Domingo, 10 de julho, 2011
Condomonium*
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha
...sim, isso quer
dizer exatamente o que você está pensando :)
*N.T.: Aqui Luna faz um trocadilho intraduzível misturando
as palavras condom (camisinha) e pandemonium (pandemônio)
Aquele Pequeno Pedaço
de “Papel Azul”
Aqui está um conselho sincero da sua bailarina de dança do
ventre estrangeira – NUNCA carregue camisinhas com você ou em nenhum lugar perto
de você enquanto estiver viajando pelo Egito. O mesmo é válido para tampões. A
maior parte das pessoas não sabe o que são essas coisas, e quando a curiosidade
é mais forte do que elas, a situação fica esquisita. Para dizer o mínimo.
Então, aconteceu no
ano passado, enquanto eu estava voltando para o Cairo depois de um show na
região do Mar Vermelho, os policiais do posto de segurança decidiram parar o nosso
carro e fazer uma busca na nossa bagagem – minha, do DJ, do dervixe rodopiante
e do motorista. Os três homens saíram do carro para serem revistados pelos
policiais. Eu, sendo a única mulher, fui instruída a permanecer dentro do carro
até a busca terminar. Eu sentia o carro subindo e descendo enquanto os
policiais abriam a mala do carro e reviravam as nossas coisas. E então, um por
um, os rapazes voltaram para o carro, cada um deles com um olhar de pavor no
rosto.
“O que deu errado? Os policiais acharam alguma coisa que não
deveriam?” eu perguntei a eles. “Eu não tenho certeza”, respondeu Mahmoud, o DJ
de 20 anos. “Eles tiraram alguma coisa da sua bolsa”. “O quê?! Eles roubaram
alguma coisa? Minhas bijuterias?” perguntei. “Não, eles pegaram um pequeno pedaço
de papel azul com coisas escritas nele”, ele disse. “Hein? Que pedaço pequeno
de papel azul? Um recibo de supermercado? Por que ele pegaria isso!?” eu perguntei. “Eu não sei o que
era aquilo”, ele continuou, “mas o policial disse que era muito ruim, e ele
queria prender a gente.” Depois de pensar um pouco sobre o que tinha
acontecido, eu percebi que o tal pedaço de papel azul ao qual Mahmoud estava se
referindo era uma camisinha!
Agora, eu não me lembrava de ter posto nenhuma camisinha na
minha mala de dança do ventre (não é que eu precise disso para trabalhar ou
algo parecido! :D), nem me disporia a explicar a nenhum dos 3 jovens egípcios o
que era o tal pedaço de “papel azul”. Ao invés disso, fiquei calada pelo resto
da viagem de 2 horas, imaginando o que os policiais devem ter pensado quando
eles acharam aquela camisinha num carro com 3 homens egípcios e uma mulher
estrangeira usando maquiagem demais! Então foi por ISSO que o Mahmoud disse que
os policiais queriam nos prender – eles acharam que eu era uma prostituta e os
rapazes eram meus clientes! Tão típico isso.
“Então por que eles decidiram nos deixar passar?” eu
perguntei ao Mahmoud no final da viagem. “Porque você é americana”, ele
respondeu. “O que isso quer dizer?” perguntei. “Os policiais estavam prestes a
nos prender quando eu disse que você é americana. No Egito os americanos estão
acima da lei.” “Isso não é verdade”, eu repliquei, mas não adiantou. Mahmoud
começou a explicar como os egípcios e as autoridades egípcias têm medo dos
americanos e evitam ao máximo chateá-los. Eu acho que eles sofrem com a
síndrome Bush! :)
Então, não posso negar isso, não é mesmo?
Salva Pelas Baratas
Não é mais fácil com tampões. Mas esses eu SEI que coloco na
minha bolsa de dança do ventre, porque são úteis de vez em quando :) . Mas o
problema é que a maioria das mulheres egípcias não usa tampão, nem mesmo sabem
o que é isso. No Egito, assim como na maioria dos países dessa região, tampões
são tabu. De acordo com a Mentalidade Machista Dominante (MMD) endêmica nesses
países, tampões tiram a virgindade. Mas espera só. Fica pior. MMD divide as
mulheres que não são virgens em 2 categorias: esposas e putas. Bom, eu não sou
esposa de ninguém nem sou virgem, então isso deve fazer de mim uma...
...estrangeira muito sem graça quando um policial num posto
de inspeção, fazendo uma vistoria nas minhas coisas, em alguma situação
encontra um tampão e tenta abrir por pura curiosidade! Ó céus, será que a minha
vida poderia ficar AINDA pior nesse momento? Não é suficiente que eu estava
parada na frente das autoridades egípcias sem passaporte, sem meu visto de
trabalho, usando quilos de maquiagem e glitter nos lábios? Agora esse homem
resolve abrir o meu tampão?
Rios de suor começam a escorrer pelo meu rosto vermelho
enquanto o policial brinca com o tampão fechado. Como eu poderia explicar o que
é um tampão pra ele? Batom? Não. Um cotonete gigante? Não. Caneta com tinta
invisível? NÃO!
Então, nem na hora, uma horda de baratas voadoras invadiram
o posto de inspeção provisório e pousaram em cima da gente. É sério. Foi como
uma cena saída diretamente de um filme de terror, mas era uma benção
disfarçada. Minha reação pra-lá-de-enlouquecida com as baratas, que consistiu
basicamente em gritar, pular e sair estapeando tudo a minha volta (inclusive um
dos policiais), distraiu completamente a atenção dos policiais dos tampões!
Nada disso foi calculado, deixe-me deixar isso claro. Eu realmente tenho uma
fobia incontrolável com baratas. Ela é tão forte que eu me mudei do meu
primeiro apartamento no Cairo porque eu vi uma barata no banheiro. E isso foi
só depois de uma semana morando lá! Eu perdi o que já havia pago de aluguel, de
depósito de garantia, E uma conta de luz que não era nem minha. E eu não liguei
a mínima!
Por mais loucas que as coisas sejam no Egito, tudo parece
dar certo no final. Se não fosse por essas baratas, o policial teria aberto o
tampão e começado e me fazer perguntas sobre ele. E isso NÃO teria sido legal.
Ao invés disso, os policiais se divertiram com a minha reação às baratas, e
pelo fato de eu falar árabe. Eu acho que eu gritei algo como “Ó meu Deus! Eu
vou morrer! Me tirem de perto dessas baratas #&$@?&%@!” em árabe. Eles
riram a beça, e depois me disseram que não acreditavam que eu era americana. Eu
jurei para eles que era, mas eu não estava com o meu passaporte para provar.
Nem nenhum tipo de identificação (o que foi muito estúpido da minha parte).
No final das contas, trocamos algumas cordialidades e os
policiais me deixaram ir. Você pensaria que isso me ensinaria a manter meus
tampões FORA da minha mala de dança do ventre. Mas NÃÃÃÃÃO! Eu tenho que
cometer o mesmo erro de novo e de novo e de novo. Até que...
...Ladrões Roubam o Meu Dinheiro e Abrem os Meus Tampões!
Isso é mesmo patético, mas meu dinheiro já foi roubado da
minha mala de dança do ventre em 3 ocasiões enquanto eu estava me apresentando
no Cairo. Eu sei, é minha culpa por ter deixado o dinheiro lá. Mas a parte
engraçada é que TODA VEZ que roubam o meu dinheiro, eu acho um dos meus tampões
aberto! Nunca falha.
Isso leva a todo tipo de pergunta. Primeiro, por que o
ladrão deixaria algum indício de que a bolsa foi mexida? Segundo, era mesmo tão
importante que ele satisfizesse a sua curiosidade abrindo um dos tampões ao
invés de só pegar o dinheiro e ir embora? Terceiro, depois que ele já abriu o tampão, e não tinha a menor
idéia do que se tratava, porque não simplesmente o jogou fora para não deixar
pistas de que alguém mexeu na mala?
Eu não consigo responder nenhuma dessas perguntas, mas posso
dizer que essas experiências mostram a extensão da desinformação dessas pessoas
sobre educação sexual. Meu instinto me diz que isso não é bom, mas não vou
dizer nada sobre isso. Eu só espero que esse país passe por algum tipo de
“revolução sexual” além da grande revolução pela qual ele supostamente está
passando.
Além de informativo, adoro estas cartas pois, são muito divertidas, rolei de rir.
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