sexta-feira, 16 de março de 2012

Kisses from Kairo - "Les danseuses du Caire" - As bailarinas de dança do ventre do Cairo



Ufa!!!! Finalmente consegui terminar essa tradução! O vídeo no final me tomou muuuuuuuuito tempo... espero que vocês gostem :-) Perdoem a tradução dos nomes, é complicado tirar de ouvido e colocar na grafia correta (eu chutei descaradamente hahaha)... espero que dê, pelo menos, para entender rsrsrs


Domingo, 5 de junho, 2011
"Les danseuses du Caire" - As bailarinas de dança do ventre do Cairo
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Documentário sobre o mundo da Dança do Ventre do Cairo do canal francês de TV TF1


Alguns meses atrás, eu tive o privilégio de ser filmada para um documentário francês sobre a dança do ventre no Cairo. Três jornalistas franceses do TF1 passaram um dia inteiro me seguindo, desde o minuto em que acordei (literalmente), até o minuto em que terminei a minha última apresentação no Nile Memphis. O objetivo deles era documentar um dia típico na vida de uma bailarina de dança do ventre do Cairo. Eles também seguiram a bailarina brasileira Soraya Zayed, uma bailarina egípcia de estilo cabaré, e a famosa estilista Sahar Okasha.

A experiência de ser seguida foi muito divertida e cheia de gargalhadas do início ao fim. Eu agradeço à bailarina francesa Maya Sarsa do Cairo por me recomendar para esse projeto.
http://www.youtube.com/user/mayasarsa

Os jornalistas logo descobriram que a minha vida como bailarina de dança do ventre no Cairo é emocionante, engraçada e frustrante ao mesmo tempo. Ver a reação deles conforme eu fui contando como eu tinha sido expulsa do meu apartamento por ser bailarina, despedida do Semiramis porque não dormi com o gerente, e quase ser deportada por dançar sem ter os papéis de permissão, não teve preço. E era exatamente esse tipo de coisa que eles queriam ouvir.

Depois de me entrevistar sobre minhas experiências no Cairo, os jornalistas me filmaram montando uma coreografia no meu apartamento. Então eles me filmaram me arrumando para o meu show, e me acompanharam no Nile Memphis para filmar o meu show. Eles acharam especialmente engraçado a forma como eu embrulho a minha bengala de lantejoulas de Said num saco de lixo preto para escondê-la das pessoas no caminho para o trabalho.

A segunda parte desse documentário fala dos desafios diários enfrentados pelas típicas bailarinas egípcias de estilo cabaré. Similarmente ao que fizeram comigo, os jornalistas seguiram uma bailarina de dança do ventre egípcia, indo com ela até em casa, ao salão de beleza, e às suas performances. Eles conseguiram transmitir direitinho as dificuldades que essa bailarina tem, escondendo a sua dança de membros da família, vizinhos e amigos.

E por último, mas não menos importante, os jornalistas passaram um dia com a famosa bailarina de dança do ventre brasileira Soraya Zayed e com a estilista Sahar Okasha, que explicou perfeitamente os rígidos regulamentos que regem o figurino da dança do ventre. Também tem uma parte em que os jornalistas entrevistam um membro da Irmandade Muçulmana sobre o seu ponto de vista sobre a dança do ventre - pontos de vista que são típicos e, bem, já esperados.

O resultado desse interessante experimento é esse fantástico documentário chamado Les danseuses du Caire, ou As bailarinas de Dança do Ventre do Cairo. O trabalho espetacular dos jornalistas e o seu  interesse genuíno pelo mundo da dança do ventre do Cairo são de tirar o chapéu. :) Espero que vocês gostem de assistir!



Apresentador - A sua profissão remonta à época dos faraós. as bailarinas de dança do ventre do Cairo e sua sensualidade, apreciadas pelos turistas, estão hoje ameaçadas de desaparecer. A islamização da sociedade egípcia as tornou párias. Vejam na reportagem de Stéphanie D'avoigneux e Carole Drecaux.

Narradora - O Cairo nunca dorme, no rio Nilo não Bateux Mouches (N.T.:barcos grandes típicos do rio Sena  em Paris), mas sim barcos-cabaré.

Narradora - Turistas do mundo inteiro se abarrotam para ver o folclore local. Tem o derviche rodopiante e seus 50 giros e, claro, a inevitável dança do ventre.

Narradora - Luna (N.T.: a reportagem afrancesou o nome da Luna, chamando-a de Diana) toma posse da pista, vestida com a roupa tradicional de 2 peças com patês, seus movimentos incluem arabesques e gestos impulsionados.

Narradora - A dança do ventre é uma das mais antigas do mundo, e uma das mais sensuais também. O público é conquistado.

Turista (mulher) - É obrigatório assistir a dança do ventre quando se vai ao Egito, é como as pirâmides.

Turista (homem) - Eu não posso ver tanto quanto eu gostaria.

Repórter - Por que?

Turista (homem) - Por causa da minha esposa.

Narradora - A bailarina Luna é americana, ela fez todo um caminho para viver e aprender a dançar no Egito, onde, há mais de 5 milhões de anos, nasceu a dança do ventre. Ela levou 5 anos para dominar esses movimentos.

Repórter - É difícil fazer isso?

Luna - Depois de muito treino não é mais tão difícil, mas no início... é preciso tempo para se acostumar. E aqui outro movimento, a gente inspira, prende, e contrai os músculos.

Narradora - Uma prática ancestral que, no entanto, está desaparecendo. Luna é uma das últimas bailarinas de verdade do Cairo.

Narradora - Nos anos 50, a dança do ventre egípcia ainda era aclamada no mundo inteiro.

Narrador antigo - E a adorável bailarina Samia Gamal fez um sucesso triunfal no palco do Teatro Municipal.

Narradora - As bailarinas são estrelas que se apresentam para a alta sociedade árabe. Com orquestra em trajes formais, a dança oriental é considerada uma arte superior.

Narradora -Nós esquecemos, mas na época, nas ruas do Cairo, as jovens andavam de saias curtas e de cabelos soltos.

Narradora - 50 anos mais tarde, as coisas mudaram muito. Quase todas as mulheres estão de vestidos e roupas longas, que escondem os cabelos, pernas e braços. Então, evidentemente, que essas bailarinas que mostram o seu ventre se tornaram párias, mulheres do pecado.

Narradora -No seu apartamento no Cairo, Luna, a artista americana, repete sua última coreografia. Ela fez mais de 10 anos de balé clássico, vir ao Egito era o seu sonho, mas a realidade a deixou encurralada. Por medo de represálias, ela esconde de todo o mundo que é bailarina.

Narradora -Quando ela se prepara para sair para trabalhar, ela tem medo que a sua maquiagem a denuncie para os vizinhos.

Luna - Para eles uma bailarina é uma mulher de má reputação, uma prostituta. Eles podem passar a informação para o proprietário e é muito ruim para a reputação dele se os vizinhos souberem que eu sou bailarina. Então isso me trará problemas. Eu prefiro evitar. É melhor para mim ser discreta e não falar nada com ninguém sobre o que eu faço.

Narradora - Luna sabe do que está falando, o proprietário do seu apartamento anterior a expulsou depois de descobrir, por acaso, que ela é bailarina. Desde então ela dobrou as precauções.

Luna - Todo o mundo sabe que é um acessório de bailarina, e como eu não quero que ninguém saiba a minha profissão, eu a escondo. Claro que não é nada elegante, é apenas um saco de lixo.

Narradora - Luna aceita, então, viver a sua paixão na clandestinidade. E no Egito, essa vida de bailarina não é desejada por ninguém.

Narradora - Essas mulheres estão na mira de muitos religiosos e políticos, como Moussa Rahdi, deputado da assembléia egípcia e membro do partido Irmandade Muçulmana, ele prega o Islã radical e quer a proibição total da dança do ventre.

Deputado - Quando uma menina tem a sua menarca e se torna uma mulher, é totalmente inaceitável que ela exerça a profissão de bailarina de dança do ventre, porque essa atividade estimula os mais baixos instintos sexuais. Ela não está de acordo com a verdadeira natureza da mulher.

Narradora -Nesse bairro popular, entretanto, há um lugar com os vidros pintados onde podemos encontrar bailarinas. Um salão de beleza onde se aceitam aquelas com a profissão mais vergonhosa do Egito. Aifa é bailarina há 2 anos. Aqui ela é arrumada e maquiada sem precisar se esconder.

Aifa - Todas as pessoas que trabalham aqui vem do meio artístico, então ninguém nos olha torto. Entre nós, bailarinas, nos sentimos protegidas.

Narradora -E agora chega Assaleya, uma amiga de Aifa. E é preciso acreditar que o hábito não faz o monge, porque ela também é bailarina. Seus pais não sabem disso. Quando ela sai de casa, ela veste a abaya, um vestido preto que só deixa de fora as mãos e o rosto. Assim que a noite cai, ela muda de identidade.

Repórter - O que o seu pai faria se soubesse o que você faz?

Assaleya - Ele me bateria.

Maquiadora - Ele a mataria.

Narradora - É sempre a mesma história, uma vida dupla, com a vergonha no cotidiano. Entretanto, Aifa defende a sua profissão.

Aifa - É verdade que muita gente acha que dançar é tão grave quanto se prostituir. Mas eu acho que nós somos artistas, e é por isso que mostramos o nosso corpo. Tem mulheres que usam o véu e a abaya e que fazem coisas muito piores sem que ninguém saiba.

Narradora - Depois de 2 horas de preparação, Aifa está linda para ir dançar. E ela se põe a caminho de um casamento popular. A presença de seguranças é indispensável, porque a chegada de uma mulher com os braços a mostra e cabelos soltos é um risco de confusão para a festa.

Narradora - A festa acontece no meio da rua, entre os prédios, com mais de 300 convidados e música ensurdecedora. Aifa está pronta para dançar. Para ter o direito de filma-la tivemos que pagar 100 euros para o seu agente. Diante dela, o público. Homens, sobretudo composto de homens. Algumas mulheres estão num canto, todas usam véu. Portanto, Aifa é a única com tão pouca roupa.

Narradora - Mas nem todos os homens são tão entusiastas. Alguns não apreciam nem um pouco o espetáculo de Aifa.

Homem jovem - Quando eu me casar não vai ter de jeito nenhum uma bailarina de dança do ventre. Eu não gosto delas.

Homem mais velho - Eu acho isso indecente, uma mulher que se insinua desse jeito.

Repórter - O que você quer dizer?

Homem mais velho - Uma mulher que dança, que mostra o seu corpo.

Repórter - É uma mulher de baixa categoria?

Homem mais velho - De muito baixa categoria.

Narradora - Para ir para o camarim é preciso que Aifa se cubra com um vestido preto, a abaya, e no caminho um homem a trata como prostituta. A qualquer momento a situação pode sair do controle. Os guarda-costas afastam Aifa da multidão e minimizam o incidente.

Segurança - Podem ir, já acabou. Não aconteceu nada, tá tudo bem.

Narradora - Mesmo que ela ame dançar, Aifa já decidiu: ela vai parar em dois anos, no máximo.

Aifa - Acabei de ter uma filha, daqui há 2 anos ela será capaz de entender o que eu faço, e isso eu não quero. Não quero que ninguém possa dizer a ela "sua mãe é uma bailarina", porque isso é um insulto.

Narradora - Aifa mora num bairro pobre do Cairo. E aqui está a sua filhinha de 3 meses, é por ela que ela quer parar de trabalhar. Junto com o seu agente, que também é seu marido, ela mostra os seus figurinos.

Marido/agente - Pegue o rosa e o verde, pegue os dois.

Narradora - A ironia? É proibido uma bailarina de dança do ventre mostrar o ventre.

Marido/agente - Ela não tem o direito de trabalhar sem esse tecido fino cobrindo o ventre. Existe uma regulamentação e nós devemos respeitar a lei.

Repórter - E o que acontece se não tiver esse tecido fino?

Marido/agente - Ela pode ser inspecionada pela polícia, e se ela não estiver com o figurino regulamentado, ela será levada à delegacia. Ela será multada e poderá até mesmo ser presa.

Narradora - Bailarina: uma profissão de risco. E para Aifa ainda tem mais pressão: seus pais, que moram no mesmo prédio. Toda noite ela deixa sua filha com a sua mãe.

Aifa - Te trouxe o meu tesouro. Já a troquei, ela está limpinha. Vou pegar algumas roupas.

Narradora - Nós queremos perguntar a sua mãe o que ela acha da profissão da filha, mas cometemos uma gafe.

Repórter - O que você acha do fato de Aifa ser bailarina?

Mãe - (sussurando) O pai dela...

Repórter - O pai dela?

Narradora - Num canto da sala está o pai de Aifa. Dissemos a ela que sua filha é garçonete, certamente não é bailarina. Para falar conosco, a mãe é obrigada a se isolar na cozinha.

Mãe - É uma vergonha estar nesse meio. É ruim ser bailarina, ninguém fala disso. Seu pai e seu irmão jamais permitiriam algo assim. Claro que eu sei que é contra a lei de Deus, mas nós somos pobres, não temos escolha. Meu marido está doente e temos um bebê.

Narradora - É o salário de Aifa que sustenta a família, entre o segredo e a vergonha.

Narradora - As únicas que escapam um pouco dessa pressão são as estrelas. De salto alto, jeans e óculos escuros, Soraya é uma das últimas estrelas da dança do ventre. Nesse bairro chique ela tem hora marcada com a sua figurinista particular.

Estilista - Você está se mexendo bem nela? Tem alguma coisa incomodando?

Soraya - Não, está ótimo.

Estilista - Está confortável? Está frouxa o suficiente?

Narradora - No seu trabalho, Sahara, a costureira, vê tolhida a sua liberdade, mas com Soraya ela decidiu resistir à lei que tenta cobrir o corpo das bailarinas, com um gesto de provocação.

Sahara - Olhe bem, ela está coberta mas ao mesmo tempo não está coberta. Com esses fios se esconde o umbigo, estamos respeitando a lei. É parecido com a saia, ela cobre o alto das pernas, mas como nada proíbe, fiz aberturas na lateral. É sexy e ao mesmo tempo dentro da lei.

Soraya - De qualquer forma a polícia e o governo não me enchem muito o saco, porque eles sabem que sou conhecida. As pessoas conhecem a Soraya e sabem que tenho uma boa reputação. Não me aproximo demais dos espectadores e não tenho nenhuma "história" com eles.

Narradora - Essa noite Soraya vai se apresentar nesse hotel 5 estrelas para um público árabe e rico. O dinheiro às vezes permite comprar um pouco de liberdade e se desvencilhar da censura. Ela tem o seu próprio camarim e a sua própria camareira. O espetáculo que ela vai apresentar é de gala, com roupas que podem custar mais de 1000 euros.

Soraya - Quem não quiser ver, não vê, ninguém é obrigado a assistir. Mas eu acho que, no Egito, enquanto houver as pirâmides haverá dança do ventre.

Narradora -No salão tem egípcios, mas tem sobretudo libaneses e sauditas, que às vezes se locomovem só para vê-la. Numa apresentação privada ela pode ganhar 1000 euros para apenas uma dança. Soraya acredita que enquanto houver clientes dispostos a pagar para vê-la requebrar, a dança do ventre não morrerá.

8 comentários:

  1. Obrigada pela tradução! Excelente trabalho :) Parabéns.

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  2. Obrigada pela tradução do video...

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  3. Oi meninas! Para facilitar, postei no youtube o vídeo já com a legenda embutida: http://www.youtube.com/watch?v=jeX2aQGL7n0
    Bjs

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  4. Parabéns pela tradução, Laura. Só achei esquisitíssimo os 5 milhões de anos de dança. Os seres humanos têm 100.000 anos. Não seria 5 mil?
    Beijos

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    1. Pois é... entendo a sua crítica, e, veja bem, concordo com você com relação à ordem de grandeza do número, apesar de achar que a dança do ventre pode ter mais do que 5 mil anos... mas é isso que eles dizem no documentário :-(
      Tradução é tradução, né?

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  5. Oi Laura!

    A narradora fala bem rapido, parece mesmo 5 milhões, mas como a Hanna Aisha disse, são 5 mil anos... ;)

    beijos

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    1. O problema é mil e milhões em francês é bem diferente... e por mais rápido que ela esteja falando realmente ela diz milhões. Pode ter sido um erro que eles deixaram passar na narração do documentário... como eu comentei na resposta para a Hanna Aisha, concordo que o número deve ser 5 mil, mas não é isso que ela diz :-(
      Acontece, né?
      Beijos!

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