sexta-feira, 27 de julho de 2012

Kisses from Kairo - Minha entrevista com o BellyDanceFinder!



Quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha


Bellydancefinder: Conte-nos sobre você. Qual é a sua história? O que você faz quando não está dançando?
Luna: Três anos atrás eu ganhei uma bolsa Fulbright para escrever um livro sobre a história, o desenvolvimento e o declínio da dança do ventre no Egito. Eu tinha acabado de me formar em Harvard com um mestrado em Estudos do Oriente Médio, e eu estava prestes a me mudar para o Cairo. Originalmente, eu tinha planejado voltar para casa depois de 9 meses, após o término da bolsa. Entretanto, a dança me distraiu e nunca terminei o meu livro! Eu continuei a fazer aulas e a conhecer novas pessoas, e uma coisa levou a outra. Quando vi eu estava me apresentando regularmente em todos os resorts 5 estrelas do Mar Vermelho. Exatamente um ano depois disso, eu fiz um teste para o Hotel Semiramis e o Nile Memphis e fui agraciada com contratos para dançar nos dois. O contrato com o Semiramis não deu certo (por razões horríveis – N.T.: veja essa história aqui), mas eu estou feliz de dançar no Nile Memphis toda noite. Eu também danço em casamentos e eventos corporativos de luxo com a minha banda.

Apesar de eu passar a maior parte do meu tempo dançando, desenhando minhas roupas, praticando, coreografando e ensinando, eu uso meu tempo livre para escrever o meu blog sobre a minha vida como bailarina de dança do ventre no Cairo. Você pode visitar o meu blog “Kisses from Kairo” aqui. Eu também estou progredindo no meu livro, devagar e sempre. Esses dois projetos são a minha forma de alimentar o meu lado acadêmico, apesar de numa forma menos formal.

Bellydancefinder: Como você descobriu a dança do ventre? Quantos anos você tinha?
Luna: Eu descobri a dança do ventre depois de ver uma linda bailarina dançar num restaurante sírio no Brooklyn, em Nova Iorque (minha cidade natal!). E eu fiquei maravilhada com a música e com os movimentos da bailarina, sua graça, sua roupa e sua beleza, e eu decidi que eu queria aprender dança do ventre. E por coincidência descobri que aquela bailarina maravilhosa que eu estava assistindo era uma amiga minha de infância da escola de balé Joffrey Ballet School, e ela acabou por me dar algumas das minhas primeiras aulas de dança do ventre! Seu nome é Zobeida de Nova Iorque, e eu sou eternamente grata a ela por ter me interessado nessa dança. ;)

Bellydancefinder: Quem é o seu modelo de bailarina de dança do ventre?
Luna: São muitas as bailarinas que eu admiro, e por razões diferentes. Entre elas está incluída a primeira e única Asmahan do Cairo. Asmahan é A bailarina completa. Ela tem tudo o necessário para ser uma bailarina de dança do ventre fantástica, e ainda mais. Ninguém consegue conjugar dança do ventre e espetáculo como ela faz. Eu também gosto da Dina, Randa, Camélia, e, claro, Fifi Abdo!

Bellydancefinder: Quais as influências que marcaram a sua dança?
Luna: Toda a minha experiência de vida marcou a minha dança. Tudo, desde relacionamentos até viagens ao exterior e os meus muitos estudos de balé, jazz e todas as aulas de dança do ventre que fiz na minha vida.

Bellydancefinder: O que te leva a ensinar dança do ventre? Há quanto tempo você ensina?
Luna: Eu nunca tinha imaginado que eu gostaria de ensinar dança do ventre até que algumas bailarinas estrangeiras começaram a me pedir para dar aula. Eu pensei um pouco no assunto e decidi que iria fazer isso. Eu me lembrava como tinha sido estudar dança do ventre nos EUA, e sentir que de alguma forma minha educação na dança oriental estava incompleta. Estava faltando alguma coisa, e muitas coisas na minha dança simplesmente não estavam boas. Quando eu vim para o Egito e comecei a estudar com diversas professoras (estrangeiras e egípcias), eu vi uma grande melhora na minha dança – uma melhora que só vem depois de se viver ou visitar e estudar muitas vezes no Cairo. Meu vocabulário de movimentos aumentou, minha técnica melhorou drasticamente, minha musicalidade melhorou, etc. Eu agora estou numa posição em que posso compartilhar o conhecimento da minha transformação com outras que estão no mesmo ponto onde eu estava há 3 anos atrás. E eu acho que isso é importante. Eu decidi ensinar porque eu acredito que eu posso ajudar outras a começarem a fazer a mesma transformação pela qual eu passei, e eu sei o quanta satisfação isso traz.

Outro fator que me levou a ensinar é que existe tanta (con)fusão no mundo da dança do ventre. Com todos esses elementos bobos, acrobacias e números de circo que os não-egípcios impuseram à dança, a verdadeira essência da dança do ventre corre o risco de se extinguir. Eu sou uma purista, eu acredito que a dança egípcia com toda a sua simplicidade é muito mais interessante, cheia de nuances, artística e verdadeira do que todas as “criações” voltadas para o mercado que atualmente inundam a dança. Sem falar que a música egípcia é tão rica instrumentalmente e liricamente falando. Elementos como véus wings, bandejas de velas, leques de seda, tacinhas (para nomear apenas alguns) atrapalham a expressão e a interpretação da bailarina, para ter aquela riqueza, por causa dos limites que impõem aos movimentos e emoções. Um dos meus objetivos em ensinar é fazer com que as minhas alunas só dancem – de se soltarem dos elementos e desenvolverem a sua técnica e musicalidade. Uma vez que a aluna chega ao ponto em que a sua técnica é fluida e a sua interpretação musical é inspirada, ela não vai mais sentir a necessidade de mascarar a sua dança com elementos desnecessários. É o meu objetivo ajudar as alunas a chegarem nesse ponto.

Bellydancefinder: Como você descreveria o interesse das pessoas pela dança do ventre no Egito? Ele mudou ao longo dos anos?
Luna: A dança do ventre costumava ser uma forma de entretenimento muito popular no Egito há 30 anos. A economia estava melhor, as pessoas tinham mais cultura e eram mais educadas, e havia muitas bailarinas muito boas para se assistir. A situação é muito diferente hoje. O interesse dos egípcios na dança do ventre tem diminuído. Três fatores são responsáveis por isso. Primeiro, a economia egípcia hoje em dia está em frangalhos, e a maioria das pessoas não ganha a mesma coisa que ganhava nos anos 60 e 70 para gastar com entretenimento. Segundo, uma onda horrível de conservadorismo religioso varreu o Egito nos últimos 30 anos, e a maioria dos egípcios passaram a ver a dança do ventre como “haram”, isto é, pecado. Isso também resultou num número menor de bailarinas, e num número menor ainda de boas bailarinas que sejam capazes de atrair o público. Terceiro, as novas gerações de egípcios estão descobrindo outras formas de entretenimento. Para os ricos isso inclui casas noturnas de estilo ocidental e álcool. Para os pobres isso inclui maconha e outras drogas disponíveis e baratas. Tanto para os ricos quanto para os pobres há a internet. Então, não há tanto interesse na dança do ventre como costumava ter.

Bellydancefinder: Qual tem sido o maior desafio ao ensinar as suas alunas a dançar, especialmente aquelas que não foram expostas à dança do ventre desde a infância?
Luna: Meu maior desafio em ensinar, até agora, tem sido fazer minhas alunas entenderem interpretação musical e transições – porque alguns movimentos combinam ou não com uma determinada música ou ritmo. Esse é um dos maiores desafios para qualquer bailarina. E é isso que faz a diferença entre uma bailarina que tem “sentimento” e uma bailarina comum. Isso é algo que leva anos para se fazer direito, especialmente para nós, bailarinas que não vieram da cultura do Oriente Médio. E é algo em que estamos sempre trabalhando e evoluindo.

Bellydancefinder: Qual conselho você daria para as suas alunas?
Luna: Devagar! O conselho mais importante que eu recebi de uma das melhores professoras e bailarinas do Cairo, Sara Farouk. Não importa o que você esteja fazendo, faça mais devagar. Mesmo que você ache que esteja muito devagar, faça mais devagar ainda. Não importa se você está fazendo uma introdução, um número de Saidi, um taqsim ou um solo de derbake, respire fundo e não corra entre os movimentos. Você não precisa acertar todo dum e tak, e você não precisa incorporar todos os movimentos que você conhece na sua coreografia. Menos é mais.

Bellydancefinder: Quando você não está dançando, você está...?
Luna: Escrevendo o meu livro, meu blog, comendo.

Bellydancefinder: O que faz você rir alto?
Luna: Senso de humor dos egípcios.

Bellydancefinder: O que faz você perder a sua paciência?
Luna: Arrogância, narcisismo, ignorância, hipocrisia, mentiras, manipulação da verdade, indução ao erro.

Bellydancefinder: Algo que você não poderia viver sem?
Luna: Família.

Bellydancefinder: Qual o seu destino favorito de viagem?
Luna: Cuba – estou morrendo de vontade de ir de novo.

Bellydancefinder: Se você pudesse mudar uma só coisa no mundo, o que seria?
Luna: Eu garantiria que haveria uma distribuição igualitária de comida! Eu simplesmente não consigo visualizar que haja pessoas nesse mundo morrendo de fome, enquanto outras morrem de obesidade! Eu não estou pedindo que todos tenham a mesma riqueza – só que todos tenham o mesmo acesso à comida, a mais básica das necessidades e dos direitos humanos.

Bellydancefinder: Se você não estivesse ensinando dança do ventre, o que você estaria fazendo?
Luna: Se eu não estivesse ensinando, eu estaria me apresentando. Se eu não estivesse fazendo nenhum dos dois, eu provavelmente estaria escrevendo de alguma forma. Eu sempre amei escrever e descobri que levo jeito para isso, então eu fiz meu bacharelado em jornalismo na City University of de Nova Iorque.

Essa entrevista foi originalmente publicada no Belly Dance Finder.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Kisses from Kairo - A Feminista Frustrada



Domingo, 2 de outubro de 2011

A Feminista Frustrada
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Eu sou uma feminista frustrada. Eu sempre fui feminista, de um jeito ou de outro, mas a parte “frustrada” é bem recente. Isso tem muito a ver com o lugar onde vivo e com o que eu faço. Por sorte ainda não atingi o ponto de não voltar mais atrás. Eu ainda depilo minhas pernas e axilas e uso maquiagem :-) E eu ainda sou hétero (seja lá o que isso realmente significa). Mesmo assim odeio os homens. Bom, a maior parte deles. Não é que eu odeie os indivíduos que por acaso são homens. Eu só odeio a “macheza” deles – o seu “machismo” – ou o que quer que faça com que eles subjuguem as mulheres.

Correndo o risco de dizer o óbvio, eu vivo numa sociedade ultra-patriarcal. Isso significa que os homens têm a última palavra em quase todos os aspectos da vida aqui. Eles são os líderes, os que fazem as leis, os que as mantêm e os que as quebram. Na verdade, é assim na maior parte do mundo, mas é um pouco mais exagerado em lugares como o Egito do que nos EUA ou na Europa Ocidental. Isso não quer dizer que o Egito está no mesmo nível que a Arábia Saudita, Irã ou Afeganistão. Mesmo assim a misoginia tem o seu lugar cativo aqui. E ela toma diversas formas: mutilação genital feminina (extremamente comum); violência doméstica (muito comum); assédio sexual (sem comentários); crimes de honra (bem mais raros, mas acontecem de vez em quando); leis que regem o divórcio, adultério e outros status sociais (que evidentemente favorecem os homens); e a sempre presente escola de pensamento do “lugar da mulher é em casa” que tanto os homens E as mulheres seguem. Novamente, todas essas coisas existem em outros países, mesmo no Ocidente – é só que elas acontecem muito mais frequentemente e com muito menos estigma nesse pedacinho do mundo.

(Muitos justificam esse fenômeno dizendo que isso é feito para “proteger” e “dar poder” às mulheres. As pessoas que usam esses argumentos são chamadas de apologistas. Eles são mestres em fazer o pior dos males parecer benigno.)

A misoginia também aparece nas duas categorias nas quais a misoginia mais comum divide as mulheres. Elas são “santas” ou “putas”. Funciona assim. Usa o véu. Santa. Não usa véu. Puta. Só tem amigos do mesmo sexo. Santa. Tem amigos de diversos gêneros. Puta. É uma mãe que só fica em casa. Santa. É bailarina. Puta. Não fez sexo antes do casamento. Santa. Fez sexo antes, durante e depois do casamento. Puta. Não se casou antes dos 30. Senhora velha com problemas sérios. Entendeu? Bom. :-) Então. Em qual categoria eu me encaixo? Vou te dar uma dica. Não é “santa”. :)

Você provavelmente deve estar pensando no que isso tem a ver com dança do ventre. A resposta é tudo. A dança do ventre supostamente é para ser uma dança de mulheres. Feita por mulheres para mulheres. Essa foi uma das coisas que mais me atraíram nessa dança. Mas aqui no Egito, são os homens que controlam e ganham dinheiro com a dança. Eles são os agentes, e os gerentes de hotéis e de talentos. Eles são os músicos e a maior parte dos consumidores.

A parte econômica da dança do ventre parece ser um pouco diferente no resto do mundo. Nos EUA, Europa, Rússia e Ásia, são as próprias bailarinas que estão no comando de todos os aspectos da dança. Elas não fazem apenas as performances.  Elas organizam os eventos, são agentes, e em muitos casos, são a maioria dos consumidores. São mulheres ajudando outras mulheres, e elas lucram com a sua dedicação a essa arte.

Por favor, não me entendam mal. Eu não tenho nada contra os homens cooperarem com as mulheres para ajudá-las a serem bem sucedidas. Entretanto, a palavra-chave aqui é “cooperar”. Infelizmente, a cooperação às vezes dá lugar à exploração – tanto financeira quanto de outras formas. Para nós, bailarinas que insistimos em trabalhar aqui, esse problema vem com o lugar. Não acontece sempre, e existem vários homens de respeito no ramo, mas estamos fadadas a encontrar esse problema em algum ponto ou outro das nossas carreiras. Nesse ponto, é uma questão de qual tipo de exploração nós decidimos tolerar. E isso é uma coisa individual. Pessoalmente, eu prefiro ser roubada a ser passada a mão, seduzida a ir para a cama com alguém, ou mesmo ficar ouvindo algum pervertido falar sobre assuntos inapropriados. Então eu escolho as pessoas com quem eu lido de acordo com isso.

Mesmo assim, eu frequentemente me pego desejando que mais mulheres pegassem as rédeas do lado comercial da dança do ventre. Algo me diz que se elas fizessem isso, as coisas seriam melhores. Só outra mulher pode entender realmente o valor dos nossos shimmies. Só outra mulher pode apreciar de verdade a coragem que é necessária para subir no palco “seminua” e se balançar, especialmente numa sociedade que faz cara feia para isso. Só outra mulher pode apreciar de verdade todo o dinheiro, tempo e energia que consumimos para aprender e se apresentar nessa dança.

Para aqueles sociólogos que sugeririam que não existe algo como uma “arte feminina” porque não existe gênero, eu sugeriria que eles olhassem os fatos. Está muito bem estabelecido que os movimentos da dança do ventre são derivados dos movimentos naturais que as MULHERES fazem quando as MULHERES estão GRÁVIDAS. As ondulações abdominais, os shimmies, os shimmies de abdômen, os impulsos pélvicos etc. E da última vez que chequei homens não ficam grávidos. Alguém gostaria de provar que estou errada? ;-)

Outra evidência de que essa é uma dança de mulheres é que não há papel específico para o homem na dança do ventre. Diferentemente do balé, da salsa, e das milhares de danças folclóricas que existem ao redor do mundo, não existem “movimentos masculinos” na dança do ventre. Então, quando homens fazem dança do ventre, eles incorporam uma persona feminina. Eles se transformam em mulheres (nem que seja pela duração do show). E não há necessariamente nada de errado nisso. Só estou dizendo.

E o mais interessante é que um relativamente famoso professor de dança do ventre egípcio uma vez me disse que não há como um homem realmente dançar dança do ventre. Segundo ele, um homem pode apenas “imitar” a dança porque ele não tem um útero, que é a fonte de inspiração artística da mulher. (Eu pessoalmente “vejo” a dança na minha cabeça quando escuto a música, não sinto no meu útero, mas isso é só eu :D). O que quer que você pense sobre a relação entre inspiração artística e o útero, eu acho que o que ele queria dizer é que a dança do ventre é essencialmente feminina. Só as mulheres podem entendê-la direito, porque isso requer aquela essência feminina que os homens não têm (a maioria deles pelo menos). Se é ou não o útero a fonte dessa essência aí é outra discussão.

Dadas todas as evidências de que a dança do ventre é uma dança de mulheres, me parece muito esquisito que sejam os homens a controlar todos os seus aspectos. Mas esse é um mundo de homens no final das contas, e quase tudo é controlado por eles (até mesmo a esmagadora maioria dos ginecologistas egípcios são homens!).

Um dos resultados dessa indústria da dança do ventre ser controlada por homens é que as mulheres acabam por brigar entre si (e não estou falando daquelas briguinhas que acontecem na nossa comunidade de dança do ventre dos EUA). Estou falando de uma chamar a polícia para denunciar a outra, de destruir e roubar as roupas da outra, de espalhar boatos para destruir a carreira da outra, e fazer coisas (e “pegar” pessoas :O ) que elas não deveriam fazer para evitar que outra bailarina “roube” o seu trabalho.

Por mais feminista que eu seja, é difícil não ser arrastada por essa onda de ódio feminino em algum momento. Eu percebi isso quando outro dia me peguei me referindo a outra bailarina como uma “sharmoota”. Isso significa “prostituta” em árabe egípcio. Eu me horrorizei quando ouvi essa palavra saindo tão facilmente da minha boca. Não porque ela não seja de fato uma prostituta, mas porque a palavra é tão carregada de culpa. Ainda mais em árabe do que em inglês (N.T.: ou português). E no fundo, essa sharmoota pode não merecer a condenação que a palavra implica. Ela, assim como milhares de outras mulheres, é analfabeta e destituída de talento. Portanto ela não tem outro meio de sobreviver que não seja usando do seu corpo das mais variadas formas. Isso faz dela uma vítima e uma sobrevivente, não uma sharmoota.

Eu não vou continuar falando sobre as diversas revoluções que precisam acontecer nessa parte do mundo, mas tudo o que vou dizer é que só a realidade que eu observo todo o dia no meu ramo de trabalho é uma razão mais que suficiente para que eu me transforme numa “feminazi”. Infelizmente, eu não vejo que as coisas vão mudar tão cedo. Parece que ficarei frustrada por um bom tempo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Shimmies!!!!!!!

Conforme prometi no post sobre o DVD de glúteos da Suhaila, vamos falar sobre shimmies!



A ideia aqui não é esgotar o assunto, pois o que mais tem por aí são shimmies diferentes (já ouviram falar do DVD 21 shimmies e 1001 variações da Leyla Jouvana?). O que eu gostaria de discutir aqui é a técnica básica, do shimmie de quadril mais básico.

Quando comecei a aprender dança do ventre, com a minha primeira professora lá nos anos 2000 (antes da novela O Clone, ok? rsrsrsrs) ela me ensinou que o shimmie é feito com os joelhos. Todas vocês devem ter aprendido assim também: você alterna os joelhos bem rápido e daí obtem o shimmie). Mais tarde vim a saber que essa é a técnica usada pela renomadíssima bailarina e professora egípcia Raqia Hassan. Logo, essa é a técnica usada pelas bailarinas egípcias hoje.

Mas confesso que sempre tive dificuldades com essa técnica. Eu sempre achei o meu shimmie pequeno, e tinha muita dificuldade em fazer shimmie me deslocando. (mais alguém se identifica com isso? rsrsrsrsrs)

Daí fui fazer um workshop só de shimmie com a bailarina paulista Dunia La Luna, isso foi por volta de 2003 ou 2004, e ela falou sobre uma outra técnica de shimmies, sem o uso do joelho ou das pernas! Sim, é isso mesmo! O motor principal do movimento passa a ser o quadril e um grande conjunto de músculos associados a ele, desde os músculos transversais até os psoas (para uma descrição básica da técnica veja o site da Dunia, aqui).

E mais tarde conheci a técnica das bailarinas americas, que é o uso dos glúteos, como mostrado no DVD da Suhaila (confesso que eu acho essa técnica a mais difícil de todas). Detalhes no post sobre o DVD, aqui.

Todas essas técnicas dão origem a shimmies, mas cada uma tem uma qualidade um pouco diferente. O uso dos joelhos, apesar de gerar pernas mais estendidas, dá origem a um shimmie de movimentos bem curtinhos (o famoso tremidinho), e é muito difícil fazer movimentos longos com essa técnica, especialmente se você tiver um quadril pequeno. E, dependendo da roupa, os movimentos dos joelhos sobressaem demais (e eu, pessoalmente, acho isso feio).

A técnica dos glúteos dá origem a movimentos bem maiores, mas são movimentos sempre bem sequinhos e duros, por causa da força usada na contração dos glúteos, e conforme você aumenta a velocidade, ele vai ficando mais curtinho (claro, em todas as técnicas é assim).

Já a técnica do uso direto do quadril dá origem a um shimmie maior que das outras técnicas, e o movimento fica menos duro e seco (mas você pode torná-lo mais duro e seco se quiser graduando a força que você coloca no movimento). E, assim como na técnica dos glúteos, o movimento dos joelhos fica menos aparente, mas em compensação as pernas precisam estar mais flexionadas (a não ser que você esteja de salto).

Mas quem usa que tipo de técnica? Bom, vamos aos exemplos para ver a diferença!

Uso da técnica dos joelhos:

Dina: (note como os shimmies são sempre pequenininhos)



Luna do Cairo: (repare como o movimento dos joelhos chamam atenção)



Soraia Zaied: (esse vídeo é legal porque dá pra ver muito bem o uso dos joelhos, como eles se mexem tanto ou mais que o quadril)



Técnica dos glúteos:

Suhaila: (perceba como o movimento dos joelhos é mínimo)



Ariellah: (note como os movimentos de quadril são sempre bem secos - apesar da Ariellah trabalhar com tribal, a base da dança dela é dança do ventre, então vale a pena dar uma olhada)



Técnica do quadril:

Dunia La Luna: (repare o uso de mais de uma técnica de shimmie, o de joelhos e de quadril nessa dança, e a diferença na qualidade do quadril em cada técnica)



Fifi Abdou: (repare como o shimmie da Fifi é muito maior do que se usa hoje em dia no Egito)



Nadia Gamal: (repare como ela controla o tamanho do shimmie - pequeno e grande, e como ela faz um shimmie lindo ajoelhada - esse shimmie de joelhos só é possível usando ou as coxas, ou glúteos ou movimentos partindo do quadril)



Naima Akef: (repare como ela nem usa o tremidinho tão usado hoje em dia, só um shimmie maiorzinho)




Enfim! Espero que tenha dado para perceber a diferença :-) e que tenha ajudado a quem queria saber mais sobre shimmies! Qualquer dúvida coloque aí nos comentários que a gente vai batendo um papo sobre esse assunto tão fascinante!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Kisses from Kairo - Em defesa ao Cairo



Sábado, 17 de setembro de 2011

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha





Porque você deveria vir ao Cairo... Agora.


Todo o mundo que me conhece sabe que eu reclamo muito do Cairo. Isso porque já passei faz tempo da fase de lua de mel no meu relacionamento com essa cidade. Eu já disse e continuo dizendo que ela é suja, tem gente demais, caótica, exaure a gente, é disfuncional e frustrante. Mas uma coisa que eu nunca disse sobre o Cairo é que ela é perigosa. Se fosse perigosa, eu não viveria aqui. Simples e direto. Nem viveriam aqui milhares de outros estrangeiros que vivem e trabalham aqui. Ok, ok, a primeira semana da revolução foi bem assustadora. Isso eu posso dizer. Mas as coisas se acalmaram logo depois. Claro, não há governo, e ainda não há tanto policiamento nas ruas quanto costumava ter, mas eu consigo pensar em lugares muito mais perigosos que têm governos e muito policiamento.

Apesar do que você ouve na mídia, o Cairo é seguro. O problema da mídia é que ela tende a mostrar os eventos da Praça Tahrir e esquecer o resto do país. Isso resulta numa visão bem tendenciosa da realidade. Ah, uma breve notícia! Tahrir NÃO é o Egito. É um pequeno pedaço do Cairo que serve como ponto de concentração para manifestações e agitadores políticos. Normalmente, o que acontece na Tahrir fica só na Tahrir e não afeta o resto do país. Na verdade, na maior parte do tempo os egípcios nem sabem o que está acontecendo lá!

Certos indivíduos também são responsáveis pela perpetuação do mito de que o Cairo é uma zona de perigo. Essas pessoas ou são propensas a acreditar e espalhar boatos, ou trabalham no ramo do alarmismo. Eu me lembro de um egípcio em particular que tentava me assustar a voltar ao Cairo. Disseram-me que as pessoas estavam sendo assaltadas e assassinadas em plena luz do dia, e que mulheres estavam sendo estupradas por todo canto. Disseram-me que eu teria que contratar um motorista que andasse armado para me escoltar para todo lugar, incluindo o supermercado! Que vergonha dessas pessoas! Nada poderia ser mais longe da verdade. Enquanto é sempre uma boa ideia tomar as precauções usuais para qualquer cidade grande, contratar um motorista armado para a sua proteção está simplesmente fora de cogitação.

Espalhar esse tipo de boato é algo inescrupuloso. Assim como acreditar cegamente neles. Esse mito de que o Cairo é perigoso quase deu um golpe fatal no turismo, o pilar principal da economia egípcia. Milhões de egípcios agora se encontram des(sub)empregados por causa do declínio abrupto do turismo. Entre eles guias de turismo, motoristas de taxi, garçons, artistas, vendedores... e a lista continua. A vida já era dura antes da “revolução”. Agora é ainda pior.

Duas coisas me fizeram escrever esse post. A primeira foi a baixa presença do público nos dois festivais de dança nesse verão no Cairo. No passado, os dois festivais atraíram mais de 500 estudantes por verão. Só em 2006, o número de estudantes num dos festivais passou de mil alunas! Entretanto, nesse verão, o número de alunas nos dois festivais foi abaixo de 200, devido a situação política do país. Eu esperava que houvesse menos gente esse ano, mas eu não imaginava que fosse TÃO pouco. Quer dizer, não é que o Cairo tenha virado uma zona de guerra!

Na semana passada, o Ministro de Relações Exteriores egípcio disse que iria proibir os turistas sozinhos de comprar os vistos turísticos no aeroporto! Somente estrangeiros que compraram pacotes turísticos numa agência de turismo reconhecida no Egito poderiam entrar no país. Percebendo que isso causaria uma catástrofe econômica, as autoridades prontamente reverteram essa decisão. Mas isso mostra como ser linha dura com os turistas (incluindo os “turistas permanentes” que moram no Egito) é uma ideia que vem ganhando força nesses dias. Pelo amor de Deus, nós temos até a Irmandade Muçulmana declarando guerra a “cultura podre” dos Faraós – você sabe, a mesma “cultura podre” que é a razão do turismo no Egito!

(Você pode ler mais sobre o plano da Irmandade Muçulmana para cobrir o rosto da Esfinge com cera aqui. É um texto longo. Mas leia até o final.) N.T.: o link foi removido da internet, infelizmente, mas deixei aqui o comentário da autora para termos uma idéia do que estava acontecendo na época.

O Egito precisa de você mais do nunca. A sua presença e o seu dinheiro irão ajudar a estimular a economia egípcia, dar emprego a milhares de pessoas, e servir para lembrar que o Egito NÃO PODE sobreviver sem o turismo. Então, pense em passar as suas próximas férias no Egito. Você não vai se arrepender. O Egito é uma terra mágica com muito a oferecer. Não importa se é a “cultura podre” dos Faraós, dança do ventre, a língua árabe ou a história islâmica que te interessam, tem algo para todo o mundo aqui. Sem mencionar que os egípcios são um dos povos mais hospitaleiros e engraçados do mundo. Só por eles vale a pena uma visita a Terra dos Profetas e dos Faraós.

Nota da Tradutora: lembrem que esse post da Luna é de setembro do ano passado, desde então as coisas mudaram muito no Egito. Sempre se informe direitinho antes de viajar, não importa para onde :-)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Resenha de DVD - Suhaila Salimpour - Bellydance Fitness Fusion JAZZ



Continuando a série de posts sobre DVDs interessantes para se ter em casa, vou retomar a série de DVDs da Suhaila Salimpour sobre fusões de dança do ventre. O segundo DVD dessa série é o de fusão com Jazz.

Caixa com a coleção completa





Diferente do primeiro DVD, cuja resenha você encontra aqui, esse dvd-aula é bem mais leve em termos d exercícios físicos. A não ser que você esteja com preparo zero, é tranquilo ir até o final sem suar. Mas novamente não é um DVD para iniciantes, pois contem combinações razoavelmente complicadas.
O formato do DVD é parecido com o anterior: aquecimento, exercícios, relaxamento, dança e círculo entre as alunas. Dessa vez achei o aquecimento de acordo com os exercícios, já que eles são mais leves, o aquecimento pode ser rapidinho, e ele tem exercícios bem legais para as pernas e pés, e inclui exercícios de shimmie usando a técnica do DVD anterior, de glúteos, o que mostra que ela é coerente com a técnica :-)

Depois começa a parte de fusão, com muita expressividade nos braços e bons exercícios de coordenação motora, tudo com quadril junto (ótimo para treinar a técnica de glúteos dela). E tudo isso em parar. Como os exercícios são leves, dá para seguir esse ritmo non-stop. Em seguida, ela começa uma das duas mini-coreografias que ela ensina nesse DVD. Primeiro ela faz a sequência bem devagar, para depois acrescentar os movimentos de quadril, e ela sempre repete a série toda para cada lado, o que é interessante como treino e para coordenação motora. Depois de umas 3 ou 4 repetições lentas ela repete mais rápido também umas 3 ou 4 vezes. 

É interessante notar a expressão da Suhaila, pois ela está sempre transparecendo muita simpatia, e é um bom exercício manter uma expressão bacana junto com ela enquanto você treina as coreografias desse DVD.

A segunda coreografia é do mesmo nível da primeira, apesar de eu acha-la mais divertida. E ela é mostrada no mesmo esquema: primeiro devagar, depois acrescentando o quadril, e depois de algumas repetições mais rápido, repetindo mais algumas vezes. Sempre fazendo para os dois lados. Depois vem um alongamentozinho suave para esfriar depois do exercício.

Em seguida tem uma apresentação em grupo com uma fusão de jazz com dança do ventre. A música é chatinha mas eu gostei muita da coreografia. Eu gosto os trabalhos de fusão da Suhaila, acho ela ótima nisso (mas não gosto quando ela tenta fazer dança tradicional), ela tem uma energia bem legal, que se mantem no vídeo.

Assim como no outro DVD, no final ela faz um discurso sobre as dificuldades da vida moderna da mulher, meio auto-ajuda, mas bonitinho. Depois tem mais um círculo da Suhaila com as alunas e a filhota, e dessa vez a pequenininha dança, uma fofa.

Nos extras tem mais uma sessão curtinha de exercícios de fusão, dessa vez com muitos twists e giros, e é uma das alunas da Suhaila que mostra os movimentos. (o que é muito legal dela, colocar as alunas mostrando as coisas :-))


Nessa parte também tem a apresentação solo de uma outra aluna misturando dança do ventre com acrobacias, que é bem interessante, além de uma dança em círculo extra.


De todos os DVDs dessa coleção, eu achei esse o mais fraquinho. Mas é legal para treinar também. Para quem precisa trabalhar na parte aeróbica, esse DVD pode ser um bom pedido. Para quem tem problemas com lateralidade, também.


Para vocês terem uma ideia, aqui está o vídeo promocional desse DVD:


E bom treino!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Kisses from Kairo - Beleza Baladi


Servindo de modelo de vestido de noiva para uma revista egípcia


Quarta-feira, 31 de agosto, 2011

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha



Deve haver algum tipo de superstição sobre vestir vestidos de noiva antes de casar, mas eu já vesti vários desde que me mudei para o Cairo. Na verdade, houve um momento em que eu estava vestindo uns 20 vestidos por semana. Não, eu nunca me casei (apesar dos incontáveis pedidos de casamento de homens egípcios), e não quero me casar nunca. Eu simplesmente sirvo de modelo de vestidos de noiva no meu tempo livre, quando não estou me apresentando ou ensinando dança do ventre.

Deixe-me esclarecer. NÃO, eu não sou modelo de vestidos de noiva. É só porque eu sou um pouco mais “arredondada” do que todas as meninas russas que saturam o mercado de modelos no Egito, então eu sou muito chamada para fotos que querem uma mulher um pouco mais cheinha. Isso significa fotos de lingerie e vestidos de noiva. Dado que eu me recuso peremptoriamente a servir de modelo de lingerie, acabo ficando com os vestidos de noiva. É meio irônico, considerando o meu medo/repulsa com tudo relacionado a casamento. Especialmente os vestidos bolo de noiva. E, cara, como eles são bolo de noiva por aqui. No instante que eu entro num desses monstros, pareço estar me afogando num mar de tule branco e chiffon. Sem mencionar que é impossível se movimentar com eles. Agora eu sei porque todas as noivas egípcias, em cujos casamentos eu danço, parecem permanentemente furiosas e assustadas.

Eca! Eles até photoshoparam o meu queixo para ficar maior!
Para ser justa, preciso dizer que não é tudo culpa do vestido. Boa parte do ar furioso tem a ver com a maquiagem egípcia, especialmente as sobrancelhas. Você sabe, aquelas sobrancelhas em diagonal, super-retinhas, que faz parecer que você tem um “V” na testa. Aquelas que começam mais perto dos cílios do que os ossinhos permitem e saem correndo pelo seu rosto num ângulo de 45 graus. Agora, com todo o respeito para com os maquiadores egípcios, sobrancelhas “V 45” fazem você parecer zangada. Toda vez que tenho o meu rosto maquiado para uma sessão de fotos, alguém me diz que pareço zangada (se eu não estiver sorrindo, é claro :D). Isso não poderia estar mais longe da verdade, mas simplesmente vem com o pacote dessas sobrancelhas tão intensas. São tão intensas que não me fazem parecer zangada como muda completamente o meu rosto. Sem exagero. Frequentemente eu não me reconheço ou mesmo gosto do jeito que eu fico depois de ser maquiada assim.

Felizmente, eu não me importo com o quão feia eu fico nessas fotos. Isso porque meu coração não está presente em servir de modelo para vestidos de noiva egípcios. Para mim isso é que nem Halloween, só que pago. Mas para outras, especialmente as milhares de meninas russas e ucranianas que fazem sua carreira fora do Egito, ficar esquisita é um problema sério. Algumas até choram. Eu lembro de ter feito uma sessão com uma modelo russa linda num centro de beleza para noivas. Nós duas fomos maquiadas do jeito típico baladi, e isso nos transformou em outras pessoas. Mas enquanto eu achava isso motivo de riso, ela achou que era motivo para chorar. Ela não conseguia suportar ficar tão abominável! E, acredite em mim, nós estávamos abomináveis. Nós duas tínhamos sobrancelhas “V-45” negras como carvão, base com uns 3 tons abaixo na cor natural da nossa pele, pelo menos umas 4 cores de sombra nas pálpebras, pintas falsas e lábios gigantescos pintados em fuschia. E nem vou mencionar como estavam os nossos cabelos!

O que é mais engraçado é que o que nós, não-egípcios, achamos brega, os egípcios acham lindo. É por isso que esse visual é reproduzido toda vez que vou fazer uma sessão de fotos no Cairo, seja de noiva ou de qualquer outra coisa. Eles me produziram assim até quando eu servi de modelo para uma linha de pijamas infantis do Mickey Mouse!

Grade, branco e bolo de noiva! :D
A última sessão de fotos que fiz semana passada foi particularmente de levantar as sobrancelhas (trocadilho intencionado). O dono desse salão de beleza baladi contratou modelos e uma equipe de filmagem para que ele pudesse fazer propaganda dos seus serviços de maquiagem e cabelo para noivas. O vídeo estava sendo transmitido ao vivo em diversos canais do Egito, Arábia Saudita, Golfo e partes da Europa. Supostamente. De qualquer forma, quando chegou o momento do maquiador (que também era o dono do salão) fazer as minhas sobrancelhas, a coisa ficou feia. Primeiro, ele cobriu as minhas sobrancelhas naturais com linhas grossas e escuras, começando no osso do meu nariz e indo para fora numa diagonal exagerada. Então, ele pediu para que eu fechasse os olhos, pegou uma navalha e raspou as partes da minha sobrancelha que não estavam cobertas pela linha diagonal grossa! Assim que eu percebi o que ele tinha feito, todos os tipos de palavrão começaram a passar pela minha cabeça. Eu estava furiosa que ele tinha se atrevido a raspar minhas sobrancelhas no vídeo sem nem me consultar! Quer dizer, não é como se eu não precisasse delas! Ou que eu pretendesse continuar a desenhar diagonais na minha cara até elas crescerem de novo, seja lá quando isso for acontecer. Mas como estávamos ao vivo, eu não podia protestar. Pensando nisso agora, eu gostaria de ter tido um ataque em frente à câmera. Isso teria adicionado um necessário alívio cômico para todo aquele fiasco. :D

Ok, ok, esse aqui não é tão ruim :)
Lá estava eu, visível para todo o Oriente Médio, sentada numa cadeira de salão de beleza, com um vestido de noiva enorme e uma toalha de banho branca para cobrir o meu decote (!). Para me fazer me sentir ainda mais ridícula, o maquiador virava o meu rosto de um lado para o outro puxando o meu nariz! E tudo isso por 50 dólares. 300 libras. É um pouco mais do que eu ganho num show no Nile Memphis. Mas, pelo menos no barco eu estou fazendo algo que eu gosto. Certamente é melhor do que passar 7 horas enrolada num vestido de noiva e numa toalha de banho com as minhas sobrancelhas sendo raspadas e meu nariz sendo puxado de um lado para o outro na frente de todo o mundo árabe!

Para ser sincera, eu não sei o que me chateou mais – as sobrancelhas raspadas, o meu nariz ser puxado de um lado para o outro ou o fato de eu ter que cobrir o decote com uma toalha de banho porque o vídeo estava passando na Arábia Saudita. Em primeiro lugar, por que me colocar com um vestido com um decote tão profundo? E como se a toalha não fosse suficiente, a equipe de filmagem sugeriu que o maquiador colocasse um separador de dedos de pedicure nas mãos para que elas não entrassem em contato com o meu rosto enquanto ele me maquiava!!! Os religiosos não apreciariam a idéia de um homem estranho tocando o rosto da noiva por qualquer razão.

Pelo amor de deus, gente! O Talibã ainda não tomou conta de tudo!

E foi isso. Minha (aparentemente grande) tolerância para sacanagens foi levada ao limite. Felizmente o maquiador rejeitou a idéia do separador de dedos. Mas houve, entretanto, uma técnica que ele insistiu em não mostrar para as câmeras – a de soprar glitter em pó nos meus lábios tingidos de fuschia. Sugestivo demais.

Depois veio o cabelo. Cachos à la Shirley Temple paralisados por quilos de spray de cabelo. Eca. Três esponjas pretas do tamanho de laranjas foram presas na parte de trás da minha cabeça com elásticos, nas quais os cachos foram presos. Mais spray de cabelo. Acho que minha cabeça mais que dobrou de tamanho. ;) Assim como a maquiagem, a sessão cabelo também foi televisionada, então eu me esforcei ao máximo para segurar o riso. Especialmente quando o hairstylist estendia repetidamente a mão para o ajudante e pedia “benis” – grampo de cabelo :D

Era 5 da manhã quanto tudo terminou. Graças a Deus. Eu não queria que nenhuma vivalma das ruas do Cairo me visse do jeito que eu estava. Quando cheguei em casa levei mais de uma hora para conseguir tirar toda a maquiagem, desfazer e lavar o cabelo, que estava duro como pedra por causa do spray. Sem estar preparada para ver como eu ficava sem ¾ das minhas sobrancelhas, eu tentei evitar lavar a área das sobrancelhas, mas sem sucesso. As linhas diagonais se tornaram um borrão com o resto da maquiagem que escorria pelo meu rosto cheio de sabão. Não há palavras para descrever a cara que eu fiz ou como me senti quando vi meu rosto sem maquiagem no espelho, tudo o que posso dizer é que eu nunca quis tanto na minha vida ter sobrancelhas grandes e grossas. E eu fiquei preocupada com todo o suor que escorreria direto para os meus olhos quando eu dançasse. De agora em diante, eu planejo sempre informar com antecedência aos maquiadores sobre a minha nova política de “sem raspar”. Eles podem fazer o que quiserem comigo, desde que não inclua remover as minhas sobrancelhas. Mas por enquanto, a primeira coisa que faço de manhã é desenhar um novo par de sobrancelhas no meu rosto até as minhas de verdade crescerem de volta. Seja lá quando isso for!

Mais algumas fotos para chantagem para a sua diversão. :)





Essas nem são tão ruins... a maquiagem foi feita por um maquiador libanês


terça-feira, 3 de julho de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 9 - Amanhã



Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no último capítulo do material relativo ao livro da Dina (que tristeza!!!!), quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.



9 - Amanhã



•          Casamentos no Egito

O que acontece hoje no Egito com relação aos casamentos é grave. Hoje para se casar o homem precisa ter muito dinheiro, a família da noiva normalmente exige uma infinidade de condições, o que torna os casamentos tardios cada vez mais comuns. Quem não tem  como manter relações sexuais por não ter como pagar por uma cirurgia de reconstituição do hímen antes do casamento (muito comum no Egito), acaba sofrendo de frustrações sexuais.

•          Sexualidade

Dina fica muito preocupada com essas coisas, porque isso deixa as pessoas doentes e incontroladas. Existem cada vez mais notícias de homens que abusam de mulheres nas ruas. E já se chegou ao ponto em que foi dito na imprensa que esse problema foi incitado pela própria Dina, por ela ter dançado em público na ocasião do lançamento de um dos seus filmes.

É preciso entender também, que enquanto no ocidente o sexo é visto como pecado, para os muçulmanos ele faz parte da vida. Tanto que o corão fala de sexo de forma aberta, em como o homem deve trazer prazer à mulher e em como ele não deve forçá-la se ela não quiser.

Então, levando tudo isso em conta, como é que funciona a história do véu? O véu serve, a princípio, para exercitar a modéstia feminina, e não para protegê-la dos olhares dos homens. Mas, esse conceito sofreu modificações com o tempo.

"É preciso ter o espírito limpo, e não perverso. Se, ao olhar uma mulher, só se vê um objeto sexual, o problema não está na mulher, mas na cabeça perturbada do homem que a olha, que é incapaz de controlar seus impulsos."

Pausa para um pouco de história: Historicamente, o véu surgiu para diferenciar as mulheres livres, muçulmanas, das escravas, que não usavam véu, e, portanto, eram disponíveis para os homens sem qualquer tipo de obrigação. Quando a escravidão foi abolida no Oriente Médio a diferenciação entre as mulheres pelo fato de usarem ou não véu deixou de existir. Mas ao longo da história os momentos em que o uso do véu era visto como obrigatório ou não foram sendo alternados por motivos históricos e culturais. E o Egito está num momento histórico de obrigação do uso do véu para a mulher ser bem vista. Para um discurso inflamado e maravilhoso sobre a obrigatoriedade do véu vejam o filme “A Fonte dasMulheres”

Nesse ponto é que podemos concluir como é importante no Egito a presença de bailarinas como a Dina, pois elas são um contraponto, uma oportunidade de ver uma mulher como ela é.

•          O Egito é minha casa

Apesar disso tudo, Dina não quer saber de sair do Egito, ela conta que já dançou por todo o mundo, e nos lugares mais lindos, e que ainda tem alguns sonhos, como montar um show num cassino em Las Vegas. Porém, o Egito é a sua casa e lá que ela quer morar. Ela sabe que muitos jovens hoje abandonam o país, mas ela não vai desistir.

•          Lidando com a fama

Dina sempre soube que era diferente e sempre quis ser o centro das atenções. Mas ela teve que aprender a lidar com o preço de ser famosa. Há anos que ela não comemora um aniversário, e enquanto os outros se divertem ela está sempre trabalhando. Essa é a vida da bailarina.

"É preciso se conhecer, saber porquê você é boa. Nunca tomar as coisas como conquistadas. É preciso construir quem nós somos. Dina sou eu. Dina também é um produto que eu construí, e que continuo construindo." "Eu sou uma estrela, e trabalhei duro para chegar aqui, mas às vezes me pergunto: o que sobra de mim realmente, pra mim?" 

As bailarinas egípcias são praticamente empresas, pois são diversas pessoas trabalhando para elas entre músicos, assistentes, costureiras e agentes. Dina, por exemplo, emprega 70 pessoas.


•          A dança no resto do mundo

Hoje quando a Dina dança no Egito, ela sempre recebe depois, no camarim, visitas de mulheres de todos os continentes querendo falar com ela, só pra dizer que estão ali para vê-la. Quando ela dá suas aulas no Ahlan Wa Sahlam (festival anual no Egito organizado pela Raqia Hassan), quase todas as suas alunas são estrangeiras. Pois a dança do ventre está presente no mundo inteiro hoje.

Dina nunca imaginou que um dia daria aulas, até porque antigamente isso era visto como sinal de que ela estaria se aposentando. Mas hoje ela se sente feliz com isso.

"Adoro ensinar, perceber em cada nova bailarina sua capacidade além da técnica, ajudando-a a encontrar a alma da música. E adoro dançar para elas, diante de um público que conhece a dança e a sua complexidade. Quando dançamos num casamento é pra distrair o público, levá-lo conosco no calor da festa. Mas diante de profissionais, o desafio está lá, e adoro ter que me superar, dar o máximo da minha técnica, mostrar que eu sou a melhor. O que me entristece é não ver mais egípcias prontas para virar bailarinas. Muitos no Egito não conseguem nem mais ver a dança oriental como uma arte."

•          Futuro no Egito?

Hoje no Egito é proibido abrir uma escola de dança do ventre, o máximo que se pode fazer é abrir uma academia de ginástica, colocar uns aparelhos, mas dar aula de dança, mas só pra distrair as pessoas. A partir de 2004 o estado começou até mesmo a dificultar a renovação da permissão das bailarinas estrangeiras para dançar, dizendo que isso era demanda das egípcias, mas a verdade é que sem as estrangeiras no Egito hoje, não haveria mais dança.

"Hoje eu não vejo mais futuro para as bailarinas do Egito. Enquanto a mentalidade não mudar, não há esperança.Eu danço e não me escondo. Nos salões mais luxuosos, em casamentos de contos de fadas, nos hotéis mais prestigiados, eu ainda sou requisitada.Mas e depois de mim?Quando eu me aposentar, haverá novas bailarinas a formar? Poderei transmitir o que aprendi? Poderei passar adiante a tradição das filhas do Nilo?O mundo inteiro nos admira, mas não mais os nossos compatriotas.Eu nunca vou parar de dançar. Claro que eu dia eu vou deixarei de me apresentar em público, e sairei dos holofotes.Mas serei eternamente uma raqa'sa.Porque toda vez que a música se elevar meu corpo vai responder.Trarei sempre comigo a herança das bailarinas do Egito.Uma dança que morre, é uma cultura que morre. Uma história. Várias histórias.A minha ainda não acabou de ser escrita. E deve-se deixar o amanhã dançar com o amanhã..."



Capítulos anteriores:


Finalmente terminamos o livro da Dina! E juro que fiquei triste... foi muito legal trabalhar o livro aqui no blog durante tanto tempo e vou sentir falta. Mas vamos que vamos! Quem sabe arranjo outro livro ou tema para fazer outro trabalho de longo prazo por aqui? Continuem de olho no blog, ainda tem muita coisa legal para se falar e ver!