sexta-feira, 29 de junho de 2012

Kisses from Kairo - Ramadã no Cairo



Segunda-feira, 15 de agosto, 2011

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha



Suhoor do Ramadã no restaurante local Il-Gahsh

É nessa época do ano que a cidade do Cairo dá um tempo de si mesma. A cidade fica mais quieta, o trânsito fica mais previsível. Os motoristas de taxi se esforçam mais para não te roubar, e as pessoas saem dos seus caminhos para serem gentis. Desde as luzes natalinas multicoloridas enfeitando mesquitas e prédios, até as onipresentes fawanees (lanternas do Ramadã) dependuradas em todas as casas e fachadas, há um clima inegável de festa no ar.

É Ramadã, o mês sagrado islâmico, durante o qual os muçulmanos jejuam e se abstém de todas as coisas vulgares. Bom, teoricamente pelo menos. No Egito, cabarés, cassinos, bares e boates ficam fechados. Os muçulmanos fazem um esforço para não blasfemar, brigar, mentir, fumar e se envolver em atividades não-islâmicas, entre as quais está a dança do ventre.

Legalmente a dança do ventre é proibida durante o Ramadã. Isso porque ela vai contra os valores islâmicos da modéstia feminina. Na verdade, entretanto, alguns lugares continuam contratando bailarinas de dança do ventre. Principalmente os cruzeiros no Nilo, que atendem estrangeiros e não podem ficar sem bailarinas de dança do ventre. Então, eles se esquivam da regra de “não haver dança do ventre no Ramadã” fazendo a bailarina se vestir uma galabiyya de uma peça de Saidi e dançar com alguns rapazes do folclore, fazendo dela uma bailarina de folclore.

Essa foi a opção que precisei encarar no último Ramadã. Eu poderia ou me apresentar todo dia durante o Ramadã usando uma galabiyya ou tirar o mês de férias. Incapaz de agüentar só a possibilidade de fazer um show de 45 minutos usando uma galabiyya, eu escolhi a segunda opção. Apesar de estar perfeitamente disposta a ser uma bailarina de folclore na segunda metade do meu show, eu não vou fazer isso durante o show inteiro. Não durante um mês inteiro, e não por 32 dólares. Já é ruim o suficiente fazer o meu solo de derbake usando minha galabiyya! Eu não conseguiria imaginar fazer minha entrada com ela também.

O gerente do Nile Memphis não ficou feliz com a minha decisão. Então eu me desculpei dizendo que a minha escolha de não dançar era baseada no meu desejo de respeitar a sensibilidade religiosa dos muçulmanos durante o Ramadã. E isso não era uma inverdade. Uma parte de mim sentia que os egípcios me veriam como uma super-prostituta se eu dançasse durante o Ramadã, eu simplesmente não queria lidar com isso. Além disso, a maioria das bailarinas de dança do ventre tira férias durante o mês do Ramadã mesmo. Para as bailarinas egípcias, ou é por causa da obrigação religiosa, ou porque não há trabalho. Para as bailarinas estrangeiras contratadas, simplesmente não há “folclore” o suficiente para trabalhar para garantir que elas fiquem no Cairo. A maioria aproveita a oportunidade para dar workshops e visitar a família no exterior.

Il-Gahsh!
Apesar de eu não ter feito shows ou viajado de volta para casa no último Ramadã, eu encontrei outras formas de me divertir. Uma delas foi jantar no Il-Gahsh, O Pequeno Burro. De cara no meio da Sayidda Zeinab, o Il-Gahsh é famoso pelo seu jantar de Ramadã de fool & ta’3miyya, ou favas de feijão e falafel. Ele é, de longe, o meu restaurante favorito no Cairo. E acredite em mim, estou sendo boazinha quando o chamo de restaurante. “Pé sujo” é uma descrição melhor desse lugar, que não passaria na inspeção sanitária mais meia-boca. Mas eu simplesmente amo esse lugar e me arriscaria a dizer que nenhuma visita ao Cairo está completa sem comer lá. Então me deixe contar um pouco sobre a minha história de amor com O Pequeno Burro. :)

Tudo começou no último Ramadã, quando meus amigos egípcios me convidaram para o suhur, o jantar às 3horas da manhã logo antes do raiar do dia, na véspera do início do jejum. O suhur típico egípcio consiste em alguma variação do fool & ta’3miyya. E essa é a especialidade do Il-Gahsh. Era, portanto, lógico que nós fôssemos lá. Entretanto, quando chegamos, arregalei meus olhos e imediatamente me recusei a comer ali. Porque na minha frente tinha uma cafeteria ao ar livre cercada de lixo, cocô de burro, moscas e um enxame de pessoas esfomeadas. “Meu Deus, vocês querem que eu coma aqui?!?” perguntei aos meus amigos egípcios. “Vou pegar uma intoxicação alimentar só de olhar pra esse lugar!” “Não se preocupe,” eles me disseram. “Você vai amar!” E eles riram.

Claro que eles estavam certos. Ignorando o meu bom senso, sentei com meus amigos e comi o maior banquete que 5 dólares podem comprar. Foul, omelete, pão, tipos diferentes de salada, folhas de rúcula, babaghanug, e o meu favorito – um prato cheio de grandes pedaços de cebola crua. E, acredite ou não, não houve “efeitos colaterais” desagradáveis. :)

A melhor parte dessa experiência, entretanto, era a apresentação dos pratos. Folhas de jornal foram usadas como toalha de mesa, e tinha rolos de papel higiênico para usar como guardanapos (fiquei imaginando se isso não era uma indicação do que aconteceria depois da refeição :D). Moscas zumbiam a nossa volta e até pousavam na nossa comida, da qual uma parte foi colocada diretamente em cima do jornal. E também tinha o garçom suado cujo cigarro estava dependurado na sua boca bem em cima dos pratos que ele estava carregando. Mas moscas, papel higiênico, papel e cinzas de cigarro a parte, a comida era fora de série. Atraente, gostosa e tipicamente egípcia.

Il-Gahsh é o melhor. Em que outro lugar você pode comer impunemente grandes pedaços de cebola crua, deixar seus bons modos de lado, e comer um banquete inteiro sob as condições mais anti-higiênicas sem ficar doente, e tudo isso por apenas 5 dólares?

Brincadeiras a parte, esse lugar é uma mina de ouro. Centenas de egípcios comem lá toda noite durante o Ramadã. Eu mesma fui lá pelo menos 10 vezes no último Ramadã, e eu não sou nem egípcia nem muçulmana. Com a quantidade de dinheiro que o dono ganha durante o mês do Ramadã, ele provavelmente não precisa trabalhar pelo resto do ano, apesar dele trabalhar. Pensando nisso, eu planejo visitar o Il-Gahsh muitas vezes nesse Ramadã. Então, se você estiver no Cairo nesse Ramadã, me avise para comermos o suhur no Il-Gahsh juntos. Feliz Ramadã!


terça-feira, 26 de junho de 2012

Sala de Dança - Podcast



Gente, estou super atrasada com essa notícia! Mas vocês já devem ter percebido que estou sempre meio atrasada, né? rsrsrsrs Mas estou me esforçando! Fazendo até posts com antecedência! Vamos ver se consigo manter o ritmo!

Mas voltando ao assunto que interessa, agora a dança do ventre tem o seu primeiro podcast! Coisa chique! Para melhorar os responsáveis são pessoas muito bem informadas de São Paulo! E imaginem como fiquei boba quando vi que usaram o meu material sobre a Dina no podcast sobre ela (que você encontra aqui).

Mas não percam tempo, acessem a Sala de Dança e escutem tudo! (eu mesma, atrasilda de plantão, ainda preciso ouvir uns 3 podcasts para ficar em dia) Tem até Pina Bausch no cardápio! Uma maravilha! Mas sugiro que vocês baixem em mp3 para irem escutando aos poucos, porque cada bate-papo tem quase 1h de duração!

Parabéns meninas! E para o Diretor também! A dança do ventre no Brasil agradece!



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Kisses from Kairo - A palavra que começa com "P"




Quinta-feira, 28 de julho, 2011

A palavra que começa com “P”
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha



Não, não é isso que você está pensando. É uma outra palavra que começa com P – uma que está me incomodando já há algum tempo. A palavra é “prestígio”, ou bresteej, como dizem os egípcios. :) Significa a mesma coisa em árabe egípcio e em inglês (N.T.: em português também), exceto que os egípcios também a utilizam esse conceito na dança do ventre. Vou explicar o que quero dizer.

Há alguns dias, eu recebi um convite para dançar num restaurante depois dos meus shows no Nile Memphis. Eu dançaria ao som de CD, trocaria de roupa 3 vezes, e ganharia um monte de gorjetas. Eu disse ao meu agente que eu aceitava o trabalho, e arranjei de um amigo meu do meio da dança me acompanhar. Entretanto, ao chegarmos no restaurante, descobrimos que lá não tinha pista de dança. Na verdade, o restaurante era do tamanho da minha cozinha, e não tinha o menor espaço para dançar. No máximo, eu poderia fazer pose entre as mesas e marcar algumas batidas da música. Para piorar as coisas, os clientes eram, em sua maioria, homens bêbados.

Quando ele viu aquilo, meu amigo começou um sermão desgraçado sobre como trabalhos como aquele não “tinham prestígio”, e como eu estou me preparando para o fracasso. E ele continuou nessa até que eu não aguentei mais e comecei a fazer birra na rua. E veja bem, eu deveria estar no “palco” em 5 minutos.

“Já chega!!! Eu vou pra casa!” gritei, e entrei no primeiro taxi que passava na porta. Ele tinha me deixado tão zangada que eu não me importava se estava arruinando os negócios do meu agente ou até mesmo a minha reputação. Eu só queria ir para casa e ficar longe de todo o mundo.

Sem esperar uma reação tão escandalosa da minha parte, meu amigo pulou para dentro carro junto comigo. E nós dois começamos a discutir com o motorista do taxi – eu dizendo para ele me levar para casa, e meu amigo dizendo para nos levar de volta ao restaurante; ele não queria ser o responsável por me fazer arruinar a noite. O motorista acabou se deixando levar pelas ordens do meu amigo ao invés das minhas lágrimas e súplicas para ele me levar para casa, e nós acabamos novamente em frente ao restaurante. Eu me recusava a sair do taxi, imagina ainda mais dançar, e fiquei teimosamente sentada lá dentro até o cantor sair do restaurante e vir me tirar do carro.

Agora eu estava realmente zangada – enfurecida. Eu me ressentia do fato do motorista de taxi não ter me escutado porque sou mulher. Eu me ressentia da situação na qual me encontrava, e me ressentia que agora eu teria que dançar para homens bêbados. Me senti humilhada.

Depois de toda essa confusão, eu consegui me recompor e balançar em volta das mesas. Eu fiz uma quantia ridiculamente grande de gorjetas, mas quando terminei, fui ter uma conversa séria com o meu amigo sobre “prestígio” e porquê não posso dançar em lugares como esses. Bom, de acordo com a lógica dos egípcios.

Primeiro, ele se desculpou por ter falado comigo de forma tão dura antes do show e por ter me feito chorar. Então ele recomeçou o sermão de que agora que sou uma bailarina contratada para dançar no Cairo tem algumas questões que eu preciso levar em consideração. Tais como, “uma bailarina contratada de classe” não trabalha em cabarés ou restaurantes tipo taht il-silim, “embaixo da escada”, não importa quão bom seja o cachê. Ela também não se apresenta ao som de CD em resorts do Mar Vermelho a 2 ou 3 horas do Cairo – ela será considerada amadora pelos egípcios da indústria do entretenimento. A bailarina contratada precisa dar a impressão de que ela é boa demais para esses tipos de trabalho. Ela precisa ter um ar arrogante e andar com o nariz empinado. Por quê? Porque no Egito, essa é a única forma dela ser respeitada. Humildade não te leva a lugar algum. E porque assim que se fizer um burburinho de que tal bailarina dança ao som de CD ou em lugares baratos, ela nunca será chamada para dançar com a sua banda nos lugares de maior “prestígio”, como os hotéis e barcos 5 estrelas, não importa o quão talentosa ela pense que é.

Eu ainda estou muito zangada com o meu amigo, mas sei que no fundo ele tem razão. Pelo menos na forma egípcia de ver a coisa. E é verdade, que não era a primeira vez que eu ouvia essas coisas. Inúmeros egípcios que trabalham no meio, incluindo o meu agente e outras bailarinas de alto nível, já me disseram a mesma coisa.  Ainda assim, alguma coisa nessa noção de “prestígio” na dança do ventre ainda não entrava na minha cabeça.

E isso é o porquê. Primeiro, em inglês (e no árabe egípcio), a palavra “prestígio” é normalmente utilizada para médicos, advogados, políticos e outros profissionais tidos em alta consideração. Parece ridículo usar esse conceito na dança do ventre, a qual a grande maioria dos egípcios iguala à prostituição! Nisso se inclui os músicos, os gerentes dos hotéis, barcos e cabarés, até mesmo algumas bailarinas. Quero dizer, por acaso existe algo como uma prostituta de prestígio?!? Você pode até discutir comigo nesse ponto :), mas deixe-me chegar à minha conclusão e dizer não!

Segundo, eu creio firmemente na humildade. Eu nunca me vangloriei nem nunca vou me vangloriar, muito menos dizer que sou boa demais para alguma coisa (desde que essa “coisa” seja respeitável). Eu não suporto pessoas que dizem que são muito boas nisso ou naquilo. Elas estão apenas massageando os seus próprios egos machucados, ao afirmar que se acham maravilhosas para se sentirem melhor com os seus próprios fracassos. Então eu evito esse tipo de linha de pensamento. Eu não sou pretensiosa, não tenho esse ar arrogante.

Terceiro, eu sou prática. Se fazer alguma coisa me beneficia sem me prejudicar, eu vou fazê-la. Assim como dançar nesse restaurante pequenininho ou me apresentar em resorts do Mar Vermelho ao som de CD. No restaurante eu consigo uma boa quantia de dinheiro sem nem suar. Ninguém me encosta ou me insulta, e ninguém sabe o meu nome, o que é uma coisa boa (eu não gostaria de nenhum burburinho de que a Luna dança num restaurantezinho taht il-silm! :D). Nos resorts do Mar Vermelho eu ganho uma miséria, me derreto de tanto suar e acabo por quebrar meus lindos de dança ao me apresentar ao ar livre em superfícies de concreto gasto. Mas, eu tenho um reconhecimento muito maior do público egípcio, faço contatos importantes, e acabo conseguindo contratos para festas de alta sociedade e que pagam bem organizadas por pessoas que assistem ao meu show. Nas duas situações eu me beneficio.

Tem uma coisa importante que eu deveria ressaltar aqui... um pouco de conceitos matemáticos da minha aula de cálculo do colégio. :) No mundo da dança do ventre egípcia, o “prestígio” é inversamente proporcional ao dinheiro. Isso significa que, quanto mais prestigioso o local e o trabalho, menos dinheiro você ganha. Dançar com a sua banda num hotel 5 estrelas não é tão bem remunerado quanto sacudir a bunda ao som de CD num restaurante ou num cabaré barato. É assim que as coisas funcionam. Em cabarés e restaurantes as bailarinas conseguem muitas gorjetas. Somando às vezes alguns milhares de libras. Nos hotéis e barcos 5 estrelas, dar gorjeta é estritamente proibido, porque os gerentes acham que é uma coisa degradante – mesmo que a gorjeta seja colocada na sua mão. Então, eles se esforçam ao máximo para não imitar a atmosfera dos cabarés da Rua Haram (N.T.: algo como rua do pecado). Eu me lembro da primeira vez que dancei num cruzeiro no Nilo com uma banda há 2 anos atrás, uma mulher no meio dos espectadores colocou uma nota de 100 libras na minha mão. E uma algazarra começou atrás de mim, meu cantor me disse para devolver o dinheiro para a mulher enquanto eu ainda estava em cena. E eu obedeci. Sem dúvida, ela ficou um pouco ofendida, e eu envergonhada por ter de devolver a gorjeta. Dar gorjeta é um símbolo de apreciação, e o artista deve apreciar essa apreciação. Pelo menos, é assim que eu vejo as coisas.

Deixe-me dizer uma coisa, esse tipo de pensamento vai longe – um pouco longe demais, se você quer saber o que eu acho. Já topei com diversos outros problemas ligados ao “prestígio”, tais como nunca lidar diretamente com os clientes, policiais, gerentes, ou músicos – e a razão disso tudo é que a bailarina está “acima” dessas coisas. É por isso que ela contrata um agente para lidar com todas essas pessoas em seu nome.

Junto com o “eu sou boa demais para trabalhar no seu restaurante, ganhar suas gorjetas e lidar pessoalmente com você” da política do prestígio, tem também o problema do preço e da disponibilidade. Quando um agente ou cliente liga pra você – quer dizer, para o seu agente :), para você se apresentar num casamento ou festa privada, o prestígio dita que você peça um preço exorbitante e finja que não está realmente interessada no trabalho. Mesmo que você seja chamada para dançar no casamento da filha do presidente! Mesmo que você esteja parada em casa e realmente precise do trabalho! O preço alto e a atitude desleixada fazem com que o cliente pense que você está muito requisitada, tem mais trabalho do que pode agüentar, e é a melhor bailarina do mundo. Supostamente. Você pode imaginar o quão isso é difícil para mim, tendo nascido nos EUA. No meu país, quando você quer trabalhar não importa em qual área, você precisa expressar todo o seu entusiasmo para possíveis empregadores. Depois da sua entrevista, você deve telefonar e reiterar o quão interessada está no trabalho. Isso é uma coisa boa, e faz com que as pessoas queiram te contratar ao invés de outros competidores. Aqui, é exatamente o oposto.

Ainda tem toda a questão de dançar “droob”. “Droob” é a palavra que os egípcios usam quando uma bailarina licenciada não aparece para trabalhar. Ela pode estar doente, ou pode ter decidido pegar um trabalho que pague melhor em outro lugar. De qualquer forma, o lugar onde ela deveria estar dançando agora está enrascado, e vai procurar desesperadamente por uma substituição de última hora – outra bailarina, qualquer bailarina, boa, ruim, feia, bonita, licenciada ou não. A bailarina substituta se chama “gaya droob”, isto é, ela está apenas substituindo por uma noite. Por que isso não pode acontecer de acordo com o protocolo do prestígio na dança do ventre? Porque dá a impressão de que você não está trabalhando, está disponível, e desesperada por arranjar um trabalho. E se você não está trabalhando e está desesperada, deve haver um motivo para isso.

Como vocês já devem ter percebido, tudo isso tem sido um aprendizado para mim. Sendo americana, eu tenho minha própria maneira de pensar e fazer as coisas, frequentemente de forma muito diferente dos egípcios. E com todas essas restrições eu me sinto um pouco asfixiada. De qualquer forma, é libertador no sentido de que tudo o que você tem que fazer é aparecer e dançar.;). Eu acho que eu nunca vou comprar totalmente a idéia de prestígio na dança do ventre, mas como diz o velho ditado “Em Roma, faça como os romanos”. Bom, o Cairo não é exatamente como Roma, mas estou dando o meu melhor!


terça-feira, 19 de junho de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 8 - Hossam


Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao oitavo capítulo do livro da Dina, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.


8 - Hossam

          Vídeos?

Em 2002, Dina está em casa, seu marido está no trabalho, quando dizem pra ela que algo muito ruim aconteceu. Ela ainda não sabe do que se trata, só sabe que é grave.

"Tem vídeos. Indecentes. Eu estou surpresa, não entendo, procuro saber. Vídeos? Por Allah, vídeos de mim? De quê? Já sei! Alguém deve ter me filmado enquanto eu ia ao banheiro, com certeza. Uma câmera de segurança, ou algo assim. Meu deus, do quê se trata?"

          O escândalo

Nos jornais todas as manchetes só falam do escândalo. O empresário Hossam Aboul Fatouh foi preso, acusado de lavagem de dinheiro, e quando revistaram o seu apartamento acharam muitos vídeos. Vídeos de mulheres fazendo sexo com ele. E Dina estava entre elas.

Dina foi casada com ele 12 anos antes (1990), mas o casamento foi escondido. E eles se separaram logo em seguida. Isso foi possível porque no Egito os casamentos são considerados como contratos privados, podendo ser públicos ou não. Dina, por exemplo, já foi casada diversas vezes de forma privada. (Você pode ter uma idéia de como funcionam esses contratos nos livros da Trilogia do Cairo)

          Fugindo

Dina não aguenta a pressão da mídia e resolve que vai visitar o irmão, Samir, em Atlanta. Ela precisa de um tempo para respirar.

Os jornais cobrem a sua viagem como se ela estivesse fugindo da polícia e por isso tinha saído às pressas do Egito.

          Voltando para casa

Mas Dina sabe que precisa voltar e limpar o seu nome, porque sabe que ela não fez nada de errado. Afinal, ela havia feito sexo com o seu marido, portanto não era ilegal.

Com toda a confusão e publicidade negativa, todos os seus amigos somem de uma hora pra outra. Ninguém quer ficar perto dela ou ser associado com o seu nome. Seu atual marido pede divórcio sem nem conversar sobre o assunto.

Dina fica tão nervosa com tudo isso que seus cabelos caem (o que gera mais uma fofoca, dessa vez de uma doença desconhecida).

          Entendo tudo

Quando ela chega ao aeroporto do Cairo, a polícia está lá esperando por ela, como se ela fosse uma criminosa, para deleite dos jornais sensacionalistas. Mas ela sabe que não vão prendê-la, porque Hossam já havia dito que os filmes eram da época que eles eram casados e confirma o casamento escondido.

Ela sai do aeroporto e vai direto para a delegacia, onde explicam toda a situação pra ela. Outras mulheres também foram filmadas por Hossam. Assim como elas, Dina é uma vítima. E Dina aproveita para prestar queixa contra o ex-marido por tê-la filmado sem o seu consentimento.

O desfecho desse processo da Dina contra Hossam é incerto, pois as fontes (jornais da época e o livro) divergem. Segundo Dina, ela ganhou a ação contra o marido, e ele teve a pena aumentada por conta do caso, mas os jornais dizem que Dina desistiu do processo por ter revelado que consentiu a filmagem. Levando em consideração como é o jornalismo egípcio, é realmente difícil ter certeza de que o que eles publicam é realmente verdade.

De qualquer forma, nesse momento o país inteiro só fala disso. Cópias do vídeo da Dina podem ser encontradas até em bancas de jornal. Mesmo em outros países árabes o escândalo chega às primeiras páginas.

Dina se refugia na casa do pai e entra em depressão.

          Hajj

Sentindo que só deus pode ajudá-la, Dina resolver fazer o Hajj, a peregrinação a Meca, que é um dos pilares do islamismo, sendo uma obrigação ou objetivo de vida para os muçulmanos fazê-la pelo menos uma vez na vida.

Os jornais deitam e rolam com a notícia, aproveitando para contar de outros artistas que também fizeram o hajj à toa, porque não mudaram a sua forma de viver quando voltaram, pois não se arrependeram dos seus pecados (aqui o que eles referem como pecado é trabalhar como ator/atriz, cantor/cantora e, claro, bailarina). O governo saudita chega a tentar impedir que ela faça a peregrinação, não concedendo o visto, mas acaba cedendo em cima da hora. Dina vai a Meca acompanhada de sua mãe (isso segundo os jornais, ela não menciona esse detalhe no livro).

"Sobre a minha cama está minha roupa de peregrina. Eu parto essa noite, para a terra santa do islã. Eu vou à Meca.
Eu me viro para Allah. O único que sabe o que se passa no meu coração, na minha alma. Aos olhos dos homens e mulheres, eu me sinto nua, suja na minha honra e dignidade.
Eu canto os rakaat, as preces, e me entrego a Deus, liberando minha alma dos seus tormentos. Aqui, eu sou uma peregrina entre peregrinos, uma filha do islã como as outras, não sou mais a Dina mas apenas uma muçulmana... Ninguém me olha e ninguém me julga..."

          Voltando a vida

Quando ela retorna da peregrinação, os jornais se enchem novamente de fofocas, como Dina ainda está deprimida e tem medo de sair em público, é dito que ela passou a usar véu. Dizem até mesmo que ela abandonou a carreira de bailarina e que vai passar a receber pessoas em casa para estudar o corão (prática bastante comum aparentemente).

Dina passa a ter crises de pânico e não consegue nem mesmo sair para desdizer as fofocas a seu respeito. Porém, ela ainda possui alguns amigos, como os atores Ahmed el-Sakka e Samir Sabri, que vão atrás dela e a ajudam a sair de casa, ver pessoas, e que querem voltar a trabalhar com ela. Uma bailarina que tinha sido muito famosa, Sahar Hamdi, que parou de dançar para usar o véu, também fica ao seu lado. (foi ela que Dina foi substituir quando voltou de Dubai, detalhes no Cap.4 - Se tornando Dina)

Um dia, um número desconhecido aparece no celular de Dina, e ela não tem coragem de atender. É uma mulher, que vai até a casa dela e deixa um recado, assinado Nanou. Ela é empresária, dona de lojas de roupa, famosa entre a alta sociedade cairota. Dina resolve telefonar pra ela.

"- Dina, eu vou ficar ao seu lado, para te ajudar a atravessar esse momento difícil. Você foi falsamente acusada, foi pega no meio de um escândalo onde você não é responsável por nada. É uma injustiça, e eu detesto injustiças. E depois.... depois, você decidirá se vamos continuar amigas ou não. Mas, por enquanto, deixe-me te ajudar."

Nanou fica ao lado da Dina, a ajuda a sair de casa, a voltar a frequentar algumas festas, ver pessoas importantes. Nos jornais, as notícias já estão saindo de que foi o marido dela que a enganou, que eles eram casados na época da filmagem. Aos poucos Dina percebe que os olhares direcionados a ela não são mais de desprezo, mas de pena e de compreensão.

Dina percebe também que ela foi usada como bode expiatório, nesse momento a sociedade egípcia está passando por uma onda de denúncias de corrupção, os homens de dinheiro e o estado estão se misturando demais, e para distrair o povo, os vídeos encontrados com Hossam foram perfeitos. (lembrem que nessa época Mubarak ainda estava no poder)

Aos poucos Dina volta a dançar, mas no início só no exterior. Nanou insiste que ela volte a se produzir no Egito. Assim, ela toma coragem e cede uma entrevista a Hala Sarhan, host de um programa de auditório muito famoso.

"Sob a luz escaldante dos projetores, Hala me faz perguntas. E eu conto tudo, como fui enganada por um homem que abusou da minha confiança. Quando as luzes se apagam, eu me sinto como uma casca vazia. Eu dei tudo o que tinha para dar, eu disse tudo, me deixei levar com toda sinceridade."



Nanou ajuda Dina a abrir uma loja de roupas femininas, e assim ela consegue manter contato com outras mulheres e perceber mais uma vez que as pessoas olham pra ela de forma diferente do que antes. Isso inclusive dá origem a mais fofocas no jornal, de que Dina largou a dança para virar empresária.

          Sequelas

Mas esse escândalo afetou também a família de Dina. E seu pai ficou extremamente abatido com todo o ocorrido. Dina vê que ele vai definhando aos poucos, até que um dia ele sofre um AVC e morre.

Dina entra novamente em depressão, e pensa seriamente em se matar.

          Dando a volta por cima

"Sinto minhas forças se recuperando. Sei que apesar de tudo, depois de tudo o que passei, depois da minha infância sofrida, depois de toda a concorrência na dança, a morte de Sameh, após a infâmia do escândalo, o que é que pode me destruir? Nada."

Então ligam para Dina e oferecem a ela um trabalho no Egito. Ela está tão sedenta para voltar a trabalhar que aceitaria não importando qual fosse, mas é a televisão do estado que a chama para pegar um papel numa série. Praticamente serviço público. E ela então sente que as pessoas finalmente entenderam que ela é inocente, já que até o governo a está chamando para trabalhar. Logo depois ela volta a entrar em cartaz no Egito.

Aguardem o próximo e último capítulo! 

Capítulos anteriores:

Para maiores informações e notícias da época vejam:


Dina runs-off to Paris after pornographic videotapes of her were found in a businessman’s apartment

Belly dancer Dina denies fleeing Egypt after scandal and admits marriage to businessman

Dina's porno films for 100 Egyptian pounds a piece at local newsstands in Egypt

Dina accuses ex-husband of making pornographic films without her knowledge

Dina to complete the fifth pillar of Islam...Hajj

Dina's Hajj seen as an escape and a confession of guilt

Dina wears a Hijab ending her dancing career

Dina leaves dancing business for the 'real business'

Dina shocks everyone with her latest confession

Dina making it impossible for anyone to understand anything

Hair disease behind Dina’s temporary Hijab

Dina reveals all in her first televised interview

DVD - The Bellydancers of Cairo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Kisses from Kairo - Condomonium






Domingo, 10 de julho, 2011

Condomonium*
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha



...sim, isso quer dizer exatamente o que você está pensando :)

*N.T.: Aqui Luna faz um trocadilho intraduzível misturando as palavras condom (camisinha) e pandemonium (pandemônio)

Aquele Pequeno Pedaço de “Papel Azul”
Aqui está um conselho sincero da sua bailarina de dança do ventre estrangeira – NUNCA carregue camisinhas com você ou em nenhum lugar perto de você enquanto estiver viajando pelo Egito. O mesmo é válido para tampões. A maior parte das pessoas não sabe o que são essas coisas, e quando a curiosidade é mais forte do que elas, a situação fica esquisita. Para dizer o mínimo.

Então, aconteceu  no ano passado, enquanto eu estava voltando para o Cairo depois de um show na região do Mar Vermelho, os policiais do posto de segurança decidiram parar o nosso carro e fazer uma busca na nossa bagagem – minha, do DJ, do dervixe rodopiante e do motorista. Os três homens saíram do carro para serem revistados pelos policiais. Eu, sendo a única mulher, fui instruída a permanecer dentro do carro até a busca terminar. Eu sentia o carro subindo e descendo enquanto os policiais abriam a mala do carro e reviravam as nossas coisas. E então, um por um, os rapazes voltaram para o carro, cada um deles com um olhar de pavor no rosto.

“O que deu errado? Os policiais acharam alguma coisa que não deveriam?” eu perguntei a eles. “Eu não tenho certeza”, respondeu Mahmoud, o DJ de 20 anos. “Eles tiraram alguma coisa da sua bolsa”. “O quê?! Eles roubaram alguma coisa? Minhas bijuterias?” perguntei. “Não, eles pegaram um pequeno pedaço de papel azul com coisas escritas nele”, ele disse. “Hein? Que pedaço pequeno de papel azul? Um recibo de supermercado? Por que ele pegaria isso!?” eu perguntei. “Eu não sei o que era aquilo”, ele continuou, “mas o policial disse que era muito ruim, e ele queria prender a gente.” Depois de pensar um pouco sobre o que tinha acontecido, eu percebi que o tal pedaço de papel azul ao qual Mahmoud estava se referindo era uma camisinha!

Agora, eu não me lembrava de ter posto nenhuma camisinha na minha mala de dança do ventre (não é que eu precise disso para trabalhar ou algo parecido! :D), nem me disporia a explicar a nenhum dos 3 jovens egípcios o que era o tal pedaço de “papel azul”. Ao invés disso, fiquei calada pelo resto da viagem de 2 horas, imaginando o que os policiais devem ter pensado quando eles acharam aquela camisinha num carro com 3 homens egípcios e uma mulher estrangeira usando maquiagem demais! Então foi por ISSO que o Mahmoud disse que os policiais queriam nos prender – eles acharam que eu era uma prostituta e os rapazes eram meus clientes! Tão típico isso.

“Então por que eles decidiram nos deixar passar?” eu perguntei ao Mahmoud no final da viagem. “Porque você é americana”, ele respondeu. “O que isso quer dizer?” perguntei. “Os policiais estavam prestes a nos prender quando eu disse que você é americana. No Egito os americanos estão acima da lei.” “Isso não é verdade”, eu repliquei, mas não adiantou. Mahmoud começou a explicar como os egípcios e as autoridades egípcias têm medo dos americanos e evitam ao máximo chateá-los. Eu acho que eles sofrem com a síndrome Bush! :)

Então, não posso negar isso, não é mesmo?

Salva Pelas Baratas
Não é mais fácil com tampões. Mas esses eu SEI que coloco na minha bolsa de dança do ventre, porque são úteis de vez em quando :) . Mas o problema é que a maioria das mulheres egípcias não usa tampão, nem mesmo sabem o que é isso. No Egito, assim como na maioria dos países dessa região, tampões são tabu. De acordo com a Mentalidade Machista Dominante (MMD) endêmica nesses países, tampões tiram a virgindade. Mas espera só. Fica pior. MMD divide as mulheres que não são virgens em 2 categorias: esposas e putas. Bom, eu não sou esposa de ninguém nem sou virgem, então isso deve fazer de mim uma...

...estrangeira muito sem graça quando um policial num posto de inspeção, fazendo uma vistoria nas minhas coisas, em alguma situação encontra um tampão e tenta abrir por pura curiosidade! Ó céus, será que a minha vida poderia ficar AINDA pior nesse momento? Não é suficiente que eu estava parada na frente das autoridades egípcias sem passaporte, sem meu visto de trabalho, usando quilos de maquiagem e glitter nos lábios? Agora esse homem resolve abrir o meu tampão?

Rios de suor começam a escorrer pelo meu rosto vermelho enquanto o policial brinca com o tampão fechado. Como eu poderia explicar o que é um tampão pra ele? Batom? Não. Um cotonete gigante? Não. Caneta com tinta invisível? NÃO!

Então, nem na hora, uma horda de baratas voadoras invadiram o posto de inspeção provisório e pousaram em cima da gente. É sério. Foi como uma cena saída diretamente de um filme de terror, mas era uma benção disfarçada. Minha reação pra-lá-de-enlouquecida com as baratas, que consistiu basicamente em gritar, pular e sair estapeando tudo a minha volta (inclusive um dos policiais), distraiu completamente a atenção dos policiais dos tampões! Nada disso foi calculado, deixe-me deixar isso claro. Eu realmente tenho uma fobia incontrolável com baratas. Ela é tão forte que eu me mudei do meu primeiro apartamento no Cairo porque eu vi uma barata no banheiro. E isso foi só depois de uma semana morando lá! Eu perdi o que já havia pago de aluguel, de depósito de garantia, E uma conta de luz que não era nem minha. E eu não liguei a mínima!

Por mais loucas que as coisas sejam no Egito, tudo parece dar certo no final. Se não fosse por essas baratas, o policial teria aberto o tampão e começado e me fazer perguntas sobre ele. E isso NÃO teria sido legal. Ao invés disso, os policiais se divertiram com a minha reação às baratas, e pelo fato de eu falar árabe. Eu acho que eu gritei algo como “Ó meu Deus! Eu vou morrer! Me tirem de perto dessas baratas #&$@?&%@!” em árabe. Eles riram a beça, e depois me disseram que não acreditavam que eu era americana. Eu jurei para eles que era, mas eu não estava com o meu passaporte para provar. Nem nenhum tipo de identificação (o que foi muito estúpido da minha parte).

No final das contas, trocamos algumas cordialidades e os policiais me deixaram ir. Você pensaria que isso me ensinaria a manter meus tampões FORA da minha mala de dança do ventre. Mas NÃÃÃÃÃO! Eu tenho que cometer o mesmo erro de novo e de novo e de novo. Até que...

...Ladrões Roubam o Meu Dinheiro e Abrem os Meus Tampões!
Isso é mesmo patético, mas meu dinheiro já foi roubado da minha mala de dança do ventre em 3 ocasiões enquanto eu estava me apresentando no Cairo. Eu sei, é minha culpa por ter deixado o dinheiro lá. Mas a parte engraçada é que TODA VEZ que roubam o meu dinheiro, eu acho um dos meus tampões aberto! Nunca falha.

Isso leva a todo tipo de pergunta. Primeiro, por que o ladrão deixaria algum indício de que a bolsa foi mexida? Segundo, era mesmo tão importante que ele satisfizesse a sua curiosidade abrindo um dos tampões ao invés de só pegar o dinheiro e ir embora? Terceiro, depois que ele já abriu o tampão, e não tinha a menor idéia do que se tratava, porque não simplesmente o jogou fora para não deixar pistas de que alguém mexeu na mala?

Eu não consigo responder nenhuma dessas perguntas, mas posso dizer que essas experiências mostram a extensão da desinformação dessas pessoas sobre educação sexual. Meu instinto me diz que isso não é bom, mas não vou dizer nada sobre isso. Eu só espero que esse país passe por algum tipo de “revolução sexual” além da grande revolução pela qual ele supostamente está passando.


terça-feira, 12 de junho de 2012

Livro do mês: Noites das mil e uma noites



E mais uma novidade do blog! Quem já fuxicou já sabe que eu tenho um outro blog voltado exclusivamente para os livros, e eu sempre paro e fico pensando no que posso aproveitar daquilo tudo que eu leio na dança do ventre, e consequentemente, para o Ventre da Dança. Indo na tag de livros aí do lado direito vocês vão encontrar alguns posts sobre alguns livros, mas agora eu quero instituir esse tipo de post como algo mensal.

Isso porque ler livros, mesmo que de literatura, que abrangem o universo árabe já nos ajuda muito a compreender um pouco melhor essa belíssima cultura! E nada como um bom livro para animar ainda mais a estudar! Ou, quem sabe, até mesmo nos inspirar para uma dança :-)

Como primeiro livro de uma longa série de indicações (darei preferência a livros que são encontrados em português, claro), escolhi um livro do único Nobel de Literatura de língua árabe: Naguib Mahfouz!

Já havia comentado sobre a Trilogia do Cairo dele por aqui, e cheguei a mencionar no último post do livro da Dina que ele sofreu um atentado no Cairo por causa dos seus livros. Isso porque esse autor era muito crítico e bastante realista ao retratar as hipocrisias da sociedade egípcia (quem já leu a Trilogia do Cairo sabe bem disso).

Apesar de ser muito conhecido e ter uma bibliografia bastante extensa, são poucos os livros dele que encontramos em português (fora o problema que é acertar a grafia do nome dele, pois encontramos as seguintes variações: Nagib/Naguib e Mahfouz/Mafouz/Mahfuz), mais ainda assim temos coisas bem interessantes para fuxicar nas livrarias!

Uma delas vou apresentar a vocês hoje: A Noite das Mil e Uma Noites

Capa da edição de bolso, facilmente encontrada em qualquer grande livraria

Esse livro fantástico é uma fábula sobre uma cidade fictícia onde tudo o que aflige a sociedade moderna acontece: roubo, corrupção e violência. Só que com uma roupagem clássica dos contos árabes, com direito a gênios (djins), sultões e princesas. Fora que Naguib Mahfouz resolve se utilizar dos personagens mais famosos da literatura árabe, mais especificamente aqueles (adivinha???) das Mil e Uma Noites!

O livro é fabuloso, e faz a gente refletir muito sobre a vida, além de nos fazer mergulhar na mitologia árabe. Naguib Mahfouz faz desfilar uma coleção de personagens complexos, que mostram todo o tipo de hipocrisia presente na sociedade árabe (e na nossa, também, por que não?), numa crítica ácida ao que o Egito foi se tornando ao longo do século XX.

Fica a dica :-)




Post original no meu blog de livros aqui

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Kisses from Kairo - Aniversário no Blog




Terça-feira, 25 de junho, 2011
Aniversário no Blog
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Hoje é meu aniversário. Na verdade, é o terceiro aniversário consecutivo que passo no Cairo. E mesmo assim, se você me perguntar onde é a minha casa, eu provavelmente vou responder “Estados Unidos da América”.

Eu não sei ao certo quantos anos você tem que passar num lugar para passar a considerá-lo a sua casa, mas a verdade é que o Cairo é minha casa tanto quanto Nova Iorque. Tenho vivido e trabalhado aqui por quase três anos já. Suei o equivalente ao rio Nilo. Fiz amigos, inimigos e relacionamentos que devem durar a vida toda. Eu ri e fiz outros rirem, chorei e fiz outros chorarem, menti e fiz outros mentirem. :) Eu falo árabe fluentemente.  Eu ajudei e fui ajudada, encorajei os outros e fui encorajada, briguei com os outros e outros brigaram comigo, amei e fui amada. Eu fui enganada, traída, roubada e expulsa de apartamentos. Fui apoiada e torceram por mim. Tive acessos de riso e acessos de raiva. Eu quase fui presa, deportada ou assassinada em diversas situações. Eu vivenciei uma revolução. Em outras palavras, eu cresci muito aqui. E eu tenho alguns cabelos brancos para mostrar isso. Se nada disso faz de um lugar a sua casa, eu não sei o que faz.

Hoje mesmo eu fui visitar o Yasser, um vendedor famoso de figurinos do Khan El-Khalili, cuja sabedoria eu adoro ainda mais do que adoro suas roupas. Nós não nos víamos desde antes da revolução, e ele me disse que eu mudei. Meu rosto mudou, para ser mais preciso. Ele me disse que tem uma “doçura” agora que não estava lá antes da revolução. Não o tipo de doçura da inocência ou do excesso de bondade, mas a doçura que vem depois de se lidar com muitas durezas da vida. Eu nunca tinha pensado nisso por esse ponto de vista, mas talvez ele tenha razão. Eu passei por muita coisa, especialmente nesses últimos 6 meses, e eu adquiri uma atitude de resignação descuidada por conta disso. Bom, mais ou menos isso.

Eu acho que estou começando a entender que o Cairo tem sido um tipo de campo de treinamento para mim – um campo de treinamento para a “vida”. “Vida dura” mesmo, entende? E é assim para muita gente. Te ensina como ser um ser humano sem se precisar das muletas ocidentais do politicamente correto e de limites pré-determinados. Te ensina como sobreviver, como lidar com as pessoas, e como se defender. O Cairo é o tipo de experiência que faz você reclamar, mas que no fundo, você adora. E te oferece todas as vantagens de qualquer cidade grande (mas com alguns chutes na canela a mais)!

Então, hoje, além de comemorar o meu aniversário, vou comemorar mais outras coisas. Vou comemorar o fato de eu ter conseguido sobreviver por 3 anos e ter obtido sucesso no Cairo. Vou comemorar a aprovação do meu visto de trabalho. Vou celebrar o meu trabalho e a minha casa egípcia. Vou celebrar todas as oportunidades que o Egito me deu, especialmente a oportunidade de realizar meus sonhos. Vou celebrar o novo começo que eu dei à minha vida. E vou celebrar que, para o bem ou para o mal, o Cairo me criou.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 7 - Liberdade


Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao quinto capítulo do livro da Dina, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.


7 - Liberdade

          Rita

Mulheres usando o Niqab

Apesar de tudo, Dina acredita na liberdade. Quando sua irmã Rita decidiu passar a usar o niqab e isso veio a público, foi um choque para a imprensa. Ninguém podia entender como uma bailarina poderia ter uma irmã que usasse o niqab. Não fazia sentido.

Mas Dina respeita a decisão da sua irmã, que foi tomada depois de refletir muito. Rita passou a usar o niqab pouco depois de acompanhar o sofrimento da Dina durante a doença seguida da morte de Sameh.

"Claro, é verdade que não posso dizer que essa decisão me deixou feliz. Não consigo entender porque uma mulher pode decidir colocar um véu entre ela e a sociedade. Uma do lado da outra, ela com o seu véu negro e eu com minhas roupas curtas e coloridas, invocamos a imagem do yin e do yang, aquelas que são opostas em tudo.
Se a minha liberdade é de dançar, a da minha irmã é de usar o niqab. Ela diria o mesmo de mim."

          A liberdade da mulher

Dina acredita que a vida é muito curta para não ser livre. Mas, infelizmente, no Egito não se sabe mais o que significa a palavra liberdade.

"Porque, aqui, quando se diz "liberdade", alguns entendem "lassidão", "libertinagem", como se se tratasse de agir como uma mulher da vida. Eles não entenderam nada. A liberdade, certamente não é o direito de fazer qualquer coisa, pelo contrário, é a responsabilidade. Ser livre é o que nos permite escolher e assumir nossas escolhas, quer elas sejam boas ou ruins, sem jamais culpar os outros. Se eu não sou livre, como posso ser fiel às minhas promessas?"

Mas hoje no Egito ninguém é livre. Os jornais são censurados, as pessoas não dizem o que pensam abertamente. E as coisas não mudaram muito com relação a isso mesmo depois da Revolução. Para se ter uma idéia, até mesmo quando tentaram reeditar “As Mil e Uma Noites”, um clássico da literatura árabe (com passagens pré-islâmicas, é verdade), houve confusão e isso tem sido muito comum com escritores tanto no Egito quanto em outros países árabes. O nobel egípcio de literatura, Naguib Mahfouz, por exemplo, sofreu um atentado nos anos 90. (vejam um post que fiz sobre uma das obras dele aqui)

"Eu creio na liberdade do homem, e creio na liberdade da mulher. Mas não me sinto feminista por isso. Todo o mundo tem direito ao respeito."

Dina conta que, antigamente, o lugar da mulher na sociedade egípcia era mais claro e respeitado. As mulheres não usavam véu e eram bem vistas mesmo assim. Mas com os problemas econômicos, a pauperização da população, e a explosão demográfica ocorrida nas últimas décadas, os egípcios foram ficando cada vez menos educados, e, portanto, mais manipuláveis pelos extremistas e radicais islâmicos.

Com isso, o preconceito só aumenta. E é por ser diferente que Dina é atacada.



Aguardem o próximo capítulo! 

Capítulos anteriores:





sábado, 2 de junho de 2012

Workshop Mega Bellyrolls e Arabian Nights


Então gente, estarei dando um workshop só sobre ondulação abdominal lá no Asmahan de Botafogo!

Será imperdível! Vamos ver passo a passo como identificar e isolar os músculos do abdômen, ver como podemos usá-los para fazer aquelas ondulações abdominais e depois como encaixar tudo isso na famosa dança das moedas!

E pouco antes do workshop estarei no restaurante Al Khayam, dançando no Arabian Nights!


Aguardo vocês no workshop e no show!!!