quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Serena Ramzy - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

Tradução de Lalitha

Artigo original aqui.






1. Por que você começou a dançar Raqs Sharqi (dança do ventre)?


Eu sempre amei dançar... eu me apaixonei pela dança e música egípcias ainda muito nova, e essa dança parece fisgar as pessoas para a vida toda!!! Depois que comecei, meu interesse foi crescendo e eu fui me profundando cada vez mais. É uma forma de arte muito bonita e cheia de sentimento, feita especialmente para mulheres, e é uma dança que celebra as mulheres como elas são!

2. O que é mais importante quando dançamos em público?

Bom, claro que tem muitas coisas importantes a se levar em conta quando se dança em público, mas eu acredito que a coisa mais importante é dançar a música para ELES. O público ama quando oferecemos a ele tal expressão artística e aprecia quando a compartilhamos, não apenas demonstramos.

3. Você poderia nos falar sobre o seu estilo de Raqs Sharqi?

Bom... eu danço a música como a entendo e a sinto. De acordo com o princípio de "traduzir" a música, a filosofia que o Hossam desenvolveu do E=E e de acordo com o artigo dele "Drumming 4 Dancers" no nosso site, neste link: http://www.hossamramzy.com/dance/drumming4dancers.htm  

Eu danço o que escuto da música e "traduzo" em movimentos que eu julgue apropriados.

Isso é que dançar para mim. E o estilo muda conforme a música muda...

4. Você poderia nos contar sobre a relação entre Raqs Sharqi e as suas origens?

Eu entrei no mundo da dança aos 5 ou 6 anos de idade, quando comecei as aulas de ballet e jazz. Então eu fui apresentada à dança do ventre aos 8 anos pela minha irmã, Karima, que já era bailarina profissional de dança do ventre na época, e assim eu tive um contato muito próximo com o mundo da dança do ventre que estava começando a se desenvolver em São Paulo. Eu comecei a me apresentar profissionalmente em 1991, aos 15 anos, e não parei até hoje, 20 anos depois.

5. Você poderia dar alguns conselhos para bailarinas de Raqs Sharqi?

Escute a música, conheça o seu corpo, estude a cultura, seja quem Você é e de onde você é, tenha ética e seja honesta. Essas são as prioridades, então você cria o seu próprio estilo. O mínimo que vai acontecer é que você vai se divertir muito.


6. Quem é a sua bailarina ideal? Porque você gosta dessa bailarina?

Minha bailarina favorita de todos os tempos é Naima Akef, por sua sutileza e graciosidade, junto com a sua precisão e controle da sua técnica, por sua simplicidade na apresentação, e a complexidade e profundidade da sua leitura musical. Ela torna assistir a dança algo gostoso, não intimidador.

7. Quais são os planos futuros com Raqs Sharqi?

Meu plano é continuar ensinando bailarinas e continuar dançando e criando apresentações artísticas que contribuam para o perfil da dança. Nós estamos viajando pelo mundo fazendo justamente isso no momento e planejamos continuar com esse projeto. Nós também temos uma Escola na Inglaterra que forma bailarinas profissionais e professoras que podem ensinar a nossa filosofia e nós temos muitas se formando. Os resultado do curso têm sido impressionantes e nós pretendemos levá-lo para todo o mundo. Nós recebemos estudantes de todas as partes do mundo.

8. O que é mais importante na hora de criar uma coreografia?

Conhecer a sua música e saber analisá-la. Quando você entende o que a música está pedindo de você, aí sim você pode acrescentar os movimentos de sua escolha para melhor traduzir cada som. Entender as camadas da música facilita muito o processo de criar uma coreografia. Quando você sabe o que está sendo requisitado é mais fácil de responder corretamente.

9. Como e/ou com quem você pratica?

Eu pratico sozinha. O Hossam me ajuda e me guia na interpretação musical e na compreensão da base da música e da cultura. Treino na maior parte das vezes sozinha, e me inspiro muito nas bailarinas da Época de Ouro, e aprendo muito com elas. Faço aulas de ballet próximo às aulas de dança egípcia, e adoro correr!

10. Como bailarina, que métodos ou rotinas diárias (produtos de beleza, massagens etc) você utiliza para manter a sua beleza?


Eu adoraria ter uma rotina diária, mas minha agenda de viagens nem sempre me permite manter uma. De qualquer forma, sempre que posso, eu gosto de acordar, correr por 30 minutos, então fazer ballet ou pilates por 1 hora e então dançar por mais 1 ou 2 horas. Eu acho que massagens são a melhor coisa para quem é bailarina com dedicação exclusiva. É uma recompensa para o corpo, depois de usá-lo tanto!

11. (Dizem que Raqs Sharqi é mais relaxante e desestressante que outros tipos de dança) qual parte da Raqs Sharqi você acha que é mais relaxante?

Eu concordo em parte. Solos de derbake não são necessariamente relaxantes ou menos extenuantes que qualquer outro tipo de dança. Mas o lado relaxante são os movimentos fluidos e o fato que quando você dança você foca apenas na dança e em mais nada. Essa é a parte mais relaxante pra mim. Ouvir um som e apenas responder a ele, sem pensar em mais nada, é algo mágico.

12. Que sugestões você tem para fazer a comunidade da dança do ventre crescer? Como você acha que podemos tornar a dança do ventre uma indústria?

Não tenho certeza se devemos tornar a dança do ventre uma indústria. Nós podemos levá-la para um status mais elevado e reconhecido no mundo da dança, mas eu gosto de pensar que estamos lidando com uma forma de arte, não apenas um produto a ser vendido em massa e se tornar uma indústria. Nós podemos crescer como uma comunidade, mas trabalhando como uma comunidade e educando a comunidade, e nos fortalecermos como um grupo.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Trilogia do Cairo

Por Lalitha

Gente, depois de um comentário no post sobre o livro da Dina, lembrei que li mais livros interessantes sobre a cultura árabe, mas não cheguei a postar sobre eles aqui porque os li antes de criar esse blog. Mas então resolvi consertar esse lapso e escrever esse post, mais voltado para o público da dança do ventre  :-)

Inicialmente vou falar de uma trilogia disponível em português (yes!), escrita pelo único prêmio nobel da literatura de língua árabe, o egípcio Nagib Mahfouz (essa é só uma das grafias do nome dele, você ainda encontra as variações Naguib e Mahfuz), e se chama A Trilogia do Cairo. Você vai achar meus posts originais sobre esses livros no meu outro blog sobre livros, aqui, aqui e aqui.


Aí em cima é a capa da versão de bolso do primeiro volume :-)

A vantagem da versão de bolso BestBolso são as notas de rodapé, recheadas de explicações históricas, de quem são os cantores (sim!!! muitos cantores conhecidos e outros nem tanto, Oum Kalsoum, por exemplo, está lá), poetas (esses bem mais desconhecidos, infelizmente) e filósofos, além de explicações de expressões e palavras árabes! Fora as descrições das comidas... ah, as comidas!

Devo confessar que me senti maravilhada ao ler um romance recheado de palavras árabes que eu conhecia, como meleya :-) e que de quebra me ensinou muito sobre a história do Egito.

Os três volumes cobrem cerca de 40 anos da história do Egito, especialmente do Cairo, no início do século XX, contando a história de uma família muito tradicionalista. E ainda descreve eventos importantes na história do país, que inclusive te ajudam a entender a origem da primavera árabe egípcia que aconteceu esse ano. Como eu li os livros justamente durante as manifestações contra Mubarak foi especialmente emocionante e esclarecedor para mim.

E essa é a capa do segundo volume.

O primeiro volume no início é meio lento e difícil de ler, pois trata da apresentação dos personagens, mas vale a pena insistir e passar desse ponto. "Entre dois palácios" tem como título original o nome do bairro onde se situa a casa do patriarca da família, mas a tradução/adaptação (vinda da versão em francês) ficou perfeita, pois a história se passa o tempo inteiro entre a casa do patriarca e a casa onde vão morar as suas filhas após o casamento. Ah, sim, para nós bailarinas, é especialmente interessante a descrição das bodas! E também das músicas e dos músicos que participam das festividades!

Como pano de fundo, o Cairo está em ebulição por conta das revoltas populares contra o domínio dos ingleses, que não querem que se instale um parlamento democraticamente eleito no país (não soa familiar isso?), o que ajuda a mostrar o nacionalismo dos personagens e a mudança do papel da mulher ao longo do tempo (esse tema me é especialmente caro, e está muito bem retratado nos três livros e explica MUITA coisa).

O segundo volume trata especialmente de relações amorosas, evidenciando ainda mais o papel feminino na sociedade, o que justifica também a adaptação do título do livro (novamente da tradução francesa), que no original leva o nome do bairro onde vai morar o primogênito do patriarca. Nesse momento histórico as mulheres já andam sem véu na rua e começam a pensar em outras coisas além de casar e ter filhos, como ir para a faculdade (que aceitam turmas mistas), é bem interessante.

Mas o auge da liberdade feminina aparece mesmo no terceiro volume.

E esse é o terceiro volume.

O último volume da trilogia retrata uma época conturbada também, quando diversas novas vertentes políticas surgem no Egito (inclusive a Irmandade Muçulmana que tanto ouvimos falar hoje em dia), e quando a mulher egípcia entra no mercado de trabalho. Nesse ponto da história, os personagens que guiam a história já são os netos do patriarca, o que é muito legal, pois podemos ver claramente como as gerações foram mudando a sua forma de pensar e de agir. Inclusive, o título original do livro é o nome do bairro onde eles moram, fechando a trilogia.

São 3 livros grandes, mas que vale a pena gastar um tempo lendo. Mas vale lembrar que só retratam o passado do Egito! Hoje em dia, o mundo árabe em geral deu uma guinada em direção à religiosidade, e muita coisa mudou, especialmente com relação à mulher e à dança do ventre. Fazer o quê? É o ciclo da vida.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palestra em Dezembro! - Ma Liberté de Danser

Por Lalitha

Gente, sei que ando meio sumida, mas garanto que é por uma boa causa! (Curiosos de plantão é só procurar nos meus outros blogs) Mas esse mês eu volto com tudo! Para começar, aproveito para anunciar minha Palestra: