sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

E para comemorar, vídeos natalinos!!!!!


Esse é mais discreto:



E esse é mais cômico:



E para finalizar, Noite Feliz em árabe!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ma liberté de danser - Prefácio

Gente, como eu ando enrolada, mas não quero deixar o blog sem atividade, vou fazer algo que as meninas que foram na minha palestra no início de dezembro pediram: vou colocar o material da palestra aqui :-)

Mas vou colocar aos poucos, até pra não enjoar, ok? Então, farei o seguinte, a cada 15 dias vai sair um resumo de cada capítulo do livro, junto com a pesquisa que eu fiz por fora, tanto da história da Dina quanto da história do Egito e de outras bailarinas também. Também separei alguns trechos do livro e traduzi para ilustrar.

Então, para começar eu traduzi todo o prefácio, que é muito lindo!

Com vocês, Ma liberté de danser!



PREFÁCIO
Dina, a última bailarina

Existem tantos Egitos... aquele das rochas, da eternidade faraônica, dos templos e das pirâmides. Aquele das areias, dos desertos cor de ocre, das redondas dunas. Aquele do Nilo, com suas paisagens inalteradas há séculos, seus camponeses em roupas brancas curvados sobre os campos de cana de açúcar.

Também existe o Egito dos mitos. Aquele dos deuses e deusas, dos faraós e suas rainhas, cuja graça e elegância enfeitiçam ainda as paredes dos monumentos que mais de 15 milhões de turistas visitam por ano. Mas, cada noite, do Cairo à Assuã, da costa de Alexandria até a beira do rio em Luxor, esses turistas estão também a procura de uma outra lenda: aquela da bailarina de dança do ventre, mulher absoluta, sedutora e feiticeira.

Esse mito, com o qual cruzei numa noite de abril. Uma dessas noites que o Cairo adora prolongar nos cinemas, restaurantes e cafés. Para o viajante, o estrangeiro de passagem, que não conhece esse país, essas noites são uma oportunidade de mergulhar em uma das realidades do país, longe dos batidos clichês turísticos. É preciso ir até a beira do Nilo, para ver o rio pontilhado por uma guirlanda brilhante de barcos, onde famílias inteiras vadiam, jovens e velhos juntos numa alegre corrente humana nas bordas dos navios. É preciso ir aos teatros, onde a boa sociedade cairota se aperta para aplaudir os grandes atores, cujas atuações são comentadas nas colunas dos jornais de Argel até Damasco. Ao mesmo tempo, no centro da cidade, certos cafés recebem escritores e intelectuais, que ficam por horas nos seus salões, no meio da fumaça dos cigarros e do vapor quente das taças dos chás perfumados com menta. Nessas noites, o Cairo lembra a sua gêmea imaginária, a capital das mil e uma noites, dos mil e um prazeres.

Foi justamente numa dessas famosas noites, na penumbra de uma casa noturna de um grande hotel do Cairo, que eu vi um salão esperar, febril, que ela entrasse em cena. Havia turistas vindos de diversos continentes, e famílias reunidas para festejar, ou um noivado ou o aniversário de algum filho. Sentados em cadeiras almofadadas com molduras douradas, havia também ricos príncipes árabes, com seus ghutra brancos, rodeados por cordas de couro e cobrindo cuidadosamente suas cabeças, eu os vi com sorrisos fáceis aguardando que a música enfim começasse.

Dina. Por todo o mundo árabe, o seu primeiro nome é suficiente para introduzi-la. Há mais de vinte anos que ela aparece nas primeiras páginas dos jornais, nas telas dos cinemas e da televisão. Multidões se banqueteiam com as fofocas que a rodeiam sistematicamente a cada coisa que ela faz, a cada feito ou gesto, como uma auréola misteriosa e venerada. Dina não tem uma vida, tem diversas vidas, que se entrelaçam, uma mais inimaginável que a outra, permeadas de dramas, escândalos, alegrias e glamour. Seu carisma, sua obstinação em dançar, apesar das maledicências ditas pelos fundamentalistas, e sua louca liberdade fazem com que ela seja comentada além da fronteira do Oriente Médio. Porque hoje, na terra do Egito, terra originária da dança do ventre, Dina é a última das grandes a perpetuar a tradição.

Jimmy Carter, Richard Nixon... houve um tempo, nem faz tantos anos, que nenhum chefe de estado poderia visitar o Cairo sem que se organizasse para ele um espetáculo de dança oriental. Nessa época, as raqa’sas, as bailarinas, eram numerosas e disputavam a atenção, uma mais ardente do que a outra. Elas faziam parte do cotidiano dos egípcios. Pois foi suficiente apenas alguns anos, um estalo de dedos, para que o Egito mudasse. Em 1960, nas fotos as mulheres andavam com os braços e cabeças descobertos. Cinqüenta anos mais tarde, o véu virou norma. Profundas mudanças geopolíticas, perceptíveis por todo Oriente Médio, transformaram a sociedade egípcia. Começando pelo choque do petróleo que, no fim dos anos 70, atraíram, como um ímã, milhares de trabalhadores egípcios para a Arábia Saudita e os países do Golfo. Esses expatriados, ao retornar ao país, anos mais tarde, trouxeram com eles costumes religiosos mais rígidos, que não eram mais seguidos no Egito. E no meio desse povo, que sabia gozar da vida, amante das artes e da música, começou a surgir uma nova faceta, bem mais pudica. A Infitah, a abertura econômica iniciada pelo presidente Anouar El-Sadate, também contribuiu para balançar o equilíbrio do país. Pouco a pouco, se desculpando seja por conta do moralismo, seja por conta da falta de dinheiro, os egípcios começaram a abandonar os rituais das bailarinas. Muitos casais, hoje em dia, se casam sem chamá-las, rompendo com a tradição e com as promessas de boa sorte, de baraka, trazidas pela sua presença na noite de núpcias.

Dina, entretanto, decidiu ser a guardiã das tradições. Carregar o estandarte até onde o seu corpo agüentar, sem jamais fugir ante os golpes do destino, da maldade dos homens, ou da dureza da vida. Em nome de um princípio universal que ela tornou seu, obstinadamente. Uma palavra que ela repete sem parar: liberdade.

Liberdade. El Horreya, como se diz em árabe. A mais bela palavra, diz ela, que uma língua pode ter.

Então, feche os olhos. Preencha os seus sentidos com os perfumes do Oriente, deixe-se intoxicar pelos incensos das feiras ao ar livre sob as abóbodas em ogiva, deslize em sonho pelas ruelas estreitas do Cairo milenar, e deixe-se levar pela história dessa bela sedutora, Sherazade dos tempos modernos...

Claude Guibal

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Serena Ramzy - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

Tradução de Lalitha

Artigo original aqui.






1. Por que você começou a dançar Raqs Sharqi (dança do ventre)?


Eu sempre amei dançar... eu me apaixonei pela dança e música egípcias ainda muito nova, e essa dança parece fisgar as pessoas para a vida toda!!! Depois que comecei, meu interesse foi crescendo e eu fui me profundando cada vez mais. É uma forma de arte muito bonita e cheia de sentimento, feita especialmente para mulheres, e é uma dança que celebra as mulheres como elas são!

2. O que é mais importante quando dançamos em público?

Bom, claro que tem muitas coisas importantes a se levar em conta quando se dança em público, mas eu acredito que a coisa mais importante é dançar a música para ELES. O público ama quando oferecemos a ele tal expressão artística e aprecia quando a compartilhamos, não apenas demonstramos.

3. Você poderia nos falar sobre o seu estilo de Raqs Sharqi?

Bom... eu danço a música como a entendo e a sinto. De acordo com o princípio de "traduzir" a música, a filosofia que o Hossam desenvolveu do E=E e de acordo com o artigo dele "Drumming 4 Dancers" no nosso site, neste link: http://www.hossamramzy.com/dance/drumming4dancers.htm  

Eu danço o que escuto da música e "traduzo" em movimentos que eu julgue apropriados.

Isso é que dançar para mim. E o estilo muda conforme a música muda...

4. Você poderia nos contar sobre a relação entre Raqs Sharqi e as suas origens?

Eu entrei no mundo da dança aos 5 ou 6 anos de idade, quando comecei as aulas de ballet e jazz. Então eu fui apresentada à dança do ventre aos 8 anos pela minha irmã, Karima, que já era bailarina profissional de dança do ventre na época, e assim eu tive um contato muito próximo com o mundo da dança do ventre que estava começando a se desenvolver em São Paulo. Eu comecei a me apresentar profissionalmente em 1991, aos 15 anos, e não parei até hoje, 20 anos depois.

5. Você poderia dar alguns conselhos para bailarinas de Raqs Sharqi?

Escute a música, conheça o seu corpo, estude a cultura, seja quem Você é e de onde você é, tenha ética e seja honesta. Essas são as prioridades, então você cria o seu próprio estilo. O mínimo que vai acontecer é que você vai se divertir muito.


6. Quem é a sua bailarina ideal? Porque você gosta dessa bailarina?

Minha bailarina favorita de todos os tempos é Naima Akef, por sua sutileza e graciosidade, junto com a sua precisão e controle da sua técnica, por sua simplicidade na apresentação, e a complexidade e profundidade da sua leitura musical. Ela torna assistir a dança algo gostoso, não intimidador.

7. Quais são os planos futuros com Raqs Sharqi?

Meu plano é continuar ensinando bailarinas e continuar dançando e criando apresentações artísticas que contribuam para o perfil da dança. Nós estamos viajando pelo mundo fazendo justamente isso no momento e planejamos continuar com esse projeto. Nós também temos uma Escola na Inglaterra que forma bailarinas profissionais e professoras que podem ensinar a nossa filosofia e nós temos muitas se formando. Os resultado do curso têm sido impressionantes e nós pretendemos levá-lo para todo o mundo. Nós recebemos estudantes de todas as partes do mundo.

8. O que é mais importante na hora de criar uma coreografia?

Conhecer a sua música e saber analisá-la. Quando você entende o que a música está pedindo de você, aí sim você pode acrescentar os movimentos de sua escolha para melhor traduzir cada som. Entender as camadas da música facilita muito o processo de criar uma coreografia. Quando você sabe o que está sendo requisitado é mais fácil de responder corretamente.

9. Como e/ou com quem você pratica?

Eu pratico sozinha. O Hossam me ajuda e me guia na interpretação musical e na compreensão da base da música e da cultura. Treino na maior parte das vezes sozinha, e me inspiro muito nas bailarinas da Época de Ouro, e aprendo muito com elas. Faço aulas de ballet próximo às aulas de dança egípcia, e adoro correr!

10. Como bailarina, que métodos ou rotinas diárias (produtos de beleza, massagens etc) você utiliza para manter a sua beleza?


Eu adoraria ter uma rotina diária, mas minha agenda de viagens nem sempre me permite manter uma. De qualquer forma, sempre que posso, eu gosto de acordar, correr por 30 minutos, então fazer ballet ou pilates por 1 hora e então dançar por mais 1 ou 2 horas. Eu acho que massagens são a melhor coisa para quem é bailarina com dedicação exclusiva. É uma recompensa para o corpo, depois de usá-lo tanto!

11. (Dizem que Raqs Sharqi é mais relaxante e desestressante que outros tipos de dança) qual parte da Raqs Sharqi você acha que é mais relaxante?

Eu concordo em parte. Solos de derbake não são necessariamente relaxantes ou menos extenuantes que qualquer outro tipo de dança. Mas o lado relaxante são os movimentos fluidos e o fato que quando você dança você foca apenas na dança e em mais nada. Essa é a parte mais relaxante pra mim. Ouvir um som e apenas responder a ele, sem pensar em mais nada, é algo mágico.

12. Que sugestões você tem para fazer a comunidade da dança do ventre crescer? Como você acha que podemos tornar a dança do ventre uma indústria?

Não tenho certeza se devemos tornar a dança do ventre uma indústria. Nós podemos levá-la para um status mais elevado e reconhecido no mundo da dança, mas eu gosto de pensar que estamos lidando com uma forma de arte, não apenas um produto a ser vendido em massa e se tornar uma indústria. Nós podemos crescer como uma comunidade, mas trabalhando como uma comunidade e educando a comunidade, e nos fortalecermos como um grupo.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Trilogia do Cairo

Por Lalitha

Gente, depois de um comentário no post sobre o livro da Dina, lembrei que li mais livros interessantes sobre a cultura árabe, mas não cheguei a postar sobre eles aqui porque os li antes de criar esse blog. Mas então resolvi consertar esse lapso e escrever esse post, mais voltado para o público da dança do ventre  :-)

Inicialmente vou falar de uma trilogia disponível em português (yes!), escrita pelo único prêmio nobel da literatura de língua árabe, o egípcio Nagib Mahfouz (essa é só uma das grafias do nome dele, você ainda encontra as variações Naguib e Mahfuz), e se chama A Trilogia do Cairo. Você vai achar meus posts originais sobre esses livros no meu outro blog sobre livros, aqui, aqui e aqui.


Aí em cima é a capa da versão de bolso do primeiro volume :-)

A vantagem da versão de bolso BestBolso são as notas de rodapé, recheadas de explicações históricas, de quem são os cantores (sim!!! muitos cantores conhecidos e outros nem tanto, Oum Kalsoum, por exemplo, está lá), poetas (esses bem mais desconhecidos, infelizmente) e filósofos, além de explicações de expressões e palavras árabes! Fora as descrições das comidas... ah, as comidas!

Devo confessar que me senti maravilhada ao ler um romance recheado de palavras árabes que eu conhecia, como meleya :-) e que de quebra me ensinou muito sobre a história do Egito.

Os três volumes cobrem cerca de 40 anos da história do Egito, especialmente do Cairo, no início do século XX, contando a história de uma família muito tradicionalista. E ainda descreve eventos importantes na história do país, que inclusive te ajudam a entender a origem da primavera árabe egípcia que aconteceu esse ano. Como eu li os livros justamente durante as manifestações contra Mubarak foi especialmente emocionante e esclarecedor para mim.

E essa é a capa do segundo volume.

O primeiro volume no início é meio lento e difícil de ler, pois trata da apresentação dos personagens, mas vale a pena insistir e passar desse ponto. "Entre dois palácios" tem como título original o nome do bairro onde se situa a casa do patriarca da família, mas a tradução/adaptação (vinda da versão em francês) ficou perfeita, pois a história se passa o tempo inteiro entre a casa do patriarca e a casa onde vão morar as suas filhas após o casamento. Ah, sim, para nós bailarinas, é especialmente interessante a descrição das bodas! E também das músicas e dos músicos que participam das festividades!

Como pano de fundo, o Cairo está em ebulição por conta das revoltas populares contra o domínio dos ingleses, que não querem que se instale um parlamento democraticamente eleito no país (não soa familiar isso?), o que ajuda a mostrar o nacionalismo dos personagens e a mudança do papel da mulher ao longo do tempo (esse tema me é especialmente caro, e está muito bem retratado nos três livros e explica MUITA coisa).

O segundo volume trata especialmente de relações amorosas, evidenciando ainda mais o papel feminino na sociedade, o que justifica também a adaptação do título do livro (novamente da tradução francesa), que no original leva o nome do bairro onde vai morar o primogênito do patriarca. Nesse momento histórico as mulheres já andam sem véu na rua e começam a pensar em outras coisas além de casar e ter filhos, como ir para a faculdade (que aceitam turmas mistas), é bem interessante.

Mas o auge da liberdade feminina aparece mesmo no terceiro volume.

E esse é o terceiro volume.

O último volume da trilogia retrata uma época conturbada também, quando diversas novas vertentes políticas surgem no Egito (inclusive a Irmandade Muçulmana que tanto ouvimos falar hoje em dia), e quando a mulher egípcia entra no mercado de trabalho. Nesse ponto da história, os personagens que guiam a história já são os netos do patriarca, o que é muito legal, pois podemos ver claramente como as gerações foram mudando a sua forma de pensar e de agir. Inclusive, o título original do livro é o nome do bairro onde eles moram, fechando a trilogia.

São 3 livros grandes, mas que vale a pena gastar um tempo lendo. Mas vale lembrar que só retratam o passado do Egito! Hoje em dia, o mundo árabe em geral deu uma guinada em direção à religiosidade, e muita coisa mudou, especialmente com relação à mulher e à dança do ventre. Fazer o quê? É o ciclo da vida.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palestra em Dezembro! - Ma Liberté de Danser

Por Lalitha

Gente, sei que ando meio sumida, mas garanto que é por uma boa causa! (Curiosos de plantão é só procurar nos meus outros blogs) Mas esse mês eu volto com tudo! Para começar, aproveito para anunciar minha Palestra:

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sua ideia = RaqsART (resposta do Hossam Ramzy)

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.



RaqsART é um lugar para bailarinas de dança do ventre compartilharem e criar informações com outras bailarinas ao redor do mundo sobre eventos, performances, bailarinas/os; praticamente tudo relacionado à dança do ventre. Nosso objetivo é criar a comunidade mais interativa e abrangente sobre dança do ventre, para juntar os fãs do mundo inteiro.

Uma bailarina da Comunidade RaqsART do Facebook fez uma pergunta sobre o artigo com a entrevista do Hossam Ramzy. E eu imediatamente fiz a pergunta ao Sr.Ramzy, e ele me deu a resposta abaixo.



Onde os snujs se encaixam no seu método de ensino? Se a bailarina é uma representação em 3D da música e só responde à música, certamente ela não deve fazer música... só querendo saber.

Basicamente, sim, a bailarina deve traduzir a música e deve ser o instrumento final que traduz a música para o seu público. Os snujs são um apoio, um acréscimo, uma atração para prender a atenção do público... mas não é a dança. É um instrumento para fazer o público olhar para a bailarina, mas não aquilo que o mantém interessado... é a tradução da música que mantém o público ali para você... não o barulho.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ma liberté de danser

Por Lalitha


Quem conhece meus outros blogs (é só ver aí do lado rsrsrsrs) sabe que sou viciada em livros. Viciada em níveis quase doentios. Mas de vez em quando esse vício rende frutos excepcionais, e um exemplo disso é o livro da bailarina egípcia Dina, que foi lançado esse ano na França.

Você leu certo, a musa inspiradora de muitas bailarinas no mundo inteiro lançou um livro! Auto biográfico! Com ajuda de uma repórter francesa, claro, também não é para tanto.

Fiquei namorando o bendito livro por um mês na Amazon francesa, até chegar a conclusão que não dava para não comprar, e aí arranjei uma bela desculpa para comprar 20 livros (divididos entre a Amazon americana e francesa, veja bem), desses a maioria fala sobre a dança do ventre ou sobre o mundo árabe... mundo civilizado é outra coisa!

Pois bem, o livro da Dina é MUITO LEGAL! Além de ser escrito na primeira pessoa, com ela contando para você como foi a vida dela até hoje, inclui impressões de primeira mão sobre como a relação do povo egípcio com a dança do ventre foi mudando nos últimos 20, 30 anos. Em outras palavras, ainda por cima é uma bela aula de história e de cultura! Podia pedir mais?

Então, como o livro por enquanto só está disponível em francês (mais fresquinho do que isso impossível!!!!), vou dar uma ideia do que vocês podem encontrar na história da Dina, mas sem spoiler, porque acho sacanagem. Ela passa por todos os momentos marcantes da sua própria vida, o que é bem interessante, afinal todas querem saber como foi que ela começou a dançar, não é? Onde ela aprendeu, com quem, se teve problemas com a família por conta da sua escolha... está tudo lá! De quebra ela descreve como é o seu dia a dia de diva no Egito! Uma ralação só... fiquei impressionada. Passa pelo nascimento do filho dela (a descrição do parto é ótima! Melhor propaganda da dança do ventre que já li), pelos casamentos mais importantes (inclusive a morte de um marido) e pelo escândalo em que ela foi envolvida e que aqui no Brasil quase ninguém ouviu falar.

De lambuja, ela comenta e explica porque nos vídeos antigos você vê todas as mulheres assistindo aos shows de dança do ventre descobertas, usando decote e cabelos da moda (da época, pelo amor de deus, o que é aquilo!), mas nos vídeos mais contemporâneos você conta nos dedos (isso quando você encontra) as mulheres que não estão usando véu. Pura aula de história e antropologia!

Mas nem tudo é perfeito... nem o livro da Dina. Primeira coisa que você nota é o subtítulo "la dernière danseuse d'Egypte" (a última bailarina do Egito), que é no mínimo um escândalo quando você tem a Randa dançando pelo mundo inteiro e com show fixo no Nile Maxime (se não me engano... posso estar errada, mas essa foi a última informação que tive). Mas é a Dina, né? É DIVA. Mas ela não fala da Randa em momento algum do livro... só de bailarinas mais antigas. Tudo bem, não conheço mais nenhuma bailarina egípcia em atividade hoje que não seja Dina ou Randa, seria compreensível que as duas disputassem uma com a outra, né? O que nem sei se é o caso, mas suspeito por razões óbvias.

Outra falha, se você procura a versão das egípcias para a origem da dança do ventre, ou sobre os movimentos e técnicas egípcios, ainda não é aqui que você vai encontrar :-( achei uma pena. Podiam ter aproveitado, né?

Outra coisa que faz falta: FOTOS. Só tem a da capa snif snif snif...

Mas ainda é leitura obrigatória! Recomendadíssimo!

domingo, 4 de setembro de 2011

Hossan Ramzy - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.




1. O que você diria sobre aprender os ritmos como bailarina? E como um músico/derbakista?


Isso é exatamente o que eu ensino na nossa Drumzy School of Music & Dance no Reino Unido e ao redor do mundo. Esse assunto é muito importante para mim, e eu sinto que é esse o motivo da nossa adorada dança estar estagnada e dos artistas do nosso meio estejam precisando se utilizar de toda forma de desvios que resultam no desrespeito pela bailarina e pela própria dança. Os exemplos são muitos e eu não preciso explicá-los aqui.

De qualquer forma, a resposta é: como bailarina, você começa por escutar e identificar os ritmos da música. A bailarina deveria ser ensinada a bater os ritmos num formato simples no derbake, sem tecnicalidades, o que vai ajudá-la a identificar esses ritmos.

Quando você começa a aprender Flamenco ou o Kathak indiano, se espera que você aprenda direitinho os ritmos e entenda todas as sílabas rítmicas antes mesmo de você começar a aprender os movimentos. Mas isso é porque os professores e instrutores sabem o que eles estão ensinando e têm experiência nas suas artes.

De qualquer forma, eu sei que esse não é o caso da dança do ventre, e isso é o que eu e a Serena  estamos querendo ensinar às bailarinas indo ao seu país (Japão).


2. Você recomendaria aprender uma série de diferentes ritmos (e em qual ordem)?

Eu desenvolvi uma série de ritmos relacionados que vêem de uma só raiz e partem para os galhos de cada ritmo, eu os chamo de "As Árvores dos Ritmos".

3. Qual é o melhor caminho para aprender os ritmos específicos da dança do ventre?

Aprendendo os ritmos da Dança do Ventre. Eu criei um cd duplo para tratar justamente desse assunto chamado "Rhythms of The Nile" EUCD 1427, disponível no meu site www.hossanramzy.com .

Nesse álbum, eu falo e explico sobre os instrumentos e ritmos, e a segunda parte do álbum é dedicada a ensinar como tocar os instrumentos também. Tem uma transcrição de tudo o que eu digo no álbum em 4 línguas.

4. Qual é o erro mais comum que as bailarinas cometem quando dançam solos de derbake?

O erro mais comum é "não repetir os seus movimentos 4 vezes" toda vez que você introduz um passo novo.

5. Com o que uma bailarina precisa tomar cuidado ao tentar encaixar o seu ritmo com o da dança do ventre?

Elas precisam prestar muita atenção ao tempo do ritmo, e assegurar que elas não traduzam o ritmo de forma forte demais, nem fraca demais.

6. O que você espera de uma bailarina quando você toca derbake?

Isso está explicado detalhadamente no meu artigo "Drumming 4 dancers". (Percussão para bailarinas)







7. Que sinais são utilizados entre os músicos e as bailarinas quando se quer uma mudança no tempo ou no ritmo?

NUNCA deve haver uma mudança no tempo. A não ser que seja desenhada, entendida, ensaiada e treinada entre a bailarina e a orquestra e entre a bailarina e o derbakista.

Parece correr por aí essa falsa informação, perpetuada por instrutores desinformados que estão prejudicando essa arte, dizendo que existem sinais para mostrar ao seu derbakista ou músico para mudar de tempo ou de ritmo.

Isso é falso, não é verdade e não deve ser usado em performances de dança.

Se você assistir um Ballet você nunca vai ver isso entre a bailarina e a orquestra.
Se você assistir um Flamenco Tablao... você nunca vai ver isso entre a bailarina e a banda.
O mesmo vai acontecer se você assistir uma performance do Kathak Indiano.

O que faz as pessoas acharem que isso existe na Dança Egípcia?

Você já assistiu Nagua Fouad, Mona El Said, Souheir Zaki, Namima Akef, Zeinat Oloui ou qualquer outra das Grandes Estrelas da Dança Egípcia ao vivo com suas bandas? Você nunca vai ver nada assim acontecer.

Então, imagino que a resposta para a sua pergunta é... NÃO, não existe nenhum sinal.

8. É possível que um grupo dance um solo de percussão improvisado e acerte os acentos?

Para dançar um solo de percussão improvisado é preciso seguir as regras que eu dou no meu artigo "Drumming 4 dancers".

Mas para fazer isso em grupo, você vai abrir espaço para muitos mal entendidos. Tais solos de percussão podem ser organizados para um grupo, mas uma coreografia deve ser aprendida e ensaiada entre todos, senão vai parecer uma bagunça.

9. Quando você está trabalhando em conjunto com uma bailarina de dança do ventre numa performance, o que você espera da bailarina e da apresentação musical?

Eu asseguro que tanto a bailarina quanto os músicos entenderam o meu artigo "Drumming 4 dancers".

E que a bailarina saiba traduzir a música de acordo com o artigo. Então discutimos o conteúdo emotivo da música, como ela será apresentada e porquê... depois começamos a ensaiar, fazendo tentativas, cometendo erros, corrigindo, concordando, discordando e trabalhando na visão do que queremos mostrar.

Quando tudo acima está acordado, então ensaiamos e praticamos o que foi combinado e aperfeiçoamos a cada vez que fazemos a apresentação.

Para nós, uma apresentação de Dança do Ventre é tão sagrada quanto a apresentação de uma Orquestra Sinfônica.

Nós pegamos pesado com todo o mundo.







quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Maki (Bellydance Evolution Cast Special) - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.


1. Você poderia nos contar sobre a competição para participar do elenco do Bellydance Evolution?
 
Para entrar na competição foi muito simples. Depois de se inscrever e de pagar a taxa de inscrição, precisamos aprender uma coreografia da Jillina a partir de um vídeo que mandam pra você. Então você precisa enviar um vídeo de si mesma dançando a coreografia e outro vídeo dançando o seu próprio estilo. Depois de enviar os vídeos e dar ulpoad neles no site do Bellydance Evolution, sua inscrição na competição está completa. As pessoas que visitam o site e vêem os vídeos podem votar nas bailarinas que mais gostarem e darem notas. A bailarina com o maior número de votos ganha o prêmio de Escolhida pelo Público (People’s Choice award). Então, a parte mais difícil... esperar a resposta da Jillina, se ela te selecionou ou não para participar do Bellydance Evolution.

Minha estratégia foi mostrar à Jillina que eu podia dançar no estilo dela e também poderia trazer algo de interessante para ela. Eu tentei dançar a coreografia dela com o estilo e a técnica dela, o mais fiel possível, e então mostrar o meu próprio estilo na minha parte. Eu acho que ser versátil e mostrar que você tem potencial para fazer qualquer coisa que ela pedir é o ponto chave.

2. Qual é o seu ponto forte como membro do Bellydance Evolution?

Eu acho que meus pontos fortes são minha ética e que trabalho em equipe. A forma como encarei minha experiência foi: tentar me divertir o máximo possível e absorver cada momento. Fazer parte do show foi uma experiência maravilhosa, e eu amei dançar com esse time de profissionais maravilhosas! Todos entendíamos que estavamos juntos para criar um grande show e para representar a dança do ventre da melhor forma possível. E porque tínhamos esse objetivo em comum e entendíamos que éramos capazes de fazer um show maravilhoso é que podíamos funcionar como grupo em apenas 10 dias. No início eu não sabia como as demais meninas seriam, mas a Jillina e o seu grupo Sahlala Dancers realmente deram o tom de trabalho em equipe e inclusão do início até o fim. Como o show em que participei era o que seria filmado para o DVD, houve um pouco mais de pressão para fazermos apresentações limpas. Essa pode ser uma das razões pelas quais a Jillina escalou tantas bailarinas do seu grupo e outras bailarinas que já tinham participado do show antes. Ziva (outra vencedora da competição) e eu éramos as únicas novatas no grupo, então senti que a Jillina tinha fé em mim e eu tinha que saber me colocar para não disapontá-la.






3. Você tem algum conselho para aquelas bailarinas que vão se inscrever na competição do Bellydance Evolution?


Participar de uma competição sempre te deixa nervosa, porque você está se expondo. Eu sempre lido com competições e audições da mesma maneira, eu faço o meu melhor e dou duro, mas se eu não sou escolhida/não ganho, não é o fim do mundo. Eu acho que você precisa ser realista e aceitar qualquer que seja a decisão tomada. Não é o meu show, nem a minha produção, a Jillina tem todo direito de escolher quem ela acha que se encaixa. Precisa ser uma boa bailarina, claro, mas também alguém que aprenda rápido coreografias, que se adapte às mudanças, que se corrija rapidamente com os feedbacks e que possa dançar o estilo dela. Não ser escolhida não é necessariamente um reflexo da sua qualidade como bailarina, apenas significa que você não é a melhor escolha para esse show. Assim como nas audições para muitos grupos de dança, você precisa mostrar que pode dançar numa unidade e que entende que faz parte de um quadro maior. Se você entrar, aproveite cada momento, e se prepare para trabalhar duro!






domingo, 21 de agosto de 2011

Kasia (Bellydance Evolution Cast Special) - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.



1. Você poderia nos contar sobre a competição para participar do elenco do Bellydance Evolution?


Eu fiquei sabendo da competição por acaso pela Irina Akulenko, que já havia participado do show. Ela tinha coisas maravilhosas para contar sobre a experiência, então fiquei pensando nisso. Eu acho que foi em outubro que eu aprendi a coreografia pela Internet, de uma das OUTRAS competidoras, mesmo antes de me inscrever, só pelo prazer de aprender. Eu queria ver se eu consegueria aprendê-la com exatidão e rapidez através de uma imagem espelhada do vídeo e sem intervalos. E eu consegui!! Então, eu acho que foi em dezembro que me inscrevi na competição, e como já tinha aprendido a coreografia, mandei logo o vídeo. Eu estava com esperanças, mas decidi não pensar muito no assunto, e quando fui escolhida, meio que entrei em pânico. O tipo do pânico de organização, oh-meu-deus-o-que-vou-fazer-agora? Eu tinha um monte de coisas programadas para aquela época, fruto do estado de "não pensar muito no assunto", que eu tive que reorganizar. Mas deu tudo certo.



2. Qual é o seu ponto forte como membro do Bellydance Evolution?

 
Eu espero que o meu ponto forte seja o meu estilo bizarro de fusão de dança do ventre, que eu não sei como chamar. Fusão de Dança do Ventre Contemporânea (Contemporary Fusion Bellydance) é uma boa descrição, suponho eu. Eu espero que esse aspecto da minha dança possa trazer algo interessante para o show como um todo.

3. Você tem algum conselho para aquelas bailarinas que vão se inscrever na competição do Bellydance Evolution?

Aprenda direitinho a coreografia da competição. Braços e giros bem limpos. Se você souber fazer algo legal e único, mostre no seu vídeo de dança pessoal da competição. Esteja disposta a trabalhar com todo o mundo, trabalhe duro, não reclame ou arrume desculpas, se ajuste e se adapte a todas as mudanças que apareçam. Seja positiva. Você pode aprender algo de bom de TODAS as suas experiências, mudanças e situações. Dê tudo de si. E NÃO DEIXE DE DORMIR TUDO O QUE PRECISA. Isso ajuda muito!





domingo, 14 de agosto de 2011

Nadia Gamal (parte 1)

Por Lalitha


Resolvi escrever sobre a Nadia Gamal, meu grande ídolo e paixão na dança do ventre. O que se revelou uma tarefa bem mais complexa do que eu imaginava.

Tive meu primeiro contato com a Nadia por meio de uma fita de vídeo, ainda daquelas antigas, com uma linda performance dela num casino. É o vídeo mais famoso dela. Depois assisti uma fita que nunca mais encontrei (mas que tem no Youtube!) onde ela faz uma performance num teatro, com uma linda roupa azul estrelada. E desde então procuro tudo o que posso sobre ela.

Hoje é fácil de adquirir dois vídeos dela, um com a performance no Cassino (Nadia Gamal, The Legend) e outro é o vídeo de um workshop que ela deu em New York, nos EUA em 81. Recomendo muitíssimo os dois, mas para aproveitar bem o segundo é melhor saber inglês.



Mas hoje em dia com o Youtube, tudo fica muito mais acessível.

Apesar de ser razoavelmente fácil de achar vídeos dela na rede, informações sobre sua vida são bem mais difíceis de se encontrar. Existe apenas um livro com uma espécie de biografia da grande lenda da dança do ventre, e não é um livro sobre dança, mas sobre música.

Por algum acaso da vida, esse americano, Randall Grass, que é produtor musical, conheceu o trabalho da Nadia e ficou completamente apaixonado, e não a deixou de fora do seu livro Great Spirits.



Para ter uma ideia do que o autor achava da Nadia, vai aqui a tradução (minha) da Introdução do livro:

"Sem dúvida alguns podem achar a minha inclusão da Nadia Gamal, uma bailarina, meio quixotesca. Porém uma grande bailarina é uma musicista cujo instrumento é o seu próprio corpo. Nadia Gamal realmente era um "great spirit", tanto quanto um grande músico, uma artista que inspirava admiração naqueles que a assistiam. Contudo, ela é pouco conhecida fora do Oriente Médio e dos círculos de Dança Oriental, uma injustiça que que eu senti que precisava ser corrigida."

O livro não é tão detalhado assim com relação a vida pessoal da Nadia, porém é cheio de impressões sobre sua dança, o que o torna muito rico e gostoso de ler, apesar da parte que cabe a essa diva se reduzir a apenas 23 páginas. Vocês podem ver uma entrevista com o autor aqui.

A melhor fonte para conhecer a Nadia Gamal que encontrei é um site mantido por uma brasileira, Livia Jacob, no Multiply. Lá você encontra uma vasta coleção de fotos, vídeos e artigos (inclusive da revista brasileira O Cruzeiro!), tudo em inglês. Ah, sim, e não é muito amigável de ficar passeando, requer alguma paciência.

Porém, é de lá e do livro do Randall que tiro a seguinte mini biografia de Nadia Gamal.


Nadia Gamal nasceu em Alexandria, no Egito, em 1937 (ou 39, essa informação não é muito certa), filha de mãe italiana e pai grego, seu nome de batismo era Maria Carydias. Ela cresceu no meio artístico, pois sua mãe era bailarina e atriz, e apresentava um número no Casino Opera no Cairo, que pertencia à lendária Badia Massabni. Quando pequena Nadia já se apresentava com a mãe, como atriz, no Casino Chatby em Alexandria, quando era conhecida como Carry Days. E mais tarde como dançarina, fazendo números de danças européias no Casino Opera. Além disso, como na época era proibido o trabalho de menores de 13 anos no Egito, suas participações em festas e casamentos eram consideradas informais.

Foi no Casino Opera que sua carreira como bailarina oriental realmente começou, lá a libanesa Badia Massabni mantinha uma escola de dança oriental que foi a grande responsável pela primeira fusão do ballet com a dança do ventre, dando origem ao estilo hoje conhecido no Ocidente, além de tornar clássico o uso da roupa bustiê/cinturão que também é chamado de figurino hollywoodiano. Foi lá também que surgiram os primeiros grandes nomes da dança, como Samia Gamal e Tahia Carioca.

Foi nesse meio privilegiado que Nadia começou a dançar. Seu estilo era único, pois era treinada em balé, dança moderna, piano, jazz, sapateado etc.

Diz uma lenda que sua primeira apresentação na dança oriental (seu pai a proibia de dançar em público por conta da sua idade) foi aos 14 anos, quando uma das bailarinas do casino da Badia ficou doente e não pode se apresentar, sendo substituída por Nadia.


Mas Nadia também era muito estudiosa, falava 7 línguas diferentes e gostava de pesquisar a origem da dança do ventre. Sua grande missão era lutar contra a vulgarização dessa arte, chamada erroneamente de Dança do Ventre, uma tradução errônea do nome Raqs Sharqi (dança oriental), e ela costumava enfatizar "A Dança Oriental é uma arte, essa dança é a mais antiga da nossa civilização. Eu viajo pelo mundo para mostrar que é uma dança refinada, artística, tradicional e cheia de beleza."

Como bailarina ela se orgulhava de ser a única a ser convidada a se apresentar no famoso festival libanês Baalback, em 1964 (ou 1968, as fontes divergem), onde, apesar do preconceito contra a dança do ventre, ela foi aclamada por 4 mil espectadores e sua apresentação é considerada memorável até hoje. Seu reconhecimento como bailarina excepcional também veio quando ela se tornou a bailarina do palácio do Shah do Irã e também do Rei da Jordânia.

Ela participou de inúmeros filmes e shows, tanto como bailarina como como atriz, mas não existe um catálogo oficial deles, apesar de ser possível achar muitos no Youtube hoje em dia, ou no site da LiviaMultiply. Uma das coisas interessantes desses vídeos é que eles englobam quase toda a carreira da Nadia, então é possível observarmos a sua evolução como bailarina, desde novinha até quase a sua morte em 1990, por conta de um câncer de mama.

Ela se apresentou em inúmeros países, incluindo diversos lugares da Europa, porém, só se apresentou nos EUA uma única vez, tendo recusado diversos convites, dizendo que os americanos não entenderiam a sua arte. Sua única apresentação teve lugar no famoso Town Hall em 1981 e está lindamente descrita no livro de Randall Grass, e também no artigo da Suhaila Salimpour, "I remember Nadia". Infelizmente ela não foi filmada.

Nadia foi casada 3 vezes, mas nunca teve filhos. Seu legado são seus vídeos, as memórias daqueles que presenciaram sua dança inesquecível e a marca que ela deixa em todos aqueles que assistem, mesmo que em vídeo, a sua arte.

Com vocês, Nadia Gamal:



Como vocês puderam notar, esse é só o primeiro post! Ainda vamos analisar muitos vídeos e detalhes da Nadia! Aguardem!

sábado, 13 de agosto de 2011

Nourhan Sharif - Entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.


 1. Por que você começou a dançar Raqs Sharqi (dança do ventre)?

Minha mãe era professora nos anos 70... Eu era filha única e ela me levava com ela para as aulas :) ... Não tinha ninguém para tomar conta de mim em casa e minha mãe era obcecada por Dança do Ventre... então eu comecei de fraldas aos 2 anos!

Mais tarde comecei a dar aula para crianças com a tenra idade de 8 anos... era assim que era minha vida! Minha mãe tinha mais de 500 alunas por vez... ela não deixava nosso Estado natal (eu sou de Rhode Island) e ela não era famosa, mas tinha uma escola enorme! Todas as mulheres estavam fazendo essa dança como exercício nessa época nos EUA.


2. O que é mais importante quando dançamos em público?

Manter a nossa integridade e a dignidade e continuar a desenvolver e levar a nossa dança para frente... existem bailarinas demais por todo o mundo que são mal treinadas e exibem um comportamento duvidoso enquanto dançam em público e, infelizmente, elas continuam baixando o nível para todas nós! Eu estou sempre consciente de que a minha dança reflete uma cultura e não é apenas "dança de brincadeira", eu acredito nas raízes dessa dança e a maior parte das coisas do Oriente Médio vêm do Egito... Ela é como nossa mãe, e devemos respeitá-la como nós mesmas! A dança não é para ser retirada da cultura de onde vêm! Por exemplo, algumas pessoas querem dançar dança do ventre com Rock and Roll... isso não é algo que pessoalmente eu gostaria de fazer :)


3. Você poderia nos falar sobre o seu estilo de Raqs Sharqi?

Eu sou uma mistura entre os estilos Egípcio e Libanês. A maior parte do meu aprendizado é/foi com mestres Egípcios, e minha experiência de palco é/foi com músicos libaneses :) Me sinto com muita sorte de ter dançado com músicos tão maravilhosos ao vivo que se importavam de verdade com o meu show... meu primeiro CD "Nourhan Sharif Raks Sharqui Volume One" foi escrito e me dado como presente por um músico, Aboudi Badawi, de Trípoli, Líbano, e foi um presente muito especial para mim que eu vou apreciar para sempre! Eu tive outros treinamentos, mas minhas fontes principais são o Egito e o Líbano!

Minha biografia completa está no meu site :) Eu tive a grande sorte de ter quase todos os professores egípcios famosos vindo e ficando na minha casa e ensinando aqui em New York, na Academia Egípcia de Dança Oriental (The Egyptian Academy of Oriental Dance) que eu administro desde 1997!


4. Você poderia nos contar sobre a relação entre Raqs Sharqi e as suas origens?

Minha mãe era professora então eu fui forçada a entrar nela... mas então passei a amá-la :) Nós somos ítalo-americanos e portanto ela não é relacionada diretamente com minha ancestralidade, mas de qualquer forma eu pareço egípcia e a maior parte das pessoas acredita que sou egípcia e simplesmente assume que isso é verdade. Minha aparência e meu corpo parecem bem egípcios e para o bem ou para o mal, aceitei isso há muito tempo :) Eu só me lembro de ter dançado música Grega, Libanesa, Turca e Egípcia em toda a minha vida! Nunca fui fã de música americana.



5. Você poderia dar alguns conselhos para bailarinas de Raqs Sharqi?

Jamais use uma música sem ter a tradução da letra, senão use apenas música instrumental! Nunca diminua os seus preços e consequentemente os da sua comunidade de bailarinas só porque você quer dançar... melhor dançar de graça para os necessitados que forçar os preços para baixo para as suas irmãs na dança! Infelizmente isso aconteceu em New York, e foram as próprias bailarinas que baixaram as tarifas nas boates ao competir em preço umas com as outras... essa prática ainda acontece em muitas grandes cidades ao redor do mundo, eu a vejo em quase todo o lugar que vou ensinar e isso é muito ruim para a nossa Arte!

Eu vou colocar muitas dicas no meu futuro livro sobre como se tornar uma bailarina de sucesso :) São muitas peças nesse quebra-cabeça!


6. Quem é a sua bailarina ideal? Porque você gosta dessa bailarina?

Sohair Zaki tinha o melhor trabalho de quadril e a melhor limpeza na sua dança... também tinha os melhores músicos e ela foi a primeira a dançar Ulm Kalthoum!

Mona Said pela sua expressão!

Raqia Hassan é a melhor treinadora/professora/coreógrafa viva na Raqs Sharqi na minha opinião, e ela ensinou a maior parte das estrelas do passado e de hoje! (Dina, Soroya, Rhonda, Mona Said etc)

Também fico muito impressionada com Hassan Affifi, que é muito prolífico para a sua geração, ele criou muitos artistas, bailarinos e filmes ao longo da sua vida... Se eu vivesse no Egito passaria a maior parte do meu tempo com ele e a Madame Raqia!

Atualmente estou em tour em 2011 com Ahmed Hussein, que é o único Egípcio que tem prêmios em Ballet, Dança do Ventre, NYC Broadway Star e Dança de Salão! Não acredito que tenha ninguém mais qualificado do que ele na nossa área, e ele é meu atual professor! Não existe mais nenhum egípcio vivo, que eu saiba, que seja campeão de Dança de Salão, exceto o Ahmed, e isso o torna muito especial e requisitado!




7. Quais são os planos futuros com Raqs Sharqi?


Continuar ensinando e compartilhando essa dança e cultura que eu amo (elas andam de mãos dadas), produzir mais ferramentas necessárias para o ensino (eu produzi 4 DVDs e 15 CDs até hoje na minha carreira) e continuar fazendo a linha "Sharifwear for divas that dance"! Ela torna felizes mulheres dos tamanhos PP até o GGGG! Orgulhosamente produzida nos EUA! Eu fui a primeira pessoa a ter uma linha feita exclusivamente para Raqs Sharqi no mundo e tenho muito orgulho disso! Estou escrevendo um livro sobre Bellydance & Betrayal (Dança do Ventre e Traição)... a história da minha vida, que inclui muitos apontamentos sobre a cultura, e discussões sobre a dança do ventre, os lados positivos e negativos! Uma conversa franca sobre os abusos/traições horríveis/desconcertantes do meu ex-marido Yousry (Ahmed) Sharif, que acabou se revelando uma pessoa horrível depois de 20 anos de relacionamento! As mulheres precisam aprender sobre esse tópico... muitas jovens acabam engolidas pela fantasia do Lawrence da Arábia... eu tenho sorte de ter me livrado dele e preciso ensinar às outras sobre isso... enquanto esse tipo de situação acontece com outras bailarinas que têm medo de falar, o ciclo de abusos continua. Muitas bailarinas perdem suas carreiras, seu dinheiro, juventude e beleza para um homem muito rapidamente ao redor do mundo... eles usam as mulheres para obter passaportes, dinheiro, greencard etc... as crianças acabam presas no meio e uma mulher precisa realmente pensar claramente e ser ensinada sobre muitas coisas antes de se casar com qualquer homem, imagina com alguém de outra cultura... Meu livro vai cobrir muitos desses assuntos. Muitas bailarinas acham que casar com um músicos ou homens árabes vai alavancar suas carreiras, mas na maioria dos casos isso acaba matando a sua dança, então elas acabam por obter o resultado oposto do que esperavam! Sem nenhum planejamento meus dois mestrados MSW (nota da tradutora: Master in Social Work - mestrado em trabalhos sociais) e MBA (nota da tradutora: Master in Business Administration - mestrado em administração de negócios) mais meus 40 anos de dança estão se encaixando e isso é uma grande surpresa... mas eu sinto a responsabilidade de ajudar/ensinar as novas gerações sobre dança, cultura e conscientização!


8. O que é mais importante na hora de criar uma coreografia?


Ser capaz de trabalhar com a melodia, a letra e os ritmos num nível sofisticado, o que leva toda uma vida para aprender e ninguém nunca termina o aprendizado... ele continua até a sua morte! Se uma professora te diz que ela tem um talento vindo de Deus e é só isso (eles não tiveram professores humanos) o meu conselho é ir embora imediatamente... nós todos precisamos de professores... a civilização é baseada em ter professores... e os bons nos dão inspiração e uma boa base para criarmos por nós mesmas! Eles não são invejosos e ficam felizes quando seus pupilos vão bem! Eu serei anfitriã do Future Star Raqs Sharqi Series aqui em New York para formar jovens talentos no outono de 2011!


9. Como e/ou com quem você pratica?


Eu trarei Madame Raqia aqui em 2011 e 2012 e também serei anfitriã de outros egípcios... Eu trago aproximadamente 4-6 egípcios por ano para NYC na Egyptian Academy of Oriental Dance e eu sempre faço o workshop! Atualmente eu pratico com um professor de Salsa, e outro de Hustle (nota da tradutora: tipo de dança de salão dos anos 70 que lembra o soltinho), ambos os melhores das suas áreas aqui em NYC... é difícil para mim achar inspiração na minha área em NYC atualmente... muita gente está interessada no culto à deusa, em fusões e eu pessoalmente não me interesso por essas coisas... Eu gosto de Raqs Sharqi pura. Meu professor de Flamenco, Mariano Parra, disse uma vez "fusão é confusão" e eu concordo com ele... para alguém fazer uma fusão é necessário 25 anos em cada área... muitos bailarinos não vivem tempo o suficiente para isso ou então não vão se esforçar tanto... eu não posso fazer fusão, eu não viverei tempo o suficiente para isso! Meu atual professor é Ahmed Hussein, que eu descrevi anteriormente.




10. Como bailarina, que métodos ou rotinas diárias (produtos de beleza, massagens etc) você utiliza para manter a sua beleza?


É importante alimentar a sua alma, ir a encontros artísticos amorosos consigo mesma... ir ao museu, ler um livro etc... Eu também gosto de ir ao Korean Spa (n.t.: tipo de spa muito em voga no EUA hoje em dia, que é especializado em massagens e saunas) para trabalhos corporais... o seu corpo é o seu templo e se você não cuidar dele, vai se tornar a sua prisão! Eu como bem e tento me exercitar diariamente... meu corpo está acostumado a dançar então eu preciso fazer outras coisas para aumentar meus batimentos cardíacos e sacudir o meu corpo!

11. (Dizem que Raqs Sharqi é mais relaxante e desestressante que outros tipos de dança) qual parte da Raqs Sharqi você acha que é mais relaxante?

Raqs Sharqi é relaxante quando eu danço apenas para me divertir, o que raramente acontece, a não ser que eu esteja num casamento etc... (estou sempre trabalhando!) Para mim, Hustle, Yoga ou Salsa são relaxantes porque não fazem parte do meu trabalho... é só para mim :) Teve momentos na minha carreira que dançar com música AO VIVO me fazia me perder na música... isso nunca acontece dançando com CD... e dançar com música ao vivo é raro hoje em dia, então não acontece com frequência :( mas eu poderia dizer que relaxo com música ao vivo! No Japão vou dançar com música ao vivo em outubro! Yeah!!

12. Que sugestões você tem para fazer a comunidade da dança do ventre crescer? Como você acha que podemos tornar a dança do ventre uma indústria?

Muitas mulheres ocidentais estão fazendo da dança uma indústria fitness... dança do ventre é um tipo de exercício em quase toda academia na área de New England!!! Eu tenho alunas que têm mais de 500 alunas nas suas escolas... elas estão criando certificados, shows etc e isso está se tornando um grande negócio para elas! Pessoalmente, eu não sou professora de academia, mas não tenho nada contra essa ideia... sim, você pode fazer exercício na minha aula, mas eu estou mais interessada na sua cabeça do que no seu corpo... a maior parte das bailarinas profissionais que se apresentam hoje em NYC começaram comigo... eu estou interessada mesmo é em fazer as bailarinas se mexerem, pensarem e criarem com uma fundação sólida e com o básico... sem isso você não vai longe! Eu insisto em aprender os ritmos... muitas bailarinas que dançam há anos não sabem dizer quais são os ritmos básicos e isso me deixa muito triste!







domingo, 7 de agosto de 2011

Amani - entrevista na RaqsART

Por Yuki RaqsART

tradução de Lalitha

Artigo original aqui.


1. Por que você começou a dançar Dança Oriental?

Eu me formei em Sociologia e em Estética. Entrar no mundo artístico foi um sonho que se tornou realidade.

Quando eu lia os livros antigos sobre o oriente e sua história, eu me imaginava dançando nessas histórias e eventos históricos. Eu sonhava com a dança, em ser capaz de incorporar essas visões numa apresentação de dança na minha mente.

Minha paixão pela Dança foi um portal luminoso para uma cultura histórica.

2. O que é mais importante quando dançamos em público?

A coisa mais importante que você precisa manter em mente quando dança em público é ter respeito e dignidade pela sua dança e por si mesma. Melhor evitar qualquer movimento degradante para você e para sua dança. Por exemplo:

  • Evidenciar vulgarmente o seu bumbum quando você fizer um círculo grande com o quadril.
  • Balançar seus seios de forma indecente ao invés de fazer um shimmie de ombro elegante.
Esses movimentos foram adicionados ao vocabulário da dança oriental mais tarde, por bailarinas que preferiam depender da expressão da sua sexualidade de forma explícita do que na qualidade artística do que poderiam mostrar. Para manter a dignidade dessa arte, nós todas devemos ter cuidado para não passar a impressão errada para o público.

Quando você vir qualquer movimento que você acha que vai degradar a sua imagem, não os adicione ao seu vocabulário. Tenha uma visão crítica do que você faz. A sua dança deve ser um reflexo da sua personalidade, não da de outra pessoa.

Se você tiver alguma dúvida, por menor que seja, pare e reflita.

"Devo aceitar pessoas que acham que são representações da minha personalidade? Devo aceitar tais movimentos, como mostrar meu bumbum para o público num círculo com o quadril ou balançar meus seios vulgarmente?

"O que será que eu pensaria se visse uma mulher fazendo esses movimentos sem música?

"É permitido mostrar movimentos que normalmente não são respeitosos em público só porque tem música e batidas?"

O que nós fazemos é que decide o caminho por onde a dança se desenvolve. Vamos trabalhar juntas:

  • para abolir os movimentos estranhos adicionados recentemente ao vocabulário da dança oriental, e
  • fazer a dança oriental evoluir sem perder a sua autenticidade e estética.
Trabalhando de mãos dadas nós podemos mudar o cenário atual da dança no mundo todo.


3. Você poderia nos falar sobre o seu estilo de Dança Oriental?

Um estilo pessoal de dança pode ser dividido em duas partes: Estética e Técnica.

Estilo Pessoal de Estética Inteligente

Novamente, cada estilo reflete a personalidade do artista. Questões intangíveis são difíceis de explicar. Tudo o que posso dizer é que quando eu vejo uma coreografia executada pelo(a) próprio(a) coreógrafo(a) eu entendo a sua lógica, criatividade e percepção, o quão transparente ele(a) é.

É por isso que eu digo que a minha dança revela a minha personalidade.

Tecnicamente Inteligente

Amani acredita que a Dança Oriental é uma arte por si só. Ela pode expressar, como qualquer outra forma de arte, tudo o que você quiser.

O estilo de Amani simplesmente enfatiza um ângulo diferente de trabalho corporal e de expressão, não apenas o trabalho de quadril e pequenos movimentos dos braços.

Ela trabalhou no aprimoramento da arte nessa dança:

  • Deu uma nova dimensão teatral. Ela trocou do estilo cabaré pelo teatro.
  • Ela aumentou o vocabulário da dança, introduzindo e adicionando novos passos influenciados pela  arquitetura árabe e outras influências árabes.
  • Ela trabalhou filtrando os diferentes estilos de dança oriental, tais como: Andaluz, Histórico, Moderno etc... e Folclórico, para que o público pudesse difenciar melhor entre eles.
  • Ela apresentou danças no formato de histórias contadas, utilizando o vocabulário da dança oriental.
  • Amani, no seu panorama de dança, dança, atua e canta no palco quando a obra assim impõe, como se pode ver nos seus shows "Batta", “Tabiloulha”, “Ammouna fi Al Saiid”, “Jamilat el Mamalik” etc
  4. Você poderia nos contar sobre a relação entre a Dança Oriental e as suas origens?

Referindo e relacionando com a pergunta anterior sobre o meu estilo, e com a minha resposta que reflete sobre a relação entre a personalidade e o estilo, não posso separar ou distinguir entre a minha dança e as minhas origens, pois ambos são uma só. Se eu não tivesse vivido na minha cultura oriental, minha dança e meu estilo teriam tomado um caminho totalmente diferente.


6. Quem é a sua bailarina ideal? Porque você gosta dessa bailarina?


Existem muitas bailarinas cujo trabalho eu aprecio muito, como:
  • Samia por sua graça
  • Naima Akef por sua criatividade
  • Katty por sua energia
  • Nadia pela execução
  • Najwa por sua perseverança
  • Maima Mokhtar pelas sensações que passa com a música
  • Nabawiya Mostapha pela sua maravilhosa técnica de quadril
e muitas muitas mais.


7. Quais são os seus planos futuros com a Dança Oriental?


O Amani Oriental Festival é o plano principal. Como uma bailarina de destaque interessada e que depende do desenvolvimento e da preservação da Dança Oriental, da sua natureza e suas características, do refinamento do panorama atual da dança no mundo, eu acredito que é minha missão tomar medidas sérias que visem esses objetivos, começando com workshops que juntem o maior número possível de bailarinas orientais num só trabalho organizado, onde nós possamos harmonizar e destilar a essência e o conteúdo dessa arte. Portanto, eu abro as portas para professores de todo o mundo (nossos professores convidados) que queiram participar do Festival.




8. O que é mais importante na hora de criar uma coreografia?

Quando você ama a música, você certamente terá uma visão. Quando você faz alguma coisa com amor e com o estado de espírito certo você se inspira... essa inspiração te leva aos primeiros passos de uma boa coreografia e a ser criativa.


9. Como e/ou com quem você pratica?

Eu pratico sozinha. Quando estou me preparando ou ensaiando para um show eu trabalho com a minha companhia de dança.


10. Como bailarina, que métodos ou rotinas diárias (produtos de beleza, massagens etc) você utiliza para manter a sua beleza?

Eu bebo muita água, como chocolate e sorvete, sou quase vegetariana. Durmo bem. Não bebo nem fumo. E finalmente, acredito no Nosso Criador, a fonte do amor e da paz. 

11. (Dizem que a Dança Oriental é mais relaxante e desestressante que outros tipos de dança) qual parte da Dança Oriental você acha que é mais relaxante?

Legal ouvir isso! Para mim qualquer coisa que se faça com amor traz relaxamento e felicidade, no fim você se sentirá preenchida pelo seu trabalho. A parte mais relaxante na minha dança são os aplausos da platéia e a sua alegria.




    terça-feira, 26 de julho de 2011

    Willow Chang - entrevista na RaqsART

    Por Yuki RaqsART

    tradução de Lalitha

    Artigo original aqui.


    1. Por que você começou a dançar Raqs Sharqi (dança do ventre)?

     Para mim, Raqs Sharqi é uma forma linda e natural de integrar todos os elementos da vida que eu acho importantes.

    * Ritual e tradição

    * Ser um condutor para ligar o passado com o presente e influenciar/inspirar o futuro

    * Para se conectar, expressar e celebrar o sagrado feminino

    * Uma oportunidade de vivenciar o "tarab" ou êxtase divino

    * Um verdadeiro encontro entre a mente/espírito/alma com o corpo

    * A oportunidade de se sentir confortável na sua própria pele

    * De SE TORNAR a música

    * De fluir e viver o momento na dança de improviso

    * De criar figurinos que são lindos

    * De expressar o amplo espectro das emoções

    * E, é claro, de COMPARTILHAR, doar e se comunicar com os outros.

    Tudo isso são razões porque comecei a dançar Raqs Sharqi (e também, provavelmente, porque é uma forma de absorver e compreender o período que passei no Oriente Médio) - porque é um reflexo da vida e uma forma de viver.

    2. O que é mais importante quando dançamos em público?

    Na minha opinião, existem 3 pontos que são importantes:

    • Nós devemos ser protetoras, guardiãs e educadoras sobre a nossa dança e assegurar que nós cuidemos dela e tratemos a nossa dança e as outras bailarinas com respeito - então outros seguirão nosso exemplo. Nossa dança tem sido observada coletivamente por muitos anos e gerações através de mal entendidos, falsidades e impressões equivocadas que tomarão muito tempo e esforço para serem corrigidas. E não é questão de querer fazer isso - nós temos que fazer! É uma missão. Ela pode ser dançar e se vestir apropriadamente num evento ou show ou simplesmente explicar às pessoas sobre a beleza inata da nossa Arte.
    • Compartilhar é a forma mais recompensadora de se lidar com essa dança - não importa se você é professora, aluna ou bailarina, nós estamos todas na posição de compartilhar, preferencialmente com um coração generoso. Nós podemos compartilhar fontes de consulta ou tempo, ideias ou feedbacks ou simplesmente lidar com a nossa dança como "Esse é o meu talento e eu quero compartilhá-lo com você". Eu realmente acredito no poder da intenção, e é maravilhoso poder praticar o ritual e o ato de compartilhar, que ajudam no combate ao ego, competição e outras características humanas mesquinhas que são fáceis de adquirir. Quando eu luto para ser meu melhor eu, isso não é feito com a intenção de ser melhor do que ninguém, e sim sabendo que todos, coletivamente, se beneficiam quando nós aspiramos pelo bem e pela excelência de forma focada e honesta - o que, por sua vez, gera resultados e ações positivas.
    • Ser verdadeiro é algo que alguém pode se beneficiar como pessoa e como artista. Encontrar a sua verdade pessoal e gerenciá-la, navegar com ela na cultura, nas tradições e com a criatividade que essa dança proporciona é difícil, é por isso que eu acredito que podemos levar toda uma vida praticando diariamente para dominarmos essa arte e sermos verdadeiras. Isso pode ser feito ao citar suas fontes, dando os créditos, escutando o nosso corpo diariamente e respeitando o nosso instrumento, sendo verdadeira com a música e com as tradições da nossa dança, ou então se permitindo a liberdade e a honestidade de se expressar e sentir os seus sentimentos quando você escuta a música e dança.

    No final, nós só podemos ser nós mesmas, e se nós crescermos as custas dos outros ou se nós "manipulamos" a nossa dança, isso traz uma dívida de carma que simplesmente não é o que nós chamamos no Havaí de "pono" - justo, correto ou apropriado. Eu não estou aqui para julgar - estou apenas falando por mim mesma. Uma bússola espiritual guiada pelo respeito, gratidão e humildade me ajuda e colocar as coisas em perspectiva e a crescer como ser humano e como artista. A forma mais fácil de se atingir esse objetivo é também respeitar a sua linhagem e seus professores, gurus, kumus, mestres e mentores com quem você estudou. Eles confiam em nós como estudantes, bailarinas, professoras... para cuidar da nossa dança e de nós mesmas.

    3. Você poderia nos falar sobre o seu estilo de Raqs Sharqi?

     Bom, existem muitos estilos de Raqs Sharqi, como os leitores devem saber.

    Às vezes os rótulos ajudam, outras, confundem ainda mais. Fred Astaire, Paula Abdul e Martha Graham são todos bailarinos americanos, mas seria estranho dizer que são bailarinos do "Estilo Americano".

    Eu sou daquelas (raras?) bailarinas que realmente gostam de TODOS os tipos de dança do ventre e Raqs Sharqi, do folclórico ao tradicional, do Sharqi ao Turco, Libanês, Egípcio, Estilo Tribal Americano (ATS - American Tribal Style), Tribal (Tribal Fusion) e dança teatral (Theatrical Dance).


    Eu realmente aprecio as inovações, mas também respeito a conservação das danças e estilos tradicionais. Eu acredito que existe um equilíbrio que é fluido nessa questão e frequentemente uma classificação correta ajuda a diminuir a confusão. Por exemplo, eu sou, sem sombra de dúvida, influenciada pelo Oriente Médio e suas formas de dança - até porque passei 17 anos ativamente envolvida nessa dança. Mas, para mim, quando danço no estilo teatral ou contemporâneo, eu simplesmente o chamo de teatral ou contemporâneo, e não de dança do ventre. É o que sinto que é mais correto com relação às suas características, sentimentos e movimentos.

    Meu estilo é ditado 99% pela minha escolha da música. Se eu escolho algo da cantora Fatme Serhan (nota da tradutora: famosa cantora do estilo Balady) ou algo do estilo Rom Turco, cada dança será claramente diferente. Se não for uma fusão, eu procuro manter os estilos, movimentos, música e figurino coerentes para a apresentação não ficar muito misturada. Eu acho que sou hoje de um estilo que aprecio e admiro - feminilidade tradicional expressa em movimentos, com um largo espectro de emoções, com repetição de movimentos para criar os detalhes (que era o que as bailarinas da Época de Ouro faziam), uma valorização da fluidez num fluxo contínuo, expressividade musical, graça, elegância e manter a dignidade da dança e da bailarina.

    Não sou fã da abordagem "vulgar" da dança do ventre - e entendo que isso é subjetivo na maioria das vezes. Vamos dizer que me abstenho de movimentos de "dançarinas exóticas/strippers" e tento manter o ambiente familiar. Eu aprecio o estilo ousado, a atitude corajosa e deliciosa de divas como Dina e Mona Said, mas não quero ajudar a formar falsas impressões/estereótipos da nossa dança, se é que isso faz sentido. As pessoas precisam decidir por si mesmas os seus limites. Por exemplo, eu jamais faria uma "lap dance" porque não seria eu mesma - mas, mais importante, eu acho que denigre a imagem da nossa dança. Sempre haverá aquelas que fazem de tudo, mas eu prefiro ser apreciada mais pelo o que eu trago para a dança do que pelo o que ganho com ela.

    Talvez o que seja mais importante a saber sobre mim é que quero sempre respeitar a dança e que trabalho quase que exclusivamente com o improviso - como num eterno estado de taqsim para ficar concentrada no momento e fiel às "origens" da dança do ventre. Minha escolha da música é sempre o meu ponto de partida. Eu faço meus próprios figurinos, o que aprofunda a minha criatividade e o meu senso de individualidade. Eu frequentemente penso nas bailarinas que me inspiraram e ainda me inspiram quando eu danço ou fico refletindo. Eu também me interesso muito em encontrar meios seguros de sentir e de se expressar, de retornar às origens sagradas da dança. Dançar é um ritual e é importante lembrar que temos um grande poder de comunicação - e isso é algo que eu  levo a sério - de forma aberta, clara e não-manipulativa de compartilhar a dança.


    4. Você poderia nos contar sobre a relação entre Raqs Sharqi e as suas origens?


    Toda a minha base de dança é impregnada com história e tradição. Antes de estudar dança do ventre oriental, estudei a dança havaiana Hula, primeiramente como Halau (dança para show) por 10 anos, e depois, ao me apresentar com Hula e danças da Polinésia no Egito, me apaixonei pelo o que se chama de "dança do ventre". Além da Hula, eu já estudei Dança Taitiana, Tango Argentino, Flamenco, Kuchipudi e Odissi (dança indiana), Salsa, Samba, Khaleegy, Danças do Norte da África (Algéria, Tunísia e Marrocos), Legong Balinês, Dança Moderna, Dança do Ventre (egípcia, libanesa, americana, turca, tribal, teatral) e Ballet para nomear algumas.


    Eu acredito que é importante entender quais componentes criam um estilo de dança. Esses elementos incluem mas não se limitam a: cultura e as pessoas que criaram esse estilo de dança, suas histórias e mitos, formas musicais, os ritmos, poesias, credos, vestimentas, seus tabus, sua História e reconhecimento das personalidades que contribuíram para a dança. Claro que a compreensão, conhecimento e apreciação por esses elementos tomam tempo, não apenas para aprendê-los e conhecê-los, mas para VIVENCIÁ-LOS e INCORPORÁ-LOS.


    Quando você tem uma compreensão dos clássicos, tradições e a base de uma arte - seja música, dança, pintura, poesia etc, você está numa posição mais rica para CRIAR, RESPONDER e CONTRIBUIR em resposta. Por sua vez, quando você faz uma FUSÃO, você está no fim das contas juntando 2 ou mais influências. O ideal é que você o faça de forma transparente, respeitosa e provocativa para gerar tanto SENTIMENTO quanto AUTENTICIDADE.

    Ser de origem multi-racial (mistura de chinês, alemão, inglês e nativos norte americanos) e ter crescido num Havaí multicultural certamente moldou o meu ponto de vista. Eu acredito que a dança do ventre foi realmente a primeira "fusão" ou forma de dança multicultural. Ela mexe com tantas pessoas ao redor do mundo por tantas razões diferentes - porque realmente existe algo nessa dança para TODO O MUNDO se relacionar e interagir. Nunca pareceu esquisito, estranho ou peculiar se sentir atraído por essa dança. É tão natural quanto a vida. E estou comprometida em compartilhar essa dança, porque sei que dançar e os processos que isso desencadeia curam.



    5. Você poderia dar alguns conselhos para bailarinas de Raqs Sharqi?


    Nossa... tanta coisa para compartilhar... sem nenhuma ordem específica:

    * Seja gentil consigo mesma. Com o seu espírito, seu corpo e seus sentimentos.
    * Dê tempo a si mesma para incorporar os movimentos, de se tornar a música e entender como eles se relacionam.
    * Não tenha medo de sentir e de expressar suas emoções. SORRIA!
    * Tome cuidado com professores/indivíduos que tentam te limitar como bailarina, estudante ou pessoa.
    * Não deixe as travas dos outros se tornarem suas.
    * Ache sua(s) música(s) favorita(s), aquela(s) que sempre te fará ter vontade de dançar.
    * Dança sem emoção é só exercício.
    * A repetição é sua amiga.
    * Seja você mesma.
    * Faça perguntas.
    * Leve seus hábitos de dança para o "mundo real" - como postura, olhar nos olhos nas pessoas e amplitude nos movimentos.
    * Praticar outros exercícios é bom para você! (natação, ballet, yoga, exercícios de força, samba etc)
    * Beba água com frequência.
    * Quando puder, viaje, leia, sonhe, compartilhe.
    * Aprenda o básico de costura.
    * Escute música todo dia - no ônibus, arrumando a casa, no carro. Vai torná-la menos estranha e mais familiar, fazendo a dança do ventre mais fácil.
    * Encontre uma professora/turma para acompanhar e manter uma prática regular da dança.
    * Dance música ao vivo.
    * Se filme dançando e procure por possíveis correções a serem feitas.
    * Visite outras comunidades e grupos de dança.
    * Estude com os mestres - na música e na dança.
    * Se involva.


    6. Quem é o sua bailarina ideal? Porque você gosta desse bailarina?


    Uma bailarina ideal? Aquela que sinta a música, seja a música e me faça sentir. Não precisa ser famosa ou conhecida, nem mesmo "a melhor". Ela precisa ter uma alegria que seja tangível. E eu aprecio muito as pessoas que crescem como artistas, que são benevolentes e 100% comprometidas com sua dança!

    Em nenhuma ordem particular, as bailarinas que eu adoro incluiriam a minha primeira professora de dança do ventre, Glo Ayson, Mona Said, Tahia Carioca, Dina, Amani, Samia Gamal, Nadia Gamal, Dani Boutros... incluiria Diana Tarkan, Tito Seif, Nath Keo, Leila Haddad, Tarik Sultan, Ava Fleming, Aisha Ali, Rachel Brice, Mardi Love, Dalia Carella, Asena, Elena Lentini, Cassandra, Ansuya, Bert Balladine... mais recentes para mim incluiria Sal Venegas, Lebanese Simon, Dusty Paik... amigos e companheiros de dança Meissoun, Aisha of Greece, Anasma, Colleena Shakti que normalmente animam a galera! Sério, NÃO FALTAM bailarinos talentosos, habilidosos e maravilhosos para me inspirar e isso é algo que eu também amo nessa dança!

    7. Quais são os planos futuros com Raqs Sharqi?

    Bom, continuar pelo mesmo caminho que estou traçando - ensinando, me apresentando, criando e compartilhando tanto localmente quanto internacionalmente. A carreira na dança não é fácil, como você sabe, e quaisquer pais que digam que é difícil estão certos! Tem muito trabalho que não é "remunerado", sua propaganda, emails, manutenção de site, canais no Youtube, costura, ensaios etc... e basicamente você precisa criar o seu próprio caminho. Eu queria que tivesse um manual! Eu simplesmente continuo seguindo, aprendendo e me mantendo verdadeira.

    Sou muito grata por ter viajado internacionalmente todo ano desde 2005 para compartilhar dança e música, além de estudar com os outros, é uma experiência inestimável que realmente alimenta a alma. Conhecer outras bailarinas e pessoas com quem tenho afinidade é algo que nunca poderá ser substituído e isso me mantem engajada e apaixonada por essa dança!

    Ser produtora de eventos de dança é algo que dá muito trabalho, mas vale a pena cada momento para assegurar que a mensagem seja passada. Fundado em 2008, meu evento anual PUJA International Dance Concert está em sua 4ª edição, e apresentará danças de todos os tipos. Eu gosto de artisticamente conjugar a criação e o oferecimento de oportunidades para outros artistas atuarem, criarem e se comunicarem.

    Eu espero que eu consiga terminar diversos projetos para DVD que estão apenas na fase de planejamento, que incluem DVDs didáticos, de performance e de compilação de colaborações criativas de outros artistas participantes do PUJA.

    8. O que é mais importante na hora de criar uma coreografia?

    Primeiro, minha tendência é dizer que você precisa AMAR AMAR AMAR a música que está dançando, senão ficará sempre esquisito e será uma luta. Outra coisa que eu gostaria de dizer é nunca se esqueça do que você quer dizer e compartilhar. E por último, eu diria permita-se SENTIR, porque uma coreografia sem sentimento é apenas exercício. E claro que você quer se divertir e aproveitar, senão, para quê dançar?

    9. Como e/ou com quem você pratica?

    Quando eu comecei, eu fazia uma aula regular com uma professora que eu frequentava religiosamente. Desde que comecei a dançar, já estudei com mais de 100 professores, com muitos deles mais de uma vez, e com cada um eu aprendi algo maravilhoso.

    Eu pratico muito sozinha e trabalho como professora de dança. Existem vantagens em trabalhar profissionalmente como professora de dança. Você se aperfeiçoa muito ao manter trabalhos de movimento e de dança na sua agenda. Mesmo assim, você precisa encontrar meios de se desafiar e estimular suas habilidades e interesses, especialmente se você tem sempre alunos novos, iniciantes ou que vão e voltam.

    Eu acho que algumas abordagens ajudam. Uma é sempre usar músicas diferentes e misturá-las. Recuperar músicas antigas, procurar por novidades e até mesmo trabalhar com músicas que não lhe sejam familiares. Você vai estar realmente pisando em ovos. Eu acho que ouvir música todo dia - em casa, no computador, fazendo faxina, no carro e com FONES DE OUVIDO realmente ajuda. Traduzir as músicas e trabalhar com snujs também. Eu acredito em práticas "cruzadas". Flamenco, Tango Argentino, yoga e até mesmo Bon Odori (n.t.: tipo de dança japonesa) são artes que eu pratico e que me mantem desafiada com formas diferentes de mover o corpo, outro vocabulário de dança/movimento e exposta a novas ideias. Eu encorajo muito as pessoas a ASSISTIREM muitos shows de dança em restaurantes. Shows em teatros, musicais, shows de dança na TV - todo America’s Best Dance Crew (n.t.: programa de TV americano de competição entre grupos de dança) mostra novas formas de ver a dança.


    Mas eu também NÃO VEJO danças que não gosto - é muito fácil pegar tiques e hábitos com coisas que você não gosta, e então você precisa desaprendê-los! Eu também sou a favor de APENAS DANÇAR. Sem coreografia ou combinações de passos. Uma outra abordagem é ter uma meta e praticar com disciplina.




    10. Como bailarina, que métodos ou rotinas diárias (produtos de beleza, massagens etc) você utiliza para manter a sua beleza?


    Toda vez que começo uma aula, nós começamos com uma meditação para sincronizar o corpo e o espírito. Eu acredito que isso traz benefícios. Você não pode subestimar o poder da respiração e como ela afeta TUDO que fazemos!


    Eu também estudei canto por mais de 20 anos - então eu acho que a força da dança também se aplica ao meu canto também. Achar a sua própria voz, literalmente e figurativamente é tão importante para uma pessoa! Eu sou interessada pela visão HOLÍSTICA e INTEGRADA do corpo, da arte e do processo criativo. Estou sempre me esforçando para entender como isso tudo funciona junto.


    Acredito que rir é bom para a saúde também.


    Presto atenção à minha dieta e acrescento complementos saudáveis - água, legumes frescos, castanhas, lanchinhos saudáveis, muito gengibre, alho, cebola etc para limpar o corpo! Não fumo nem bebo, e faço tudo o possível para proteger meus joelhos e minha coluna. Eu faço rodízio dos meus saltos e sapatos. Sou grande fã de alinhamento corporal, estou sempre procurando jeitos SEGUROS de mexer o corpo.

    Eu pratico yoga, e em casa faço alongamentos - especialmente para minhas panturrilhas e arcos dos pés. Faço exercícios aeróbicos, dou preferência pelas escadas e faço uso do bom senso. Gosto de banhos quentes para meus músculos, sauna/sauna turca quando disponível e acho bom que suar faça bem à saúde!

    Frequento um terapeuta sacro-cranial para alinhamento e um massoterapeuta mensalmente para manter meu corpo e assegurar que estou cuidando bem de mim mesma.

    Escuto sempre o meu corpo: estou rígida? Cansada? Alerta? Tensa? O que posso fazer com o meu corpo hoje? Também uso filtro solar e hidratante diariamente, para assegurar que minha pele está segura e protegida. De vez em quando tomo suplementos - vitamina B, Fish Oil (n.t.: óleo de peixe rico em ômega 3), Kelp Tablets (n.t.: suplemento rico em iodo). Eu gosto de comer algas e nori (n.t.: preparado de algas para sushi) porque é gostoso e faz bem para o corpo. É uma grande responsabilidade cuidar e entender como o corpo funciona, e eu faço o que posso para ajudá-lo da forma mais saudável possível!

    Por fim: bondade, praticar a bondade amorosa é essencial, e também o aconchego, abraços e o toque daqueles que você ama fazem bem à saúde! A todo custo evitar pessoas que são negativas ou que te machucam de alguma forma, pois elas vão roubar a sua alegria, o seu amor e a sua habilidade de se abrir em êxtase na dança, na arte e na própria vida!

    11. (Dizem que Raqs Sharqi é mais relaxante e desestressante que outros tipos de dança) qual parte da Raqs Sharqi você acha que é mais relaxante?

    Sem a menor dúvida, a parte lenta, o fluxo contínuo do taqsim, a dança improvisada e sinuosa. Existe graça e beleza nela - se você está aberta para ela.