Depois de sugerir um livro sobre o passado, o livro de mês terá como tema um assunto contemporâneo, mas sem deixar de ser polêmico: A Palestina.
"Caminhos Palestinos" foi escrito pelo advogado palestino Raja Shehadeh e trata de um relato pessoal da sua história com essa terra, hoje arrasada, chamada Palestina. O livro passa desde sua infância e juventude, quando a liberdade de ir e vir na Palestina era bem grande e o terreno era cheio marcos da história do povo palestino, até os dias de hoje, com essa mesma terra entrecortada por assentamentos israelenses e estradas controladas por Israel que impedem a locomoção dos palestinos.
Capa da edição brasileira do livro
Além de belas descrições da paisagem e explicações sobre o modo de vida do povo palestino (e como ele foi sendo modificado ao longo do tempo para se adaptar às mudanças), o livro ainda tem explicações detalhadas de como funciona o processo de expulsão dos palestinos e da criação de novos assentamentos israelenses. Tudo com detalhes jurídicos, o que é muito interessante (e às vezes desesperador).
De uma forma geral o livro é muito triste, pois tudo que ele vai descrevendo como sendo lindo vai sendo destruído ao longo do relato, e é grande a aflição conforme ele conta como as pessoas vão perdendo as suas casas, ou até mesmo as suas vidas. E às vezes o motivo é tão banal...
Sei que não é a melhor época do ano para um livro tão pesado, mas é bom para entendermos um pouco mais desse conflito que volta e meia estampa as manchetes dos jornais e que tem tudo a ver com a dança do ventre, afinal os palestinos são árabes :-) e Israel hoje em dia tem um dos maiores festivais de dança do ventre do mundo!
Além disso, como o Natal e o Ano Novo é uma época de esperança, e com a aceitação da ONU da Palestina como um Estado Observador Não-Membro, as esperanças de dias melhores para esse povo tão sofrido ressurgem das cinzas. Quem sabe no futuro não teremos mais relatos desse tipo?
Quem quiser saber mais detalhes do livro, pode ver em outra resenha minha aqui.
Desculpem, mas será um
texto longo. Eu tenho muito a dizer.
Se existe alguma coisa positiva vindo do Egito
pós-revolucionário, é o novo canal de TV de dança do ventre “El-Tet”. El-Tet,
que é sediado no Bahrain e tem um escritório no Cairo, tem uma programação de
apresentações de dança do ventre de bailarinas egípcias e estrangeiras 24 horas
por dia. É isso mesmo. Shimmies e ondulações o dia inteiro na TV nacional egípcia.
O canal, que tem um pouco mais de um ano, tira o seu nome da palavra árabe que
denomina a parte com acordeão/tabla de uma música baladi. Na verdade se pronuncia “tit”, que obviamente traz à mente
uma imagem equivocada para os falantes da língua inglesa (N.T.: em inglês a
palavra “tit” pode significar seios). É por isso que você verá quase sempre
transliterado como “El-Tet”. Com “e”, não “i”. :)
A primeira vez que ouvi falar sobre o novo canal foi em
dezembro, quando alguns dos meus músicos insistiram que tinham me visto na TV.
Eu nunca tinha ouvido falar do canal, e não tinha a menor idéia do porquê que eles
estavam dizendo isso, apesar de achar muito engraçada a idéia de haver um canal
chamado “The Tit” (N.T.: em inglês, “O Seio”). Então presumi que eles
provavelmente haviam visto outra bailarina que se parecia comigo. E eu estava
certa. Meu derbakista me mostrou o
clipe no seu telefone celular da bailarina em questão, e com certeza não era
eu. Não sei como me confundiram com ela, mas, novamente, os egípcios tendem a
achar que nós, estrangeiras, somos todas iguais. :)
Dançando ao som de “Ya Helwa Sabah” no El-Tet
Naquela noite, cheguei em casa e sintonizei no El-Tet. Achei
estranho ver tantas bailarinas não-egípcias, muitas das quais eu conheço, dançando
na TV egípcia. Dos EUA eu reconheci a Sadie, Sabah e Virginia. Eu vi a Saida da
Argentina. Do leste europeu, eu vi Maria Shashkova, Dariya, e um monte de
outras bailarinas russas e ucranianas das quais eu nunca tinha ouvido falar.
Hum. Como isso funciona, me perguntei. Seriam vídeos do YouTube? As bailarinas
de fora do Egito sabiam do canal e mandavam os seus vídeos? Por que não
apareciam as bailarinas estrangeiras que trabalham no Egito? E mais importante,
onde estavam as bailarinas egípcias?
E então, como que para responder a minha última pergunta, o
canal passou um monte de performances de bailarinas egípcias. Nenhum nome
importante, nem nada. Apenas bailarinas medianas do mercado. De 5 egípcias, eu
conhecia 1 e gostava de 2. Suas danças nada tinham de extraordinário, mas
fiquei feliz de vê-las no canal. Diferentemente das estrangeiras, elas foram
filmadas em cenários, pela equipe de produção do canal. Pela primeira vez, eles
alugaram um espaço e contrataram uma banda. Só que a banda não tocava. Eles
apenas ficavam nos seus lugares atrás das bailarinas, fazendo parte do cenário,
enquanto as bailarinas dançavam ao som de CD. Cada uma tinha 3 ou 4 clipes – 1
ou 2 junto com um cantor, e 2 ou 3 sozinhas. A maioria das músicas que elas
dançavam eram canções shaabi mais
novas, daquelas que você escuta nos cabarés ou nos took-tooks – você sabe, aqueles carros pretos pequenininhos que
andam pelas ruas do Cairo? E a dança era mais do tipo Cabaré Haram do que raqs sharqi, mas tudo bem. (N.T.: Haram
em árabe quer dizer “pecado”, “proibido”, e raqs sharqi é o nome da dança do
ventre em árabe). Esse é o estado da arte.
Controvérsia Comercial
Depois de passar dois dias assistindo exclusivamente ao
canal, eu comecei a reparar nos comerciais, que foram o pretexto para a prisão
do dono do El-Tet na semana passada (por sinal, ele já foi libertado). Eles
eram comerciais caseiros descarados, nojentos, que anunciavam quase que
exclusivamente todos os tipos de produto para melhorar o desempenho sexual,
para aumento dos seios e do pênis, e poções mágicas para esse ou aquele
problema. O comercial para disfunção erétil é o meu favorito. Ele mostra as
fotos de antes e depois de um homem com um grande bigode caído e cheio de gel. Na
foto do depois aparece o bigode mudando de direção e em progressão constante
para cima. Sutil, né? Também têm anúncios de detectores de mentiras e câmeras
com raio-x, coisas que estou morrendo de vontade de comprar. :)
Brincadeiras à parte, os anúncios são de mau gosto.
Quer dizer, se eles fossem um pouco mais sutis e profissionais, daria para
passar. Mas combinados com os anúncios pessoais (N.T.: tipos de anúncio de pessoas procurando alguém para um encontro) que vão passando
na parte de baixo da tela durante os vídeos das danças das bailarinas, eles
passam a ser revoltantes. Sem mencionar que eles dão uma má reputação imerecida
ao canal e à dança.
Dando uma olhada no resultado da filmagem com o produtor
Ótimo. Então eu já disse o que tinha a dizer. Já dei vazão
ao sentimento de muitas bailarinas de dança do ventre ao redor do globo que acham
que o canal é humilhante, e que ficaram satisfeitas com a prisão do dono por
conta dos anúncios que foram ao ar. Agora escutem o que tenho a dizer sobre porque eu
apoio o canal, ou melhor, porque estou disposta a fazer vista grossa com a
existência desses comerciais.
Colocando de forma direta, de um lado, o El-Tet tem como
opção aceitar esses anúncios de produtos sexuais, ou do outro, fechar as
portas. E na minha nem tão humilde opinião, manter o canal funcionando com
comerciais desleixados é dos males o menor. Esse canal não só devolve a dança
às pessoas, mas é um avanço para as mulheres, para a arte, a cultura, e para a
razão. Além disso, é um tapa na cara dos fanáticos religiosos, da misoginia, do
irracional, da ignorância e do ódio. Assim, eu os saúdo a resistir à maré de
fanatismo religioso que tem tomado o país de assalto.
Como qualquer um da área de comunicação sabe, comerciais são
uma fonte indispensável de recursos. Sem comerciais, não há dinheiro. Sem
dinheiro, não há meio de comunicação. No momento, esses anúncios são a única
fonte de renda disponível para esse jovem canal de dança do ventre. E como
dança do ventre no Egito é equivalente à prostituição, nenhuma companhia
respeitável está disposta a anunciar num canal que mostra dança do ventre. Nenhuma
companhia de celular ou de móveis, em seu perfeito juízo, iria pagar para ter
os seus produtos associados à prostituição. Para piorar as coisas, o El-Tet não
recebe dinheiro de nenhum artista. E mesmo que recebesse, não seria suficiente
para sustentar o canal. Então, ele é forçado a aceitar esses anúncios para
sobreviver. Eu estou disposta a perdoar isso. Como o canal faz mais bem do que
mal, nós podemos considerar em aceitar que, nesse momento da história, o canal
precisa funcionar em circunstâncias não ideais.
Guerra à cultura?
Mais importante, entretanto, é que eu vejo esse incidente com o
El-Tet como o último numa guerra de larga escala contra cultura que tem
acontecido no Egito. Desde a queda de Mubarak, forças religiosas têm atacado a
cultura de forma nunca vista no Egito. Eles estão se opondo a tudo, desde dança
do ventre ao cinema e à cultura faraônica. Nem mesmo a esfinge ficou imune! De fato, antes da prisão do dono do El-Tet, o famoso ator egípcio, Adel Imam,
corria o risco de ser sentenciado à prisão por “blasfêmia”. A máfia barbuda agrediu
fisicamente estudantes de cinema na Universidade Ain Shems por fazer uma
reconstituição da época de Sadat. Muitos cabarés ou foram queimados ou
comprados por grupos religiosos, ou fechados por falta de clientes. E hotéis
como o Grand Hyatt e o Mena House cancelaram todos os seus shows de dança do
ventre. Você pode ler mais sobre esse tipo de coisa aqui.
De forma similar, a prisão feita semana passada foi um
ataque à dança e às mulheres. Apesar do dono ter sido preso sob acusação de
“facilitação à prostituição” por mostrar anúncios durante os clipes de dança, o
problema “real” é que tem mulheres semi-nuas rodopiando pela rede nacional de
TV. E todos nós sabemos o que as pessoas religiosas acham disso. Os
espectadores reclamaram dos comerciais, sim, mas isso apenas deu às autoridades
uma desculpa para atacar o canal. Isso fica claro à luz do fato de que o Egito
já tem um canal de TV que mostra anúncios pessoais 24h por dia, e que a
polícia da moral não fez nenhum barulho com relação a isso – por mais visuais
que esses anúncios possam ser, são apenas palavras. Lembrem-se que nem todos
conseguem ler. Mas quase todo o mundo pode ver. E eu aposto que a maioria dos
espectadores está muito ocupado prestando atenção nas bailarinas para notar os
comerciais na parte de baixo do vídeo.
Eu não estou defendendo o canal porque fiz alguns vídeos com
eles, diga-se de passagem. Não há nenhum interesse pessoal aqui. Mesmo antes de
eles me pedirem para me filmar, eu já havia percebido o grande avanço que esse
canal representa para a dança, e mais importante, para o Egito. Se posso dizer
alguma coisa, minha colaboração com o canal me deu a rara oportunidade de
conhecê-los pessoalmente e ver suas verdadeiras intenções. E eu posso dizer que
são as melhores.
Minha experiência com
o El-Tet
Ao contrário do que eu esperava inicialmente, todas as
pessoas que trabalham no canal são decentes e respeitáveis. Não há nenhum
cafajeste, como se espera encontrar no mundo da dança do Egito. Desde o próprio
dono do canal, até os produtores e maquiadores, cada um tem como compromisso
promover a dança do ventre como arte. E mais, eles gastam milhares de dólares
para garantir que os clipes que eles filmam serão agradáveis e respeitáveis. Se
você der uma olhada nos vídeos, você verá que eles são gravados em lindas casas
de campo com lareiras, móveis bacanas, relógios de parede e confete (!) etc. É
óbvio que eles estão dando o máximo de si para criar uma imagem positiva.
Trabalhar com eles tem sido um grande prazer. Nas duas vezes
em que fui filmada, eu iria aparecer na locação com os meus figurinos. A equipe
de produção iria dar uma olhada neles e escolher aqueles de que gostava mais.
Eles ficaram especialmente intrigados com a minha roupa da bandeira americana,
e me pediriam para usá-la, mas em ambas as vezes eu recusei. O clima político
atual me deixa um pouco desconfortável. Então, ao invés dele concordamos na
minha roupa de recortes de jornal. :)
Sendo montada pelo maquiador do “El-Tet” antes da filmagem
A primeira filmagem que eu fiz foi muito interessante. Eu
não sabia bem o que esperar. Cheguei à casa de campo às 10h da manhã, cansada e
com fome, e bebi copos de café além da conta enquanto esperava para ser arrumada.
Havia mais 4 bailarinas egípcias passeando pelo complexo da casa. Algumas
estavam sendo filmadas. Outras estavam fazendo ou o cabelo ou a maquiagem.
Depois de algum tempo de espera, chegou a minha vez de ser embonecada. Os
maquiadores e cabeleireiros estavam sob ordens restritas de me manter com um
jeito “estrangeiro”. Isso significa uma base branca, sem delineador preto, sem
sombras escuras, batom de tom nude e o cabelo preso e liso. A única coisa
“egípcia” em mim eram as sobrancelhas. Você sabe, aquelas sobrancelhas zangadas
em forma de V que são a marca registrada da maquiagem egípcia? :)
Quando eu sugeri que usassem um pouco de delineador preto em
mim eles responderam brincando que delineador preto é coisa de prostituta! :) E
quando eu sugeri que eles me fizessem parecer mais exótica eles responderam que
eu já era exótica. Bom, para eles eu era. Para mim, eu apenas não conseguia me
reconhecer. E nem me sentia como uma bailarina de dança do ventre. Mas deixei pra lá. Talvez eles vissem algo que eu não conseguia ver.
Pouco depois, um jovem se aproximou com uma bandeja cheia de
glitter numa mão, e um batom vermelho na outra. Ele encheu todo o meu corpo de
glitter – braços, pernas, barriga, colo e tudo o mais – com as próprias mãos. Então
ele esfregou o batom nos meus joelhos, decote e axilas! Essa foi a primeira vez
que eu deixei um egípcio desconhecido colocar as mãos em mim. Eu não pensaria duas
vezes se fosse nos EUA, mas aqui as coisas são diferentes. Entretanto,
estranhamente ele foi rápido e profissional, e não havia nada de estranho
naquilo.
Depois era hora da filmagem. A equipe de produção queria que
eu dançasse num corredor estreito, insistindo que ficaria lindo no vídeo. E
ficou, exceto que eu não tinha espaço para me mexer e esticar os braços. Eu me
senti como a Jeanie dançando dentro da garrafa. E eu usei um véu para a minha entrada de “Set el hosen”. Fora que os meus braços pareciam amassados e que
tinha alguns cortes feios na edição, fiquei satisfeita com o produto final.
O próximo clipe que filmei foi com o cantor Ahmed Salah.
Ahmed é um cantor popular de shaabi
do circuito noturno, e meio que se parece com o Baha Sultan (N.T.: cantor
egípcio famoso). :) Ele cantou uma música fofinha chamada “Salamtak ya Dimaghi” que podemos
traduzir livremente como “tchau tchau meu cérebro”. A ideia é que ele perde a
cabeça toda a vez que vê uma garota que ele gosta. Eu usei a minha roupa de
recortes de jornal para esse clipe, e me diverti muito na filmagem. Principalmente
porque houve muitos erros. O melhor deles foi quando uma parede de isopor caiu
na cabeça do Ahmed enquanto ele estava cantando. Nós dois começamos a rir e não
conseguimos mais parar até o final da filmagem. :D
Com Ahmed Salah, “Salamtak
ya Dimaghi”
O último clipe que fiz foi com a famosa música da Warda, “Esmaooni”, com arranjo e voz da
orquestra Safa Farid. Eu usei uma roupa com uma impressão de pele de leopardo
azul com lantejoulas para essa filmagem. Nesse momento eu já estava cansada,
morrendo de fome, irritada, e não queria fazer mais nada além de ir para casa.
E eu teria ido. Exceto que eu não queria ser grossa e ir embora depois de ter
prometido filmar 3 clipes. Então continuei em frente e fiz uma execução corrida
de Esmaooni, plenamente consciente de
que não estava dando o meu melhor, e não dando a mínima pra isso. De alguma
forma, entretanto, os planetas se alinharam ao meu favor. Esmaooni se tornou o clipe mais famoso de todo o canal, recebendo
mais telefonemas e votos on-line do que qualquer outro clipe desde que o canal
começou. Desde então, tive platéias egípcias cantando “Esmaooni” até eu ceder e dançar para eles. :)
O segundo round da minha experiência com o El-Tet foi muito
melhor. Pelo menos eu sabia o que esperar, e eu sabia que devia trazer comida e
minha própria maquiagem! Dessa vez, eu filmei 4 clipes. O primeiro foi uma
versão da Safa Farid de “Ye Helwa Sabah”.
O segundo foi um improviso para uma música de entrada moderna, e o terceiro foi
um improviso de solo de derbake. Eu filmei
o quarto clipe com outro cantor popular de shaabi,
Ragab El-Prince. Eu ainda não sei o nome da música, e ainda não consegui uma
cópia do vídeo, mas era sobre uma garota fazendo de tudo para ficar com o seu
amor. Trabalhar com Ragab foi tão divertido quanto trabalhar com Ahmed. Apesar
dos dois terem estilos completamente diferentes. E é claro, que não pudemos
terminar a filmagem sem um erro ou outro, o mais notável foi o meu bustiê
abrindo na frente das câmeras! Graças a Deus que eles não passaram nenhum dos
erros no ar!
No set com o cantor shaabi Ragab :)
Críticas
El-Tet recebeu muitas críticas. A maioria de egípcios
conservadores, e daqueles que odeiam as mulheres e a dança. Entretanto, algumas
das críticas vieram de bailarinas de dança do ventre, surpreendentemente.
Porém, eu acho que isso era esperado. Tudo que é novo e “revolucionário” está
destinado a encontrar resistência. Qualquer coisa. Direitos civis, direito das
mulheres, direitos dos gays, dança do ventre na TV egípcia etc. É apenas a trajetória
natural do progresso.
Forças conservadores no Egito amaldiçoaram o canal por
supostamente “corromper a sociedade”. Você sabe, toda aquela coisa das mulheres
seminuas se balançando? Isso era esperado. O que eu não esperava foi o
criticismo alastrado por toda a comunidade internacional da dança.
Como eu mencionei anteriormente, muitas bailarinas ficaram
chateadas pelo canal transmitir anúncios de mau gosto e anúncios pessoais. Mas as
críticas não se restringiram a isso. Muitas, incluindo algumas estrelas
aposentadas, criticaram o canal por apresentar a dança pela dança. Elas alegaram que a forma “correta” de apresentar a dança era num contexto de um filme, com uma história, um pano de fundo, e eventos dramáticos. Apesar disso
ser legal, eu não vejo nada de errado em assistir a velha e boa dança do
ventre. Sem mencionar que muitos desses filmes antigos são muito orientalistas
em se tratando das cenas de dança do ventre. E as bailarinas sempre fazem algum
papel indesejável, como uma prostituta, uma criminosa ou espiã. Isso sem dúvida
reforçou a imagem negativa das bailarinas de dança do ventre ao longo dos anos.
E aqui é ao contrário, ninguém faz esses papéis no El-Tet. As bailarinas só
dançam.
Outra bailarina famosa criticou o canal por surgir no “momento
errado”. Ela disse que um canal como esse não tem lugar num momento de
revolução... que a mídia deveria estar educando as pessoas, e ensinando como
elas devem respeitar umas às outras. Enquanto eu definitivamente concordo que a
mídia poderia fazer mais para educar as pessoas (ao invés de doutrinar), a
idéia de que estamos numa revolução e de que não precisamos da dança para nos
distrair é perigosa para a dança. Alguns lugares estão num estado constante de
revolução. Devemos esperar sairmos desse estado antes de darmos à dança a
atenção que ela merece? Ela não terá morrido até lá? Dos milhares de canais de
TV disponíveis para os egípcios nem UM pode ser dedicado à dança? Todos eles
têm de mostrar programas “educacionais” que ensinam religião aos egípcios, ou
tolerância, ou respeito etc.? Certamente que tem lugar para 1 ou 2 canais de
dança do ventre! Além disso, quem disse que eles não são educacionais à sua
própria maneira?!?
A última crítica que ouvi, e provavelmente a mais válida,
foi sobre a prática do canal de passar vídeos do YouTube de bailarinas sem a
permissão delas. Eu sei que isso enfureceu muita gente. E eu entendo isso.
Entretanto, eu gostaria de apontar que todo o conceito de direito autoral é
novo no Egito. Isso não os exime de usar filmagens de outras pessoas, mas
explica porque está acontecendo. Pelas minhas conversas com o pessoal do canal
sobre o assunto, parece que eles estão começando a pensar sobre isso.
No set com Ahmed Salah
Benefícios
Apesar de todos os pontos negativos que as pessoas já
apontaram, na verdade eu acho que o El-Tet faz mais bem do mal. E esses são os
motivos:
Primeiro e mais importante, ele está levando de volta a
dança para as pessoas. Graças ao El-Tet, qualquer um pode ligar a sua televisão
e se deleitar com uma apresentação de dança do ventre. Esse não era o caso
antes do canal aparecer. Isso porque os preços para ir num show de dança do
ventre são tão caros que a maioria dos egípcios não pode pagar. A dança do
ventre, então, se tornou um entretenimento exclusivo dos ricos e de outras
bailarinas estrangeiras. O El-Tet mudou isso da noite para o dia. Ele devolveu
uma grande parte da cultura para o povo egípcio. Por sua vez, os egípcios estão
levando isso muito a sério. Eles estão tendo todo tipo de conversa inteligente
sobre a dança. Eles discutem quais são as suas bailarinas favoritas e porque, o
quê eles acham das roupas, das músicas, etc. Em resumo, eles estão ficando
animados com a dança, o que é uma coisa boa de qualquer ângulo que você olhe.
Segundo, e eu nem precisava dizer isso, o El-Tet é um passo
na direção certa para as mulheres, o secularismo e as artes. E eu acho que não
preciso dizer mais nada sobre isso.
Terceiro, a dança do ventre televisionada está gerando uma
competição saudável entre as bailarinas. Vou explicar o que quero dizer.
Geralmente existem duas formas de lidar com a competição. Uma forma é
prejudicando a sua competição ao acabar com a sua reputação, vandalizar seus
pertences pessoais, ou se envolvendo em outras ações destrutivas. É isso que
normalmente acontece por aqui. A segunda forma é superando a sua competição.
Observar o trabalho delas e tentar fazer melhor. É isso que o El-Tet está
encorajando, mesmo sem saber. O que está acontecendo é que agora as bailarinas
estão sendo vistas umas pelas outras através da televisão. Elas estão
observando os movimentos das outras, suas roupas, visual, seleção musical, e
estão se empenhando em superar umas às outras nos vídeos seguintes. Isso é algo
positivo. Confiem em mim. Está motivando as bailarinas a melhorarem a sua dança ao
observar as outras e a criar coisas novas. No final das contas isso vai trazer
uma melhora geral no nível da dança por aqui.
Além disso, o El-Tet está disponibilizando exposição para
toda uma nova geração de bailarinas. Antes desse canal os egípcios só conheciam
a Dina. Agora eles estão contratando outras bailarinas, incluindo eu mesma,
para as suas festas. O que é ótimo. Tem muitas bailarinas por aí que precisam
do trabalho e dessa exposição, e algumas delas são realmente muito talentosas.
Desde que os barbudos não destruam a dança, esse canal está preparando uma nova
geração de estrelas que serão conhecidas pelo público egípcio da mesma forma
que Samia, Fifi, Souheir e Nagwa já foram.
Pessoalmente falando, eu já me beneficiei de ter aparecido
no canal. Publicidade é sempre uma coisa boa. Eu também gosto de ouvir e ler os
comentários dos egípcios sobre a minha dança. Mas não me entendam mal. Só de
pensar de aparecer em rede nacional da televisão egípcia é de deixar os nervos
à flor da pele. Isso quer dizer que todos estão me vendo. Todos. Homens, mulheres, jovens, idosos, fanáticos religiosos,
outras bailarinas, agentes, produtores, e a lista não termina. É muita pressão.
Eu não fico muito feliz que donos de apartamentos e meus vizinhos assistam o
canal, já que eu poderia e já fui expulsa de um apartamento por ser bailarina
de dança do ventre. E eu não tenho muita certeza de como me sinto quando
pessoas desconhecidas cantam as músicas que eu dancei quando elas me vêem na
rua. Quer dizer, estou acostumada a andar “disfarçada”, e essas pessoas estão
acabando com o meu disfarce! Mas é legal ver que as pessoas me reconhecem. :)
Dançando “Set El-Hosen” no corredor estreito :)
Eu também já fui pessoalmente criticada por ter aparecido no
canal. Alguns disseram que pelo nível da dança que aparece é muito baixo (e de
classe baixa), eu me arruinaria se aparecesse lá. Outros disseram que as
pessoas se cansariam de ver a minha cara. Outros ainda sugeriram que eu seria
exposta a muito assédio e criticismo desnecessário. Eu considerei isso tudo
antes de concordar em ser filmada, e no final eu decidi que, diabos, só se vive
uma vez. Eu sou viciada em novas experiências, mesmo que elas não sejam sempre
positivas. Essa experiência, entretanto, acabou se revelando mais do que boa, e
eu estou muito feliz de ter aceitado a oferta deles de ser filmada. No mínimo,
me inspirou a escrever o maior post da história!
Acordamos no nosso hotel maravilhoso com a vista cheia de balões... se a vista já era linda antes, com os balões ficou ainda mais mágica! O café da manhã estava simplesmente perfeito, sem dúvida o melhor da viagem em termos de variedade e qualidade da comida! E nós precisávamos de muita energia!
Vista do hotel com os balões
Esse dia foi totalmente dedicado a conhecer a Capadócia. Acordamos bem cedo para sermos os primeiros a chegar no Museu a Céu Aberto de Göreme. Mais tarde viemos a descobrir que chegar cedo também significa pegar bem menos sol e calor...
A Capadócia é uma região com uma paisagem única e com uma cara meio lunar... com suas rochas de origem vulcânica extremamente macias, o que as tornam fáceis de deformar pelos ventos ao longo do tempo, por isso o perfil da paisagem é realmente muito diferente. Além disso, suas rochas e solo foram usadas durante muitos séculos para escavar casas e até cidades inteiras. Göreme é uma dessas cidades!
As rochas "esburacadas" de Göreme
Criada por uma leva dos primeiros cristãos, que procuravam viver de forma monástica e eremita, pelos idos do século III, eles aproveitaram algumas construções já existentes e fizeram muitas novas, incluindo diversas igrejas, criando um grande complexo de cavernas.
A visita é um pouco cansativa, pois os quartos e igrejas ficam espalhados pelas rochas, como se fossem mini-montanhas, e durante o passeio se sobe e desce um monte de ladeiras e escadas!
Mas vale a pena cada gotinha de suor, pois o lugar é muito lindo e exótico! As igrejas são todas lindas e muito diferentes do que você poderia imaginar de igrejas em cavernas. Primeiro, elas são inteiramente escavadas, mas isso não as impede de ter colunas! Segundo, são todas lindamente pintadas por dentro! E o mais interessante, em algumas delas existem 2 camadas de pintura, pois a primeira camada decorativa, datada do início da ocupação de Göreme, era muito simples e limitada, e até o final do século XIII, novos afrescos, bem mais complexos, foram pintados por cima, e novas igrejas também foram construídas até o final desse período.
O único porém é que não podemos tirar fotos no interior das igrejas, nem sem flash :-(
No interior das igrejas não pode, mas algumas desabaram parcialmente e podemos ver as pinturas expostas!
Algumas igrejas também estão um pouco depredadas, pois depois que os cristãos abandonaram a região, os muçulmanos que chegaram depois simplesmente não entendiam o que eram aqueles afrescos, e alguns mais radicais tentaram até mesmo destruí-los (lembrem que para o islamismo a representação de criações de Deus, incluindo seres humanos, é vista como heresia). Isso também explica os nomes dados às igrejas: igreja da maçã, da sandália... pois os moradores do local não reconheciam os santos nem as imagens!
Depois de começar a sentir o calor que é capaz de fazer na Capadócia, fomos fazer outro passeio exótico: conhecer uma cidade subterrânea!
Como mencionei anteriormente, essa região é composta basicamente de pedra vulcânica, fácil de manusear (ela se desfaz com a unha!), e por ser muito erma, foi usada ao longo da história como esconderijo de diversos povos. Algumas das cidades subterrâneas dessa região datam da época dos Hititas (um povo conterrâneo dos egípcios, quem leu a Saga de Ramsés de Christian Jacq já ouviu falar deles), e diversas outras foram feitas ao longo dos séculos. As mais modernas foram feitas pelos cristãos que habitaram essa região, para servirem como esconderijo nos momentos em que foram caçados (primeiramente pelos romanos, e mais tarde pelos muçulmanos).
Uma das maiores galerias da cidade-caverna
Existem cidades subterrâneas de diversos tamanhos, que comportam diferentes quantidades de pessoas, com espaço para manter um estoque suficiente de comida para pelo menos alguns meses. E dentro dessas cidades tem de tudo, desde estábulos, até cozinha (com direito a uma chaminé que fique bem longe da entrada da cidade, claro), quartos de dormir, local para fabricação de vinho etc. tudo o que fosse indispensável para sobreviver.
Mas essa visita também não é para qualquer um, pessoas com claustrofobia e problemas cardíacos podem passar mal, pois as salas debaixo da terra são todas bem fechadas, com passagens pouco apropriadas para pessoas com mais de 1,60m. Em algumas dessas passagens até mesmo crianças precisam se abaixar, pois a idéia era manter o controle e dificultar a passagem de inimigos no caso deles descobrirem a localização dessas cidades. Até portas à la Indiana Jones foram usadas nessas cidades!
Para ter uma ideia do tamanho do corredor, eu, essa "enormidade" de pessoa, precisei me agachar assim!
As portas são grandes pedras que só podem ser movidas pelo lado de dentro
No caso da cidade que fomos visitar, ela foi descoberta recentemente (anos 90) por conta de uma galinha fujona. O fazendeiro, dono da área, que descobriu a cidade, alertou as autoridades, que confiscaram a sua terra, por conter um sítio arqueológico, e com o dinheiro que ele recebeu de indenização ele abriu a lojinha de souvenires que existe bem em frente à entrada. Não sei se ele fez um bom negócio, mas certamente a visita foi inesquecível! É realmente uma experiência única se sentir uma formiga debaixo da terra, passando por todos aqueles túneis... ah, e é frio lá embaixo! Apesar de não haver um sistema de ar condicionado, a porosidade da rocha funciona como um filtro de ar, purificando e gelando tudo! Quanto mais baixo e mais longe da entrada da caverna, mais frio!
Depois do choque térmico de sair da caverna para encontrar o calor da superfície, pegamos o nosso ônibus e fomos levados para uma loja de tapetes, outro ponto turístico que não dá para pular quando se vai à Turquia! O interessante dessas visitas é que você pelo menos aprende alguma coisa sobre o artesanato local, ao invés de apenas fazer compras.
A loja que visitamos funciona também como escola de tapeçaria, ensinando a jovens pobres (sempre mulheres) a ganharem um dinheiro extra para a sua família. E na entrada da loja tem um atelier onde um dos vendedores explica a diferença entre os tipos de nós usados na fabricação dos tapetes, a diferença entre os tipos de material utilizados, como se tinge cada tipo de material etc... tudo para você entender muito bem porque os preços variam tanto e justificar o valor cobrado na loja :-)
Jovem tecendo tapete, a velocidade com que elas tecem é incrível!
Brincadeiras à parte, a aula é realmente interessante. E a apresentação feita dos tapetes à venda, já na loja e depois de servirem um monte de tipos de bebidas (inclusive alcoólicas, o que demandam certo controle por parte do cliente que não quer gastar dinheiro), é muito bonita. Os tapetes em si são todos lindos, e aula que se tem sobre padrões, cores e tipos de tapetes falsificados é digna de um museu! Só que nesse museu você pode comprar as peças que você gostou e levar pra casa. Eu, como sou alérgica, usei do meu autocontrole para não comprar nada. Foi muito difícil, mas eu consegui.
Alguns tapetes são tão detalhistas que mais parecem quadros!
Como a compra de tapetes pode ser um processo um pouco demorado (não só pela escolha do tapete, mas também pela negociação do preço a ser pago – afinal estamos falando da Turquia), o grupo se dividiu entre aqueles que iriam comprar tapetes e aqueles que estavam com fome. Os primeiros ficaram até mais tarde na loja, enquanto os segundos foram direto para um belo restaurante que é uma réplica de um caravançarai (lugar para descanso e pernoite para as antigas caravanas). O restaurante por si só era uma atração, mas, além disso, a comida era muito boa e bem servida, apesar de não haver menu. O sistema era de entrada, prato principal e sobremesa, com algumas poucas opções de cada prato. Mas o preço era justo, e eles aceitavam cartão de crédito.
Depois de um almoço bem demorado, o que foi muito bem vindo, fomos visitar o “vale das fadas”. Lembra que eu mencionei que a Capadócia tem o solo feito de uma rocha vulcânica fácil de ser moldada? Pois bem, cada camada do solo tem uma facilidade um pouco diferente de ser moldada pelos ventos, e com isso, ao longo dos séculos, foram sendo criadas, naturalmente, diversas estruturas que se assemelham a cogumelos, daí o apelido de vale das fadas. Outros nomes mais vulgares também são usados pela população local, mas isso eu deixo para a imaginação de vocês.
Vale das Fadas
E foi durante esse passeio que eu entendi o que é o clima continental durante o verão... a Capadócia é um lugar de extremos, chega tanto a -20° no inverno quanto a 50° no verão. E eu juro que fica mais quente do que no Egito quando chega a 50°! Nunca imaginei que fosse visitar um lugar nessa temperatura... e como o clima é extremamente seco, a diferença de temperatura entre a sombra e o sol é bizarra! Na sombra chega até a ser agradável, enquanto debaixo do sol de 50° a coisa fica bem complicada. Mas como as rochas são muito porosas, qualquer caverna parece ter um ar condicionado natural, o que facilita muito a exploração do vale.
Na sombra é muito mais agradável...
Esse tipo de formação rochosa é encontrada facilmente em toda a região, e algumas chegam a ter formatos mais peculiares e recebem nomes especiais, como “3 reis magos” e o “camelo”.
O Camelo
Toda a região parece um verdadeiro queijo suíço, pois em todas as rochas tem cavernas escavadas pelo homem, mas algumas estruturas merecem uma atenção especial, como o castelo que demos uma paradinha para ver de mais perto. E, aproveitando a parada técnica, encontramos um barzinho para tomarmos um chá gelado enquanto curtíamos um calor digno do Rio de Janeiro no auge do verão. Ok, talvez fosse pior.
"O Castelo" mais parece um queijo suíço
Depois de derreter o cérebro no calor de 50°, nossa guia nos levou para conhecer outro “artesanato” típico da região: o trabalho de ouro e prata com pedras preciosas. E claro, a pedra mais famosa da Turquia: a turquesa. Lá aprendemos também a distinguir a pedra falsa da verdadeira, o único problema é que quando a cópia é boa só dá para ver se a pedra é verdadeira ou não se a quebrarmos. Não adianta muito, né? Mas a visita valeu à pena, pois a loja era realmente muito bonita e os preços realmente tentadores.
Após essa visita, o nosso grupo se dividiu novamente, pois nem todos queriam assistir ao show dos dervixes rodopiantes. Claro que eu e o Caike fomos ver os sufis dançando. A cerimônia (chamada Sema na Turquia) foi realizada num lugar muito interessante, pois era numa casa com um jeito bem simples, com uma pequena loja de souvenires no térreo, e uma escada que dava para o subsolo. O subsolo era um salão imenso e frio (por causa da rocha porosa), que mais parecia um local de encontro religioso mesmo.
No centro do salão tinha um palco redondo, onde seria realizada a sema. A cerimônia foi realizada por um grupo de 4 dervixe, mais 3 sufis que serviram apenas de músicos, e mais o mestre do grupo. Como é uma cerimônia religiosa, não podemos tirar fotos, mas isso não faz a menor diferença, pois o importante ali certamente não era a parte visual (apesar de ser muito impressionante).
A cerimônia começa com os músicos tocando uma linda música sufi, daquelas que só de ouvir você começa imediatamente a meditar, depois entra o mestre e os demais dervixes, que seguem todo um cerimonial específico, que tem um simbolismo lindíssimo (isso pode vir a ser um post no futuro...), e no final o mestre faz um sermão com base no corão ou em ensinamentos sufis (essa parte eu não entendi nada snif snif snif). A entrega dos dervixes era tão grande que dava para perceber as variações mais ínfimas na música, de forma que todos eles paravam de rodopiar ao mesmo tempo... e depois de umas duas sessões de rodopio já dava para saber quando eles iriam parar. Algo realmente mágico de se ver.
O bacana mesmo é a experiência de assistir o sema, pois se você der sorte de assistir um ritual de verdade, é algo realmente fantástico! A sensação que eu tive foi de estar dançando e meditando junto com os dervixes... saí de lá extasiada! Foi uma das coisas mais lindas e emocionantes que já vi. Mas não é todo o mundo que entra nesse clima...
Durante a cerimônia não pode tirar foto, mas depois os dervixes dão uma palhinha para os turistas registrarem
Depois da cerimônia voltamos para o nosso hotel na caverna, e fomos jantar junto com o casal paulista. Dessa vez eu e o Caike pedimos um “Celtik Kebab”, que era um prato de carne de carneiro com batata palha e iogurte, enquanto o casal pediu peixe. Para variar tudo estava divino! Apesar de confessar que eu gostei mais do prato que eu havia comido no dia anterior...
Após o jantar fomos direto dormir, pois o balão sairia absurdamente cedo no dia seguinte.
“Nós somos todos
estrelas, e nós merecemos brilhar” – Marilyn Monroe
Luna do Cairo é uma bailarina de dança do ventre americana,
originalmente de Brookling, Nova Iorque (ela estudou em Harvad!) e tem vivido
no Cairo nos últimos 3 anos. Ela é contratada do Nile Memphis no Cairo (Memphis
Tours Nile Cruises).
Luna estará presente no próximo Festival Egípcio Salamat Masr (de 5 de julho à 12 de julho de 2012),
ensinando ao lado de famosas estrelas egípcias da dança do ventre como Mona El
Said, Zizi Mostafa e Najwa Fouad.
Ela tem um blog polêmico: Kisses from Kairo. Onde você pode ler sobre as suas experiências como bailarina estrangeira de
dança do ventre no Egito, sobre algumas diferenças culturais e – como ela mesma
diz – seus erros, reflexões e sucessos!
IZ – Quando e por que você decidiu começar uma carreira como
bailarina no Egito?
LC – Na verdade, eu nunca tive a intenção de começar uma
carreira como bailarina no Egito. Meus objetivos eram bem mais modestos do que
isso. Eu vim para cá em 2008 por conta de uma bolsa de estudos para pesquisar
as origens da dança do ventre e o seu desenvolvimento ao longo da história.
Claro que eu também queria aprender o máximo possível da dança. Aos poucos as pessoas
começaram a me chamar para alguns shows. Eu concordei em tentar. Primeiramente,
antes de eu conseguir um contrato, eu dançava 2 ou 3 vezes por semana nos
resorts das praias que ficam ao longo do Mar Vermelho, a duas horas do Cairo. E
isso era OK na época, mas eu dançava durante uma hora ao som de CD ao ar livre,
num chão duro que estragava os meus sapatos de dança. Era um trabalho duro, mas
é tudo que há de trabalho para uma bailarina se ela não tem um contrato. Então eu
trabalhava de bom grado. Então, um dia, alguém que acreditava em mim me levou
para um teste no Nile Memphis. Eu passei no teste, e quando percebi, tinha sido
contratada para dançar toda noite ao som de uma banda ao vivo.
“Eu aprendi que a
dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que acontece.
Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós estrangeiras
tentamos alcançar ao vir para o Egito.”
IZ – Por trás do glamour dos shows e festivais, como é ser
bailarina num país árabe? (Eu li no seu blog – você foi expulsa do seu
apartamento por ser bailarina de dança do ventre)
LC – Ser bailarina de dança do ventre no Egito não é uma
coisa fácil. 90% dos egípcios, incluindo as próprias bailarinas e músicos,
acham que a dança do ventre é pecado, e que as bailarinas são prostitutas. Isso
porque eles vivem numa sociedade conservadora e religiosa, segundo a qual as
mulheres são proibidas de mostrar o seu corpo em público para os homens. E como
essa profissão é tão vergonhosa por aqui, a maioria das bailarinas, incluindo eu
mesma, esconde a sua profissão, ou então mente sobre o que faz. Se não fizermos
isso, corremos o risco de sermos condenadas ao ostracismo pelos nossos
vizinhos, proprietários, familiares etc. Como você mencionou, o meu
proprietário me expulsou do meu apartamento quando descobriu que sou bailarina
de dança do ventre. A irmã dele me viu dançando num hotel e contou para ele que
a sua inquilina era bailarina. Logo em seguida ele veio me dizer que ele e sua
família eram “pessoas de Deus”, e que eles não poderiam ter uma bailarina
alugando o apartamento deles. Além de ele acreditar realmente no que estava me
dizendo, ele também não queria correr o risco de que os vizinhos descobrissem
que uma bailarina morava no apartamento dele, porque isso faria com que o seu apartamento
ficasse com fama de puteiro. E então as pessoas o veriam como um cafetão. Era
uma situação em que ele só tinha a perder.
IZ – Alguns anos atrás, as bailarinas egípcias de dança do
ventre se rebelaram contra o influxo de bailarinas estrangeiras e convenceram o
governo a parar de conceder permissão para as não-egípcias para dançar. Desde
então, como é ser uma bailarina estrangeira no Egito?
LC – Bom, bailarinas estrangeiras têm menos oportunidades do
que as egípcias. Como você mencionou, houve um momento em que o governo baniu
completamente as bailarinas estrangeiras. Isso porque muitas bailarinas
egípcias, Fifi Abdou era a mais importante, estavam ficando zangadas com as
estrangeiras que estavam roubando o seu trabalho. Também nessa época, havia
muitas prostitutas russas que se disfarçavam como bailarinas de dança do
ventre. Então as egípcias queriam parar com isso, porque elas estavam perdendo
trabalho. Agora as estrangeiras têm permissão para trabalhar no Egito, mas o
processo de conseguir um contrato e a permissão do governo é difícil. Leva
muito tempo, muito dinheiro e paciência. E só existem uns 4 ou 5 lugares com
licença para contratar talentos estrangeiros. Se conseguimos um contrato, nós
só temos permissão para dançar num único lugar, enquanto as egípcias podem dançar
em tantos hotéis, barcos e cabarés quanto quiserem. Nós podemos dançar em
casamentos e outras ocasiões privadas, mas, fora isso, temos esse limite de
dançar apenas no lugar que nos contratou. Além disso, temos que pagar um monte
de multas mensais e anuais, e impostos! Sem mencionar a comissão que pagamos
aos nossos agentes. E então, tem o código de vestimenta. Tecnicamente, nós
devemos usar roupas que cubram a barriga, mesmo que a cobertura seja
transparente. A maioria das bailarinas as acha feias e irritantes, mas elas são previstas em lei. Então ser uma
bailarina estrangeira não é nada fácil.
Não é impossível, mas não é mole não.
IZ – Quais são as coisas positivas de ser bailarina de dança
do ventre no Egito?
LC – Tem muitas coisas positivas para se falar sobre ser
bailarina de dança do ventre no Egito. Não há nada no mundo que se compare a
poder se apresentar todo dia para um público egípcio, e ser acompanhada por
alguns dos melhores músicos do mundo. Você também é responsável por todo o seu
show. Você seleciona a sua música, faz a sua banda memorizá-la, você coreografa
(ou não), você escolhe o figurino. E tem o reconhecimento da comunidade mundial
de dança que você ganha por dançar no Cairo. É por isso que tem tantas bailarinas
que gostam de dizer que dançam no Cairo, mesmo se isso não for verdade. Elas
acham que pega bem para elas.
(...) “Haverá um tempo
em que os egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar
uma nova “Época de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.” (...)
IZ – Tem algum movimento, ritmo, progressão musical,
elementos de etiqueta etc. que você não conhecia antes de vir para o Egito?
Como a cultura egípcia te ajudou a entender melhor a dança do ventre?
LC – No meu caso, eu basicamente aprendi a dançar no Egito.
Eu tive aproximadamente um ano de aulas em Nova Iorque, mas
aprender de não-egípcios não é a mesma coisa que aprender dos egípcios, ou de
estrangeiras que fizeram suas carreiras no Egito. Eu aprendi a maior parte da
minha técnica aqui, e aprendi a como me expressar de um jeito mais egípcio.
Além disso, aprendi a como ouvir a música. Como entender o que os instrumentos
estão dizendo, e que tipo de movimento corresponde a cada um deles. Por último,
eu aprendi que a dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que
acontece. Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós
estrangeiras tentamos alcançar ao vir para o Egito.
Coleção Eman Zaki - Tracey Gibbs
IZ – Como você se sente sendo uma professora no Festival
Internacional “Salamat Masr” ao lado de lendas egípcias como Najwa Fouad, Zizi
Mostafa e Mona El Said?
LC – Estou extremamente animada por estar ensinando e
dançando ao lado de estrelas como Mona El-Said, Nagwa Fouad, Zizi Mostafa,
Hassan Ali, Mohammed El-Hosseiny e Semasem e Joana. São todos artistas tão
talentosos e dedicados, e eu me sinto honrada por participar de um mesmo evento
que eles. E eu preciso dizer, Salamat Masr é um dos melhores festivais do
mundo. O Sr. Hassan Ali é um verdadeiro artista, que juntou todos aqueles que
deveriam estar ensinando em festivais todos esses anos, mas talvez tenham sido
excluídos pela falta de profissionalismo e politicagem de outros grandes
festivais. A maioria desses artistas tem realmente experiência de dança no
Cairo, o que é uma credencial muito importante. Então, estou animadíssima com
esse festival, como você pode imaginar!
Salamat Masr 2012
IZ – Quem você considera como um professor “máster”? Por
que?
LC – Tem muitos artistas que eu considero como professores
máster. São principalmente aqueles que têm uma carreira de verdade no Cairo.
Tanto egípcios quanto não-egípcios. Existem algumas coisas que você não tem
como aprender ou ensinar se você não tem experiência de dançar com música
egípcia ao vivo com alguma regularidade. O palco, a música, o público e a
experiência são os melhores professores. Então alguém que tenha tudo isso é,
para mim, máster.
foto por Tracey Gibbs
IZ – Quem você considera uma lenda eterna? Por que?
LC – Fifi Abdou. Ela é a minha bailarina egípcia favorita, e
é conhecida apropriadamente aqui no Egito como A Rainha da Raqs Sharqi. A sua
dança é transformadora, poderosa, ousada, linda e feminina. E ela influenciou
gerações de bailarinas.
IZ – O que você acredita que é o futuro da dança do ventre
egípcia nos próximos anos?
LC – Eu acho que com a crise econômica e social pela qual o
Egito está passando, a dança do ventre vai passar por maus bocados. A nova onda
de conservadorismo religioso já teve um impacto negativo no cenário da dança, e
eu acho que isso só vai piorar com o tempo. Eu gostaria de poder ser mais
otimista, mas a realidade não me deixa. Entretanto, haverá um tempo em que os
egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar uma nova “Época
de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.
Luna no Nile Memphis
IZ – Como você vê o seu futuro como bailarina no Egito?
LC – Se a situação no país permitir, eu gostaria de pensar
que tenho um futuro brilhante como bailarina de dança do ventre no Egito. Eu trabalhei
muito duro desde que fui contratada no ano passado, e fiz numerosas
apresentações em eventos para a nata corporativa, assim como na TV egípcia.
Então estou otimista com relação a isso. Eu sou grata por tudo o que Deus me
proporcionou até agora, e estou pronta para o que quer ele coloque no meu
caminho.
Você pode ler a entrevista original (em inglês), assim como
outras entrevistas com outras bailarinas aqui.
Depois de sugerir um livro extremamente pesado e controverso, nesse mês resolvi pegar leve e sugerir uma leitura um pouco mais suave. Filae - O último templo pagão conta a história de Filae (claro), um templo que pode-se visitar até hoje no Egito. O templo (a verdade, um complexo de templos dedicado a Ísis), que data do Egito antigo, ficava numa ilha com o mesmo nome, pouco antes da primeira catarata do Rio Nilo, mas como a ilha foi submersa por causa da construção da barragem de Assuã, o templo foi todo desmontado e reconstruído numa ilha próxima, chamada Agilkia.
Nesse livro, Christian Jacq (o mesmo autor da já sugerida saga de Ramsés) narra o final da vida no templo. A história é triste, pois envolve a morte de uma tradição milenar, e você vê a perseguição pela qual os últimos sacerdotes (e sacerdotizas) passam. Inclusive, dá para fazer um paralelo dessa morte e dessa perseguição com a dança do ventre no Egito hoje... é sempre muito triste de ver.
Capa da edição traduzida para o português, infelizmente ainda não há versão de bolso...
Mas o livro é lindamente escrito, como sempre porque Christian Jacq é maravilhoso, e tudo o que ele fala sobre o antigo Egito é tão poético que dá vontade de viajar no tempo e viver perto dos faraós. É tudo tão bonito e triste que não dá vontade de parar a leitura até chegar na última página!
Para bailarinas de dança do ventre, o interessante é ver as descrições do Egito Antigo, dos seus rituais, roupas, e como a mulher era vista, em contraste com a cultura cristã que vem substituindo a cultura milenar dos deuses egípcios ao longo do livro. E é interessante também, caso você possa ir no Egito, visitar Filae, pois um dos seus templos, que é dedicado a Hathor, têm muitos afrescos relacionados à dança... de ponta a ponta são mostrados egípcios com seus instrumentos e dançando... é lindo! E dá para reconhecer diversos antepassados dos atuais instrumentos árabes! É tudo de bom! Pena que o livro não seja ilustrado... seria ainda mais imperdível!
Aguém já leu esse livro? Ou então já visitou Filae? Compartilhe suas impressões com a gente!
Sim, eu estou falando daquele
M. McDonalds. O lugar que nenhum americano viajando pelo exterior e com algum respeito
por si mesmo seria encontrado, nem morto. Nós, americanos que viajamos pelo
exterior, sofremos de uma espécie de “complexo do McDonalds”. Somos
dolorosamente conscientes de que o resto do mundo nos vê dentro de um
estereótipo de provincianos, sem experiência de viagens, caubóis sem cultura
que só sabem falar a sua própria língua e que só comem fast food. Então, para provar para o mundo (e nós mesmos) do
contrário, uma das coisas que evitamos é comer no Mcdonalds. Mesmo que seja
para o nosso próprio bem.
Eu sou uma dessas americanas que sofre do complexo do
Mcdonalds. Não só porque comer no McDonalds é um indício de mentalidade
estreita, mas por causa de tudo que a fast
food passou a simbolizar ao longo dos anos. Especialmente aqui no Oriente
Médio. Sendo uma das maiores corporações do mundo, é um símbolo da hegemonia
econômica e cultural americana. E, portanto, não é de admirar que os
restaurantes do McDonalds se tornassem um dos alvos favoritos da violência antiamericana
no mundo árabe.
Tendo isso em mente, eu tento evitar comer no McDonalds
quando estou aqui no Egito, ou em qualquer outro lugar, em se tratando desse
assunto. Não só pelo o quê simboliza, mas também porque é uma comida ruim. E eu
gosto de experimentar as comidas locais. Isso sem mencionar que eu nunca comia
no McDonalds quando eu estava morando nos EUA. Então porque eu iria adquirir
esse hábito agora que estou morando no exterior?
PORQUE EU JÁ PERDI A CONTA DE QUANTAS VEZES EU TIVE
INTOXICAÇÃO ALIMENTAR DESDE QUE COMECEI A VIAJAR 8 ANOS ATRÁS, TUDO PARA NÃO
SER UMA AMERICANA IGNORANTE E FREQUENTADORA DO MCDONALDS!
Até agora, eu consegui ter uma intoxicação alimentar em
quase todos os países que visitei. O último foi a Polônia. Eu sempre sonhei em
conhecer a Polônia desde que comecei a estudar a Segunda Guerra Mundial no
colégio. Então quando surgiu a oportunidade de ensinar no Suraiya and Mansour’s
Euro Raks Festival na Polônia, eu aceitei de bom grado. Mas assim que saí do
avião, comi algo que não devia, e antes que eu percebesse já estava correndo
atrás de um banheiro.
O que aconteceu é que eu tive uma escala de 9 horas em
Warsaw antes de seguir para a cidade de Katowice, onde o Euro Raks Festival
estava acontecendo. E com todo o meu entusiasmo turístico, eu perambulei pela
cidade até chegar a hora da minha conexão. Admito que não falo nem uma palavra
de polonês, e que não sabia nada sobre os lugares que estava visitando, mas não
importava. Eu estava feliz só de sentir o ar frio, fresco da Polônia, e de ver
cores tão vívidas a minha volta, especialmente o verde! (Faz um tempo que não
vejo essa cor.) Eu estava especialmente intrigada com a arquitetura... e as
igrejas! Eu não sou religiosa nem nada, mas ver as igrejas me deu uma sensação
de calma que eu não sentia há tempos. Era uma sensação tão boa que eu quis intensificar
ainda mais entrando em uma das igrejas. E como foi intenso. Sem nenhuma razão
aparente, de repente comecei a chorar copiosamente. Eu não sei por qual razão
estava chorando. Ou porque, de todos os lugares, eu estava chorando na Igreja
de São João Batista na Polônia. Especialmente se levar em consideração que eu
não chorava há muuuuuuuuuuito tempo. Era a primeira vez que eu pisava numa
igreja depois de muitos anos, entretanto. Talvez tenha a ver com isso.
De qualquer forma, eu me recuperei e continuei andando pela
linda cidade até que senti fome. As coisas foram ladeira abaixo a partir desse
ponto. Tinha um grande “M” amarelo bem na minha frente. Me chamando. Ah, se eu
soubesse. Ao invés disso, resolvi comer num restaurante polonês, e corajosamente
pedi sopa de ervilha com uma porção de kielbasa, e bolinhos de espinafre com
queijo. Eu normalmente não como porco. Não por razões religiosas, mas porque eu
não gosto muito. Mas, bem, o que seria de uma viagem à Polônia sem kielbasa? E
qual é a graça de sair do Cairo sem aproveitar para fazer todas as coisas não
dá pra fazer lá, como comer porco, tomar cerveja, e andar por aí seminua? Então
a infiel dentro de mim pediu porco.
E então, Deus me puniu. Ele me mandou direto para as
entranhas do inferno – ou melhor dizendo, mandou o inferno direto para as
minhas entranhas! No banheiro do avião da minha conexão para Katowice, claro.
Se você nunca passou por isso, deixe-me ser a primeira a te contar que não há
nada pior do que ter diarreia a 9 mil metros de altura. Se já é ruim o
suficiente NO nível do mar, imagine numa altura dessas!
E para a minha sorte, a intoxicação alimentar foi ficando
cada vez pior ao longo da noite até o dia seguinte, no qual eu estava escalada
para dar aula. Eu estava completamente desidratada, com dores, exausta e com
fome, comecei a pensar em trocar de lugar com alguém que daria workshop em
algum outro dia. Parecia simples, mas aparentemente teria sido um pesadelo
logístico. Então eu tinha apenas uma escolha: ou cancelar a aula e perder a
oportunidade, ou dar a aula de qualquer jeito, mesmo que fosse a última coisa
que eu fizesse. Escolhi a segunda opção. Sendo os anfitriões magníficos que
eles são, Surayia e o seu marido me entupiram de Stoperan, ou “rolha” como eu
gosto de chamar (:D), um remédio para diarreia muito comum na Polônia. Eu tomei
tanto quanto era humanamente possível, esperando que o meu problema fosse
resolvido antes da aula.
Não tive sorte. Na verdade, eu acabei por vomitar uma hora
antes da aula. Nessa hora, qualquer pessoa em sã consciência teria
provavelmente cancelado o workshop. Mas eu não. Entrei no banho (de novo),
taquei maquiagem na cara e arrestei a minha bund@ para a aula.
O que aconteceu logo depois foi uma espécie de milagre.
Consegui ensinar minha entrada super energética com sucesso, para uma sala
cheia de lindas, talentosas e notáveis jovens mulheres. Elas já tinham ouvido
falar que eu estava doente, então elas souberam ser pacientes comigo. Elas até
me levaram uma bandeja cheia de cookies,
e brincaram sobre a ironia de eu sair do Cairo para ficar doente na Polônia!
Entre os cookies, a bondade e as
gargalhadas delas, eu consegui ir até o final da aula, não obstante as
tonturas. Louvado seja o Senhor que me puniu por ter comido porco! :D
Moral da história. Eu deveria ter comido no McDonalds. Tem
vezes que vale a pena ter mentalidade estreita, provinciana e
sem-vergonhadamente americana, e seguir com o já conhecido, testado e aprovado.
Especialmente quando as alternativas incluem fois gras (gansos forçados a comer), kielbasa, wienerschnitzel,
mumbar (intestinos recheados), cérebro de boi frito, testículos de boi
fritos... Apesar dos pontos negativos, pelo menos você sabe o que esperar no
McDonalds. E você nunca vai passar mal por comer um Big Mac (a não ser que
inclua ratos! >D). Sensação de culpa, sim. Intoxicação alimentar, não.
Essa experiência me ensinou mais uma coisa. Localizar o
McDonalds mais próximo quando estiver visitando um país estrangeiro é tão
importante quanto saber onde fica a embaixada americana. Em momentos de crise,
ambos podem ser os salvadores da pátria. Na verdade, eu acho isso tão
importante hoje, que acho que pequenos “M” amarelos deveriam ser marcados nos
mapas turísticos junto com os museus, igrejas e hospitais. :)
E realmente, eu me lembro especificamente de outra ocasião
em que um McDonalds teria caído muito bem. Foi quando eu estava num hospital na
Síria 5 anos atrás. Só que não há McDonalds na Síria.
No final da minha estadia de 2 meses para estudar em
Damasco, eu visitei a família sírio-americana de um ex-namorado meu em Idlib. Eu não me lembro
o que comi, mas deve ter sido algo muito ruim, porque a próxima coisa que me
lembro é que eu estava num hospital com febre, completamente desidratada e
delirando depois de 24 horas de diarreia contínua (com banheiros turcos, para tornar a situação pior). O médico me informou que minha única opção era
tomar uma injeção com uma agulha absurdamente grande e não-descartável no
traseiro. Percebendo o pânico no meu rosto, ele me empurrou para que eu ficasse
de lado e me segurou para dar a injeção. Só que eu resisti. Nós continuamos a
nos empurrar e a nos bater até que as irmãs do meu ex, que estavam vendo o que
estava acontecendo, se sentiram mal por minha causa e me arrastaram para o
banheiro (que também era estilo turco).
Sem querer correr o risco de pegar AIDS por conta daquela
agulha, a única coisa que me restava era induzir o vômito para tirar o estava
me envenenando do meu corpo. Fácil de falar. Eu nunca tinha feito isso, e
estava com medo de tentar. Então as irmãs dele me ofereceram os dedos delas!
Hum, não... apesar de apreciar o gesto. Como eu queria acabar com o problema o
mais rápido possível, coloquei 2 dedos na garganta e consegui, na frente de
duas mulheres. Nojento e vergonhoso.
Aqui no
Egito, é fácil arranjar
uma intoxicação alimentar também.
Apesar de o culpado ser geralmente a água. Mas como nunca bebo água da bica, e quase sempre
cozinho, eu normalmente não fico tão doente como costumava ficar quando visitei o Egito pela primeira vez 7 anos atrás. Além disso, devo ter ficado
imune a mais coisas do que posso imaginar. Aqui eu nunca nem menciono a palavra
McDonalds, a não ser como ponto de referência, ou um lugar onde marquei de
encontrar alguém na frente.
Ok, ok. Isso não é totalmente verdade. Admito que de vez em
quando sinto um tipo de “desejo” por um Big Mac. Mas eu acho que isso significa
que estou com saudades de casa. Não porque eu comesse isso em casa. Mas porque é um
símbolo de tudo o que é americano, é como se eu tivesse comendo um pedaço da
própria América. Isso, além de soluçar toda vez que escuto Whitney Houston,
Celine Dion, ou Madonna tocando num taxi ou num café, é certamente um sinal de
que você está com saudade de casa e algo precisa ser feito com relação a isso.
:)
A melhor coisa do McDonalds aqui no Egito, entretanto, é que
eles fazem entrega – na sua mesa e na
sua casa! Não é exatamente fast food,
já que serviço é bem lerdo, mas tudo o que você precisa fazer é pedir no caixa,
escolher um lugar e esperar um garçom trazer a sua comida. Ou então, telefonar
pra um número especial do seu celular, e esperar o entregador do McDonalds
trazer o seu McLanche Feliz numa motocicleta vermelha especial. A McMotor. ;)
E eu não acredito que acabei de escrevei um post inteiro
sobre o McDonalds. Eles deviam me pagar por isso!
Acordamos às 5 horas da manhã, pois precisávamos fechar as
malas, tomar banho e um belo café da manhã, pois passaríamos praticamente todo
o dia dentro do ônibus, que saía às 7h da manhã, na maior “perna” da nossa
viagem.
Infelizmente o café da manhã não foi ao ar livre (como eu
gostaria, afinal o jantar havia sido maravilhoso), e a comida era muito simples
mesmo, o que era de se esperar pela estrutura do hotel. Mas o que eles tinham
era gostosinho. Como fui antes do Caike para o salão, me sentei perto do
Buffet, para garantir que ele me acharia com facilidade, e confesso que fiquei
me divertindo enquanto esperava vendo as pessoas tentarem usar a máquina de
café/chá/chocolate quente. A máquina tinha uma quantidade realmente grande de
botões e duas saídas para os líquidos, então invariavelmente as pessoas erravam
e perdiam parte da sua bebida ou faziam lambança.
Terminando o café fui para o ônibus, só para descobrir que
tinha tanta gente indo embora no mesmo dia e na mesma hora que parte das malas
do nosso grupo (incluindo as nossas) simplesmente ainda não havia chegado.
Algumas pessoas ficaram muito preocupadas, achando que elas poderiam ter ido
parar em outro ônibus, mas no final deu tudo certo, elas só demoraram mais a
chegar mesmo.
A previsão era de ficarmos pelo menos 4 horas e meia dentro
do ônibus (sem contar as duas paradas técnicas programadas) até chegar a Konya,
a capital espiritual da Turquia. Na primeira parada técnica aproveitamos apenas
para ir ao banheiro, pois dormimos direto, com direito a música sufi de fundo,
que a nossa guia colocou justamente para a galera poder descansar mais um
pouco. Na segunda parada técnica fizemos um lanche/almoço. Paramos num tipo de
restaurante, mas que só serve lanchinho, e comemos um prato típico da região:
bidê (se fala bidê mesmo!), conhecido também como pizza turca, mas que também
lembra uma esfirra aberta. O prato tinha 3 sabores disponíveis: carne, queijo
ou misto, e sem saber que a carne era apimentada pedimos o misto, o que foi um
erro, pois foi difícil de comer e como eu pedi um chá que veio muito doce, a
bebida não ajudou a aliviar o ardido da pimenta.
Vista do Castelo de Algodão ao caminho de Konya...
Aproveitamos novamente para ir ao banheiro, só que o lugar
era tão grande que eu me perdi. O inglês tosco dos funcionários também não
ajudou em nada. A
única vantagem é que eu não paguei para entrar no banheiro, pois entrei pelo
lado errado (desconfio que era a entrada dos funcionários) e não passei pelo
controle.
Saindo do restaurante e voltando para o ônibus, nossa guia
começou a nossa aula sobre o interior da Turquia e o Sufismo, tão presente e
importante nessa região. O Sufismo é o lado místico do islamismo e durante
muitos anos (e em alguns países até hoje) ele foi proibido por ser considerado
uma heresia (no caso da Turquia acredito que ele tenha sido banido pelo Ataturk
porque era considerado uma ameaça à laicidade do estado). O Sufismo tem
diversas vertentes diferentes, mas na Turquia é muito associado ao poeta e
mestre Rumi, que apesar de ser persa e ter nascido numa região que hoje
pertence ao Tadjiquistão, ele morou a maior parte da sua vida em Konya, e foi
lá que ele escreveu todas as suas obras de importância. Mevlana Jalal ad-Adin
Rumi, viveu no século XIII e sua obra influenciou o mundo todo. A maior parte
dos grandes pensadores que vieram depois dele leu sua obra e foi influenciado
por ela de alguma forma.
Outro personagem importante no folclore dessa região é o
famoso Nasrudin, que apesar de ter histórias absolutamente folclóricas, foi um
personagem real. Suas anedotas são mundialmente conhecidas e ele encarna o
papel do sábio tolo, que assim como o bobo da corte medieval, se utiliza de sua
própria tolice para dizer a verdade que ninguém tem coragem de dizer. Mestre
Nasrudin também é utilizado no sufismo, onde através de suas anedotas e
histórias engraçadas são passados diversos ensinamentos (a tradição oriental
sempre foi muito baseada em histórias, e os ensinamentos são passados diversas
vezes de forma oral, através de histórias curtas e anedotas).
Para amenizar a chatice do ônibus, nossa guia, Tina, passou
as horas depois do almoço contando histórias dele, o que tornou a viagem até
Konya muito mais interessante e divertida. Mas chegando a Konya, nós fomos
visitar o a escola criada por Rumi, que é mais conhecido por suas poesias,
especialmente as de amor.
A escola de Rumi hoje é um museu, e peregrinos sufis e
muçulmanos do mundo inteiro vão até lá para rezar no seu túmulo. Com um
ambiente agradável e um lindo jardim em torno das construções, hoje se visita o
seu túmulo como se fosse mesmo um museu. Seu imenso caixão de pedra, coberto
por um tecido verde, fica numa grande sala, juntamente com os caixões de outros
mestres e sufis proeminentes, e todos têm turbantes em cima, e o tamanho do
turbante indica a importância do morto. Por ser um local de peregrinação,
apesar da quantidade imensa de pessoas visitando o museu, a sala permanece em
silêncio. É proibido tirar fotos (apesar de algumas pessoas tirarem mesmo
assim, especialmente os chineses e japoneses), e muitos aproveitam para orar o
mais perto possível de Rumi, e outros aproveitam para orar para as diversas
relíquias que também estão dispostas no local.
Museu Rumi
Nos antigos quartos destinados aos sufis que viviam ou
visitavam a escola, hoje há uma exposição sobre a cultura sufi, suas
vestimentas, hábitos e instrumentos musicais. Ah, sim, os sufis são muito
conhecidos pela sua música, e Rumi fundou uma das ordens sufis mais conhecidas
do mundo: a ordem dos dervixes rodopiantes. Rumi criou um ritual onde alguns
sufis tocavam música, enquanto outros entravam em estado meditativo e em êxtase
rodopiando sem parar, tudo sob a tutela de um mestre, que conduz a cerimônia,
chamada de Sema na Turquia. Aliás, é dessa cerimônia que deriva a dança egípcia
Tanoura.
Nays - flautas de madeira muito usadas na música sufi
Rababas - uma espécie de violino antigo, também muito presentes na música Sufi
Kudum - um dos instrumentos de percussão usados pelos sufis
Infelizmente nossa visita ao museu foi muito curta, e não
pude meditar perto do túmulo de Rumi. Além disso, precisei ir ao banheiro, que
tinha uma fila simplesmente gigantesca, e acabei também não podendo aproveitar
o jardim do museu... pelo menos na saída consegui comprar uma das obras de Rumi
que é muito difícil de encontrar.
O jardim do museu
Um exemplo da sua poesia:
Seja como o sol pela graça e misericórdia
Seja como a noite para cobrir as faltas dos outros
Seja como a água corrente pela generosidade
Seja como a morte para a raiva e o ódio
Seja como a terra pela modéstia
Pareça ser aquilo que você é
Seja aquilo que você parece ser
É ou não é apaixonante?
Aproveitando o clima do museu, nossa guia, Tina, aproveitou
para ler alguns dos seus poemas durante o resto da viagem para a Capadócia.
Dessa vez, fizemos apenas uma parada técnica antes de ir para o nosso hotel.
Nessa parada aproveitamos para lanchar, eu e o Caike pedimos uma tost (um tipo
de sanduíche na chapa), e eu pedi minha bebida turca favorita: o ayran. O
serviço do lugar era muito confuso, e foi complicado conseguir o nosso lanche.
Quando a Tina me viu com aquele copo de iogurte na mão ela comentou que eu
estava realmente parecendo uma turca, visto que a maioria dos turistas não
gosta dessa bebida salgada.
Chegando na Capadócia, pela primeira vez o grupo se dividiu,
pois parte do grupo havia pago o adicional para ficar no hotel da caverna,
enquanto os outros ficariam num hotel comum. Por isso aqueles que ficariam nos
hotéis das cavernas (um grupo de paulistas escolheu um hotel diferente daquele
sugerido pela agência de viagens, apesar dos hotéis serem um do lado do outro)
seguiram viagem numa van, enquanto o resto seguiu no ônibus junto com a guia e
Selim, nosso motorista.
A Capadócia vista do nosso hotel
Agora vou dizer uma coisa: valeu cada centavo o extra que
pagamos pelo hotel na caverna. É o hotel mais chique que já fiquei ou vi ao
vivo. Era tão chique que fomos recebidos com uma linda bebida gelada feita com
especiariais! O hotel em si era uma atração! Encravado numa montanha, com absolutamente
todos os cômodos feitos de pedra, o hotel era um luxo só! E não só na
construção e na vista simplesmente divina, mas também nos detalhes, tudo dentro
do hotel era lindo. Ele era bem decorado, o serviço impecável, e o quarto...
nossa! O que era aquilo! O banheiro era gigantesco e tinha uma jacuzzi imensa
para duas pessoas e um chuveiro daqueles bem modernos, com jatos de água saindo
das paredes.
A recepção do nosso hotel
Fomos recebidos com uma bebida gelada a base de especiarias que era uma delícia!
A decoração do hotel era uma atração à parte, e atrás do hotel vemos as antigas cavernas usadas por séculos pelos moradores da região
Como ainda tínhamos que jantar antes do show da dança que
assistiríamos a noite, tomamos banho no chuveiro modernoso, o que foi uma
experiência muito interessante, pois ajustar os jatos para eles baterem nos
locais certos o não na sua cara não é uma tarefa tão simples assim. E como eu e
o Caike temos alturas muito diferentes, cada um precisou ajustar o chuveiro
para si.
Apesar de termos combinado com outras pessoas que estavam na
nossa excursão para jantarmos juntos, quando chegamos no local combinado não
havia ninguém, e como na espécie de barzinho aberto estava muito quente e
ventava muito, resolvemos jantar no restaurante do hotel. O cardápio era
extremamente variado e não era proibitivo, apesar do restaurante ser
absurdamente chique. Eu pedi um kebab (todo prato com carne se chama kebab na
Turquia) ao molho de iogurte com ervas e purê de berinjela, que estava tão
divino que nem dá para descrever. O Caike pediu um prato típico turco: o kebab
de pote. Esse prato tem uma apresentação realmente única: o kebab é cozido
dentro de um pote de barro, que precisa ser quebrado para se servir da carne
feita no molho de tomate e especiarias. É realmente algo bonito se ver, apesar
de eu ter preferido o sabor do meu prato.
Nosso jantar super chique! Repare no pote de barro no prato do Caike
Terminando o jantar, encontramos os demais turistas para
pegar o nosso transfer para o show de danças típicas no Harmandali. O transfer
era uma van muito modernosa, cheia de luzes coloridas por dentro e o interior
imitava madeira. A idéia era ser chique, mas o resultado não era bem esse.
Euzinha na entrada do Harmandali
Eu fiquei super feliz por ter conseguido ir nesse show, pois
a estrela da noite não é ninguém menos do que a nossa carioquíssima Clara
Sussekind! Eu já conhecia o trabalho da Clara há muitos anos e sempre fui fã,
mas desde que ela foi para a Turquia eu só pude vê-la uma vez, e para variar
ela havia arrasado no show. Como eu poderia ir à Capadócia e não ver a mais famosa
bailarina de dança do ventre atualmente na Turquia??? Até a nossa guia (que a
conhece pessoalmente) contou que os turcos vão à Capadócia só para assisti-la.
E agora ela vai fazer o maior sucesso por aqui também por conta da nova novela
da Globo, onde ela aparece dançando...
Enfim, chegamos ao Harmandali, que é na verdade um
restaurante com show de danças. O salão onde acontece o show é uma grande arena
que lembra um ouriço, pois ao redor da arena tem corredores amplos com níveis
onde eles colocam as mesas para as pessoas assistirem o espetáculo. Nesse
restaurante se apresentam a Clara e uma companhia de danças folclóricas turcas.
E nós ficamos bem de frente para a entrada! O lugar perfeito para ver o show!
Durante o show, os espectadores são servidos com pratos de
frutas e alguns petiscos, para serem consumidos à vontade, além de bebidas de
todo tipo, tudo à vontade também (incluindo bebidas alcoólicas), eu aproveitei
para tomar Raki, um tipo de cachaça feita de anis, conhecida no mundo árabe
como arak e na Grécia como uzo.
A nossa mesa ainda desfalcada do pessoal que não ficou no hotel da caverna
A primeira dança foi uma dança da companhia de
danças folclóricas, e era uma dança típica de casamento (ou assim pareceu rsrsrsrs), teve
muito interação com o público, pois foi escolhida uma mulher da platéia para
ser a “noiva” e então ela precisava escolher entre homens (também da platéia)
qual seria o “noivo”. A brincadeira teve direito a fazer o público dançar em
roda e tudo o mais, os turcos sabem fazer um show!
A dança de casamento
Antes da interação com o público rolou algo parecido com dabke, mas era mais suave...
Depois veio uma apresentação de uma dança de roda, de homens
e mulheres, que eu classificaria como dabke turco, pois é feita em linha e a
pessoa que está na ponta vai puxando os passos para os demais
seguirem segurando um lenço. No final novamente o público foi chamado a participar da roda, e eu
fui dançar cheia de raki nas idéia... e a dança turca, assim como o dabke
árabe, exige muito das pernas, com muitos agachamentos... novamente foi muito
divertido. Em seguida entrou a nossa querida Clara numa tanoura... ah, que
coisa linda que é vê-la dançando e rodopiando... fiz questão de filmar!
Esse sim seria o dabke turco, com muito trabalho de pernas e marcação de ritmo!
Logo depois entraram novamente as mulheres do grupo de dança
folclórica, interpretando a dança cigana turca! Gente, eu não curto dança
cigana, mas amo a dança cigana turca de paixão! Que coisa linda e forte! Adoro
os seus movimentos de força pélvicos, a forma como elas batem no próprio corpo
e suas expressões! E essa apresentação foi longa, pois depois entraram os
homens, fazendo uma dança cigana mista, seguida da representação de um duelo
entre ciganos! Eu mencionei que os turcos sabem fazer um bom espetáculo?
Dança cigana turca
Adorei o chapéu cigano dos bailarinos
Depois de toda a emoção, veio um pequeno intervalo, com
direito a salsa de música ambiente, e um casal jovem e muito sem noção resolveu
se exibir... coisa mais desnecessária... a menina estava um pouco sem graça,
mas o rapaz queria mostrar como ele era bom e podia passar a mão na bunda da
menina, que estava com uma saia curta digna de baile funk... o grupo deles
aplaudiu muito, mas o resto dos espectadores estava meio sem graça. Quando eles
se sentaram, um casal de senhores (de uns 60 anos) resolveu mostrar o que é
dança de salão de verdade... e gente, que diferença! Tão elegantes... era
realmente uma dama e um cavalheiro dançando... lindos de morrer! Foram muito
mais aplaudidos.
Depois do intervalo, o show recomeçou com uma apresentação do
grupo de dança folclórica, uma apresentação muito feia e ruinzinha de dança do
ventre (as bailarinas desse grupo não eram muito boas... sabe bailarina que
“não entra em cena”? Fica repetindo mecanicamente a coreografia pensando em
outra coisa? Agora acrescente uma técnica visivelmente ruim). E logo depois
delas entra novamente a Clara! Não teve para ninguém! Nossa brasileira arrasou
com uma linda dança dos 7 véus, seguida de espada, solo de derbake e dança
cigana! Clarinha ficou 20 minutos em cena, e saiu com o público pedindo mais!
Uma das coisas mais estranhas que eu já vi... o shimmie delas era de pé! Sério, ao invés de usar os joelhos ou quadril elas usavam mini saltinho para fazer shimmie... algo bem africano na verdade...
Em seguida voltaram as mulheres do grupo de dança folclórica
com uma dança muito diferente, todas vestidas de branco e algo que parecia
taças e pratos com velas nas mãos. Depois vieram os homens do grupo, para fazer
o fechamento do show, e que despedida sensacional que eles fizeram! Foi o
momento em que cada bailarino desafiava o outro a fazer algo ainda mais
complicado! Esses homens têm pernas, meu deus! Em seguida abriu-se uma espécie
de pista de dança, e adivinha o que tocou? Michel Telo!!!! E Conga!!! Eu não
sabia se ria, chorava ou dançava.
Dança esquisita...
Resolvi que era melhor correr atrás da Clarinha para bater
um papo rápido e tirar pelo menos uma foto com ela!
Eu e Clara Sussekind! Não é uma fofa?
O resto do pessoal do nosso hotel também não ficou muito
animado com a pista, e logo estávamos todos de volta no transfer. Chegando ao
hotel, e ainda animados com o show da noite, fomos para o tal barzinho ao ar
livre do hotel para tomar um çay (chá), quando o sono bateu de verdade, fomos
todos dormir... o dia seguinte também prometia!