o hábito não faz o monge, porque ela também é bailarina. Seus pais não sabem disso. Quando ela sai de casa, ela veste a abaya, um vestido preto que só deixa de fora as mãos e o rosto. Assim que a noite cai, ela muda de identidade.

Repórter - O que o seu pai faria se soubesse o que você faz?

Assaleya - Ele me bateria.

Maquiadora - Ele a mataria.

Narradora - É sempre a mesma história, uma vida dupla, com a vergonha no cotidiano. Entretanto, Aifa defende a sua profissão.

Aifa - É verdade que muita gente acha que dançar é tão grave quanto se prostituir. Mas eu acho que nós somos artistas, e é por isso que mostramos o nosso corpo. Tem mulheres que usam o véu e a abaya e que fazem coisas muito piores sem que ninguém saiba.

Narradora - Depois de 2 horas de preparação, Aifa está linda para ir dançar. E ela se põe a caminho de um casamento popular. A presença de seguranças é indispensável, porque a chegada de uma mulher com os braços a mostra e cabelos soltos é um risco de confusão para a festa.

Narradora - A festa acontece no meio da rua, entre os prédios, com mais de 300 convidados e música ensurdecedora. Aifa está pronta para dançar. Para ter o direito de filma-la tivemos que pagar 100 euros para o seu agente. Diante dela, o público. Homens, sobretudo composto de homens. Algumas mulheres estão num canto, todas usam véu. Portanto, Aifa é a única com tão pouca roupa.

Narradora - Mas nem todos os homens são tão entusiastas. Alguns não apreciam nem um pouco o espetáculo de Aifa.

Homem jovem - Quando eu me casar não vai ter de jeito nenhum uma bailarina de dança do ventre. Eu não gosto delas.

Homem mais velho - Eu acho isso indecente, uma mulher que se insinua desse jeito.

Repórter - O que você quer dizer?

Homem mais velho - Uma mulher que dança, que mostra o seu corpo.

Repórter - É uma mulher de baixa categoria?

Homem mais velho - De muito baixa categoria.

Narradora - Para ir para o camarim é preciso que Aifa se cubra com um vestido preto, a abaya, e no caminho um homem a trata como prostituta. A qualquer momento a situação pode sair do controle. Os guarda-costas afastam Aifa da multidão e minimizam o incidente.

Segurança - Podem ir, já acabou. Não aconteceu nada, tá tudo bem.

Narradora - Mesmo que ela ame dançar, Aifa já decidiu: ela vai parar em dois anos, no máximo.

Aifa - Acabei de ter uma filha, daqui há 2 anos ela será capaz de entender o que eu faço, e isso eu não quero. Não quero que ninguém possa dizer a ela "sua mãe é uma bailarina", porque isso é um insulto.

Narradora - Aifa mora num bairro pobre do Cairo. E aqui está a sua filhinha de 3 meses, é por ela que ela quer parar de trabalhar. Junto com o seu agente, que também é seu marido, ela mostra os seus figurinos.

Marido/agente - Pegue o rosa e o verde, pegue os dois.

Narradora - A ironia? É proibido uma bailarina de dança do ventre mostrar o ventre.

Marido/agente - Ela não tem o direito de trabalhar sem esse tecido fino cobrindo o ventre. Existe uma regulamentação e nós devemos respeitar a lei.

Repórter - E o que acontece se não tiver esse tecido fino?

Marido/agente - Ela pode ser inspecionada pela polícia, e se ela não estiver com o figurino regulamentado, ela será levada à delegacia. Ela será multada e poderá até mesmo ser presa.

Narradora - Bailarina: uma profissão de risco. E para Aifa ainda tem mais pressão: seus pais, que moram no mesmo prédio. Toda noite ela deixa sua filha com a sua mãe.

Aifa - Te trouxe o meu tesouro. Já a troquei, ela está limpinha. Vou pegar algumas roupas.

Narradora - Nós queremos perguntar a sua mãe o que ela acha da profissão da filha, mas cometemos uma gafe.

Repórter - O que você acha do fato de Aifa ser bailarina?

Mãe - (sussurando) O pai dela...

Repórter - O pai dela?

Narradora - Num canto da sala está o pai de Aifa. Dissemos a ela que sua filha é garçonete, certamente não é bailarina. Para falar conosco, a mãe é obrigada a se isolar na cozinha.

Mãe - É uma vergonha estar nesse meio. É ruim ser bailarina, ninguém fala disso. Seu pai e seu irmão jamais permitiriam algo assim. Claro que eu sei que é contra a lei de Deus, mas nós somos pobres, não temos escolha. Meu marido está doente e temos um bebê.

Narradora - É o salário de Aifa que sustenta a família, entre o segredo e a vergonha.

Narradora - As únicas que escapam um pouco dessa pressão são as estrelas. De salto alto, jeans e óculos escuros, Soraya é uma das últimas estrelas da dança do ventre. Nesse bairro chique ela tem hora marcada com a sua figurinista particular.

Estilista - Você está se mexendo bem nela? Tem alguma coisa incomodando?

Soraya - Não, está ótimo.

Estilista - Está confortável? Está frouxa o suficiente?

Narradora - No seu trabalho, Sahara, a costureira, vê tolhida a sua liberdade, mas com Soraya ela decidiu resistir à lei que tenta cobrir o corpo das bailarinas, com um gesto de provocação.

Sahara - Olhe bem, ela está coberta mas ao mesmo tempo não está coberta. Com esses fios se esconde o umbigo, estamos respeitando a lei. É parecido com a saia, ela cobre o alto das pernas, mas como nada proíbe, fiz aberturas na lateral. É sexy e ao mesmo tempo dentro da lei.

Soraya - De qualquer forma a polícia e o governo não me enchem muito o saco, porque eles sabem que sou conhecida. As pessoas conhecem a Soraya e sabem que tenho uma boa reputação. Não me aproximo demais dos espectadores e não tenho nenhuma "história" com eles.

Narradora - Essa noite Soraya vai se apresentar nesse hotel 5 estrelas para um público árabe e rico. O dinheiro às vezes permite comprar um pouco de liberdade e se desvencilhar da censura. Ela tem o seu próprio camarim e a sua própria camareira. O espetáculo que ela vai apresentar é de gala, com roupas que podem custar mais de 1000 euros.

Soraya - Quem não quiser ver, não vê, ninguém é obrigado a assistir. Mas eu acho que, no Egito, enquanto houver as pirâmides haverá dança do ventre.

Narradora -No salão tem egípcios, mas tem sobretudo libaneses e sauditas, que às vezes se locomovem só para vê-la. Numa apresentação privada ela pode ganhar 1000 euros para apenas uma dança. Soraya acredita que enquanto houver clientes dispostos a pagar para vê-la requebrar, a dança do ventre não morrerá.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Notícia de última hora: Lulu Sabongi agora é Lulu from Brazil - since 1983


Gente! Fiquei chocada! Sabia que ele era uma pessoa, bom... com uma índole estranha... mas daí a entrar com processo para a Lulu MUDAR DE NOME ARTÍSTICO? Foi demais para a minha cabeça... mas enfim... segue reproduzido o post do blog da própria Lulu, original aqui.

Uma mulher, muitos nomes, apenas uma estória!



Uma pessoa, muitos nomes mas apenas uma estória!

Eu nasci, 26 de setembro de 1966, e ganhei um nome que já vinha errado por conta das repartições públicas brasileiras.

O que era para ser Luciana Uzunov, se transformou num cartório em São Paulo, Luciana Uzunof, o que me rendeu por anos e anos, na escola o apelido de um prato bem gostoso.
 Lá era eu, chamada de Strogonof.
Muitos anos se passaram, e com 17 anos, conheci alguém que estaria em minha vida, pelo resto dos meus dias. Meu primeiro marido, adicionou ao meu nome mais dois nomes, um de origem espanhola, e outro de origem árabe. Lá fui eu me transformar em Luciana Uzunof Sabongi de Mello.
Conheci a dança e ganhei mais um nome, que era tão difícil de falar e duplicar, que acabou virando pedrinha de esquecimento. Mas apenas para os registros, meu primeiro nome artístico foi Nejme et Leil – significado em árabe – estrela da Noite. Bonito né? Pena que as pessoas confundiam tudo e transformavam o mesmo em diversas outras versões, o que obrigou a abandonar esta primeira tentativa de um nome para dança.
Tive um apelido pequena ainda, que me desgostava muitíssimo. Foi dado por uma amiga de minha mãe, chamada Penha, e seria muitos anos mais tarde, meu nome definitivo. Era pequeninha – o que aliás nunca deixei de ser – e recebi o apelido de Lulú. Eu não gostava de jeito nenhum, a Penha me chamava, e eu dizia: Mas Penha, Lulú é nome de cachorro, olha aí, vem Lulú, vem!
Abandonei o nome ainda criança.
A dança me raptou e aos 18 anos me casei com meu sócio, então o mais simples era encontrar um outro nome que ficasse guardado na mente das pessoas, e que as ligasse a minha nova atividade artística como bailarina.
Aí Eureka, descobri que Lulú sem o acento, era Lulu, e que Lulu significava pérola em árabe....eu já tinha um nome desde um aninho de idade!!! Tirei o acento e virou Lulu....
Agora nada mais justo, era sócia de meu marido, e tinha em meu nome oficial um nome árabe, que se transformou na segunda parte de meu nome artístico.
Lulu Sabongi foi então o 4º nome que ganhei nesta vida.
1.    Luciana Uzunof
2.    Luciana Uzunof Sabongi de Mello
3.    Nejme el Leil
4.    Lulu Sabongi
O tempo passou e com este nome eu viajei o mundo, até o presente momento, cumpri minha meta de 29 países, um para cada ano de carreira, que fará aniversário de 29 anos em Dezembro deste ano.
O nome Lulu Sabongi passou a ser minha marca artística, mas a vida muda, e com ela como os rios, tudo segue seu curso.
Em 2005 , minha primeira parceria de vida, completou 21 anos e também se encerrou. Meu divórcio, e a posterior divisão das empresas que dividia com meu ex marido apresentou uma nova estrada a minha frente. Deixamos de ser parceiros, e dividimos as empresas que antes eram compartilhadas de forma igualitária, em duas empresas independentes.
A ideia era de que cada um seguisse seu caminho, ele com o entretenimento e a dança, e eu com o ensino.
As coisas não aconteceram bem assim, mas não vem mais ao caso.
A vida me preparava novas surpresas e me daria outros presentes.
Em 2007 , ganhei um novo nome e um novo amor,e em 2008 veio meu 5º nome, Luciana Uzunof Hartenbach, agora a misturinha é Búlgara e Alemã.
Pessoalmente já não usava meu segundo nome, mas ele  ainda existia em parte dentro de  meu nome artístico anterior, por uma questão de direito.
Chegou a hora da mudança. Não preciso de um sobrenome que de fato não faz mais parte da minha vida de qualquer maneira. Ele sobrevive nos meus filhos e nos laços eternos que a maternidade oferece.
Uma solicitação oficial de que não mais utilizasse meu próprio nome artístico, me fez acordar para algo que antes não chamava minha atenção.
Tenho certeza absoluta, de que sempre honrei, cada um dos nomes que recebi nesta vida, até mesmo os apelidos de criança, portanto está em minhas mãos, modificar mais uma vez, aquilo que eu mesma possuo.
Então agora pela primeira vez, eu mesma me dou de presente um nome. Presente este que sempre recebemos de outros, nossos pais por nascimento e oficialidade, nosso marido, pelo laço do casamento, nossos amigos, com os apelidos, e invenções pessoais. Agora sou minha própria fada madrinha e me chamo.



A partir de hoje esse é meu nome. Para trás fica o passado. O presente é um portal aberto e liberado, para que o novo entre, e que as aquisições que eu já alcancei, não necessitam de nada , nem mesmo um nome específico para serem notadas. Sou quem sou, não dependo de nenhum criador, assim como todas as outras bailarinas deste Brasil enorme, que se fizeram sózinhas, e foram reconhecidas na medida de seu merecimento e qualidade.
Ninguém faz ninguém, apenas nossa mãe, que é insubstituível, nos fez, com o auxílio providencial de nosso pai....no mais, a vida nos faz! e é para a vida que devemos satisfações e respeito. É no dia a dia, e em nossa permanência, que mostramos a que viemos!
Não vou reclamar por mudar, vou continuar seguindo meus sonhos e minhas paixões, pois são elas que me movem, além de todos os obstáculos, além da impossibilidade, além do medo de fracassar e muito mas muito além do olhar obtuso, daqueles que imaginam possuir o outro, de qualquer maneira que seja.
Sou de mim mesma, e escolho quem está por perto. Eu não possuo ninguém, e ninguém me possui.
Eu não fiz ninguém, e ninguém me fez!
Sou eternamente grata, a todas as pessoas que fizeram parte do meu caminho até agora. Também sou grata pelas que tomaram outros rumos, e até mesmo, pelas que se transformaram em estranhos.
Aprendi com todas, e com tudo e me transformo a cada dia.
Hoje tenho dois nomes apenas , um deles descreve quem sou  como mulher e com quem estou e é
Luciana Uzunof Hartenbach
O outro descreve também quem sou, mas como bailarina, onde estou e desde quando eu sou!
Lulu from Brazil – since 1983
Agradeço a todas e todos que puderem fazer valer meu novo nome. Espalhem a notícia por favor
Meus contratantes não devem mais usar meu nome antigo, mas sim o novo. O risco de usarem meu nome antigo, é que podem sofrer um processo.

Recebi uma intimação por parte de meu ex sócio,e ex marido,  de que não deveria mais usar meu próprio nome, o nome que é conhecido por mais de 30 países,e que eu mesma fiz, no decorrer de minha carreira.
Alguns podem pensar, porque não manter seu direito, porque não provar o quanto este nome é independente e ligado a você?

Eu decidi que não vale a pena brigar por isso. Não quero prejudicar meus patrocinadores, amigos, e também minha família com uma luta incipiente.

Afinal de contas, não são 7 letras que me farão viver  o desgaste e o investimento , para  proteger algo que já era  meu desde 1983.

O desapego é um exercício e eu estou fazendo minha lição de casa!

De coração obrigada por transformarem ( vocês todos, pessoas presentes por tantos anos )  minha vida em algo precioso, apesar de todos os desafios!

terça-feira, 13 de março de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 4 - Se tornando Dina - Parte I


Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao quarto capítulo do livro da Dina. Eu considero o quarto capítulo o mais importante do livro, pois trata da essência da Dina como bailarina e do porque dela ser tão controversa, portanto é o capítulo mais longo dentre os posts. Por conta disso vou dividí-lo em duas partes, para que fique menos cansativo. Além disso, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro ou de outras fontes (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.

4. Se tornando Dina

          Tarek


Numa manhã de 1982, Dina tem 20 anos e está apaixonada. O amor de sua vida se chama Tarek, um DJ que trabalha com a companhia de dança folclórica. Ele é o amor da sua vida, mas é um amor infantil, inocente. Como amor de irmã. Eles se conhecem há muitos anos, mesmo antes do seu primeiro casamento. E ele quer casar com ela, apesar de não ter dinheiro para isso. Nesse dia ela acordou tarde e cansada porque ficou até tarde com Tarek no telefone. Ele estava muito chateado por ser obrigado a servir no serviço militar.

Após ficar longas horas animando Tarek, dizendo pra ele que tudo vai dar certo, que o serviço será por pouco tempo, que ele vai conseguir passar por essa fase e prometendo que iria esperá-lo voltar do serviço militar, ela vai dormir certa de que ele está mais calmo.

Ao acordar ela telefona para ele, mas quem atende é o seu pai. Ela pede pra falar com ele, mas recebe uma notícia chocante: Tarek se matou naquela noite.
"Algo se quebra dentro de mim. Por mais de um ano eu me visto de preto, certa de que jamais me apaixonaria novamente. Eu me martirizo no trabalho, emendando uma turnê atrás da outra com a companhia de dança folclórica, no Iêmen, Jordânia, Síria... Dançar e não pensar. Quando me oferecem um contrato de um mês em Dubai, eu aceito, feliz por mudar de ares."

  • Dubai



O contrato de 1 mês, vira uma temporada de 7 meses. Dina dança sem questionar nada. Ela percebe que faz sucesso e começa a ganhar dinheiro, que ela gasta logo em seguida. Falta a ela maturidade.

  • O retorno ao Cairo

Quando ela retorna ao Cairo, ela não tem ideia do que a aguarda, se ela vai continuar no folclore ou na dança do ventre. Mas a incerteza não dura muito tempo, pois o seu sucesso em Dubai chegou aos ouvidos dos cairotas. Nesse momento Sahar Hamdy (bailarina egípcia de grande sucesso, que se aposentou no início dos anos 90, aparentemente por conta de problemas com o álcool – mais detalhes sobre ela aqui) precisa quebrar o seu contrato com um grande hotel. Lá ela comandava um show com a sua companhia e sua própria orquestra, e Dina é convidada a substituí-la. Ela aceita, e faz modificações no show, colocando a sua marca em cada detalhe. Dina faz tanto sucesso que oferecem a ela um contrato fixo.

Sahar Hamdy

Mas uma bailarina de dança do ventre no Egito não é só mais uma bailarina, é a chefe de toda uma orquestra, com seus músicos e cantores, é estilista, porque as roupas são importantes para cada música. E Dina não quer uma roupa qualquer, porém, ela não tem dinheiro para fazer uma roupa sob medida. E ela precisa ter pelo menos 2 roupas novas.

Ela acaba na casa de Nelly Fouad, que está se desfazendo de algumas peças. Ela se apaixona por 2 modelos, mas não tem dinheiro para comprá-los. Nelly os cede pra ela com a promessa de um pagamento futuro e Dina se comove com esse raro gesto de solidariedade, pois o mundo competitivo da dança é muito duro.

Nelly Fouad
 
"Pegue-os. Você me paga depois, quando puder. – Meus olhos brilham de alegria. No mundo da dança, tão duro, onde há tanta competição, a solidariedade existe."

          Palme de Majorque

Alguns meses depois, o seu público começa a ficar fiel, e um gerente responsável pelo Oriente Médio de uma rede internacional de hotéis a vê dançando. Samir Zoghby oferece a ela a oportunidade de dançar numa noite num festival em Palma de Majorque, um balneário na Espanha. Toda feliz, Dina aceita. Mas a noite num festival acaba virando duas semanas.

Quando ela volta o gerente do hotel onde ela trabalhava está furioso porque ela quebrou o seu contrato. Ele quer humilhá-la por isso. Dina não se deixa derrubar, e mesmo sabendo que está errada discute com ele e vai embora do hotel, indignada.


"Sei que sou culpada. Levei as coisas na brincadeira, sem me dar conta que a dança é um trabalho de verdade. Não é só um hobby. Se quero que respeitem o meu trabalho, se quero que respeitem a bailarina que eu sou, devo ser irrepreensível. Eu quero ser a maior? Quero ter a liberdade de escolher? Eu devo ser a melhor, e isso não é possível sem um trabalho duro."

          Levando a dança a sério

Sem se deixar abater, Dina entra novamente em contato com Samir Zoghby, que arranja outro contrato para ela, pelo dobro do salário. Imediatamente ela contrata diversos músicos, encomenda novas composições a Hassan Abou Saoud e Hamdou. É a primeira vez que Dina está montando todo o espetáculo sozinha.

Logo na sua estréia uma grande atriz, Shérihan, está platéia.


"Estou anestesiada de medo. De angústia. Não tenho o direito de falhar. Nem de ser medíocre. Eu devo isso àqueles que acreditaram em mim e me trouxeram até aqui. Eu devo isso a mim mesma, ao meu trabalho, à Dina, a menininha de Agouza, estudante que dançava a caminho da escola."


"Eu venci. E é assim que começa a minha carreira. Mas essa é uma vida de lutas, cada dia a briga recomeça. Porque nesses tempos, as bailarinas de primeira categoria são muitas e eu preciso sobressair."

          Vida dupla

Ao mesmo tempo que sua carreira começa, Dina está na faculdade de filosofia e na academia de artes. Ela dança a noite e estuda de dia. Na faculdade, Aristóteles lhe interessa muito, por conta das suas teorias sobre a arte, pois ele foi o primeiro a dizer que o artista é mais do que um imitador da natureza, que ele a transcende e sente grandes paixões. Outra paixão é Freud, que a fascina com suas teorias sobre a formação da pessoa na infância, onde se pode encontrar a origem de todo o seu comportamento e seus atos. Ao mesmo tempo, ela estuda dança e teatro na academia de artes.

Ela fica atarefada o dia inteiro, correndo de um curso para o outro e emendando com os shows à noite.

Dina começa a fazer sucesso, e ela é cada vez mais requisitada, e chega a ser chamada por uma família libanesa para dançar no casamento de um dos seus filhos ao lado de Nagwa Fouad. Logo após esse evento, a própria Nagwa a convida para ir num dos seus shows, e a apresenta ao público no final do espetáculo, pedindo que ela faça um pequeno número, com roupas comuns mesmo.

Nessa época tem uma descrição de como Nagwa a chama para dançar no final de um dos seus últimos shows, um momento descrito como uma passagem de bastão. Para entender o que isso significa, primeiro é preciso entender que Nagwa Fouad era a maior estrela da época, sua banda (a importância da bailarina era medida pelo tamanho da banda) tinha mais de 50 músicos (a título de comparação, as bandas de Fifi Abdou chegavam, no máximo, a 30).


“Pouco antes do seu número final, Nagwa parou de cantar para falar. Ela queria apresentar alguém muito especial para o público. Todos olharam para ver quem era essa pessoa, e Nagwa chamou a jovem bailarina Dina. Dina era, na época, uma bailarina em ascensão, que se dizia ter alguns problemas pessoais. Eu me lembro de ter pensado comigo mesma: Dina quem? Então, uma jovem tímida, vestida com roupas comuns veio do meio da platéia e dançou um número tão comovente e pungente que eu jamais vou esquecer. Dina dançou de coração, e o meu coração podia sentir isso.”
The Gilded Serpent, original aqui 

Dina quer ser diferente. E desde essa época Dina já era criticada. Isso não é dança. Quem ela acha que é? Por que ela não faz como as outras?  


"Eu sou assim. Eu invento passos, novas coreografias, deslocamentos que mais ninguém consegue fazer. Eu, que por tanto tempo estudei balé, não quero fazer como as bailarinas clássicas, de quem se exige que mantenha o olhar longínquo, além do público, num horizonte imaginário que só ela vê. Eu olho para aqueles que me aplaudem, eu danço para eles, com eles, eu até falo com eles, mantenho o contato."

          Samia Gamal

E uma noite, quando ela está se arrumando para entrar, o gerente do hotel bate na porta do camarim para lhe mostrar um nome na lista de reserva: Samia Gamal, seu ídolo.


"Eu fico petrificada. Não consigo parar a tremedeira que toma conta de todo o meu corpo. A pressão é enorme. Mas, mais uma vez, quando entro em cena, acompanhada pelos instrumentos, esqueço o mundo a minha volta. E começo a dançar. Quando as luzes se apagam, quase uma hora depois, eu fujo para os bastidores. Mas me pegam: Samia me chama à sua mesa. - Dina... me escute. Eu sei, você vai se tornar uma grande bailarina."

 
Aguardem a continuação do capítulo! 

Capítulos anteriores: