sábado, 27 de abril de 2013

A realidade e o futuro do feminismo islâmico


Texto de Rachelle Fawcett. Tradução de Simone Andrea, publicada originalmente no site Blogueiras Feministas.
Originalmente publicado com o título: The reality and future of Islamic feminism, no site Aljazeera.

No que consiste um feminismo islâmico e para onde vai?
Em alguns círculos muçulmanos, a palavra com “f” (feminismo) levanta tanto tensões quanto sobrancelhas, imediatamente evoca representações de mulheres dominadoras, raivosas e que odeiam a família. Mas, como outras imagens que acodem à mente com a menção de qualquer rótulo – inclusive a imagem da mulher oprimida que frequentemente se vislumbra quando alguém escuta a palavra “muçulmana” – essa reação visceral está baseada em estereótipos que podem ser verdadeiros num contexto social e histórico muito específico, mas não fazem sentido quando comparados com uma realidade mais ampla, portanto, não justifica a hostilidade que desencadeia. Enquanto a retórica popular islâmica gaba-se da libertação da mulher com o surgimento do Islã há mais de 1.400 anos atrás, a repetição contínua dessa história nada faz para aliviar o sofrimento das mulheres hoje, exceto voltando ao princípio, a partir do texto fundador do Islã, o Corão.
Mas o que é o “feminismo islâmico”, como se desenvolve e quais são os seus atores?Dra. Margot Badran, formada pelas universidades de al-Azhar e de Oxford, define o “feminismo islâmico” nestes termos:
… uma definição concisa do feminismo islâmico é colhida dos escritos e do trabalho de protagonistas muçulmanas por meio de discursos e práticas feministas, que extraem sua interpretação e missão do Corão, buscando direitos e justiça dentro do contexto de igualdade de gênero para mulheres e homens na totalidade de sua existência. O feminismo islâmico explica a ideia de igualdade de gênero como algo que faz parte da noção corânica de igualdade de todos os insan (seres humanos) e reclama a implementação da igualdade de gênero no Estado, nas instituições civis, no cotidiano. Ele rejeita a dicotomia público/privado (a propósito ausente na jurisprudência islâmica dos primórdios, ou fiqh) conceituando uma umma holística na qual os ideais do Corão operam em todos os espaços.
Esta é uma distinção importante. “Feminismo islâmico” não é simplesmente um feminismo nascido em culturas islâmicas, mas sim um que encaixa a teologia islâmica nos textos e nas tradições canônicas. Nitidamente, um feminismo “islâmico”, na sua essência, inspirado no conceito corânico de igualdade de todos os seres humanos e que insiste na aplicação de sua teologia na vida diária. Derivada dessa definição básica, encontramos uma pletora de diferentes interpretações, movimentos, projetos, personalidades, criando feminismos que têm diversos rostos. Frequentemente, questões femininas são trivializadas em usar ou não o véu, ou apertar as mãos de homens que não são da família, e, enquanto questões mais amplas, como violência doméstica, estão sendo vigorosamente debatidas, a questão central – o que a “igualdade” significa e como se expressa – prossegue largamente ignorada. Por exemplo, a violência doméstica é errada porque causa dor, sofrimento e é injusta, mas a crença central no direito do homem mandar na mulher nem sempre é parte dessa discussão.

Ensinando o que conta
Este ano, o tema da 3ª Conferencia Anual de Estudantes de Graduação em Estudos Islâmicos foi “Reconstituindo a Autoridade Feminina: a Participação da Mulher na Transmissão e na Produção do Conhecimento Islâmico”, foi nesse foro que o futuro do feminismo islâmico esteve bem representado.
Nenhum workshop foi desperdiçado em tecnicalismos sobre o véu ou em discussões desgastadas acerca de o Islã liberar as mulheres com a proibição de infanticídios de meninas ou o direito das mulheres à herança (que não foi totalmente obedecido nem no tempo de Maomé). Ao invés disso, os workshops e os estudantes que os apresentaram demonstraram a complexidade e a diveersidade dos movimentos de mulheres, novos e antigos, no mundo muçulmano. Em “O Milagre de Bibi Fatima: Consagração e Autoridade Feminina”, apresentado por Summar Shoaib, mulheres transmitiam histórias de Fatima, a filha do Profeta Maomé, aparecendo e ajudando outras mulheres com preces especiais. Em tais contextos, mulheres passam adiante o conhecimento religioso numa tradição matrilinear que funciona como um canal para o ativismo religioso. Contar histórias torna-se um meio de força que proporciona uma base e um apoio para as mulheres, através dos laços de parentesco forjados pelo ato de contar histórias além da tradição que são passadas adiante.
Os principais palestrantes: Amina WadudKhaled Abou el FadlKathleen Moore e Asma Sayeed falaram sobre a inclusão como direito e necessidade para a autoridade moral da pessoa e a história das mulheres nas tradições jurídicas islâmicas. O Islã “puro e simples” no qual as questões femininas são amenizadas com desculpas ou simplificadas como terciárias ou subalternas não foi encontrado em lugar algum. Pelo contrário, estudantes e professores recordaram a história que sempre se menciona somente de passagem, ou através de poucas figuras históricas chaves, retórica clichê e argumentos simplistas, não-históricos. Atendo-se aos padrões acadêmicos, este grupo diversificado de estudantes, através de sua busca intelectual do passado e do discurso voltado ao futuro, foi uma parte pequena, mas importante, da linhagem contínua da sabedoria feminina no Islã.
Eles eram exemplos do conjunto misto de “feminismos islâmicos” no Mundo islâmico. Mulheres em todos estes contextos estão encontrando as tradições baseadas em suas respectivas culturas, necessidades, prioridades e recursos, criando um retrato bem acabado do movimento global no qual as mulheres criam seu próprio caminho para o conhecimento e avançam com ele. Em alguns contextos, isto significa discutir direitos fundamentais como libertação da violência, enquanto em outros as mulheres conquistam e encontram seu próprio espaço para desafiar os dogmas tradicionais, redescobrindo a história feminina do Islã e o lugar para o discurso futuro, também em outros contextos, pela criação de um espaço inclusivo para rezar, adorar e estar com Deus. Um exemplo é o de Ani Zonneneveld, musicista e co-fundadora do “Muçulmanos por Valores Progressistas”, que promove paz e justiça social, através da criação de mesquitas inclusivas e da expressão de ideais igualitários através da música islâmica como meio de adoração.
Enquanto as questões das mulheres no mundo islâmico estão sendo debatidas, a questão central do que significa “igualdade” e como se expressa continuam largamente ignoradas. Foto de Mohamed Omar/EPA.
Enquanto as questões das mulheres no mundo islâmico estão sendo debatidas, a questão central
do que significa “igualdade” e como se expressa continuam largamente ignoradas. Foto de Mohamed Omar/EPA.
Impactando não apenas mulheres, mas a sociedade em larga escala
Um feminismo islâmico é, presumidamente, um feminismo intrinsecamente dotado de competência (trans)cultural, uma vez que o Islã, em geral, é uma tradição profundamente diversificada e permite flexibilidade, dependendo do contexto, desde que o núcleo essencial da ética islâmica não seja violada. Como o cerne dessa ética se define pode variar de acordo com o contexto, mas as tentativas de definição irão ajudar a espalhar uma discussão mais ampla, que possa eliminar as desculpas e discutir as causas fundamentais. É em tais debates que as feministas islâmicas, mais do que acreditar na tradição ou num feminismo proliferado – como especificamente o feminismo ocidental – insistem num retorno ao Corão e no emprego de princípios de análise contextual e racional, que questionem crenças tradicionalmente aceitas acerca das mulheres, através da retórica pela qual elas se formarão.
Pode ser dito que a maior tarefa do feminismo islâmico é separar cultura de religião. Esta é, talvez, a razão principal da hostilidade e raiva com que esse movimento se depara. Em alguns contextos muçulmanos, desafios às crenças tradicionalmente baseadas na autoridade não encontram um diálogo inteligente e bem informado, que esteja aberto à busca contínua da verdade e justiça, mas sim com a suspeita e hostilidade daqueles que procuram declarar um Islã único e “verdadeiro”, dependente da estrutura social apoiada na hierarquia de gênero. É sociologia elementar entender que as mulheres são frequentemente as fundações da cultura, porque elas são as primeiras professoras e mantêm laços estreitos com a próxima geração. Daí, a “estabilidade” da sociedade é frequentemente associada com a permanência das mulheres em seus lugares “próprios e naturais”.
Mas, esta “estabilidade” não é a estabilidade da sociedade, mas sim, da hierarquia e, portanto, da autoridade. O feminismo islâmico, como discutido antes, não está em busca da hierarquia com as mulheres no seu topo, ao contrário, está em busca de uma estrutura social igualitária em que caráter, bom trabalho e piedade – não gênero – sejam os fatores decisivos da autoridade social. Ademais, como Khaled Abou el Fadiargumentou em sua exposição na conferncia de Santa Barbara, cada ser humano tem direito a uma autoridade moral que não pode ser realizada se é proibido de ter uma vida plena. O argumento hierárquico é que as mulheres teriam uma “vida plena” somente se aceitassem seu “lugar natural”, mas esse argumento omite a definição, e portanto as necessidades, o talento e as aspirações (que tanto podem ser tornar-se uma astronauta ou uma mãe de 10 crianças) das próprias mulheres. Uma “vida plena” não pode ser definida para elas.
Numa certa época da História islâmica não foi incomum ver mulheres muçulmanas instruídas ou devotadas, e a presença dessas mulheres não significava, necessariamente, que elas concordassem com os papeis das mulheres, assim como não concordamos hoje, mas sua existência criou uma teologia mais equilibrada e acessível, com elevado grau de credibilidade. Através da recuperação dessa história, as mulheres encontram sua base e suporte num discurso feminino islâmico.
Ademais, as lutas com foco nas mulheres não impactam somente nelas, mas na sociedade como um todo, e esta é a arena na qual os maiores abusos da teologia islâmica são mais evidentes. O autoritarismo do Islã puritano, que fez surgirem movimentos como o Talibã, definiu como sua missão especial controlar totalmente as mulheres, como vimos (acontecer) com Malala Yousafzai, que foi baleada por promover a educação de todas as crianças, especialmente meninas. As mesmas estruturas e princípios nucleares utilizados para oprimir as mulheres, são utilizados para promover o terrorismo e o ódio em nome do Islã. Dessa forma, o bem que advém de combater e desafiar esses estruturas vai muito além das mulheres.

O impulso para o igualitarismo inclusivo
Algumas pessoas, como a organizadora da Conferência da Universidade da Califórnia, Samaneh Oladi, intuem que o ressurgimento das mulheres nos campos da história e da teologia islâmica acontece naturalmente, como um movimento de bases, no qual as próprias mulheres são os agentes da mudança.
Nesses movimentos de base, veem-se mulheres trabalhando nas comunidades e em contextos institucionais e sociais que utilizam a religião, mais do que uma compreensão secular de direitos humanos, como sua diretiva pela mudança. Aos poucos, isto vai mudando social e demograficamente, e cria o que é, na essência, a escada para um envolvimento teológico maior. Mas esta mudança também está acontecendo na política, como Margot Badran me explicou, uma vez que os Estados podem desempenhar um papel na articulação da transmissão, pelas mulheres, da sabedoria islâmica.
Para usar o exemplo dela, no inicio dos anos 60, quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser forçou al-Azhar, a primeira universidade islâmica, a aceitar mulheres, foi um esforço para “dispersar” a instituição (torna-la mais secular, juntamente com outros esforços no mesmo sentido) e “abrir um racha” pela aceitação de mulheres, mas, ao revés, criou uma oportunidade para que mulheres tivessem acesso a formas tradicionais de instrução islâmica que acabaram por levar as mulheres estudantes à universidade. Da mesma forma, com a queda gradual dos regimes autoritários em alguns países de maioria muçulmana, as mulheres estão voltando para a escola e desafiando o discurso que as oprimia. Isto faz surgirem organizações, legislação e esforços internacionais para libertar as mulheres da opressão através da educação, dos serviços de saúde e de ajuda econômica. No Ocidente, em Estados que não podem calar a autoridade religiosa feminina, mulheres envolvidas em vários esforços – desde a criação de abrigos para muçulmanas, como Muslimat al-Nisa em Nova Iorque, até o apoio a imans femininos – encontram oposição social e institucional, mas prosseguem no mesmo padrão de empregar os textos e a tradição teológica islâmica para rebater argumentos baseados na religião de que as mulheres devam ser, em qualquer via possível, subordinadas aos homens.
Evidente que as realidades do que é o “feminismo islâmico” e como ele é vivido são muito complexas, e é como devem ser. A realidade do feminismo islâmico como um movimento global, no qual as mulheres voltam-se ao Corão e as tradições proféticas para defender que as mulheres são seres humanos por inteiro e iguais aos seus parceiros masculinos. Como elas se expressam e até onde isso as levará dependerá das mulheres em seus contextos específicos.
Assim como se dá com as teorias feministas seculares, o que funciona para as muçulmanas do Sul da Califórnia, pode não funcionar no Afeganistão rural, e nem este, nem aquele há de ditar “feminismo” ao outro. O feminismo islâmico é um processo em desenvolvimento, no qual partimos do direito à vida e à autoridade moral e pessoal para irmos além. Podem haver algumas que se auto-intitulam “feministas islâmicas” e insistem na restruturação da hierarquia com as mulheres – em vez de com os homens – no topo, mas estas são minoria. Aliás, a hierarquia é intrinsecamente injusta e reestrutura-se melhor num igualitarismo inclusivo, que inclua não só as mulheres, mas todos os seres humanos invisíveis ou deixados de fora dos lugares islâmicos tradicionais.
Não precisamos de uma nova palavra para substituir “feminismo”, a fim de evitar a dificuldade automática que advém de estereótipos populares, do mesmo modo que seria igualmente incorreto buscar uma nova palavra para “muçulmano”; de preferência, permitamos-nos alcançar uma compreensão mais aberta e ampla do que é o feminismo islâmico, quem o constrói e o estrutura, e dos caminhos diversos e complexos percorridos, não apenas em benefício das próprias mulheres, mas de toda a humanidade.
Seja de forma orgânica ou política, ou por quaisquer outros meios, as mulheres estão reclamando seus espaços no discurso islâmico e mudando sua realidade, talvez através de uma tradição de contar histórias há muito estabelecida, ou mesmo criando mesquitas inclusivas, e algumas pelo retorno ao começo, o próprio Corão. No futuro, talvez o feminismo islâmico se depare com instituições sociais mais fortalecidas, além de recursos que apoiem as mulheres e o fim de desculpas esfarrapadas, mas, sobretudo, talvez vejamos o renascimento da sabedoria acadêmica feminina (que nunca foi totalmente destruída) no Islã, que una o texto à tradição, para continuamente buscar a justiça ao lado, e não acima, de nossos companheiros homens. Se este é o rumo para o qual estamos indo, então o futuro é claro também.
—–
Rachelle Fawcett está completando seu Mestrado* em Estudos Islâmicos no Seminário Hartford, viveu no Iêmen e no Egito, e escreve, fala e faz apresentações sobre o feminismo islâmico, competência (trans)cultural, pluralismo e teologia crítica.
* No texto original, MA, sigla que significa, literalmente, “Mestre em Artes”. A expressão nada tem a ver com “artes” em sentido estrito. No sistema educacional anglo-americano, um diploma em “artes” significa que o aluno está focado numa ampla area de aprendizado e discussão, ao passo que um diploma em “ciência” implica numa compreensão profunda e técnica da matéria estudada.
Simone Andrea é autora de “Direitos da Filha e Direitos Fundamentais da Mulher” (Ed. Juruá) e escreve no blog Simone Andrea.

domingo, 21 de abril de 2013

Diário de Viagem - TURQUIA – 9° dia – Excursão pelo Bósforo

Depois de passar alguns dias acordando inumanamente cedo e tendo que fazer as malas todo dia de manhã, finalmente acordamos num horário razoável, programados para sair às 8h da manhã numa excursão de um dia pelo Bósforo.

Como em todas as excursões, primeiro o guia faz diversas paradas em diversos hotéis para pegar todos os turistas participantes, e enquanto fazia isso ele aproveitou para falar sobre a vida dos sultões na época do Império Otomano.

A nossa primeira parada seria, na verdade, o Bazar das Especiarias, conhecido também como Bazar Egípcio, que é menor do que o Grande Bazar, e, adivinha, é especializado em especiarias e artigos relacionados (perfumes, essências, temperos, comidas em geral e, claro, quinquilharias). O Bazar foi construído do lado da Mesquita Nova, e data do século XVII, e ganhou o nome Egípcio porque foi construído com receitas vindas do Egito. Ali vale à pena visitar a parte de dentro do Bazar, que é linda, extremamente colorida e com um cheiro estonteante (de bom!!!), porém, se a sua idéia é fazer compras por um bom preço, faça-as do lado de fora, onde tudo é mais barato, e mais confuso também, com alguma probabilidade dos vendedores só falarem turco.

bancada "básica" de chás
As lojas são dividas meio que por temas, tem lojas só de doces, outras só de ervas e chás, outras só de temperos. Acabamos por visitar algumas, comprando uma quantidade absurda de chá (tenho chá para alguns anos em casa agora), algumas castanhas, doces e essências (adoro um cheirinho). A loja de essências que visitamos também vendia chás, o que facilitou muito o regateio final com o vendedor. Aliás, aquela loja foi uma visita à parte, pois ficamos muito tempo batendo papo com o vendedor, que era muito simpático, e dava para ver como ele suava frio quando percebeu que eu é que estava negociando. Ah, sim, na Turquia na maioria das vezes a mulher escolhe o que ela quer levar e depois o marido se encarrega de negociar o preço (isso acontece tanto com os turcos quanto com os estrangeiros), mas nesse caso o vendedor já conta com a venda, pois a mulher já decidiu o que ela quer. Só que não era esse o caso, e o vendedor ficou para morrer, e passou toda a negociação dizendo para o meu marido que ele tinha muita sorte comigo. Fica a dica, mulheres, negociem vocês mesmas! Só não se esqueçam de duas regras: se você aceitar levar alguma coisa, depois não pode desistir, eles ficam extremamente ofendidos. Se você disser que não quer levar, também é complicado mudar de idéia, eles não abaixam o preço se perceberem que você está só fazendo charme. O lance é manter o “poker face”.

prateleira de essências da tal loja onde ficamos muito tempo batendo papo
Depois de passar uma hora e meia nesse império dos sentidos, pegamos novamente o ônibus para atravessar a rua. É sério. Aparentemente o guia não podia atravessar a rua com o grupo inteiro. Do outro lado da rua ficava a marina, onde pegamos um barco para passear pelo Bósforo, uma excursão de mais uma hora e meia fazendo um ziguezague e vendo todos os pontos importantes desde o Chifre de Ouro. Acho que nesse ponto demos um certo azar com o nosso guia, que apesar de conhecer bem todos os pontos que chamavam atenção nas margens do Bósforo, às vezes mais parecia um corretor de imóveis. Era “casa de 1,5 milhão” pra cá, “casa de 3 milhões” pra lá... entremeadas de informações realmente interessantes, como a escola onde estudou o Ataturk, ruínas de uma fortaleza, casa onde atualmente fica a boate mais badalada da cidade e palácios importantes do governo e do Império Otomano. A mini-viagem em si é muito linda, as casas e a vista são desbundantes e valem muito a pena o passeio. Além de ser muito agradável, naquele calor forte de verão, um belo passeio de barco, com um bom vento refrescante. Falando em refrescante, outro ponto negativo é que no barco são oferecidas diversas bebidas, mas esquecem de te avisar que elas não são de graça.

A vista do passeio é deslembrante!
Depois do passeio, saltamos do lado europeu da cidade para almoçar num restaurante especializado em peixes, e peixes tivemos no almoço! Primeiro serviram diversas entradas: uma espécie de sardinha servida em forma de filés, arroz com mexilhão servido em conchas (como a nossa casquinha de siri), uma salada de frutos de mar, outra salada (essa mais “normal”, de pepino e tomate), mais uma salada de batatas com iogurte e especiarias e pão. Depois vieram outros tipos de comida quente, especialmente frituras: um tipo de pastel, uma coisa esquisita feita de batata, abobrinha frita e um feixe que parecia dourado, servido inteiro e grelhado. De sobremesa foi servido melancia. Claro que aproveitei para beber mais ayran, a bebida nacional turca, feita de iogurte salgado.

Depois do almoço, voltamos a pegar o ônibus e atravessamos para a parte asiática da cidade, para visitarmos o palácio de veraneio do sultão, chamado de Palácio Beylerbeyi. Claro que esse palácio é considerado pequeno, afinal ele é de veraneio, mas ainda é um palácio do sultão, e, portanto, ele tem “apenas” 24 quartos e salões, e apenas 6 banheiros, o que é uma grande vantagem com relação a qualquer palácio europeu, que nem banheiro tem, né? Os orientais sempre foram mais preocupados com a higiene. Um detalhe interessante sobre esse palácio é que ele não possui cozinha, porque o palácio original pegou fogo justamente na cozinha, e a sultana decidiu que não queria mais correr o risco.

única foto que consegui tirar dentro do palácio antes de ser repreendida
Infelizmente não é permitido tirar fotos dentro do palácio, mas ele segue um estilo bem mais moderno do que o Topkapi, com muito ouro, muitos detalhes e pinturas em estilo ocidental nas paredes. De uma forma geral, esse palácio é bem modernoso e ocidentalizado, já que ele foi construído em torno de 1860. E a visita vale a pena não só do ponto de vista arquitetônico, mas porque o palácio é praticamente um museu, recheado de objetos e mobiliário do mundo inteiro. Um detalhe importante sobre a visita: para entrar no Beylerbeyi é preciso estar acompanhado de um guia, e os horários de visita são extremamente restritos, praticamente com hora marcada, entrando apenas um número limitado de pessoas por vez, e um grupo só pode entrar depois que o grupo anterior tiver saído. Portanto, quem quiser visitar o palácio sozinho, tome cuidado e se prepare para ficar algum tempo passeando pelo jardim, esperando a sua vez para entrar. Mas não se desespere, o jardim é um passeio à parte, e é muito bonito também.

O jardim é muito agradável, e tem uma vista linda também
Depois do Palácio, a excursão nos levou a um lugar conhecido como Colina dos Namorados, que nada mais é do que um bistrô com uma vista muito bonita de Istambul. Em outras palavras, foi uma enxeção de lingüiça com vista, pois ficamos muito mais tempo do que o razoável por lá. Eu e o Caike aproveitamos para tomar um chá, eu pedi um quente e ele um frio.

vista da Colina dos Namorados
Voltando do tour, saltamos do ônibus na praça Taksim, pois queríamos aproveitar para trocar nossos euros por liras turcas, o que é muito fácil de fazer nessa região, que é cheia de casas de câmbio.

rotatória da Praça Taksim
Depois demos uma passada no nosso hotel para um pit-stop, e acabamos por encontrar o casal paulista simpático que nos acompanhou durante boa parte da viagem, e novamente trocamos impressões sobre o tour do Bósforo, onde concordamos que valia a pena, mas que podia ser melhor, especialmente se tivéssemos outro guia mais simpático e menos estilo corretor de imóveis.

Como já estava tarde para fazer um passeio distante, resolvemos passear pela rua mais famosa do bairro Taksim, que é uma espécie de “calçadão”, onde se encontram todos os tipos de loja que você pode imaginar, numa espécie de Saara de Istambul, só que muito mais chique e limpo, com direito a muitos barzinhos e restaurantes no meio do caminho. Além de muitas lojas de marca! Claro que eu aproveitei para fazer compras, porque não sou de ferro.

as lojas antigas são belíssimas por dentro!
Mas o passeio é interessante de uma forma não-consumista também, pois nessa rua passa um bonde daqueles antigos, de trilho e todo aberto, que nesse dia (provavelmente por conta do Ramadã) estava com convidados especiais: uma banda pop tocando ao vivo! As lojas são todas muito bonitas, e algumas ficam em prédios bem antigos, que vale a pena entrar só para dar uma olhada. E claro, tem o tradicional sorvete turco! Essa é uma atração à parte! Mesmo que você não goste de sorvete, compre um, porque é uma aventura! O vendedor de sorvete é um malabarista, e a graça dos seus truques é justamente sacanear o comprador, que tenta em vão ficar com o seu sorvete nas mãos. Como era Ramadã, quando chegamos ao vendedor de sorvete, a loja estava absolutamente vazia, pois ainda era dia, e, portanto, os turistas estavam evitando comer em público, já que a maior parte dos turcos é muçulmana, e por isso estavam jejuando até o pôr do sol. Só que estávamos com fome, e faltava muito pouco tempo para a noite cair, e decidimos pedir o tal sorvete (que por sinal também é muito gostoso), e o vendedor fez um show tão bonito que logo depois a fila para comprar sorvete ficou lotada.

o simpático bonde de Istambul
Também passeamos por um shopping imenso em busca de uma loja de eletrônicos indicada pelo casal paulista, que não nos agradou muito, porém quando estávamos saindo do shopping nos deparamos com um show de dervixes na porta! O Ramadã realmente é uma época interessante! Acabamos por jantar numa espécie de fast food de massas, que além de não ser fast, não era muito gostoso. Mas ficava ao lado de uma loja de chocolates que foi uma perdição!

O "calçadão" de Taksim a noite, completamente iluminado!
Já cansados e carregados de compras, finalmente voltamos ao hotel para dormir, pois o dia seguinte prometia ser muito mais animado e cansativo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Livro do Mês: Contos marroquinos modernos



Até agora falamos de livros de autores consagrados ou clássicos, então resolvi dar uma variada nas sugestões e propor uma leitura realmente diferente, alternativa e extremamente oriental!



Contos Marroquinos Modernos é uma coletânea publicada pela Editora Amádena especializada em literatura e cultura árabe (na teoria, na prática eles têm pouquíssimos livros publicados), e contem diversos contos bem curtos e de fácil leitura. As histórias ilustram o dia a dia do povo marroquino, e tendem a denunciar os problemas sociais do país, especialmente a miséria reinante e o sentimento de invasão estrangeira, que é onipresente. Cada autor selecionado para o livro tem apenas um conto publicado, e cada um deles tem um estilo bastante particular, o que torna a leitura dinâmica e mostra bem a diversidade literária desse país que conhecemos tão pouco.

Sem negar a sua origem oriental, os contos variam desde histórias bem realistas até contos extremamente surreais, mas tudo com aquele toque especial que só a literatura oriental possui. Confesso que não gostei de tudo o que li, e o livro tem os seus altos e baixos, mas sem dúvida nenhuma vale a leitura, e a oportunidade de conhecer um pouquinho mais sobre esse país tão fascinante.

Vocês podem ler outra resenha que fiz desse livro aqui.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

As Dançarinas do Futuro Somos Nós - O que Isadora Duncan doou para o mundo da dança


Texto de Paola Blanton

Isadora Duncan

Isadora Duncan, a mãe da dança contemporânea, foi uma mulher pioneira, americana e de espírito livre, uma artista de alma e um ser à frente de seu tempo. Em sua curta vida, de 1877 a 1927, ela revolucionou a dança durante uma época em que a moralidade e a estética vitoriana deixavam pouco espaço para as artes do movimento além do balé, da dança de salão, ou das montagens ordinárias de “Vaudeville” nas Feiras do Estado ou teatros urbanos.

Ela tinha uma visão ousada de uma nova dança e de uma nova mulher - a dança e a dançarina do Futuro. Ela escreveu que a "Dança do Futuro" teria que recuperar seu lugar como uma forma de arte sacra, do jeito que era para com os gregos antigos. A dançarina não dança para surpreender, mas para aumentar a consciência e agir como um canal de energias universais. Em muitos aspectos, a motivação para a dança voltaria às suas raízes antigas - a comunhão sagrada do corpo, da mente, do espírito e da comunidade. Só que agora, a comunidade virou a humanidade inteira em seu contexto cósmico.

A "Dançarina do Futuro", de acordo com Isadora, seria

 "uma em que corpo e a alma têm crescido tão harmoniosamente, que a linguagem natural da alma se tornará o movimento do corpo. A dançarina não pertence a nenhuma nação, mas a toda humanidade. Ela vai dançar não na forma de ninfa, nem de fada, nem coquete, mas em forma de mulher na sua expressão maior e mais pura. Ela vai perceber a missão do corpo feminino e da santidade de suas partes. Ela vai dançar os ciclos da natureza.... De todas as partes de seu corpo vai brilhar uma inteligência radiante, trazendo para o mundo a mensagem dos pensamentos e aspirações de milhares de mulheres. Ela vai dançar a liberdade da mulher " - De seu Magnus opus, A Arte da Dança.


Nos escritos de Duncan, encontramos referências freqüentes ao "futuro", e como será a dança e dançarina do futuro. Isadora foi uma profetisa, sabendo que a liberdade do corpo, da mente e do espírito que ela personificou ainda não tinham encontrado o seu melhor momento histórico, mas que chegaria um momento no futuro, quando a Mulher Moderna estaria pronta para a sua mensagem, e o espaço para a dança do futuro se abrir. Eu acredito que esse tempo é agora.

Qual é a mensagem de Isadora Duncan para dançarinas modernas dentro desta visão da dançarina do futuro? Quais descobertas fez esta artista revolucionária e feminista para preparar a cena da dança para que ela pudesse evoluir como uma forma de arte sagrada e universal? Para isso ela nos traz uma riqueza de abordagem para a arte da dança - transformacional na motivação, na inspiração e na técnica de expressão.

Sim, a expressão pode ser ensinada e aprendida, - "Ou você tem ou você não tem" -  não é necessariamente inata como muitos afirmam. Duncan revelou uma metodologia de expressão que se tornou essencial para diversas formas de dança moderna e de artes cênicas – não há literalmente nenhuma arte expressiva que não pode ser melhorada através da aplicação desta técnica. Centra-se na articulação seqüencial de motivação - envolvendo primeiro os olhos, ou a percepção inteligente de estímulos. Em segundo lugar vem o plexo solar, ou a intenção emocional, e em terceiro lugar, o gesto real do corpo. Um grande exemplo é o ato de se apaixonar. Nós "vemos" o amado primeiro (quantas vezes nós dizemos "amor à primeira vista"?). Depois de ver a pessoa, nosso coração se mexe e estamos emocionalmente atraídos por eles – lançando a luz do nosso plexo solar e coração em sua direção. E em terceiro lugar vem o nosso gesto, se andamos na direção deles, estendemos nossas mãos, ou abrimos os braços. A seqüência de expressão faz sentido em muitos níveis, porque é natural e segue a ordem natural das coisas, que é o que Isadora reverenciava em suas filosofias de dança e de vida.

A natureza foi sua primeira musa. Ela estudou as linhas, formas e movimentos dos elementos e do universo, localizando o corpo humano como figura central na grande cena do Universo natural. Ela escreveu (AOTD):

 "Se procurarmos a verdadeira fonte da dança, se formos à natureza, vemos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, e tem sido e será sempre a mesma. O movimento das ondas, dos ventos, da terra é sempre a mesma harmonia duradoura. Nós não ficamos na praia perguntando ao oceano qual foi o movimento no passado e qual será o seu movimento no futuro ..."

Como cada um de nós é parte do universo, estamos sujeitos às mesmas leis do movimento e gravitação que o governam, Isadora imaginou nossa dança como uma "tradução humana da gravitação do universo."

Cada movimento propaga o próximo em ciclos intermináveis de movimento, como as ondas, os ventos, átomos e galáxias.

Agora, mais do que nunca, estamos redescobrindo a sacralidade da Mãe Terra e nos re-conectando com seus ritmos em nossa espiritualidade. Filosofias e práticas ecos-feministas estão entrando no centro do palco da cultura do mundo e as mulheres estão se re-conectando com o seu destino como sacerdotisas do mundo natural. Nós trazemos a dança para as praias, montanhas e desertos, em conexão com as correntes da Terra e do Céu através de seus ritmos, formas e movimentos. Quando dançamos em sintonia com a natureza, nos abrimos para suas inúmeras belezas - respiramos ar puro, levantamos o rosto para o sol como flores, balançamos com as ondas e árvores, e caímos para a Terra na poesia em forma e repouso. "Como em cima, assim é embaixo" - o antigo decreto soa mais verdadeiro do que nunca, e nós, as Dançarinas do Futuro, pisamos descalças na terra e levantamos nossos braços e espíritos para as alturas do Universo, as linhas de nossos corpos transmitindo energias universais em ciclos intermináveis.

Como disse Isadora, a mulher deve ser um "elo da cadeia, e seu movimento deve ser um com o grande movimento que atravessa o universo."

Ela destilou a nobreza da linha de corpo grego clássico, tornado famoso na escultura e na pintura, e aplicou sua qualidade universal para o corpo da mulher moderna - descontraído, natural e equilibrado; suas formas e linhas canalizando uma força maior do que a si mesma. Em AOTD, ela descreveu sua fascinação com a estética grega humanista e sua conexão com a natureza:

 "Os gregos em todas suas (artes) evoluíram seus movimentos a partir dos movimentos da natureza, como claramente se expressam em todas as representações dos deuses gregos, que, sendo representantes das forças naturais, são sempre projetados em uma pose que expressa a concentração e evolução dessas forças. É por isso que a arte grega não é nacional ou característica, mas tem sido e será a arte de toda a humanidade de todos os tempos. Portanto, dançando nua sobre a terra, eu naturalmente caio em posições gregas, porque as posições gregas são apenas posições da terra."

Não em desafio da lei natural, como ela viu no balé, que se esforça para superar a atração gravitacional da Terra, e que localizou o centro da dançarina na região lombar. Tinha que haver outro centro, outra fonte da qual emana o movimento verdadeiro. Seus instintos a levaram buscando esta fonte, e ela a encontrou no meio do peito.

Isadora Duncan foi a primeira dançarina a identificar o plexo solar como a fonte de todo movimento expressivo. Ela escreveu em AOTD:

 "... Eu passei longos dias e noites no estúdio buscando a dança que podia ser a expressão divina do espírito humano por meio do movimento do corpo. Ficava por horas com minhas duas mãos cruzadas entre os meus seios, cobrindo o plexo solar... eu estava buscando e, finalmente, descobri o motor central de todo o movimento, a cratera de potência, a unidade a partir da qual todas as diversidades de movimento nascem, o espelho da visão para a criação da dança."



O plexo solar é a sede da intenção emocional - o cruzamento dos eixos do corpo a partir do qual emanam os servos expressivos do coração - os braços. Suas descobertas em relação ao plexo solar enriqueceram cada forma de dança, abrindo a porta do desenvolvimento para dançarinas famosas como Martha Graham. Presença, postura, expressão, equilíbrio, dinâmica, alcance, e linhas emanam todos de um plexo ativado. Sua dinâmica harmoniza perfeitamente com a expansão e contração do diafragma na respiração, alinhando o movimento automático da respiração com a técnica de expressão.

Descobrir e ativar o plexo solar é tocar uma nova fonte de energia emotiva pessoal, com o coração e o plexo solar juntos formando uma esfera energética sentada em cima do diafragma. O plexo solar irradia coragem, efervescência, alegria e desejo. Expandir sua luz para o externo é projetar essas emoções, enquanto contraí-la para dentro é a expressão de solidão, introspecção, perda, dor e tristeza. Através do trabalho com o plexo solar, ganhamos acesso mais completo a vasta gama de emoções humanas, e  começamos a sentir que a sua expressão tem profundas qualidades terapêuticas. Quando movimentamos o corpo, movimentamos a alma, e ambos podem se curar através deste movimento. Aprender a liberar, dirigir e transformar as energias emocionais armazenadas no plexo solar são passos notáveis sobre os caminhos do autoconhecimento que as mulheres modernas procuram hoje. É o "Sol" interno que resplandece o seu brilho radiante, iluminando cada parte do corpo da dançarina do futuro.

Com tantas visões e sonhos no alvorecer da era moderna, a dançarina do futuro se tornou uma realidade. Cada vez mais estamos vendo qualidades espirituais retornando para a dança. Cada vez mais estamos nos tornando conscientes de que existem motivos mais elevados para esta forma de arte, motivos mais universais e humanistas. A dançarina do futuro falou através de Isadora e de suas contemporâneas como Ruth St. Denis, que escreveu que vai chegar um dia em que "vamos dançar para curar e abençoar" em vez de apenas "surpreender".


Com toda a generosidade, a dança de Isadora Duncan traz para a comunidade da dança moderna a técnica expressiva, o alinhamento com a Natureza e suas forças, e o poder do plexo solar, eu acho que o dom mais importante que ela nos deu é uma nova motivação para a dança. Um novo motivo para dançar, que é muito parecido com os motivos antigos dos nossos antepassados - para a comunidade, para a conexão com as forças naturais, para liberar o Eu em favor de um Eu mais nobre, para invocar novas realidades e para alcançar algo maior e superior a nós mesmos. Isadora falou da evolução das motivações para a dança no AOTD:

"Há três tipos de dançarinos: primeiro, aqueles que consideram a dança como uma espécie de ginástica, composta de arabescos impessoais e graciosos, em segundo lugar, aqueles que, ao concentrar suas mentes, levam o corpo ao ritmo de uma emoção desejada, expressando um sentimento ou experiência lembrada. E, finalmente, há aqueles que convertem o corpo em uma fluidez luminosa, entregando-o para a inspiração da alma."

A dançarina do futuro vive dentro dessa fluidez luminosa. Esse é o elixir alquímico que a dança pode e deve procurar - além do ego, figurino, maquiagem e palco. Além de musicalidade, coreografia e performance. Estes são todos ingredientes na mistura, mas o elixir vem do processo e da vivência, dos rituais e cerimônias da Dança do Futuro, da eventual mudança de atitude sobre a dança e da realização de fins mais elevados para ela. Dançar se tornou uma busca de iluminação.

"Ouça a música com a sua alma", ela nos diz. "Você não sente que está se movendo em direção à luz?"

Enxergar a dança dessa forma é ver o Eu mesmo como um trabalho em progresso – uma ânfora sempre em evolução na sua capacidade de atrair, transmitir e repousar nesta fluidez luminosa.

"Imagine então uma dançarina que, após longo estudo, oração e inspiração alcançou um grau de entendimento em que seu corpo é simplesmente a manifestação luminosa da sua alma; cujo corpo dança de acordo com uma música ouvida interiormente, em uma expressão de .... um outro mundo, mais profundo. Esta é a bailarina verdadeiramente criativa, natural mas não imitativa, se expressando em si mesma e em algo maior do que todos os seres."

Se conectar a algo maior do que nós mesmos - a Dança do Futuro é a dança do passado e de todos os tempos. Seu ciclo veio redondo e eu posso vê-lo - Eu nos vejo dançando unidos no espírito da beleza universal - natural, cada um de nós "bastante digno" para participar. Eu posso ver a dança da alma como uma forma de curar nós mesmos, nossas tribos, nossas comunidades e nosso planeta. Eu posso sentir a competitividade substituída por uma alegria compartilhada, e eu posso sentir que o ego pode dar lugar ao sentimento oceânico de conexão enquanto abrimos nossos canais para os ritmos do universo. O futuro está aqui, e nós somos as Dançarinas do Futuro.



terça-feira, 9 de abril de 2013

Ventre da Dança de cara nova!

Depois de muito tempo querendo dar uma arrumada na casa, finalmente consegui! Agora o Ventre da Dança não só está de cara nova, mas também tem a sua própria logo-marca! Por favor comente deixando a  sua impressão sobre o nosso novo look!

E o mais importante, vamos continuar trabalhando para oferecer textos de alto nível! Aguardem as novidades do Kisses from Kairo, outras traduções sobre o Iraque, textos sobre a Turquia, Sufismo,  Bailarinas antigas, Isadora Duncan e sugestões de leitura!

Um grande abraço,

Lalitha