quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Livro do Mês: Caminhos Palestinos


Depois de sugerir um livro sobre o passado, o livro de mês terá como tema um assunto contemporâneo, mas sem deixar de ser polêmico: A Palestina.

"Caminhos Palestinos" foi escrito pelo advogado palestino Raja Shehadeh e trata de um relato pessoal da sua história com essa terra, hoje arrasada, chamada Palestina. O livro passa desde sua infância e juventude, quando a liberdade de ir e vir na Palestina era bem grande e o terreno era cheio marcos da história do povo palestino, até os dias de hoje, com essa mesma terra entrecortada por assentamentos israelenses e estradas controladas por Israel que impedem a locomoção dos palestinos.

Capa da edição brasileira do livro
Além de belas descrições da paisagem e explicações sobre o modo de vida do povo palestino (e como ele foi sendo modificado ao longo do tempo para se adaptar às mudanças), o livro ainda tem explicações detalhadas de como funciona o processo de expulsão dos palestinos e da criação de novos assentamentos israelenses. Tudo com detalhes jurídicos, o que é muito interessante (e às vezes desesperador).

De uma forma geral o livro é muito triste, pois tudo que ele vai descrevendo como sendo lindo vai sendo destruído ao longo do relato, e é grande a aflição conforme ele conta como as pessoas vão perdendo as suas casas, ou até mesmo as suas vidas. E às vezes o motivo é tão banal...

Sei que não é a melhor época do ano para um livro tão pesado, mas é bom para entendermos um pouco mais desse conflito que volta e meia estampa as manchetes dos jornais e que tem tudo a ver com a dança do ventre, afinal os palestinos são árabes :-) e Israel hoje em dia tem um dos maiores festivais de dança do ventre do mundo!

Além disso, como o Natal e o Ano Novo é uma época de esperança, e com a aceitação da ONU da Palestina como um Estado Observador Não-Membro, as esperanças de dias melhores para esse povo tão sofrido ressurgem das cinzas. Quem sabe no futuro não teremos mais relatos desse tipo?

Quem quiser saber mais detalhes do livro, pode ver em outra resenha minha aqui.




sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Kisses from Kairo - Dos males o menor


Sexta-feira, 1° de junho de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha   


“El-Tet” TV 24h de dança do ventre

Desculpem, mas será um texto longo. Eu tenho muito a dizer.

Se existe alguma coisa positiva vindo do Egito pós-revolucionário, é o novo canal de TV de dança do ventre “El-Tet”. El-Tet, que é sediado no Bahrain e tem um escritório no Cairo, tem uma programação de apresentações de dança do ventre de bailarinas egípcias e estrangeiras 24 horas por dia. É isso mesmo. Shimmies e ondulações o dia inteiro na TV nacional egípcia. O canal, que tem um pouco mais de um ano, tira o seu nome da palavra árabe que denomina a parte com acordeão/tabla de uma música baladi. Na verdade se pronuncia “tit”, que obviamente traz à mente uma imagem equivocada para os falantes da língua inglesa (N.T.: em inglês a palavra “tit” pode significar seios). É por isso que você verá quase sempre transliterado como “El-Tet”. Com “e”, não “i”. :)

A primeira vez que ouvi falar sobre o novo canal foi em dezembro, quando alguns dos meus músicos insistiram que tinham me visto na TV. Eu nunca tinha ouvido falar do canal, e não tinha a menor idéia do porquê que eles estavam dizendo isso, apesar de achar muito engraçada a idéia de haver um canal chamado “The Tit” (N.T.: em inglês, “O Seio”). Então presumi que eles provavelmente haviam visto outra bailarina que se parecia comigo. E eu estava certa. Meu derbakista me mostrou o clipe no seu telefone celular da bailarina em questão, e com certeza não era eu. Não sei como me confundiram com ela, mas, novamente, os egípcios tendem a achar que nós, estrangeiras, somos todas iguais. :)

Dançando ao som de “Ya Helwa Sabah” no El-Tet

Naquela noite, cheguei em casa e sintonizei no El-Tet. Achei estranho ver tantas bailarinas não-egípcias, muitas das quais eu conheço, dançando na TV egípcia. Dos EUA eu reconheci a Sadie, Sabah e Virginia. Eu vi a Saida da Argentina. Do leste europeu, eu vi Maria Shashkova, Dariya, e um monte de outras bailarinas russas e ucranianas das quais eu nunca tinha ouvido falar. Hum. Como isso funciona, me perguntei. Seriam vídeos do YouTube? As bailarinas de fora do Egito sabiam do canal e mandavam os seus vídeos? Por que não apareciam as bailarinas estrangeiras que trabalham no Egito? E mais importante, onde estavam as bailarinas egípcias?

E então, como que para responder a minha última pergunta, o canal passou um monte de performances de bailarinas egípcias. Nenhum nome importante, nem nada. Apenas bailarinas medianas do mercado. De 5 egípcias, eu conhecia 1 e gostava de 2. Suas danças nada tinham de extraordinário, mas fiquei feliz de vê-las no canal. Diferentemente das estrangeiras, elas foram filmadas em cenários, pela equipe de produção do canal. Pela primeira vez, eles alugaram um espaço e contrataram uma banda. Só que a banda não tocava. Eles apenas ficavam nos seus lugares atrás das bailarinas, fazendo parte do cenário, enquanto as bailarinas dançavam ao som de CD. Cada uma tinha 3 ou 4 clipes – 1 ou 2 junto com um cantor, e 2 ou 3 sozinhas. A maioria das músicas que elas dançavam eram canções shaabi mais novas, daquelas que você escuta nos cabarés ou nos took-tooks – você sabe, aqueles carros pretos pequenininhos que andam pelas ruas do Cairo? E a dança era mais do tipo Cabaré Haram do que raqs sharqi, mas tudo bem. (N.T.: Haram em árabe quer dizer “pecado”, “proibido”, e raqs sharqi é o nome da dança do ventre em árabe). Esse é o estado da arte.

Controvérsia Comercial
Depois de passar dois dias assistindo exclusivamente ao canal, eu comecei a reparar nos comerciais, que foram o pretexto para a prisão do dono do El-Tet na semana passada (por sinal, ele já foi libertado). Eles eram comerciais caseiros descarados, nojentos, que anunciavam quase que exclusivamente todos os tipos de produto para melhorar o desempenho sexual, para aumento dos seios e do pênis, e poções mágicas para esse ou aquele problema. O comercial para disfunção erétil é o meu favorito. Ele mostra as fotos de antes e depois de um homem com um grande bigode caído e cheio de gel. Na foto do depois aparece o bigode mudando de direção e em progressão constante para cima. Sutil, né? Também têm anúncios de detectores de mentiras e câmeras com raio-x, coisas que estou morrendo de vontade de comprar. :)

Brincadeiras à parte, os anúncios são de mau gosto. Quer dizer, se eles fossem um pouco mais sutis e profissionais, daria para passar. Mas combinados com os anúncios pessoais (N.T.: tipos de anúncio de pessoas procurando alguém para um encontro) que vão passando na parte de baixo da tela durante os vídeos das danças das bailarinas, eles passam a ser revoltantes. Sem mencionar que eles dão uma má reputação imerecida ao canal e à dança.

Dando uma olhada no resultado da filmagem com o produtor
Ótimo. Então eu já disse o que tinha a dizer. Já dei vazão ao sentimento de muitas bailarinas de dança do ventre ao redor do globo que acham que o canal é humilhante, e que ficaram satisfeitas com a prisão do dono por conta dos anúncios que foram ao ar. Agora escutem o que tenho a dizer sobre porque eu apoio o canal, ou melhor, porque estou disposta a fazer vista grossa com a existência desses comerciais.

Colocando de forma direta, de um lado, o El-Tet tem como opção aceitar esses anúncios de produtos sexuais, ou do outro, fechar as portas. E na minha nem tão humilde opinião, manter o canal funcionando com comerciais desleixados é dos males o menor. Esse canal não só devolve a dança às pessoas, mas é um avanço para as mulheres, para a arte, a cultura, e para a razão. Além disso, é um tapa na cara dos fanáticos religiosos, da misoginia, do irracional, da ignorância e do ódio. Assim, eu os saúdo a resistir à maré de fanatismo religioso que tem tomado o país de assalto.

Como qualquer um da área de comunicação sabe, comerciais são uma fonte indispensável de recursos. Sem comerciais, não há dinheiro. Sem dinheiro, não há meio de comunicação. No momento, esses anúncios são a única fonte de renda disponível para esse jovem canal de dança do ventre. E como dança do ventre no Egito é equivalente à prostituição, nenhuma companhia respeitável está disposta a anunciar num canal que mostra dança do ventre. Nenhuma companhia de celular ou de móveis, em seu perfeito juízo, iria pagar para ter os seus produtos associados à prostituição. Para piorar as coisas, o El-Tet não recebe dinheiro de nenhum artista. E mesmo que recebesse, não seria suficiente para sustentar o canal. Então, ele é forçado a aceitar esses anúncios para sobreviver. Eu estou disposta a perdoar isso. Como o canal faz mais bem do que mal, nós podemos considerar em aceitar que, nesse momento da história, o canal precisa funcionar em circunstâncias não ideais.

Guerra à cultura?
Mais importante, entretanto, é que eu vejo esse incidente com o El-Tet como o último numa guerra de larga escala contra cultura que tem acontecido no Egito. Desde a queda de Mubarak, forças religiosas têm atacado a cultura de forma nunca vista no Egito. Eles estão se opondo a tudo, desde dança do ventre ao cinema e à cultura faraônica. Nem mesmo a esfinge ficou imune! De fato, antes da prisão do dono do El-Tet, o famoso ator egípcio, Adel Imam, corria o risco de ser sentenciado à prisão por “blasfêmia”. A máfia barbuda agrediu fisicamente estudantes de cinema na Universidade Ain Shems por fazer uma reconstituição da época de Sadat. Muitos cabarés ou foram queimados ou comprados por grupos religiosos, ou fechados por falta de clientes. E hotéis como o Grand Hyatt e o Mena House cancelaram todos os seus shows de dança do ventre. Você pode ler mais sobre esse tipo de coisa aqui

De forma similar, a prisão feita semana passada foi um ataque à dança e às mulheres. Apesar do dono ter sido preso sob acusação de “facilitação à prostituição” por mostrar anúncios durante os clipes de dança, o problema “real” é que tem mulheres semi-nuas rodopiando pela rede nacional de TV. E todos nós sabemos o que as pessoas religiosas acham disso. Os espectadores reclamaram dos comerciais, sim, mas isso apenas deu às autoridades uma desculpa para atacar o canal. Isso fica claro à luz do fato de que o Egito já tem um canal de TV que mostra anúncios pessoais 24h por dia, e que a polícia da moral não fez nenhum barulho com relação a isso – por mais visuais que esses anúncios possam ser, são apenas palavras. Lembrem-se que nem todos conseguem ler. Mas quase todo o mundo pode ver. E eu aposto que a maioria dos espectadores está muito ocupado prestando atenção nas bailarinas para notar os comerciais na parte de baixo do vídeo.

Eu não estou defendendo o canal porque fiz alguns vídeos com eles, diga-se de passagem. Não há nenhum interesse pessoal aqui. Mesmo antes de eles me pedirem para me filmar, eu já havia percebido o grande avanço que esse canal representa para a dança, e mais importante, para o Egito. Se posso dizer alguma coisa, minha colaboração com o canal me deu a rara oportunidade de conhecê-los pessoalmente e ver suas verdadeiras intenções. E eu posso dizer que são as melhores.

Minha experiência com o El-Tet
Ao contrário do que eu esperava inicialmente, todas as pessoas que trabalham no canal são decentes e respeitáveis. Não há nenhum cafajeste, como se espera encontrar no mundo da dança do Egito. Desde o próprio dono do canal, até os produtores e maquiadores, cada um tem como compromisso promover a dança do ventre como arte. E mais, eles gastam milhares de dólares para garantir que os clipes que eles filmam serão agradáveis e respeitáveis. Se você der uma olhada nos vídeos, você verá que eles são gravados em lindas casas de campo com lareiras, móveis bacanas, relógios de parede e confete (!) etc. É óbvio que eles estão dando o máximo de si para criar uma imagem positiva.

Trabalhar com eles tem sido um grande prazer. Nas duas vezes em que fui filmada, eu iria aparecer na locação com os meus figurinos. A equipe de produção iria dar uma olhada neles e escolher aqueles de que gostava mais. Eles ficaram especialmente intrigados com a minha roupa da bandeira americana, e me pediriam para usá-la, mas em ambas as vezes eu recusei. O clima político atual me deixa um pouco desconfortável. Então, ao invés dele concordamos na minha roupa de recortes de jornal. :)

Sendo montada pelo maquiador do “El-Tet” antes da filmagem
A primeira filmagem que eu fiz foi muito interessante. Eu não sabia bem o que esperar. Cheguei à casa de campo às 10h da manhã, cansada e com fome, e bebi copos de café além da conta enquanto esperava para ser arrumada. Havia mais 4 bailarinas egípcias passeando pelo complexo da casa. Algumas estavam sendo filmadas. Outras estavam fazendo ou o cabelo ou a maquiagem. Depois de algum tempo de espera, chegou a minha vez de ser embonecada. Os maquiadores e cabeleireiros estavam sob ordens restritas de me manter com um jeito “estrangeiro”. Isso significa uma base branca, sem delineador preto, sem sombras escuras, batom de tom nude e o cabelo preso e liso. A única coisa “egípcia” em mim eram as sobrancelhas. Você sabe, aquelas sobrancelhas zangadas em forma de V que são a marca registrada da maquiagem egípcia? :)

Quando eu sugeri que usassem um pouco de delineador preto em mim eles responderam brincando que delineador preto é coisa de prostituta! :) E quando eu sugeri que eles me fizessem parecer mais exótica eles responderam que eu já era exótica. Bom, para eles eu era. Para mim, eu apenas não conseguia me reconhecer. E nem me sentia como uma bailarina de dança do ventre. Mas deixei pra lá. Talvez eles vissem algo que eu não conseguia ver.

Pouco depois, um jovem se aproximou com uma bandeja cheia de glitter numa mão, e um batom vermelho na outra. Ele encheu todo o meu corpo de glitter – braços, pernas, barriga, colo e tudo o mais – com as próprias mãos. Então ele esfregou o batom nos meus joelhos, decote e axilas! Essa foi a primeira vez que eu deixei um egípcio desconhecido colocar as mãos em mim. Eu não pensaria duas vezes se fosse nos EUA, mas aqui as coisas são diferentes. Entretanto, estranhamente ele foi rápido e profissional, e não havia nada de estranho naquilo.

Depois era hora da filmagem. A equipe de produção queria que eu dançasse num corredor estreito, insistindo que ficaria lindo no vídeo. E ficou, exceto que eu não tinha espaço para me mexer e esticar os braços. Eu me senti como a Jeanie dançando dentro da garrafa. E eu usei um véu para a minha entrada de “Set el hosen”. Fora que os meus braços pareciam amassados e que tinha alguns cortes feios na edição, fiquei satisfeita com o produto final.

O próximo clipe que filmei foi com o cantor Ahmed Salah. Ahmed é um cantor popular de shaabi do circuito noturno, e meio que se parece com o Baha Sultan (N.T.: cantor egípcio famoso). :) Ele cantou uma música fofinha chamada “Salamtak ya Dimaghi” que podemos traduzir livremente como “tchau tchau meu cérebro”. A ideia é que ele perde a cabeça toda a vez que vê uma garota que ele gosta. Eu usei a minha roupa de recortes de jornal para esse clipe, e me diverti muito na filmagem. Principalmente porque houve muitos erros. O melhor deles foi quando uma parede de isopor caiu na cabeça do Ahmed enquanto ele estava cantando. Nós dois começamos a rir e não conseguimos mais parar até o final da filmagem. :D

Com Ahmed Salah, “Salamtak ya Dimaghi

O último clipe que fiz foi com a famosa música da Warda, “Esmaooni”, com arranjo e voz da orquestra Safa Farid. Eu usei uma roupa com uma impressão de pele de leopardo azul com lantejoulas para essa filmagem. Nesse momento eu já estava cansada, morrendo de fome, irritada, e não queria fazer mais nada além de ir para casa. E eu teria ido. Exceto que eu não queria ser grossa e ir embora depois de ter prometido filmar 3 clipes. Então continuei em frente e fiz uma execução corrida de Esmaooni, plenamente consciente de que não estava dando o meu melhor, e não dando a mínima pra isso. De alguma forma, entretanto, os planetas se alinharam ao meu favor. Esmaooni se tornou o clipe mais famoso de todo o canal, recebendo mais telefonemas e votos on-line do que qualquer outro clipe desde que o canal começou. Desde então, tive platéias egípcias cantando “Esmaooni” até eu ceder e dançar para eles. :)

O segundo round da minha experiência com o El-Tet foi muito melhor. Pelo menos eu sabia o que esperar, e eu sabia que devia trazer comida e minha própria maquiagem! Dessa vez, eu filmei 4 clipes. O primeiro foi uma versão da Safa Farid de “Ye Helwa Sabah”. O segundo foi um improviso para uma música de entrada moderna, e o terceiro foi um improviso de solo de derbake. Eu filmei o quarto clipe com outro cantor popular de shaabi, Ragab El-Prince. Eu ainda não sei o nome da música, e ainda não consegui uma cópia do vídeo, mas era sobre uma garota fazendo de tudo para ficar com o seu amor. Trabalhar com Ragab foi tão divertido quanto trabalhar com Ahmed. Apesar dos dois terem estilos completamente diferentes. E é claro, que não pudemos terminar a filmagem sem um erro ou outro, o mais notável foi o meu bustiê abrindo na frente das câmeras! Graças a Deus que eles não passaram nenhum dos erros no ar!

No set com o cantor shaabi Ragab :)
Críticas
El-Tet recebeu muitas críticas. A maioria de egípcios conservadores, e daqueles que odeiam as mulheres e a dança. Entretanto, algumas das críticas vieram de bailarinas de dança do ventre, surpreendentemente. Porém, eu acho que isso era esperado. Tudo que é novo e “revolucionário” está destinado a encontrar resistência. Qualquer coisa. Direitos civis, direito das mulheres, direitos dos gays, dança do ventre na TV egípcia etc. É apenas a trajetória natural do progresso.

Forças conservadores no Egito amaldiçoaram o canal por supostamente “corromper a sociedade”. Você sabe, toda aquela coisa das mulheres seminuas se balançando? Isso era esperado. O que eu não esperava foi o criticismo alastrado por toda a comunidade internacional da dança.

Como eu mencionei anteriormente, muitas bailarinas ficaram chateadas pelo canal transmitir anúncios de mau gosto e anúncios pessoais. Mas as críticas não se restringiram a isso. Muitas, incluindo algumas estrelas aposentadas, criticaram o canal por apresentar a dança pela dança. Elas alegaram que a forma “correta” de apresentar a dança era num contexto de um filme, com uma história, um pano de fundo, e eventos dramáticos. Apesar disso ser legal, eu não vejo nada de errado em assistir a velha e boa dança do ventre. Sem mencionar que muitos desses filmes antigos são muito orientalistas em se tratando das cenas de dança do ventre. E as bailarinas sempre fazem algum papel indesejável, como uma prostituta, uma criminosa ou espiã. Isso sem dúvida reforçou a imagem negativa das bailarinas de dança do ventre ao longo dos anos. E aqui é ao contrário, ninguém faz esses papéis no El-Tet. As bailarinas só dançam.

Outra bailarina famosa criticou o canal por surgir no “momento errado”. Ela disse que um canal como esse não tem lugar num momento de revolução... que a mídia deveria estar educando as pessoas, e ensinando como elas devem respeitar umas às outras. Enquanto eu definitivamente concordo que a mídia poderia fazer mais para educar as pessoas (ao invés de doutrinar), a idéia de que estamos numa revolução e de que não precisamos da dança para nos distrair é perigosa para a dança. Alguns lugares estão num estado constante de revolução. Devemos esperar sairmos desse estado antes de darmos à dança a atenção que ela merece? Ela não terá morrido até lá? Dos milhares de canais de TV disponíveis para os egípcios nem UM pode ser dedicado à dança? Todos eles têm de mostrar programas “educacionais” que ensinam religião aos egípcios, ou tolerância, ou respeito etc.? Certamente que tem lugar para 1 ou 2 canais de dança do ventre! Além disso, quem disse que eles não são educacionais à sua própria maneira?!?

A última crítica que ouvi, e provavelmente a mais válida, foi sobre a prática do canal de passar vídeos do YouTube de bailarinas sem a permissão delas. Eu sei que isso enfureceu muita gente. E eu entendo isso. Entretanto, eu gostaria de apontar que todo o conceito de direito autoral é novo no Egito. Isso não os exime de usar filmagens de outras pessoas, mas explica porque está acontecendo. Pelas minhas conversas com o pessoal do canal sobre o assunto, parece que eles estão começando a pensar sobre isso.

No set com Ahmed Salah
Benefícios
Apesar de todos os pontos negativos que as pessoas já apontaram, na verdade eu acho que o El-Tet faz mais bem do mal. E esses são os motivos:

Primeiro e mais importante, ele está levando de volta a dança para as pessoas. Graças ao El-Tet, qualquer um pode ligar a sua televisão e se deleitar com uma apresentação de dança do ventre. Esse não era o caso antes do canal aparecer. Isso porque os preços para ir num show de dança do ventre são tão caros que a maioria dos egípcios não pode pagar. A dança do ventre, então, se tornou um entretenimento exclusivo dos ricos e de outras bailarinas estrangeiras. O El-Tet mudou isso da noite para o dia. Ele devolveu uma grande parte da cultura para o povo egípcio. Por sua vez, os egípcios estão levando isso muito a sério. Eles estão tendo todo tipo de conversa inteligente sobre a dança. Eles discutem quais são as suas bailarinas favoritas e porque, o quê eles acham das roupas, das músicas, etc. Em resumo, eles estão ficando animados com a dança, o que é uma coisa boa de qualquer ângulo que você olhe.

Segundo, e eu nem precisava dizer isso, o El-Tet é um passo na direção certa para as mulheres, o secularismo e as artes. E eu acho que não preciso dizer mais nada sobre isso.

Terceiro, a dança do ventre televisionada está gerando uma competição saudável entre as bailarinas. Vou explicar o que quero dizer. Geralmente existem duas formas de lidar com a competição. Uma forma é prejudicando a sua competição ao acabar com a sua reputação, vandalizar seus pertences pessoais, ou se envolvendo em outras ações destrutivas. É isso que normalmente acontece por aqui. A segunda forma é superando a sua competição. Observar o trabalho delas e tentar fazer melhor. É isso que o El-Tet está encorajando, mesmo sem saber. O que está acontecendo é que agora as bailarinas estão sendo vistas umas pelas outras através da televisão. Elas estão observando os movimentos das outras, suas roupas, visual, seleção musical, e estão se empenhando em superar umas às outras nos vídeos seguintes. Isso é algo positivo. Confiem em mim. Está motivando as bailarinas a melhorarem a sua dança ao observar as outras e a criar coisas novas. No final das contas isso vai trazer uma melhora geral no nível da dança por aqui.

Além disso, o El-Tet está disponibilizando exposição para toda uma nova geração de bailarinas. Antes desse canal os egípcios só conheciam a Dina. Agora eles estão contratando outras bailarinas, incluindo eu mesma, para as suas festas. O que é ótimo. Tem muitas bailarinas por aí que precisam do trabalho e dessa exposição, e algumas delas são realmente muito talentosas. Desde que os barbudos não destruam a dança, esse canal está preparando uma nova geração de estrelas que serão conhecidas pelo público egípcio da mesma forma que Samia, Fifi, Souheir e Nagwa já foram.

Pessoalmente falando, eu já me beneficiei de ter aparecido no canal. Publicidade é sempre uma coisa boa. Eu também gosto de ouvir e ler os comentários dos egípcios sobre a minha dança. Mas não me entendam mal. Só de pensar de aparecer em rede nacional da televisão egípcia é de deixar os nervos à flor da pele. Isso quer dizer que todos estão me vendo. Todos. Homens, mulheres, jovens, idosos, fanáticos religiosos, outras bailarinas, agentes, produtores, e a lista não termina. É muita pressão. Eu não fico muito feliz que donos de apartamentos e meus vizinhos assistam o canal, já que eu poderia e já fui expulsa de um apartamento por ser bailarina de dança do ventre. E eu não tenho muita certeza de como me sinto quando pessoas desconhecidas cantam as músicas que eu dancei quando elas me vêem na rua. Quer dizer, estou acostumada a andar “disfarçada”, e essas pessoas estão acabando com o meu disfarce! Mas é legal ver que as pessoas me reconhecem. :)

Dançando “Set El-Hosen” no corredor estreito :)
Eu também já fui pessoalmente criticada por ter aparecido no canal. Alguns disseram que pelo nível da dança que aparece é muito baixo (e de classe baixa), eu me arruinaria se aparecesse lá. Outros disseram que as pessoas se cansariam de ver a minha cara. Outros ainda sugeriram que eu seria exposta a muito assédio e criticismo desnecessário. Eu considerei isso tudo antes de concordar em ser filmada, e no final eu decidi que, diabos, só se vive uma vez. Eu sou viciada em novas experiências, mesmo que elas não sejam sempre positivas. Essa experiência, entretanto, acabou se revelando mais do que boa, e eu estou muito feliz de ter aceitado a oferta deles de ser filmada. No mínimo, me inspirou a escrever o maior post da história!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Diário de Viagem - TURQUIA – 7° dia - Capadócia



Acordamos no nosso hotel maravilhoso com a vista cheia de balões... se a vista já era linda antes, com os balões ficou ainda mais mágica! O café da manhã estava simplesmente perfeito, sem dúvida o melhor da viagem em termos de variedade e qualidade da comida! E nós precisávamos de muita energia!

Vista do hotel com os balões
Esse dia foi totalmente dedicado a conhecer a Capadócia. Acordamos bem cedo para sermos os primeiros a chegar no Museu a Céu Aberto de Göreme. Mais tarde viemos a descobrir que chegar cedo também significa pegar bem menos sol e calor...

A Capadócia é uma região com uma paisagem única e com uma cara meio lunar... com suas rochas de origem vulcânica extremamente macias, o que as tornam fáceis de deformar pelos ventos ao longo do tempo, por isso o perfil da paisagem é realmente muito diferente. Além disso, suas rochas e solo foram usadas durante muitos séculos para escavar casas e até cidades inteiras. Göreme é uma dessas cidades!

As rochas "esburacadas" de Göreme
Criada por uma leva dos primeiros cristãos, que procuravam viver de forma monástica e eremita, pelos idos do século III, eles aproveitaram algumas construções já existentes e fizeram muitas novas, incluindo diversas igrejas, criando um grande complexo de cavernas.

A visita é um pouco cansativa, pois os quartos e igrejas ficam espalhados pelas rochas, como se fossem mini-montanhas, e durante o passeio se sobe e desce um monte de ladeiras e escadas!

Mas vale a pena cada gotinha de suor, pois o lugar é muito lindo e exótico! As igrejas são todas lindas e muito diferentes do que você poderia imaginar de igrejas em cavernas. Primeiro, elas são inteiramente escavadas, mas isso não as impede de ter colunas! Segundo, são todas lindamente pintadas por dentro! E o mais interessante, em algumas delas existem 2 camadas de pintura, pois a primeira camada decorativa, datada do início da ocupação de Göreme, era muito simples e limitada, e até o final do século XIII, novos afrescos, bem mais complexos, foram pintados por cima, e novas igrejas também foram construídas até o final desse período.

O único porém é que não podemos tirar fotos no interior das igrejas, nem sem flash :-(

No interior das igrejas não pode, mas algumas desabaram parcialmente e podemos ver as pinturas expostas!
Algumas igrejas também estão um pouco depredadas, pois depois que os cristãos abandonaram a região, os muçulmanos que chegaram depois simplesmente não entendiam o que eram aqueles afrescos, e alguns mais radicais tentaram até mesmo destruí-los (lembrem que para o islamismo a representação de criações de Deus, incluindo seres humanos, é vista como heresia). Isso também explica os nomes dados às igrejas: igreja da maçã, da sandália... pois os moradores do local não reconheciam os santos nem as imagens!

Depois de começar a sentir o calor que é capaz de fazer na Capadócia, fomos fazer outro passeio exótico: conhecer uma cidade subterrânea!

Como mencionei anteriormente, essa região é composta basicamente de pedra vulcânica, fácil de manusear (ela se desfaz com a unha!), e por ser muito erma, foi usada ao longo da história como esconderijo de diversos povos. Algumas das cidades subterrâneas dessa região datam da época dos Hititas (um povo conterrâneo dos egípcios, quem leu a Saga de Ramsés de Christian Jacq já ouviu falar deles), e diversas outras foram feitas ao longo dos séculos. As mais modernas foram feitas pelos cristãos que habitaram essa região, para servirem como esconderijo nos momentos em que foram caçados (primeiramente pelos romanos, e mais tarde pelos muçulmanos).

Uma das maiores galerias da cidade-caverna
Existem cidades subterrâneas de diversos tamanhos, que comportam diferentes quantidades de pessoas, com espaço para manter um estoque suficiente de comida para pelo menos alguns meses. E dentro dessas cidades tem de tudo, desde estábulos, até cozinha (com direito a uma chaminé que fique bem longe da entrada da cidade, claro), quartos de dormir, local para fabricação de vinho etc. tudo o que fosse indispensável para sobreviver.

Mas essa visita também não é para qualquer um, pessoas com claustrofobia e problemas cardíacos podem passar mal, pois as salas debaixo da terra são todas bem fechadas, com passagens pouco apropriadas para pessoas com mais de 1,60m. Em algumas dessas passagens até mesmo crianças precisam se abaixar, pois a idéia era manter o controle e dificultar a passagem de inimigos no caso deles descobrirem a localização dessas cidades. Até portas à la Indiana Jones foram usadas nessas cidades!

Para ter uma ideia do tamanho do corredor, eu, essa "enormidade" de pessoa, precisei me agachar assim!

As portas são grandes pedras que só podem ser movidas pelo lado de dentro
No caso da cidade que fomos visitar, ela foi descoberta recentemente (anos 90) por conta de uma galinha fujona. O fazendeiro, dono da área, que descobriu a cidade, alertou as autoridades, que confiscaram a sua terra, por conter um sítio arqueológico, e com o dinheiro que ele recebeu de indenização ele abriu a lojinha de souvenires que existe bem em frente à entrada. Não sei se ele fez um bom negócio, mas certamente a visita foi inesquecível! É realmente uma experiência única se sentir uma formiga debaixo da terra, passando por todos aqueles túneis... ah, e é frio lá embaixo! Apesar de não haver um sistema de ar condicionado, a porosidade da rocha funciona como um filtro de ar, purificando e gelando tudo! Quanto mais baixo e mais longe da entrada da caverna, mais frio!

Depois do choque térmico de sair da caverna para encontrar o calor da superfície, pegamos o nosso ônibus e fomos levados para uma loja de tapetes, outro ponto turístico que não dá para pular quando se vai à Turquia! O interessante dessas visitas é que você pelo menos aprende alguma coisa sobre o artesanato local, ao invés de apenas fazer compras.

A loja que visitamos funciona também como escola de tapeçaria, ensinando a jovens pobres (sempre mulheres) a ganharem um dinheiro extra para a sua família. E na entrada da loja tem um atelier onde um dos vendedores explica a diferença entre os tipos de nós usados na fabricação dos tapetes, a diferença entre os tipos de material utilizados, como se tinge cada tipo de material etc... tudo para você entender muito bem porque os preços variam tanto e justificar o valor cobrado na loja :-)

Jovem tecendo tapete, a velocidade com que elas tecem é incrível!
Brincadeiras à parte, a aula é realmente interessante. E a apresentação feita dos tapetes à venda, já na loja e depois de servirem um monte de tipos de bebidas (inclusive alcoólicas, o que demandam certo controle por parte do cliente que não quer gastar dinheiro), é muito bonita. Os tapetes em si são todos lindos, e aula que se tem sobre padrões, cores e tipos de tapetes falsificados é digna de um museu! Só que nesse museu você pode comprar as peças que você gostou e levar pra casa. Eu, como sou alérgica, usei do meu autocontrole para não comprar nada. Foi muito difícil, mas eu consegui.
Alguns tapetes são tão detalhistas que mais parecem quadros!
Como a compra de tapetes pode ser um processo um pouco demorado (não só pela escolha do tapete, mas também pela negociação do preço a ser pago – afinal estamos falando da Turquia), o grupo se dividiu entre aqueles que iriam comprar tapetes e aqueles que estavam com fome. Os primeiros ficaram até mais tarde na loja, enquanto os segundos foram direto para um belo restaurante que é uma réplica de um caravançarai (lugar para descanso e pernoite para as antigas caravanas). O restaurante por si só era uma atração, mas, além disso, a comida era muito boa e bem servida, apesar de não haver menu. O sistema era de entrada, prato principal e sobremesa, com algumas poucas opções de cada prato. Mas o preço era justo, e eles aceitavam cartão de crédito.

Depois de um almoço bem demorado, o que foi muito bem vindo, fomos visitar o “vale das fadas”. Lembra que eu mencionei que a Capadócia tem o solo feito de uma rocha vulcânica fácil de ser moldada? Pois bem, cada camada do solo tem uma facilidade um pouco diferente de ser moldada pelos ventos, e com isso, ao longo dos séculos, foram sendo criadas, naturalmente, diversas estruturas que se assemelham a cogumelos, daí o apelido de vale das fadas. Outros nomes mais vulgares também são usados pela população local, mas isso eu deixo para a imaginação de vocês.

Vale das Fadas
E foi durante esse passeio que eu entendi o que é o clima continental durante o verão... a Capadócia é um lugar de extremos, chega tanto a -20° no inverno quanto a 50° no verão. E eu juro que fica mais quente do que no Egito quando chega a 50°! Nunca imaginei que fosse visitar um lugar nessa temperatura... e como o clima é extremamente seco, a diferença de temperatura entre a sombra e o sol é bizarra! Na sombra chega até a ser agradável, enquanto debaixo do sol de 50° a coisa fica bem complicada. Mas como as rochas são muito porosas, qualquer caverna parece ter um ar condicionado natural, o que facilita muito a exploração do vale.

Na sombra é muito mais agradável...
Esse tipo de formação rochosa é encontrada facilmente em toda a região, e algumas chegam a ter formatos mais peculiares e recebem nomes especiais, como “3 reis magos” e o “camelo”.

O Camelo
Toda a região parece um verdadeiro queijo suíço, pois em todas as rochas tem cavernas escavadas pelo homem, mas algumas estruturas merecem uma atenção especial, como o castelo que demos uma paradinha para ver de mais perto. E, aproveitando a parada técnica, encontramos um barzinho para tomarmos um chá gelado enquanto curtíamos um calor digno do Rio de Janeiro no auge do verão. Ok, talvez fosse pior.

"O Castelo" mais parece um queijo suíço

Depois de derreter o cérebro no calor de 50°, nossa guia nos levou para conhecer outro “artesanato” típico da região: o trabalho de ouro e prata com pedras preciosas. E claro, a pedra mais famosa da Turquia: a turquesa. Lá aprendemos também a distinguir a pedra falsa da verdadeira, o único problema é que quando a cópia é boa só dá para ver se a pedra é verdadeira ou não se a quebrarmos. Não adianta muito, né? Mas a visita valeu à pena, pois a loja era realmente muito bonita e os preços realmente tentadores.

Após essa visita, o nosso grupo se dividiu novamente, pois nem todos queriam assistir ao show dos dervixes rodopiantes. Claro que eu e o Caike fomos ver os sufis dançando. A cerimônia (chamada Sema na Turquia) foi realizada num lugar muito interessante, pois era numa casa com um jeito bem simples, com uma pequena loja de souvenires no térreo, e uma escada que dava para o subsolo. O subsolo era um salão imenso e frio (por causa da rocha porosa), que mais parecia um local de encontro religioso mesmo.

No centro do salão tinha um palco redondo, onde seria realizada a sema. A cerimônia foi realizada por um grupo de 4 dervixe, mais 3 sufis que serviram apenas de músicos, e mais o mestre do grupo. Como é uma cerimônia religiosa, não podemos tirar fotos, mas isso não faz a menor diferença, pois o importante ali certamente não era a parte visual (apesar de ser muito impressionante).

A cerimônia começa com os músicos tocando uma linda música sufi, daquelas que só de ouvir você começa imediatamente a meditar, depois entra o mestre e os demais dervixes, que seguem todo um cerimonial específico, que tem um simbolismo lindíssimo (isso pode vir a ser um post no futuro...), e no final o mestre faz um sermão com base no corão ou em ensinamentos sufis (essa parte eu não entendi nada snif snif snif). A entrega dos dervixes era tão grande que dava para perceber as variações mais ínfimas na música, de forma que todos eles paravam de rodopiar ao mesmo tempo... e depois de umas duas sessões de rodopio já dava para saber quando eles iriam parar. Algo realmente mágico de se ver.

O bacana mesmo é a experiência de assistir o sema, pois se você der sorte de assistir um ritual de verdade, é algo realmente fantástico! A sensação que eu tive foi de estar dançando e meditando junto com os dervixes... saí de lá extasiada! Foi uma das coisas mais lindas e emocionantes que já vi. Mas não é todo o mundo que entra nesse clima...

Durante a cerimônia não pode tirar foto, mas depois os dervixes dão uma palhinha para os turistas registrarem
Depois da cerimônia voltamos para o nosso hotel na caverna, e fomos jantar junto com o casal paulista. Dessa vez eu e o Caike pedimos um “Celtik Kebab”, que era um prato de carne de carneiro com batata palha e iogurte, enquanto o casal pediu peixe. Para variar tudo estava divino! Apesar de confessar que eu gostei mais do prato que eu havia comido no dia anterior...

Após o jantar fomos direto dormir, pois o balão sairia absurdamente cedo no dia seguinte.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - Ser uma bailarina de dança do ventre no Egito


Quarta-feira, 9 de maio de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha   


foto por Tracey Gibbs

“Nós somos todos estrelas, e nós merecemos brilhar” – Marilyn Monroe

Luna do Cairo é uma bailarina de dança do ventre americana, originalmente de Brookling, Nova Iorque (ela estudou em Harvad!) e tem vivido no Cairo nos últimos 3 anos. Ela é contratada do Nile Memphis no Cairo (Memphis Tours Nile Cruises).

Luna estará presente no próximo Festival Egípcio Salamat Masr (de 5 de julho à 12 de julho de 2012), ensinando ao lado de famosas estrelas egípcias da dança do ventre como Mona El Said, Zizi Mostafa e Najwa Fouad.

Ela tem um blog polêmico: Kisses from Kairo. Onde você pode ler sobre as suas experiências como bailarina estrangeira de dança do ventre no Egito, sobre algumas diferenças culturais e – como ela mesma diz – seus erros, reflexões e sucessos!



IZ – Quando e por que você decidiu começar uma carreira como bailarina no Egito?

LC – Na verdade, eu nunca tive a intenção de começar uma carreira como bailarina no Egito. Meus objetivos eram bem mais modestos do que isso. Eu vim para cá em 2008 por conta de uma bolsa de estudos para pesquisar as origens da dança do ventre e o seu desenvolvimento ao longo da história. Claro que eu também queria aprender o máximo possível da dança. Aos poucos as pessoas começaram a me chamar para alguns shows. Eu concordei em tentar. Primeiramente, antes de eu conseguir um contrato, eu dançava 2 ou 3 vezes por semana nos resorts das praias que ficam ao longo do Mar Vermelho, a duas horas do Cairo. E isso era OK na época, mas eu dançava durante uma hora ao som de CD ao ar livre, num chão duro que estragava os meus sapatos de dança. Era um trabalho duro, mas é tudo que há de trabalho para uma bailarina se ela não tem um contrato. Então eu trabalhava de bom grado. Então, um dia, alguém que acreditava em mim me levou para um teste no Nile Memphis. Eu passei no teste, e quando percebi, tinha sido contratada para dançar toda noite ao som de uma banda ao vivo.

“Eu aprendi que a dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que acontece. Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós estrangeiras tentamos alcançar ao vir para o Egito.”

IZ – Por trás do glamour dos shows e festivais, como é ser bailarina num país árabe? (Eu li no seu blog – você foi expulsa do seu apartamento por ser bailarina de dança do ventre)

LC – Ser bailarina de dança do ventre no Egito não é uma coisa fácil. 90% dos egípcios, incluindo as próprias bailarinas e músicos, acham que a dança do ventre é pecado, e que as bailarinas são prostitutas. Isso porque eles vivem numa sociedade conservadora e religiosa, segundo a qual as mulheres são proibidas de mostrar o seu corpo em público para os homens. E como essa profissão é tão vergonhosa por aqui, a maioria das bailarinas, incluindo eu mesma, esconde a sua profissão, ou então mente sobre o que faz. Se não fizermos isso, corremos o risco de sermos condenadas ao ostracismo pelos nossos vizinhos, proprietários, familiares etc. Como você mencionou, o meu proprietário me expulsou do meu apartamento quando descobriu que sou bailarina de dança do ventre. A irmã dele me viu dançando num hotel e contou para ele que a sua inquilina era bailarina. Logo em seguida ele veio me dizer que ele e sua família eram “pessoas de Deus”, e que eles não poderiam ter uma bailarina alugando o apartamento deles. Além de ele acreditar realmente no que estava me dizendo, ele também não queria correr o risco de que os vizinhos descobrissem que uma bailarina morava no apartamento dele, porque isso faria com que o seu apartamento ficasse com fama de puteiro. E então as pessoas o veriam como um cafetão. Era uma situação em que ele só tinha a perder.



IZ – Alguns anos atrás, as bailarinas egípcias de dança do ventre se rebelaram contra o influxo de bailarinas estrangeiras e convenceram o governo a parar de conceder permissão para as não-egípcias para dançar. Desde então, como é ser uma bailarina estrangeira no Egito?

LC – Bom, bailarinas estrangeiras têm menos oportunidades do que as egípcias. Como você mencionou, houve um momento em que o governo baniu completamente as bailarinas estrangeiras. Isso porque muitas bailarinas egípcias, Fifi Abdou era a mais importante, estavam ficando zangadas com as estrangeiras que estavam roubando o seu trabalho. Também nessa época, havia muitas prostitutas russas que se disfarçavam como bailarinas de dança do ventre. Então as egípcias queriam parar com isso, porque elas estavam perdendo trabalho. Agora as estrangeiras têm permissão para trabalhar no Egito, mas o processo de conseguir um contrato e a permissão do governo é difícil. Leva muito tempo, muito dinheiro e paciência. E só existem uns 4 ou 5 lugares com licença para contratar talentos estrangeiros. Se conseguimos um contrato, nós só temos permissão para dançar num único lugar, enquanto as egípcias podem dançar em tantos hotéis, barcos e cabarés quanto quiserem. Nós podemos dançar em casamentos e outras ocasiões privadas, mas, fora isso, temos esse limite de dançar apenas no lugar que nos contratou. Além disso, temos que pagar um monte de multas mensais e anuais, e impostos! Sem mencionar a comissão que pagamos aos nossos agentes. E então, tem o código de vestimenta. Tecnicamente, nós devemos usar roupas que cubram a barriga, mesmo que a cobertura seja transparente. A maioria das bailarinas as acha feias e irritantes, mas elas são previstas em lei. Então ser uma bailarina estrangeira não é nada fácil.  Não é impossível, mas não é mole não.



IZ – Quais são as coisas positivas de ser bailarina de dança do ventre no Egito?

LC – Tem muitas coisas positivas para se falar sobre ser bailarina de dança do ventre no Egito. Não há nada no mundo que se compare a poder se apresentar todo dia para um público egípcio, e ser acompanhada por alguns dos melhores músicos do mundo. Você também é responsável por todo o seu show. Você seleciona a sua música, faz a sua banda memorizá-la, você coreografa (ou não), você escolhe o figurino. E tem o reconhecimento da comunidade mundial de dança que você ganha por dançar no Cairo. É por isso que tem tantas bailarinas que gostam de dizer que dançam no Cairo, mesmo se isso não for verdade. Elas acham que pega bem para elas.

(...) “Haverá um tempo em que os egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar uma nova “Época de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.” (...)

IZ – Tem algum movimento, ritmo, progressão musical, elementos de etiqueta etc. que você não conhecia antes de vir para o Egito? Como a cultura egípcia te ajudou a entender melhor a dança do ventre?

LC – No meu caso, eu basicamente aprendi a dançar no Egito. Eu tive aproximadamente um ano de aulas em Nova Iorque, mas aprender de não-egípcios não é a mesma coisa que aprender dos egípcios, ou de estrangeiras que fizeram suas carreiras no Egito. Eu aprendi a maior parte da minha técnica aqui, e aprendi a como me expressar de um jeito mais egípcio. Além disso, aprendi a como ouvir a música. Como entender o que os instrumentos estão dizendo, e que tipo de movimento corresponde a cada um deles. Por último, eu aprendi que a dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que acontece. Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós estrangeiras tentamos alcançar ao vir para o Egito.

Coleção Eman Zaki - Tracey Gibbs
IZ – Como você se sente sendo uma professora no Festival Internacional “Salamat Masr” ao lado de lendas egípcias como Najwa Fouad, Zizi Mostafa e Mona El Said?

LC – Estou extremamente animada por estar ensinando e dançando ao lado de estrelas como Mona El-Said, Nagwa Fouad, Zizi Mostafa, Hassan Ali, Mohammed El-Hosseiny e Semasem e Joana. São todos artistas tão talentosos e dedicados, e eu me sinto honrada por participar de um mesmo evento que eles. E eu preciso dizer, Salamat Masr é um dos melhores festivais do mundo. O Sr. Hassan Ali é um verdadeiro artista, que juntou todos aqueles que deveriam estar ensinando em festivais todos esses anos, mas talvez tenham sido excluídos pela falta de profissionalismo e politicagem de outros grandes festivais. A maioria desses artistas tem realmente experiência de dança no Cairo, o que é uma credencial muito importante. Então, estou animadíssima com esse festival, como você pode imaginar!

Salamat Masr 2012

IZ – Quem você considera como um professor “máster”? Por que?

LC – Tem muitos artistas que eu considero como professores máster. São principalmente aqueles que têm uma carreira de verdade no Cairo. Tanto egípcios quanto não-egípcios. Existem algumas coisas que você não tem como aprender ou ensinar se você não tem experiência de dançar com música egípcia ao vivo com alguma regularidade. O palco, a música, o público e a experiência são os melhores professores. Então alguém que tenha tudo isso é, para mim, máster.

foto por Tracey Gibbs
IZ – Quem você considera uma lenda eterna? Por que?

LC – Fifi Abdou. Ela é a minha bailarina egípcia favorita, e é conhecida apropriadamente aqui no Egito como A Rainha da Raqs Sharqi. A sua dança é transformadora, poderosa, ousada, linda e feminina. E ela influenciou gerações de bailarinas.



IZ – O que você acredita que é o futuro da dança do ventre egípcia nos próximos anos?

LC – Eu acho que com a crise econômica e social pela qual o Egito está passando, a dança do ventre vai passar por maus bocados. A nova onda de conservadorismo religioso já teve um impacto negativo no cenário da dança, e eu acho que isso só vai piorar com o tempo. Eu gostaria de poder ser mais otimista, mas a realidade não me deixa. Entretanto, haverá um tempo em que os egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar uma nova “Época de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.

Luna no Nile Memphis
IZ – Como você vê o seu futuro como bailarina no Egito?

LC – Se a situação no país permitir, eu gostaria de pensar que tenho um futuro brilhante como bailarina de dança do ventre no Egito. Eu trabalhei muito duro desde que fui contratada no ano passado, e fiz numerosas apresentações em eventos para a nata corporativa, assim como na TV egípcia. Então estou otimista com relação a isso. Eu sou grata por tudo o que Deus me proporcionou até agora, e estou pronta para o que quer ele coloque no meu caminho.

Você pode ler a entrevista original (em inglês), assim como outras entrevistas com outras bailarinas aqui.  



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Livro do Mês - Filae - O último templo pagão



Depois de sugerir um livro extremamente pesado e controverso, nesse mês resolvi pegar leve e sugerir uma leitura um pouco mais suave. Filae - O último templo pagão conta a história de Filae (claro), um templo que pode-se visitar até hoje no Egito. O templo (a verdade, um complexo de templos dedicado a Ísis), que data do Egito antigo, ficava numa ilha com o mesmo nome, pouco antes da primeira catarata do Rio Nilo, mas como a ilha foi submersa por causa da construção da barragem de Assuã, o templo foi todo desmontado e reconstruído numa ilha próxima, chamada Agilkia.

Nesse livro, Christian Jacq (o mesmo autor da já sugerida saga de Ramsés) narra o final da vida no templo. A história é triste, pois envolve a morte de uma tradição milenar, e você vê a perseguição pela qual os últimos sacerdotes (e sacerdotizas) passam. Inclusive, dá para fazer um paralelo dessa morte e dessa perseguição com a dança do ventre no Egito hoje... é sempre muito triste de ver.

Capa da edição traduzida para o português, infelizmente ainda não há versão de bolso...
Mas o livro é lindamente escrito, como sempre porque Christian Jacq é maravilhoso, e tudo o que ele fala sobre o antigo Egito é tão poético que dá vontade de viajar no tempo e viver perto dos faraós. É tudo tão bonito e triste que não dá vontade de parar a leitura até chegar na última página!

Para bailarinas de dança do ventre, o interessante é ver as descrições do Egito Antigo, dos seus rituais, roupas, e como a mulher era vista, em contraste com a cultura cristã que vem substituindo a cultura milenar dos deuses egípcios ao longo do livro. E é interessante também, caso você possa ir no Egito, visitar Filae, pois um dos seus templos, que é dedicado a Hathor, têm muitos afrescos relacionados à dança... de ponta a ponta são mostrados egípcios com seus instrumentos e dançando... é lindo! E dá para reconhecer diversos antepassados dos atuais instrumentos árabes! É tudo de bom! Pena que o livro não seja ilustrado... seria ainda mais imperdível!

Aguém já leu esse livro? Ou então já visitou Filae? Compartilhe suas impressões com a gente!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - O Grande “M” Amarelo



Sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha    

Sim, eu estou falando daquele M. McDonalds. O lugar que nenhum americano viajando pelo exterior e com algum respeito por si mesmo seria encontrado, nem morto. Nós, americanos que viajamos pelo exterior, sofremos de uma espécie de “complexo do McDonalds”. Somos dolorosamente conscientes de que o resto do mundo nos vê dentro de um estereótipo de provincianos, sem experiência de viagens, caubóis sem cultura que só sabem falar a sua própria língua e que só comem fast food. Então, para provar para o mundo (e nós mesmos) do contrário, uma das coisas que evitamos é comer no Mcdonalds. Mesmo que seja para o nosso próprio bem.

Eu sou uma dessas americanas que sofre do complexo do Mcdonalds. Não só porque comer no McDonalds é um indício de mentalidade estreita, mas por causa de tudo que a fast food passou a simbolizar ao longo dos anos. Especialmente aqui no Oriente Médio. Sendo uma das maiores corporações do mundo, é um símbolo da hegemonia econômica e cultural americana. E, portanto, não é de admirar que os restaurantes do McDonalds se tornassem um dos alvos favoritos da violência antiamericana no mundo árabe.

Tendo isso em mente, eu tento evitar comer no McDonalds quando estou aqui no Egito, ou em qualquer outro lugar, em se tratando desse assunto. Não só pelo o quê simboliza, mas também porque é uma comida ruim. E eu gosto de experimentar as comidas locais. Isso sem mencionar que eu nunca comia no McDonalds quando eu estava morando nos EUA. Então porque eu iria adquirir esse hábito agora que estou morando no exterior?

PORQUE EU JÁ PERDI A CONTA DE QUANTAS VEZES EU TIVE INTOXICAÇÃO ALIMENTAR DESDE QUE COMECEI A VIAJAR 8 ANOS ATRÁS, TUDO PARA NÃO SER UMA AMERICANA IGNORANTE E FREQUENTADORA DO MCDONALDS!

Até agora, eu consegui ter uma intoxicação alimentar em quase todos os países que visitei. O último foi a Polônia. Eu sempre sonhei em conhecer a Polônia desde que comecei a estudar a Segunda Guerra Mundial no colégio. Então quando surgiu a oportunidade de ensinar no Suraiya and Mansour’s Euro Raks Festival na Polônia, eu aceitei de bom grado. Mas assim que saí do avião, comi algo que não devia, e antes que eu percebesse já estava correndo atrás de um banheiro.

O que aconteceu é que eu tive uma escala de 9 horas em Warsaw antes de seguir para a cidade de Katowice, onde o Euro Raks Festival estava acontecendo. E com todo o meu entusiasmo turístico, eu perambulei pela cidade até chegar a hora da minha conexão. Admito que não falo nem uma palavra de polonês, e que não sabia nada sobre os lugares que estava visitando, mas não importava. Eu estava feliz só de sentir o ar frio, fresco da Polônia, e de ver cores tão vívidas a minha volta, especialmente o verde! (Faz um tempo que não vejo essa cor.) Eu estava especialmente intrigada com a arquitetura... e as igrejas! Eu não sou religiosa nem nada, mas ver as igrejas me deu uma sensação de calma que eu não sentia há tempos. Era uma sensação tão boa que eu quis intensificar ainda mais entrando em uma das igrejas. E como foi intenso. Sem nenhuma razão aparente, de repente comecei a chorar copiosamente. Eu não sei por qual razão estava chorando. Ou porque, de todos os lugares, eu estava chorando na Igreja de São João Batista na Polônia. Especialmente se levar em consideração que eu não chorava há muuuuuuuuuuito tempo. Era a primeira vez que eu pisava numa igreja depois de muitos anos, entretanto. Talvez tenha a ver com isso.

De qualquer forma, eu me recuperei e continuei andando pela linda cidade até que senti fome. As coisas foram ladeira abaixo a partir desse ponto. Tinha um grande “M” amarelo bem na minha frente. Me chamando. Ah, se eu soubesse. Ao invés disso, resolvi comer num restaurante polonês, e corajosamente pedi sopa de ervilha com uma porção de kielbasa, e bolinhos de espinafre com queijo. Eu normalmente não como porco. Não por razões religiosas, mas porque eu não gosto muito. Mas, bem, o que seria de uma viagem à Polônia sem kielbasa? E qual é a graça de sair do Cairo sem aproveitar para fazer todas as coisas não dá pra fazer lá, como comer porco, tomar cerveja, e andar por aí seminua? Então a infiel dentro de mim pediu porco.

E então, Deus me puniu. Ele me mandou direto para as entranhas do inferno – ou melhor dizendo, mandou o inferno direto para as minhas entranhas! No banheiro do avião da minha conexão para Katowice, claro. Se você nunca passou por isso, deixe-me ser a primeira a te contar que não há nada pior do que ter diarreia a 9 mil metros de altura. Se já é ruim o suficiente NO nível do mar, imagine numa altura dessas!

E para a minha sorte, a intoxicação alimentar foi ficando cada vez pior ao longo da noite até o dia seguinte, no qual eu estava escalada para dar aula. Eu estava completamente desidratada, com dores, exausta e com fome, comecei a pensar em trocar de lugar com alguém que daria workshop em algum outro dia. Parecia simples, mas aparentemente teria sido um pesadelo logístico. Então eu tinha apenas uma escolha: ou cancelar a aula e perder a oportunidade, ou dar a aula de qualquer jeito, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse. Escolhi a segunda opção. Sendo os anfitriões magníficos que eles são, Surayia e o seu marido me entupiram de Stoperan, ou “rolha” como eu gosto de chamar (:D), um remédio para diarreia muito comum na Polônia. Eu tomei tanto quanto era humanamente possível, esperando que o meu problema fosse resolvido antes da aula.

Não tive sorte. Na verdade, eu acabei por vomitar uma hora antes da aula. Nessa hora, qualquer pessoa em sã consciência teria provavelmente cancelado o workshop. Mas eu não. Entrei no banho (de novo), taquei maquiagem na cara e arrestei a minha bund@ para a aula.

O que aconteceu logo depois foi uma espécie de milagre. Consegui ensinar minha entrada super energética com sucesso, para uma sala cheia de lindas, talentosas e notáveis jovens mulheres. Elas já tinham ouvido falar que eu estava doente, então elas souberam ser pacientes comigo. Elas até me levaram uma bandeja cheia de cookies, e brincaram sobre a ironia de eu sair do Cairo para ficar doente na Polônia! Entre os cookies, a bondade e as gargalhadas delas, eu consegui ir até o final da aula, não obstante as tonturas. Louvado seja o Senhor que me puniu por ter comido porco! :D

Moral da história. Eu deveria ter comido no McDonalds. Tem vezes que vale a pena ter mentalidade estreita, provinciana e sem-vergonhadamente americana, e seguir com o já conhecido, testado e aprovado. Especialmente quando as alternativas incluem fois gras (gansos forçados a comer), kielbasa, wienerschnitzel, mumbar (intestinos recheados), cérebro de boi frito, testículos de boi fritos... Apesar dos pontos negativos, pelo menos você sabe o que esperar no McDonalds. E você nunca vai passar mal por comer um Big Mac (a não ser que inclua ratos! >D). Sensação de culpa, sim. Intoxicação alimentar, não.

Essa experiência me ensinou mais uma coisa. Localizar o McDonalds mais próximo quando estiver visitando um país estrangeiro é tão importante quanto saber onde fica a embaixada americana. Em momentos de crise, ambos podem ser os salvadores da pátria. Na verdade, eu acho isso tão importante hoje, que acho que pequenos “M” amarelos deveriam ser marcados nos mapas turísticos junto com os museus, igrejas e hospitais. :)

E realmente, eu me lembro especificamente de outra ocasião em que um McDonalds teria caído muito bem. Foi quando eu estava num hospital na Síria 5 anos atrás. Só que não há McDonalds na Síria.

No final da minha estadia de 2 meses para estudar em Damasco, eu visitei a família sírio-americana de um ex-namorado meu em Idlib. Eu não me lembro o que comi, mas deve ter sido algo muito ruim, porque a próxima coisa que me lembro é que eu estava num hospital com febre, completamente desidratada e delirando depois de 24 horas de diarreia contínua (com banheiros turcos, para tornar a situação pior). O médico me informou que minha única opção era tomar uma injeção com uma agulha absurdamente grande e não-descartável no traseiro. Percebendo o pânico no meu rosto, ele me empurrou para que eu ficasse de lado e me segurou para dar a injeção. Só que eu resisti. Nós continuamos a nos empurrar e a nos bater até que as irmãs do meu ex, que estavam vendo o que estava acontecendo, se sentiram mal por minha causa e me arrastaram para o banheiro (que também era estilo turco).

Sem querer correr o risco de pegar AIDS por conta daquela agulha, a única coisa que me restava era induzir o vômito para tirar o estava me envenenando do meu corpo. Fácil de falar. Eu nunca tinha feito isso, e estava com medo de tentar. Então as irmãs dele me ofereceram os dedos delas! Hum, não... apesar de apreciar o gesto. Como eu queria acabar com o problema o mais rápido possível, coloquei 2 dedos na garganta e consegui, na frente de duas mulheres. Nojento e vergonhoso.

Aqui no Egito, é fácil arranjar uma intoxicação alimentar também. Apesar de o culpado ser geralmente a água. Mas como nunca bebo água da bica, e quase sempre cozinho, eu normalmente não fico tão doente como costumava ficar quando visitei o Egito pela primeira vez 7 anos atrás. Além disso, devo ter ficado imune a mais coisas do que posso imaginar. Aqui eu nunca nem menciono a palavra McDonalds, a não ser como ponto de referência, ou um lugar onde marquei de encontrar alguém na frente.

Ok, ok. Isso não é totalmente verdade. Admito que de vez em quando sinto um tipo de “desejo” por um Big Mac. Mas eu acho que isso significa que estou com saudades de casa. Não porque eu comesse isso em casa. Mas porque é um símbolo de tudo o que é americano, é como se eu tivesse comendo um pedaço da própria América. Isso, além de soluçar toda vez que escuto Whitney Houston, Celine Dion, ou Madonna tocando num taxi ou num café, é certamente um sinal de que você está com saudade de casa e algo precisa ser feito com relação a isso. :)

A melhor coisa do McDonalds aqui no Egito, entretanto, é que eles fazem entrega – na sua mesa e na sua casa! Não é exatamente fast food, já que serviço é bem lerdo, mas tudo o que você precisa fazer é pedir no caixa, escolher um lugar e esperar um garçom trazer a sua comida. Ou então, telefonar pra um número especial do seu celular, e esperar o entregador do McDonalds trazer o seu McLanche Feliz numa motocicleta vermelha especial. A McMotor. ;)

E eu não acredito que acabei de escrevei um post inteiro sobre o McDonalds. Eles deviam me pagar por isso!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Diário de Viagem - TURQUIA – 6° dia – Konya e Capadócia


Acordamos às 5 horas da manhã, pois precisávamos fechar as malas, tomar banho e um belo café da manhã, pois passaríamos praticamente todo o dia dentro do ônibus, que saía às 7h da manhã, na maior “perna” da nossa viagem.

Infelizmente o café da manhã não foi ao ar livre (como eu gostaria, afinal o jantar havia sido maravilhoso), e a comida era muito simples mesmo, o que era de se esperar pela estrutura do hotel. Mas o que eles tinham era gostosinho. Como fui antes do Caike para o salão, me sentei perto do Buffet, para garantir que ele me acharia com facilidade, e confesso que fiquei me divertindo enquanto esperava vendo as pessoas tentarem usar a máquina de café/chá/chocolate quente. A máquina tinha uma quantidade realmente grande de botões e duas saídas para os líquidos, então invariavelmente as pessoas erravam e perdiam parte da sua bebida ou faziam lambança.

Terminando o café fui para o ônibus, só para descobrir que tinha tanta gente indo embora no mesmo dia e na mesma hora que parte das malas do nosso grupo (incluindo as nossas) simplesmente ainda não havia chegado. Algumas pessoas ficaram muito preocupadas, achando que elas poderiam ter ido parar em outro ônibus, mas no final deu tudo certo, elas só demoraram mais a chegar mesmo.

A previsão era de ficarmos pelo menos 4 horas e meia dentro do ônibus (sem contar as duas paradas técnicas programadas) até chegar a Konya, a capital espiritual da Turquia. Na primeira parada técnica aproveitamos apenas para ir ao banheiro, pois dormimos direto, com direito a música sufi de fundo, que a nossa guia colocou justamente para a galera poder descansar mais um pouco. Na segunda parada técnica fizemos um lanche/almoço. Paramos num tipo de restaurante, mas que só serve lanchinho, e comemos um prato típico da região: bidê (se fala bidê mesmo!), conhecido também como pizza turca, mas que também lembra uma esfirra aberta. O prato tinha 3 sabores disponíveis: carne, queijo ou misto, e sem saber que a carne era apimentada pedimos o misto, o que foi um erro, pois foi difícil de comer e como eu pedi um chá que veio muito doce, a bebida não ajudou a aliviar o ardido da pimenta.

Vista do Castelo de Algodão ao caminho de Konya...
Aproveitamos novamente para ir ao banheiro, só que o lugar era tão grande que eu me perdi. O inglês tosco dos funcionários também não ajudou em nada. A única vantagem é que eu não paguei para entrar no banheiro, pois entrei pelo lado errado (desconfio que era a entrada dos funcionários) e não passei pelo controle.

Saindo do restaurante e voltando para o ônibus, nossa guia começou a nossa aula sobre o interior da Turquia e o Sufismo, tão presente e importante nessa região. O Sufismo é o lado místico do islamismo e durante muitos anos (e em alguns países até hoje) ele foi proibido por ser considerado uma heresia (no caso da Turquia acredito que ele tenha sido banido pelo Ataturk porque era considerado uma ameaça à laicidade do estado). O Sufismo tem diversas vertentes diferentes, mas na Turquia é muito associado ao poeta e mestre Rumi, que apesar de ser persa e ter nascido numa região que hoje pertence ao Tadjiquistão, ele morou a maior parte da sua vida em Konya, e foi lá que ele escreveu todas as suas obras de importância. Mevlana Jalal ad-Adin Rumi, viveu no século XIII e sua obra influenciou o mundo todo. A maior parte dos grandes pensadores que vieram depois dele leu sua obra e foi influenciado por ela de alguma forma.

Outro personagem importante no folclore dessa região é o famoso Nasrudin, que apesar de ter histórias absolutamente folclóricas, foi um personagem real. Suas anedotas são mundialmente conhecidas e ele encarna o papel do sábio tolo, que assim como o bobo da corte medieval, se utiliza de sua própria tolice para dizer a verdade que ninguém tem coragem de dizer. Mestre Nasrudin também é utilizado no sufismo, onde através de suas anedotas e histórias engraçadas são passados diversos ensinamentos (a tradição oriental sempre foi muito baseada em histórias, e os ensinamentos são passados diversas vezes de forma oral, através de histórias curtas e anedotas).

Para amenizar a chatice do ônibus, nossa guia, Tina, passou as horas depois do almoço contando histórias dele, o que tornou a viagem até Konya muito mais interessante e divertida. Mas chegando a Konya, nós fomos visitar o a escola criada por Rumi, que é mais conhecido por suas poesias, especialmente as de amor.

A escola de Rumi hoje é um museu, e peregrinos sufis e muçulmanos do mundo inteiro vão até lá para rezar no seu túmulo. Com um ambiente agradável e um lindo jardim em torno das construções, hoje se visita o seu túmulo como se fosse mesmo um museu. Seu imenso caixão de pedra, coberto por um tecido verde, fica numa grande sala, juntamente com os caixões de outros mestres e sufis proeminentes, e todos têm turbantes em cima, e o tamanho do turbante indica a importância do morto. Por ser um local de peregrinação, apesar da quantidade imensa de pessoas visitando o museu, a sala permanece em silêncio. É proibido tirar fotos (apesar de algumas pessoas tirarem mesmo assim, especialmente os chineses e japoneses), e muitos aproveitam para orar o mais perto possível de Rumi, e outros aproveitam para orar para as diversas relíquias que também estão dispostas no local.

Museu Rumi
Nos antigos quartos destinados aos sufis que viviam ou visitavam a escola, hoje há uma exposição sobre a cultura sufi, suas vestimentas, hábitos e instrumentos musicais. Ah, sim, os sufis são muito conhecidos pela sua música, e Rumi fundou uma das ordens sufis mais conhecidas do mundo: a ordem dos dervixes rodopiantes. Rumi criou um ritual onde alguns sufis tocavam música, enquanto outros entravam em estado meditativo e em êxtase rodopiando sem parar, tudo sob a tutela de um mestre, que conduz a cerimônia, chamada de Sema na Turquia. Aliás, é dessa cerimônia que deriva a dança egípcia Tanoura.

Nays - flautas de madeira muito usadas na música sufi
Rababas - uma espécie de violino antigo, também muito presentes na música Sufi
Kudum - um dos instrumentos de percussão usados pelos sufis
Infelizmente nossa visita ao museu foi muito curta, e não pude meditar perto do túmulo de Rumi. Além disso, precisei ir ao banheiro, que tinha uma fila simplesmente gigantesca, e acabei também não podendo aproveitar o jardim do museu... pelo menos na saída consegui comprar uma das obras de Rumi que é muito difícil de encontrar.

O jardim do museu
Um exemplo da sua poesia:

Seja como o sol pela graça e misericórdia
Seja como a noite para cobrir as faltas dos outros
Seja como a água corrente pela generosidade
Seja como a morte para a raiva e o ódio
Seja como a terra pela modéstia
Pareça ser aquilo que você é
Seja aquilo que você parece ser

É ou não é apaixonante?

Aproveitando o clima do museu, nossa guia, Tina, aproveitou para ler alguns dos seus poemas durante o resto da viagem para a Capadócia. Dessa vez, fizemos apenas uma parada técnica antes de ir para o nosso hotel. Nessa parada aproveitamos para lanchar, eu e o Caike pedimos uma tost (um tipo de sanduíche na chapa), e eu pedi minha bebida turca favorita: o ayran. O serviço do lugar era muito confuso, e foi complicado conseguir o nosso lanche. Quando a Tina me viu com aquele copo de iogurte na mão ela comentou que eu estava realmente parecendo uma turca, visto que a maioria dos turistas não gosta dessa bebida salgada.

Chegando na Capadócia, pela primeira vez o grupo se dividiu, pois parte do grupo havia pago o adicional para ficar no hotel da caverna, enquanto os outros ficariam num hotel comum. Por isso aqueles que ficariam nos hotéis das cavernas (um grupo de paulistas escolheu um hotel diferente daquele sugerido pela agência de viagens, apesar dos hotéis serem um do lado do outro) seguiram viagem numa van, enquanto o resto seguiu no ônibus junto com a guia e Selim, nosso motorista.

A Capadócia vista do nosso hotel
Agora vou dizer uma coisa: valeu cada centavo o extra que pagamos pelo hotel na caverna. É o hotel mais chique que já fiquei ou vi ao vivo. Era tão chique que fomos recebidos com uma linda bebida gelada feita com especiariais! O hotel em si era uma atração! Encravado numa montanha, com absolutamente todos os cômodos feitos de pedra, o hotel era um luxo só! E não só na construção e na vista simplesmente divina, mas também nos detalhes, tudo dentro do hotel era lindo. Ele era bem decorado, o serviço impecável, e o quarto... nossa! O que era aquilo! O banheiro era gigantesco e tinha uma jacuzzi imensa para duas pessoas e um chuveiro daqueles bem modernos, com jatos de água saindo das paredes.

A recepção do nosso hotel
Fomos recebidos com uma bebida gelada a base de especiarias que era uma delícia!
A decoração do hotel era uma atração à parte, e atrás do hotel vemos as antigas cavernas usadas por séculos pelos moradores da região
Como ainda tínhamos que jantar antes do show da dança que assistiríamos a noite, tomamos banho no chuveiro modernoso, o que foi uma experiência muito interessante, pois ajustar os jatos para eles baterem nos locais certos o não na sua cara não é uma tarefa tão simples assim. E como eu e o Caike temos alturas muito diferentes, cada um precisou ajustar o chuveiro para si.

Apesar de termos combinado com outras pessoas que estavam na nossa excursão para jantarmos juntos, quando chegamos no local combinado não havia ninguém, e como na espécie de barzinho aberto estava muito quente e ventava muito, resolvemos jantar no restaurante do hotel. O cardápio era extremamente variado e não era proibitivo, apesar do restaurante ser absurdamente chique. Eu pedi um kebab (todo prato com carne se chama kebab na Turquia) ao molho de iogurte com ervas e purê de berinjela, que estava tão divino que nem dá para descrever. O Caike pediu um prato típico turco: o kebab de pote. Esse prato tem uma apresentação realmente única: o kebab é cozido dentro de um pote de barro, que precisa ser quebrado para se servir da carne feita no molho de tomate e especiarias. É realmente algo bonito se ver, apesar de eu ter preferido o sabor do meu prato.

Nosso jantar super chique! Repare no pote de barro no prato do Caike
Terminando o jantar, encontramos os demais turistas para pegar o nosso transfer para o show de danças típicas no Harmandali. O transfer era uma van muito modernosa, cheia de luzes coloridas por dentro e o interior imitava madeira. A idéia era ser chique, mas o resultado não era bem esse.
Euzinha na entrada do Harmandali
Eu fiquei super feliz por ter conseguido ir nesse show, pois a estrela da noite não é ninguém menos do que a nossa carioquíssima Clara Sussekind! Eu já conhecia o trabalho da Clara há muitos anos e sempre fui fã, mas desde que ela foi para a Turquia eu só pude vê-la uma vez, e para variar ela havia arrasado no show. Como eu poderia ir à Capadócia e não ver a mais famosa bailarina de dança do ventre atualmente na Turquia??? Até a nossa guia (que a conhece pessoalmente) contou que os turcos vão à Capadócia só para assisti-la. E agora ela vai fazer o maior sucesso por aqui também por conta da nova novela da Globo, onde ela aparece dançando...

Enfim, chegamos ao Harmandali, que é na verdade um restaurante com show de danças. O salão onde acontece o show é uma grande arena que lembra um ouriço, pois ao redor da arena tem corredores amplos com níveis onde eles colocam as mesas para as pessoas assistirem o espetáculo. Nesse restaurante se apresentam a Clara e uma companhia de danças folclóricas turcas. E nós ficamos bem de frente para a entrada! O lugar perfeito para ver o show!

Durante o show, os espectadores são servidos com pratos de frutas e alguns petiscos, para serem consumidos à vontade, além de bebidas de todo tipo, tudo à vontade também (incluindo bebidas alcoólicas), eu aproveitei para tomar Raki, um tipo de cachaça feita de anis, conhecida no mundo árabe como arak e na Grécia como uzo.

A nossa mesa ainda desfalcada do pessoal que não ficou no hotel da caverna
A primeira dança foi uma dança da companhia de danças folclóricas, e era uma dança típica de casamento (ou assim pareceu rsrsrsrs), teve muito interação com o público, pois foi escolhida uma mulher da platéia para ser a “noiva” e então ela precisava escolher entre homens (também da platéia) qual seria o “noivo”. A brincadeira teve direito a fazer o público dançar em roda e tudo o mais, os turcos sabem fazer um show!

A dança de casamento
Antes da interação com o público rolou algo parecido com dabke, mas era mais suave...
Depois veio uma apresentação de uma dança de roda, de homens e mulheres, que eu classificaria como dabke turco, pois é feita em linha e a pessoa que está na ponta vai puxando os passos para os demais seguirem segurando um lenço. No final novamente o público foi chamado a participar da roda, e eu fui dançar cheia de raki nas idéia... e a dança turca, assim como o dabke árabe, exige muito das pernas, com muitos agachamentos... novamente foi muito divertido. Em seguida entrou a nossa querida Clara numa tanoura... ah, que coisa linda que é vê-la dançando e rodopiando... fiz questão de filmar!

Esse sim seria o dabke turco, com muito trabalho de pernas e marcação de ritmo!



Logo depois entraram novamente as mulheres do grupo de dança folclórica, interpretando a dança cigana turca! Gente, eu não curto dança cigana, mas amo a dança cigana turca de paixão! Que coisa linda e forte! Adoro os seus movimentos de força pélvicos, a forma como elas batem no próprio corpo e suas expressões! E essa apresentação foi longa, pois depois entraram os homens, fazendo uma dança cigana mista, seguida da representação de um duelo entre ciganos! Eu mencionei que os turcos sabem fazer um bom espetáculo?

Dança cigana turca
Adorei o chapéu cigano dos bailarinos
Depois de toda a emoção, veio um pequeno intervalo, com direito a salsa de música ambiente, e um casal jovem e muito sem noção resolveu se exibir... coisa mais desnecessária... a menina estava um pouco sem graça, mas o rapaz queria mostrar como ele era bom e podia passar a mão na bunda da menina, que estava com uma saia curta digna de baile funk... o grupo deles aplaudiu muito, mas o resto dos espectadores estava meio sem graça. Quando eles se sentaram, um casal de senhores (de uns 60 anos) resolveu mostrar o que é dança de salão de verdade... e gente, que diferença! Tão elegantes... era realmente uma dama e um cavalheiro dançando... lindos de morrer! Foram muito mais aplaudidos.

Depois do intervalo, o show recomeçou com uma apresentação do grupo de dança folclórica, uma apresentação muito feia e ruinzinha de dança do ventre (as bailarinas desse grupo não eram muito boas... sabe bailarina que “não entra em cena”? Fica repetindo mecanicamente a coreografia pensando em outra coisa? Agora acrescente uma técnica visivelmente ruim). E logo depois delas entra novamente a Clara! Não teve para ninguém! Nossa brasileira arrasou com uma linda dança dos 7 véus, seguida de espada, solo de derbake e dança cigana! Clarinha ficou 20 minutos em cena, e saiu com o público pedindo mais!

Uma das coisas mais estranhas que eu já vi... o shimmie delas era de pé! Sério, ao invés de usar os joelhos ou quadril elas usavam mini saltinho para fazer shimmie... algo bem africano na verdade...





Em seguida voltaram as mulheres do grupo de dança folclórica com uma dança muito diferente, todas vestidas de branco e algo que parecia taças e pratos com velas nas mãos. Depois vieram os homens do grupo, para fazer o fechamento do show, e que despedida sensacional que eles fizeram! Foi o momento em que cada bailarino desafiava o outro a fazer algo ainda mais complicado! Esses homens têm pernas, meu deus! Em seguida abriu-se uma espécie de pista de dança, e adivinha o que tocou? Michel Telo!!!! E Conga!!! Eu não sabia se ria, chorava ou dançava.

Dança esquisita...
Resolvi que era melhor correr atrás da Clarinha para bater um papo rápido e tirar pelo menos uma foto com ela!

Eu e Clara Sussekind! Não é uma fofa?
O resto do pessoal do nosso hotel também não ficou muito animado com a pista, e logo estávamos todos de volta no transfer. Chegando ao hotel, e ainda animados com o show da noite, fomos para o tal barzinho ao ar livre do hotel para tomar um çay (chá), quando o sono bateu de verdade, fomos todos dormir... o dia seguinte também prometia!