AVISO IMPORTANTE:
Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao terceiro capítulo do livro da Dina, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.
O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.
O grande meio de comunicação da sociedade egípcia é a televisão, desde o tempo em que Oum Kalsoum fazia o seu show semanal que parava todo o mundo árabe. E o Egito sempre exportou os seus filmes, pois era lá que ficava a grande Hollywood árabe, o grande centro cultural onde surgiu Samia Gamal, o grande ídolo de Dina.
"As bailarinas sempre fizeram parte do cinema egípcio. Quando criança, eu assistia, maravilhada, os longa metragens com a Samia Gamal. Uma rainha, de uma elegância incomparável."
Durante o Ramadã, toda família no fim do dia se reúne em frente à TV, e as emissoras lutam pela atenção dos espectadores, nesse momento em que todos querem se distrair após um dia de privação.
Novelas, seriados e filmes recheiam a programação nessa época, e as bailarinas de dança do ventre sempre fizeram parte da televisão e do cinema egípcios. Dina não é diferente, na wikipedia há uma lista de 19 filmes e 9 novelas que ela participou.
Mas no final dos anos 70 Dina ainda não era bailarina de dança do ventre, era bailarina folclórica. Ela nem pensava nisso, o máximo que ela poderia ser era solista de uma companhia de dança folclórica. Mas assistindo aos filmes antigos ela já tinha chegado a uma conclusão.
"Se você dança sozinha, você só ganha sendo diferente. Copie as outras e você perde. E eu, eu sempre soube que era diferente. Sem ter procurado por isso. Sem saber o porquê. Nem como."
• Ibrahim Aqef
Por volta de 1981, aos 17 ou 18 anos, Dina começou a fazer aula com o grande professor e coreógrafo egípcio Ibrahim Aqef (morto em 2006, deu aulas até início dos anos 90 - era coreógrafo de grandes bailarinas, para conhecer mais veja aqui em inglês). Ela o considera um segundo pai, e o chama de ya baba.
Ibrahim Akef |
"Ibrahim me mostra como devo fazer, o meu lugar. Eu repito.
-Dina, Dina... minha filha, como você faz isso?
Ibrahim olha pra mim, um pouco perplexo e admirado.
-Você é inacreditável. Não faz nada como as outras. Eu sei que você se esforça por fazer do jeito que eu te digo. Mesmo assim... É como se você colocasse a sua marca em cada coisa que você faz. Olha o jeito como você gira, ali, olhe como o seu corpo se posiciona. É assim que se deve fazer, mas você, você coloca algo a mais. É extraordinário, Dina. Tua diferença é a sua força."
• A luta
Se no início dos anos 80 Dina pode ter aula com Ibrahim, é porque ela conquistou a sua liberdade para tal. Foi a sua primeira grande batalha.
Seu pai nessa época morava no Qatar, enquanto Dina estava morando em Alexandria, num apartamento com as demais moças da companhia de dança folclórica por conta de uma turnê. Elas eram vigiadas de perto, só estudavam e treinavam, e mesmo nos dias livres elas não saíam. O salário era pequeno, mas Dina era feliz, por fazer o que amava. O pai da Dina, ao perceber que pouco a pouco estava perdendo o controle sobre sua filha, resolveu tirá-la da dança. Seu pai então manda buscá-la em Alexandria e a proíbe de voltar.
"Eu fico desesperada. Por todo um mês, não saio de casa. Eu escuto os ruídos da cidade do Cairo, da vida, mas eu, eu sinto que morro devagar. Não sinto mais fome, fico uma semana sem comer. Eu quero dançar. É uma obsessão. Somente assim eu sou feliz. Não compreendo essa injustiça. Eu não fiz nada de errado, eu só quero dançar. Eu não suporto prisões, detesto os muros e odeio correntes."
"Querem que eu seja como as outras. Submissa. Obediente. Uma mulher que se curve diante de um destino que outros escolheram por ela. Esse destino que tantas mulheres aceitam, ou por tradição ou por senso de dever, abrindo mão pouco a pouco do seu livre arbítrio, esquecendo que elas são também seres pensantes e respeitáveis."
• Said
A saída que Dina vê para voltar a dançar se chama Said. Um homem bem mais velho, com mais de 30 anos, bailarino da companhia. Ele a pediu em casamento. Ela , aos 17 anos, acha que vai ser feliz, pois finalmente vai acalmar a sua família, se colocando sob a tutela de um homem, seu marido, que ao mesmo tempo compartilha com ela a paixão pela dança. Porém, o casamento dura apenas 3 meses. Said se casou com ela como segunda esposa, sem lhe contar nada. Quando o pai da Dina descobre, compreende a situação e a ajuda a se divorciar.
Ela vai morar com a irmã, Rita, e seu marido. A vantagem é que, apesar de ser mal vista por ser divorciada, ela ganha mais liberdade, pois seu pai não tem mais autoridade sobre ela.
• Dança oriental
Foi nessa condição que ela pôde começar a estudar dança oriental, raqs sharki. Nessa época ela fazia parte da trupe folclórica de Sami Nawar, e um grande hotel do Cairo ofereceu a eles um contrato.
Porém, toda vez que chega o momento de apresentar a raqs sharki, nenhuma das bailarinas quer dançar. A roupa tradicional as enche de envergonha. Mas não Dina. Com o tempo o seu número começa a sobressair no show da trupe, noite após noite o público a aplaude. Um dia o gerente do hotel a chama para conversar e diz pra ela senhorita, você tem talento. Você deveria se tornar bailarina oriental, montar o seu próprio espetáculo.
• Os mestres
Ela nunca tinha cogitado isso e começa a considerar seriamente a possibilidade de seguir carreira solo. Sabendo que essa é uma grande responsabilidade e que ela precisa evoluir muito mais no raqs sharki para ser uma bailarina profissional de dança do ventre, ela começa a fazer aulas particulares, tanto com Ibrahim Aqef quanto com Raqia Hassan (com quem ela foi aprender especialmente o posicionamento dos braços e das mãos, que são diferentes do que ela havia aprendido no balé).
"A originalidade da dança do ventre está na técnica particular de isolar cada parte do corpo. Se nós mexemos o quadril num movimento sinuoso, os ombros devem ficar fixos. Se nós fazemos um círculo com o busto, o quadril, por sua vez, se imobiliza."
"Os anos seguintes se misturam na minha memória. Eu sinto que começo a ver o que pode ser o meu destino. Eu levo uma vida dupla. Danço à noite e estudo de dia. Me inscrevi na academia de artes e na faculdade de filosofia. Trabalho duro. Quero ter sucesso."
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