terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Agradecendo

No apagar das luzes de 2014 resolvi fazer uma lista rápida de agradecimentos pelo ano que está acabando, com esperanças de um 2015 ainda melhor!

2014 foi um ano difícil pessoalmente para mim, mas foi um ano de grandes oportunidades na dança!

Foi em 2014 que pude estudar no intensivão da Rachel Brice, de quem sou fã incondicional desde que a descobri nas Bellydance Superstars. Rachel é uma professora tão maravilhosa quanto ela é uma bailarina fantástica. Ela consegue ser capaz de fazer qualquer um acreditar que pode dominar qualquer técnica, suas aulas são uma experiência sensacional.



Em 2014 tive o privilégio de passar uma semana com os grandes mestres Serena e Hossam Ramzy, na Imersão organizada pela Dani Agnis em São Paulo (ATENÇÃO: QUEM PERDEU HOSSAM E SERENA ESTARÃO DE VOLTA AO BRASIL EM AGOSTO DE 2015!). Além de serem grandes mestres, posso dizer que são os professores de seu status mais acessíveis que já vi em toda a minha vida. Durante a imersão não há tempo ruim ou momento em que suas perguntas ou dúvidas deixarão de ser respondidas, sério. Além de passar a maior parte do tempo estudando com eles, você ainda pode tomar café da manhã, almoço ou o jantar ao lado deles conversando sobre o que quiser sobre a dança ou cultura árabe. No final do dia ainda tem um sarau, onde após as danças da noite ainda é aberta uma roda para perguntas que, juro, não tem hora para acabar. Enquanto houver perguntas sobre o assunto da noite eles ficarão lá respondendo. É uma experiência que muda a vida de uma bailarina para sempre. Você sai outra pessoa da imersão, é lindo. Ainda vou falar muito deles em 2015, aguardem!




Ainda nos pontos altos de 2014, não posso deixar de mencionar de jeito nenhum a vinda da grande ídolo Fifi Abdou à Porto Alegre na época do meu aniversário (obrigada aos Deuses pelo presente!). Aos mais de 60 anos de idade, Fifi infelizmente não tem mais o fôlego de quando era a Menina Baladi do Egito, mas ainda é a pessoa mais linda e charmosa que já vi ao vivo em toda a minha vida. Vídeo nenhum faz jus a essa mulher ao vivo. Ela é uma encarnação da Deusa Afrodite, só pode ser.


Ainda no mesmo evento, tive o prazer de conhecer o professor egípcio Asi Haskal. O que é esse homem minha gente? Parece um ser vindo do século passado para nos ensinar a dança do ventre tradicional! E que simpatia! E que técnica para ensinar sensacional! As aulas dele são para levar para sempre na sua vida, incrível.


E 2014 ainda teve um Festival Luxor sensacional: Randa Kamel, maravilhosa como sempre! Suas aulas deixam qualquer uma quebrada, essa mulher é uma força da natureza!


Mohamed Shahin também estava no Festival Luxor, e embora eu pessoalmente não curta muito o trabalho dele como bailarino, sou fã incondicional do seu trabalho como professor e coreógrafo. Adoro!!!! (um beijo para quem me achar nesse vídeo babando pelo Mohamed e pelo Tito em 2012 rsrsrs)


Para finalizar o ano com chave de ouro, ainda ganhei o Concurso Talentos de Derbake, organizado pela querida Rayzel Rosa! Infelizmente não tenho nem um videozinho dessa noite :-( mas tem foto!



Ainda queria agradecer as diversas pessoas que foram importantes para minha trajetória até agora: Rose Benzaquen, Jeana Kamil, Natália Trigo, Yasmin Yanukit, Dunia La Luna, Paola Blanton, Jhade Shariff, a equipe do Shakti, Mahavir, Sushiila, Hallux Angelstorm, Haniya Bel Hayat, meu marido, Carlos Carneiro e minha família. Sei que deixei um monte de gente de fora, mas agradeço de coração de qualquer forma, estão todos presentes no meu coração e na minha dança, de uma forma ou de outra.

GRATIDÃO!

UM LINDO 2015!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Dançando com conteúdo

Por Lalitha

Depois de quase um ano sem postar aqui resolvi que era hora de voltar a escrever. Nesse ano sabático andei pensando e pesando diversas coisas, algumas muito controversas, e finalmente me sinto pronta e com energia para sair da toca e botar a boca no mundo novamente.

Uma das coisas que tem me incomodado nos últimos festivais e nas últimas apresentações que assisti é a falta de conteúdo na dança do ventre. O que quero dizer com conteúdo? É aquilo que a bailarina quer passar de mensagem para o seu público.  Não precisa ser nada muito complexo, veja bem, não estou dizendo que eu gostaria de ver na dança do ventre o mesmo estilo de performance super elaborada como se encontra em outros estilos de dança (apesar de ser bem vindo para arejar a nossa amada dança), mas pelo menos alguma EMOÇÃO em quem dança.

Não, sorriso automático não conta como emoção. Cara de sofrimento exagerada também não.

É engraçado como as vezes eu vejo bailarinas iniciantes preenchendo muito mais o palco com suas emoções do que bailarinas com anos de estrada. Fiquei me perguntando o que levaria a esse fenômeno, em que momento a técnica e a busca da perfeição tiram o brilho dos olhos da bailarina, e nessa busca fui estudar Isadora Duncan. Nesse estudo uma das lições que aprendi foi: o simples é muito difícil de atingir, mas costuma ser o mais eficaz e elegante. Outra lição importante foi que você precisa estar inteiramente presente em cada gesto, em cada movimento do seu corpo, e para isso, os seus gestos e movimentos precisam ter SIGNIFICADO.

Para a bailarina colocar significado na sua dança cheguei à conclusão que ela precisa não só sentir a música, mas compreendê-la. Quando a música é instrumental, e se a bailarina tiver um bom ouvido e um bom contato com as suas próprias emoções, apenas sentir a música é suficiente, mais do que suficiente. A dança se torna uma expressão do que a bailarina sente quando escuta aquela música, e o resultado pode ser sensacional. Porém, se a música tem letra, o buraco é mais embaixo.

Músicas com letras em árabe podem ser complicadas de se dançar, todos já estão carecas de ouvir histórias de bailarinas que dançaram músicas religiosas e ofenderam muçulmanos no processo, ou dançaram músicas que falavam de revoluções sangrentas como se fosse uma festa animada. Mas vou deixar esse tópico em específico para tratar depois, pois o problema é mais complexo, e árabe não é uma língua fácil.

Até porque mesmo tendo uma boa tradução na mão, ou se você fala árabe e a compreensão da música nesse sentido foi superada, ainda tem o problema que mencionei anteriormente: a bailarina precisa SENTIR, ela precisa ter noção de que sentimentos aquela música ou letra despertam nela mesma para então projetar aquilo para o público. E  é aí que tenho visto mais dificuldades e problemas.

Como criar o seu conteúdo? Como sentir/descobrir o que aquela música significa para você?

Para mim, tudo começa por uma pergunta: por que você dança? Qual é o seu real motivo para dançar? O que você busca alcançar com a sua dança?

A partir dessas respostas outras perguntas surgem, e quanto mais você descobrir sobre o que a motiva, mais emocionada você ficará ao ouvir um violino. Quanto mais explorar a si mesma, você ficará cada vez mais sensível aos seus próprios sentimentos, e aí, na hora de dançar é preciso sempre manter um esforço para deixar aquilo tudo fluir pelo seu corpo. E isso, na verdade, é necessário em todas as formas de arte. A diferença é que na dança e na música isso não só é visível no artista, como é irrepetível. Você nunca vai dançar igual duas vezes, mesmo com coreografia, simplesmente porque você não tem exatamente a mesma reação emotiva duas vezes.

E também nesse ponto que entra uma outra coisa que podemos fazer e que ajuda: "alimentar a alma". Quanto mais alimentamos nossa alma com coisas que nos toquem, que nos faça entrar em contato com os nossos sentimentos, mais sensíveis ficaremos para dançar. E aí vale tudo quanto é arte: pintura, literatura, cinema, músicas de todos os estilos, danças de todos os estilos.

Porque nessa busca do porquê dançar está incluída a pergunta: o que te toca? Quais quadros te fazem chorar, que filmes te fazem rir, que estilo de música te faz levantar e sair dançando?

Pessoalmente eu gosto muito de ler e de pintura e fotografia, então eu leio uma quantidade enorme de livros de ficção, tenho até um blog sobre isso, e criei a pouco tempo uma conta no pinterest, onde comecei a colecionar imagens que me tocam e me inspiram.

E adoro ver vídeos de danças de diversos estilos, sou daquelas que busca inspiração em todos os tipos de dança. Só para dar um gostinho, aqui um exemplo de um bailarino iraniano (mas que mora na França) que tem um trabalho que eu acho belíssimo e inspirador com leitura moderna da dança persa:

Primeiro uma filmagem de estúdio:

Agora dois vídeos de um espetáculo que ele criou com base em mitos persas:






Com o quê vocês alimentam a alma?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Dança do Ventre vs O Mercado

No final do ano passado o mundo da dança do ventre foi novamente sacudido por conta de um vídeo da Esmeralda, onde ela diz com todas as letrinhas que para você trabalhar no mercado de dança do ventre não pode ser/estar gorda. Veja o vídeo aqui.

O Facebook virou quase praça de guerra por causa disso, com diversas pessoas concordando e discordando da nossa pedra preciosa. Pois nossa querida Esmeralda resolveu realmente cutucar onça com vara curta.

Vejamos, Esmeralda foi muito assertiva com a sua colocação, e com relação ao atual Mercado de dança do ventre, ela, infelizmente, está certa. Sejamos realistas, de todas as profissionais famosas (veja bem, além de profissional, aqui estamos falando de FAMA, porque é isso que o mercado define, certo?) quantas são gordinhas? E isso não tem absolutamente nada a ver com a qualidade das nossas maravilhosas profissionais fora do padrão. Todas já estamos cansadas de saber e de ver como a qualidade de uma bailarina de dança do ventre não tem nada a ver com o formato do corpo. Inclusive, nós professoras gostamos de falar sobre como a nossa dança é democrática, não é?

Antes de julgar o Mercado da dança, vamos entender uma coisa: estamos falando de Mercado, não de Arte. (o pessoal do Sala de Dança tratou desse assunto lindamente aqui). E além disso, estamos falando de um Mercado inserido num mundo mais amplo, numa cultura mais ampla. Para entender o mercado da dança do ventre, é preciso entender que ele nada mais é que um espelho de um mercado maior. E nesse mercado maior, o que se espera que seja uma mulher?

Vamos fazer a lista do que se espera que as mulheres sejam no nosso mundo atual: magras, gostosas, lindas, cheirosas, em forma, arrumadas, elegantes, sensuais (mas não muito, hein?), delicadas, amorosas, passivas... ufa! A lista não termina nunca, e é impossível de seguir à risca. Quer ter uma ideia do que se espera que seja uma mulher perfeita? Passe numa banca de jornal e olhe as capas das revistas. Sério, faça esse exercício e veja como o nosso mercado de dança é igualzinho: cheio de brancas, magras, de cabelão.

pequena amostra de capas de revistas nacionais, mas se você procurar no mundo inteiro vai ser muito parecido
E aí, percebemos que o problema não é da dança do ventre, nem do mercado específico da nossa amada dança. O problema é crônico e sistêmico na nossa sociedade. Tanto no Brasil quanto no exterior.

E chegamos ao ponto mais interessante desse assunto: como mudar isso? Porque não adianta fingir que o elefante não está na sala, que ele não vai sumir por pura mágica. As bailarinas de sucesso não vão passar a ser um exemplo de diversidade porque isso é o sonho de ninguém. (infelizmente, seria lindo se as coisas fossem simples assim)

Que tal começarmos a mudança em nós mesmas??? Primeira coisa e a mais importante de todas: parem de criticar as outras por causa da aparência. Quem nunca foi num show/festival e ouviu alguém fazendo comentários maldosos sobre o peso da bailarina em cena?

"Ela até que dança bem, pena que é gordinha/velha/magra demais/rótulo da vez."
(ai gente, desculpa, mas isso dói na alma, e olha que preconceito disfarçado de elogio é a coisa mais comum do mundo)

"Nossa, admiro a coragem dela de dançar mesmo assim em público."
(se ganhasse um real toda vez que eu ouvi essa frase eu estaria rica)

Gente, acorda, é aí que a coisa começa! Não julguem as outras pela sua aparência, seu peso, seu cabelo, sua cor de pele. Não é construtivo para ninguém. E isso é válido fora do meio da dança também, ok? (sabe aquela coisa de apontar os outros na rua? é falta de educação, tá? mesmo que seja em voz baixa)

Segunda coisa: PRESTIGIEM as bailarinas que vocês gostam independentemente de quão dentro ou fora do padrão elas sejam: gordinhas, baixinhas, negras (brasileiro é mestre em dizer que não é racista, mas, falando sério, quantas bailarinas negras aparecem como destaque por aí?), de cabelos alternativos, tatuadas, da terceira idade, do sexo masculino... porque a ARTE não tem fronteiras. Para mudar o mercado, precisamos de mais gente querendo ver coisas DIFERENTES!

Terceira coisa: para aquelas que organizam shows/festivais, por favor, escolham as participantes dos seus eventos pelo seu mérito, não pela "beleza" que vão trazer para o seu banner, ou porque você está trocando favor com alguém. Vamos fazer mais eventos alternativos? Para mudar o mercado, precisamos provar que o que não está sendo mostrado no mercado também faz sucesso, nem para isso a gente crie o nosso próprio mercado :-)

Então vamos à prova cabal de que a dança é para todxs???? (desmentindo a parte da fala da Esmeralda sobre a necessidade de um tipo de corpo para a dança aparecer?)

Começando com uma grande mestra do Rio de Janeiro: Samra Sanches!!!



Passando pela hours-concours Natalia Trigo, também do Rio:



Não podemos esquecer a campeã do Mercado Persa, Joelma Brasil:



A maga dos quadris Dunia La Luna, de São Paulo:



Temos a fabulosa Najla El Hazine, professora de São Paulo, que me faz quase chorar quando a vejo dançar:



Temos também a Tahya Brasileye:



A fofíssima Mayara Rajal, do Rio:



Também do Rio, a estudiosa Lu Ain-Zaila:



E mais uma do Rio, arrasando ao vivo com músicos egípcios, Eliza Fari:



As terras cariocas estão cheias de talento... Smirna prova que maturidade é importante!



Entre as estrangeiras, temos a diva Caroline Labrie:



Então, gente, vamos deixar os nossos preconceitos em 2013 e começar 2014 com novas ideias e concepções?

PS: Em tempo, quem quiser argumentar que no Egito é diferente, pense nos padrões de beleza que eles valorizam, e para ouvir uma boa descrição de onde veio esse padrão (abrangendo inclusive a questão do racismo que muito brasileiro gosta de fingir que não existe aqui), veja esse podcast aqui.