terça-feira, 27 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - Ser uma bailarina de dança do ventre no Egito


Quarta-feira, 9 de maio de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha   


foto por Tracey Gibbs

“Nós somos todos estrelas, e nós merecemos brilhar” – Marilyn Monroe

Luna do Cairo é uma bailarina de dança do ventre americana, originalmente de Brookling, Nova Iorque (ela estudou em Harvad!) e tem vivido no Cairo nos últimos 3 anos. Ela é contratada do Nile Memphis no Cairo (Memphis Tours Nile Cruises).

Luna estará presente no próximo Festival Egípcio Salamat Masr (de 5 de julho à 12 de julho de 2012), ensinando ao lado de famosas estrelas egípcias da dança do ventre como Mona El Said, Zizi Mostafa e Najwa Fouad.

Ela tem um blog polêmico: Kisses from Kairo. Onde você pode ler sobre as suas experiências como bailarina estrangeira de dança do ventre no Egito, sobre algumas diferenças culturais e – como ela mesma diz – seus erros, reflexões e sucessos!



IZ – Quando e por que você decidiu começar uma carreira como bailarina no Egito?

LC – Na verdade, eu nunca tive a intenção de começar uma carreira como bailarina no Egito. Meus objetivos eram bem mais modestos do que isso. Eu vim para cá em 2008 por conta de uma bolsa de estudos para pesquisar as origens da dança do ventre e o seu desenvolvimento ao longo da história. Claro que eu também queria aprender o máximo possível da dança. Aos poucos as pessoas começaram a me chamar para alguns shows. Eu concordei em tentar. Primeiramente, antes de eu conseguir um contrato, eu dançava 2 ou 3 vezes por semana nos resorts das praias que ficam ao longo do Mar Vermelho, a duas horas do Cairo. E isso era OK na época, mas eu dançava durante uma hora ao som de CD ao ar livre, num chão duro que estragava os meus sapatos de dança. Era um trabalho duro, mas é tudo que há de trabalho para uma bailarina se ela não tem um contrato. Então eu trabalhava de bom grado. Então, um dia, alguém que acreditava em mim me levou para um teste no Nile Memphis. Eu passei no teste, e quando percebi, tinha sido contratada para dançar toda noite ao som de uma banda ao vivo.

“Eu aprendi que a dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que acontece. Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós estrangeiras tentamos alcançar ao vir para o Egito.”

IZ – Por trás do glamour dos shows e festivais, como é ser bailarina num país árabe? (Eu li no seu blog – você foi expulsa do seu apartamento por ser bailarina de dança do ventre)

LC – Ser bailarina de dança do ventre no Egito não é uma coisa fácil. 90% dos egípcios, incluindo as próprias bailarinas e músicos, acham que a dança do ventre é pecado, e que as bailarinas são prostitutas. Isso porque eles vivem numa sociedade conservadora e religiosa, segundo a qual as mulheres são proibidas de mostrar o seu corpo em público para os homens. E como essa profissão é tão vergonhosa por aqui, a maioria das bailarinas, incluindo eu mesma, esconde a sua profissão, ou então mente sobre o que faz. Se não fizermos isso, corremos o risco de sermos condenadas ao ostracismo pelos nossos vizinhos, proprietários, familiares etc. Como você mencionou, o meu proprietário me expulsou do meu apartamento quando descobriu que sou bailarina de dança do ventre. A irmã dele me viu dançando num hotel e contou para ele que a sua inquilina era bailarina. Logo em seguida ele veio me dizer que ele e sua família eram “pessoas de Deus”, e que eles não poderiam ter uma bailarina alugando o apartamento deles. Além de ele acreditar realmente no que estava me dizendo, ele também não queria correr o risco de que os vizinhos descobrissem que uma bailarina morava no apartamento dele, porque isso faria com que o seu apartamento ficasse com fama de puteiro. E então as pessoas o veriam como um cafetão. Era uma situação em que ele só tinha a perder.



IZ – Alguns anos atrás, as bailarinas egípcias de dança do ventre se rebelaram contra o influxo de bailarinas estrangeiras e convenceram o governo a parar de conceder permissão para as não-egípcias para dançar. Desde então, como é ser uma bailarina estrangeira no Egito?

LC – Bom, bailarinas estrangeiras têm menos oportunidades do que as egípcias. Como você mencionou, houve um momento em que o governo baniu completamente as bailarinas estrangeiras. Isso porque muitas bailarinas egípcias, Fifi Abdou era a mais importante, estavam ficando zangadas com as estrangeiras que estavam roubando o seu trabalho. Também nessa época, havia muitas prostitutas russas que se disfarçavam como bailarinas de dança do ventre. Então as egípcias queriam parar com isso, porque elas estavam perdendo trabalho. Agora as estrangeiras têm permissão para trabalhar no Egito, mas o processo de conseguir um contrato e a permissão do governo é difícil. Leva muito tempo, muito dinheiro e paciência. E só existem uns 4 ou 5 lugares com licença para contratar talentos estrangeiros. Se conseguimos um contrato, nós só temos permissão para dançar num único lugar, enquanto as egípcias podem dançar em tantos hotéis, barcos e cabarés quanto quiserem. Nós podemos dançar em casamentos e outras ocasiões privadas, mas, fora isso, temos esse limite de dançar apenas no lugar que nos contratou. Além disso, temos que pagar um monte de multas mensais e anuais, e impostos! Sem mencionar a comissão que pagamos aos nossos agentes. E então, tem o código de vestimenta. Tecnicamente, nós devemos usar roupas que cubram a barriga, mesmo que a cobertura seja transparente. A maioria das bailarinas as acha feias e irritantes, mas elas são previstas em lei. Então ser uma bailarina estrangeira não é nada fácil.  Não é impossível, mas não é mole não.



IZ – Quais são as coisas positivas de ser bailarina de dança do ventre no Egito?

LC – Tem muitas coisas positivas para se falar sobre ser bailarina de dança do ventre no Egito. Não há nada no mundo que se compare a poder se apresentar todo dia para um público egípcio, e ser acompanhada por alguns dos melhores músicos do mundo. Você também é responsável por todo o seu show. Você seleciona a sua música, faz a sua banda memorizá-la, você coreografa (ou não), você escolhe o figurino. E tem o reconhecimento da comunidade mundial de dança que você ganha por dançar no Cairo. É por isso que tem tantas bailarinas que gostam de dizer que dançam no Cairo, mesmo se isso não for verdade. Elas acham que pega bem para elas.

(...) “Haverá um tempo em que os egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar uma nova “Época de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.” (...)

IZ – Tem algum movimento, ritmo, progressão musical, elementos de etiqueta etc. que você não conhecia antes de vir para o Egito? Como a cultura egípcia te ajudou a entender melhor a dança do ventre?

LC – No meu caso, eu basicamente aprendi a dançar no Egito. Eu tive aproximadamente um ano de aulas em Nova Iorque, mas aprender de não-egípcios não é a mesma coisa que aprender dos egípcios, ou de estrangeiras que fizeram suas carreiras no Egito. Eu aprendi a maior parte da minha técnica aqui, e aprendi a como me expressar de um jeito mais egípcio. Além disso, aprendi a como ouvir a música. Como entender o que os instrumentos estão dizendo, e que tipo de movimento corresponde a cada um deles. Por último, eu aprendi que a dança do ventre não é algo que os egípcios “fazem”. É algo que acontece. Simplesmente flui livremente deles. E é esse estado que nós estrangeiras tentamos alcançar ao vir para o Egito.

Coleção Eman Zaki - Tracey Gibbs
IZ – Como você se sente sendo uma professora no Festival Internacional “Salamat Masr” ao lado de lendas egípcias como Najwa Fouad, Zizi Mostafa e Mona El Said?

LC – Estou extremamente animada por estar ensinando e dançando ao lado de estrelas como Mona El-Said, Nagwa Fouad, Zizi Mostafa, Hassan Ali, Mohammed El-Hosseiny e Semasem e Joana. São todos artistas tão talentosos e dedicados, e eu me sinto honrada por participar de um mesmo evento que eles. E eu preciso dizer, Salamat Masr é um dos melhores festivais do mundo. O Sr. Hassan Ali é um verdadeiro artista, que juntou todos aqueles que deveriam estar ensinando em festivais todos esses anos, mas talvez tenham sido excluídos pela falta de profissionalismo e politicagem de outros grandes festivais. A maioria desses artistas tem realmente experiência de dança no Cairo, o que é uma credencial muito importante. Então, estou animadíssima com esse festival, como você pode imaginar!

Salamat Masr 2012

IZ – Quem você considera como um professor “máster”? Por que?

LC – Tem muitos artistas que eu considero como professores máster. São principalmente aqueles que têm uma carreira de verdade no Cairo. Tanto egípcios quanto não-egípcios. Existem algumas coisas que você não tem como aprender ou ensinar se você não tem experiência de dançar com música egípcia ao vivo com alguma regularidade. O palco, a música, o público e a experiência são os melhores professores. Então alguém que tenha tudo isso é, para mim, máster.

foto por Tracey Gibbs
IZ – Quem você considera uma lenda eterna? Por que?

LC – Fifi Abdou. Ela é a minha bailarina egípcia favorita, e é conhecida apropriadamente aqui no Egito como A Rainha da Raqs Sharqi. A sua dança é transformadora, poderosa, ousada, linda e feminina. E ela influenciou gerações de bailarinas.



IZ – O que você acredita que é o futuro da dança do ventre egípcia nos próximos anos?

LC – Eu acho que com a crise econômica e social pela qual o Egito está passando, a dança do ventre vai passar por maus bocados. A nova onda de conservadorismo religioso já teve um impacto negativo no cenário da dança, e eu acho que isso só vai piorar com o tempo. Eu gostaria de poder ser mais otimista, mas a realidade não me deixa. Entretanto, haverá um tempo em que os egípcios irão reivindicar a sua dança e cultura, e talvez inaugurar uma nova “Época de Ouro” da dança do ventre. Só uma fantasia.

Luna no Nile Memphis
IZ – Como você vê o seu futuro como bailarina no Egito?

LC – Se a situação no país permitir, eu gostaria de pensar que tenho um futuro brilhante como bailarina de dança do ventre no Egito. Eu trabalhei muito duro desde que fui contratada no ano passado, e fiz numerosas apresentações em eventos para a nata corporativa, assim como na TV egípcia. Então estou otimista com relação a isso. Eu sou grata por tudo o que Deus me proporcionou até agora, e estou pronta para o que quer ele coloque no meu caminho.

Você pode ler a entrevista original (em inglês), assim como outras entrevistas com outras bailarinas aqui.  



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Livro do Mês - Filae - O último templo pagão



Depois de sugerir um livro extremamente pesado e controverso, nesse mês resolvi pegar leve e sugerir uma leitura um pouco mais suave. Filae - O último templo pagão conta a história de Filae (claro), um templo que pode-se visitar até hoje no Egito. O templo (a verdade, um complexo de templos dedicado a Ísis), que data do Egito antigo, ficava numa ilha com o mesmo nome, pouco antes da primeira catarata do Rio Nilo, mas como a ilha foi submersa por causa da construção da barragem de Assuã, o templo foi todo desmontado e reconstruído numa ilha próxima, chamada Agilkia.

Nesse livro, Christian Jacq (o mesmo autor da já sugerida saga de Ramsés) narra o final da vida no templo. A história é triste, pois envolve a morte de uma tradição milenar, e você vê a perseguição pela qual os últimos sacerdotes (e sacerdotizas) passam. Inclusive, dá para fazer um paralelo dessa morte e dessa perseguição com a dança do ventre no Egito hoje... é sempre muito triste de ver.

Capa da edição traduzida para o português, infelizmente ainda não há versão de bolso...
Mas o livro é lindamente escrito, como sempre porque Christian Jacq é maravilhoso, e tudo o que ele fala sobre o antigo Egito é tão poético que dá vontade de viajar no tempo e viver perto dos faraós. É tudo tão bonito e triste que não dá vontade de parar a leitura até chegar na última página!

Para bailarinas de dança do ventre, o interessante é ver as descrições do Egito Antigo, dos seus rituais, roupas, e como a mulher era vista, em contraste com a cultura cristã que vem substituindo a cultura milenar dos deuses egípcios ao longo do livro. E é interessante também, caso você possa ir no Egito, visitar Filae, pois um dos seus templos, que é dedicado a Hathor, têm muitos afrescos relacionados à dança... de ponta a ponta são mostrados egípcios com seus instrumentos e dançando... é lindo! E dá para reconhecer diversos antepassados dos atuais instrumentos árabes! É tudo de bom! Pena que o livro não seja ilustrado... seria ainda mais imperdível!

Aguém já leu esse livro? Ou então já visitou Filae? Compartilhe suas impressões com a gente!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - O Grande “M” Amarelo



Sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha    

Sim, eu estou falando daquele M. McDonalds. O lugar que nenhum americano viajando pelo exterior e com algum respeito por si mesmo seria encontrado, nem morto. Nós, americanos que viajamos pelo exterior, sofremos de uma espécie de “complexo do McDonalds”. Somos dolorosamente conscientes de que o resto do mundo nos vê dentro de um estereótipo de provincianos, sem experiência de viagens, caubóis sem cultura que só sabem falar a sua própria língua e que só comem fast food. Então, para provar para o mundo (e nós mesmos) do contrário, uma das coisas que evitamos é comer no Mcdonalds. Mesmo que seja para o nosso próprio bem.

Eu sou uma dessas americanas que sofre do complexo do Mcdonalds. Não só porque comer no McDonalds é um indício de mentalidade estreita, mas por causa de tudo que a fast food passou a simbolizar ao longo dos anos. Especialmente aqui no Oriente Médio. Sendo uma das maiores corporações do mundo, é um símbolo da hegemonia econômica e cultural americana. E, portanto, não é de admirar que os restaurantes do McDonalds se tornassem um dos alvos favoritos da violência antiamericana no mundo árabe.

Tendo isso em mente, eu tento evitar comer no McDonalds quando estou aqui no Egito, ou em qualquer outro lugar, em se tratando desse assunto. Não só pelo o quê simboliza, mas também porque é uma comida ruim. E eu gosto de experimentar as comidas locais. Isso sem mencionar que eu nunca comia no McDonalds quando eu estava morando nos EUA. Então porque eu iria adquirir esse hábito agora que estou morando no exterior?

PORQUE EU JÁ PERDI A CONTA DE QUANTAS VEZES EU TIVE INTOXICAÇÃO ALIMENTAR DESDE QUE COMECEI A VIAJAR 8 ANOS ATRÁS, TUDO PARA NÃO SER UMA AMERICANA IGNORANTE E FREQUENTADORA DO MCDONALDS!

Até agora, eu consegui ter uma intoxicação alimentar em quase todos os países que visitei. O último foi a Polônia. Eu sempre sonhei em conhecer a Polônia desde que comecei a estudar a Segunda Guerra Mundial no colégio. Então quando surgiu a oportunidade de ensinar no Suraiya and Mansour’s Euro Raks Festival na Polônia, eu aceitei de bom grado. Mas assim que saí do avião, comi algo que não devia, e antes que eu percebesse já estava correndo atrás de um banheiro.

O que aconteceu é que eu tive uma escala de 9 horas em Warsaw antes de seguir para a cidade de Katowice, onde o Euro Raks Festival estava acontecendo. E com todo o meu entusiasmo turístico, eu perambulei pela cidade até chegar a hora da minha conexão. Admito que não falo nem uma palavra de polonês, e que não sabia nada sobre os lugares que estava visitando, mas não importava. Eu estava feliz só de sentir o ar frio, fresco da Polônia, e de ver cores tão vívidas a minha volta, especialmente o verde! (Faz um tempo que não vejo essa cor.) Eu estava especialmente intrigada com a arquitetura... e as igrejas! Eu não sou religiosa nem nada, mas ver as igrejas me deu uma sensação de calma que eu não sentia há tempos. Era uma sensação tão boa que eu quis intensificar ainda mais entrando em uma das igrejas. E como foi intenso. Sem nenhuma razão aparente, de repente comecei a chorar copiosamente. Eu não sei por qual razão estava chorando. Ou porque, de todos os lugares, eu estava chorando na Igreja de São João Batista na Polônia. Especialmente se levar em consideração que eu não chorava há muuuuuuuuuuito tempo. Era a primeira vez que eu pisava numa igreja depois de muitos anos, entretanto. Talvez tenha a ver com isso.

De qualquer forma, eu me recuperei e continuei andando pela linda cidade até que senti fome. As coisas foram ladeira abaixo a partir desse ponto. Tinha um grande “M” amarelo bem na minha frente. Me chamando. Ah, se eu soubesse. Ao invés disso, resolvi comer num restaurante polonês, e corajosamente pedi sopa de ervilha com uma porção de kielbasa, e bolinhos de espinafre com queijo. Eu normalmente não como porco. Não por razões religiosas, mas porque eu não gosto muito. Mas, bem, o que seria de uma viagem à Polônia sem kielbasa? E qual é a graça de sair do Cairo sem aproveitar para fazer todas as coisas não dá pra fazer lá, como comer porco, tomar cerveja, e andar por aí seminua? Então a infiel dentro de mim pediu porco.

E então, Deus me puniu. Ele me mandou direto para as entranhas do inferno – ou melhor dizendo, mandou o inferno direto para as minhas entranhas! No banheiro do avião da minha conexão para Katowice, claro. Se você nunca passou por isso, deixe-me ser a primeira a te contar que não há nada pior do que ter diarreia a 9 mil metros de altura. Se já é ruim o suficiente NO nível do mar, imagine numa altura dessas!

E para a minha sorte, a intoxicação alimentar foi ficando cada vez pior ao longo da noite até o dia seguinte, no qual eu estava escalada para dar aula. Eu estava completamente desidratada, com dores, exausta e com fome, comecei a pensar em trocar de lugar com alguém que daria workshop em algum outro dia. Parecia simples, mas aparentemente teria sido um pesadelo logístico. Então eu tinha apenas uma escolha: ou cancelar a aula e perder a oportunidade, ou dar a aula de qualquer jeito, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse. Escolhi a segunda opção. Sendo os anfitriões magníficos que eles são, Surayia e o seu marido me entupiram de Stoperan, ou “rolha” como eu gosto de chamar (:D), um remédio para diarreia muito comum na Polônia. Eu tomei tanto quanto era humanamente possível, esperando que o meu problema fosse resolvido antes da aula.

Não tive sorte. Na verdade, eu acabei por vomitar uma hora antes da aula. Nessa hora, qualquer pessoa em sã consciência teria provavelmente cancelado o workshop. Mas eu não. Entrei no banho (de novo), taquei maquiagem na cara e arrestei a minha bund@ para a aula.

O que aconteceu logo depois foi uma espécie de milagre. Consegui ensinar minha entrada super energética com sucesso, para uma sala cheia de lindas, talentosas e notáveis jovens mulheres. Elas já tinham ouvido falar que eu estava doente, então elas souberam ser pacientes comigo. Elas até me levaram uma bandeja cheia de cookies, e brincaram sobre a ironia de eu sair do Cairo para ficar doente na Polônia! Entre os cookies, a bondade e as gargalhadas delas, eu consegui ir até o final da aula, não obstante as tonturas. Louvado seja o Senhor que me puniu por ter comido porco! :D

Moral da história. Eu deveria ter comido no McDonalds. Tem vezes que vale a pena ter mentalidade estreita, provinciana e sem-vergonhadamente americana, e seguir com o já conhecido, testado e aprovado. Especialmente quando as alternativas incluem fois gras (gansos forçados a comer), kielbasa, wienerschnitzel, mumbar (intestinos recheados), cérebro de boi frito, testículos de boi fritos... Apesar dos pontos negativos, pelo menos você sabe o que esperar no McDonalds. E você nunca vai passar mal por comer um Big Mac (a não ser que inclua ratos! >D). Sensação de culpa, sim. Intoxicação alimentar, não.

Essa experiência me ensinou mais uma coisa. Localizar o McDonalds mais próximo quando estiver visitando um país estrangeiro é tão importante quanto saber onde fica a embaixada americana. Em momentos de crise, ambos podem ser os salvadores da pátria. Na verdade, eu acho isso tão importante hoje, que acho que pequenos “M” amarelos deveriam ser marcados nos mapas turísticos junto com os museus, igrejas e hospitais. :)

E realmente, eu me lembro especificamente de outra ocasião em que um McDonalds teria caído muito bem. Foi quando eu estava num hospital na Síria 5 anos atrás. Só que não há McDonalds na Síria.

No final da minha estadia de 2 meses para estudar em Damasco, eu visitei a família sírio-americana de um ex-namorado meu em Idlib. Eu não me lembro o que comi, mas deve ter sido algo muito ruim, porque a próxima coisa que me lembro é que eu estava num hospital com febre, completamente desidratada e delirando depois de 24 horas de diarreia contínua (com banheiros turcos, para tornar a situação pior). O médico me informou que minha única opção era tomar uma injeção com uma agulha absurdamente grande e não-descartável no traseiro. Percebendo o pânico no meu rosto, ele me empurrou para que eu ficasse de lado e me segurou para dar a injeção. Só que eu resisti. Nós continuamos a nos empurrar e a nos bater até que as irmãs do meu ex, que estavam vendo o que estava acontecendo, se sentiram mal por minha causa e me arrastaram para o banheiro (que também era estilo turco).

Sem querer correr o risco de pegar AIDS por conta daquela agulha, a única coisa que me restava era induzir o vômito para tirar o estava me envenenando do meu corpo. Fácil de falar. Eu nunca tinha feito isso, e estava com medo de tentar. Então as irmãs dele me ofereceram os dedos delas! Hum, não... apesar de apreciar o gesto. Como eu queria acabar com o problema o mais rápido possível, coloquei 2 dedos na garganta e consegui, na frente de duas mulheres. Nojento e vergonhoso.

Aqui no Egito, é fácil arranjar uma intoxicação alimentar também. Apesar de o culpado ser geralmente a água. Mas como nunca bebo água da bica, e quase sempre cozinho, eu normalmente não fico tão doente como costumava ficar quando visitei o Egito pela primeira vez 7 anos atrás. Além disso, devo ter ficado imune a mais coisas do que posso imaginar. Aqui eu nunca nem menciono a palavra McDonalds, a não ser como ponto de referência, ou um lugar onde marquei de encontrar alguém na frente.

Ok, ok. Isso não é totalmente verdade. Admito que de vez em quando sinto um tipo de “desejo” por um Big Mac. Mas eu acho que isso significa que estou com saudades de casa. Não porque eu comesse isso em casa. Mas porque é um símbolo de tudo o que é americano, é como se eu tivesse comendo um pedaço da própria América. Isso, além de soluçar toda vez que escuto Whitney Houston, Celine Dion, ou Madonna tocando num taxi ou num café, é certamente um sinal de que você está com saudade de casa e algo precisa ser feito com relação a isso. :)

A melhor coisa do McDonalds aqui no Egito, entretanto, é que eles fazem entrega – na sua mesa e na sua casa! Não é exatamente fast food, já que serviço é bem lerdo, mas tudo o que você precisa fazer é pedir no caixa, escolher um lugar e esperar um garçom trazer a sua comida. Ou então, telefonar pra um número especial do seu celular, e esperar o entregador do McDonalds trazer o seu McLanche Feliz numa motocicleta vermelha especial. A McMotor. ;)

E eu não acredito que acabei de escrevei um post inteiro sobre o McDonalds. Eles deviam me pagar por isso!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Diário de Viagem - TURQUIA – 6° dia – Konya e Capadócia


Acordamos às 5 horas da manhã, pois precisávamos fechar as malas, tomar banho e um belo café da manhã, pois passaríamos praticamente todo o dia dentro do ônibus, que saía às 7h da manhã, na maior “perna” da nossa viagem.

Infelizmente o café da manhã não foi ao ar livre (como eu gostaria, afinal o jantar havia sido maravilhoso), e a comida era muito simples mesmo, o que era de se esperar pela estrutura do hotel. Mas o que eles tinham era gostosinho. Como fui antes do Caike para o salão, me sentei perto do Buffet, para garantir que ele me acharia com facilidade, e confesso que fiquei me divertindo enquanto esperava vendo as pessoas tentarem usar a máquina de café/chá/chocolate quente. A máquina tinha uma quantidade realmente grande de botões e duas saídas para os líquidos, então invariavelmente as pessoas erravam e perdiam parte da sua bebida ou faziam lambança.

Terminando o café fui para o ônibus, só para descobrir que tinha tanta gente indo embora no mesmo dia e na mesma hora que parte das malas do nosso grupo (incluindo as nossas) simplesmente ainda não havia chegado. Algumas pessoas ficaram muito preocupadas, achando que elas poderiam ter ido parar em outro ônibus, mas no final deu tudo certo, elas só demoraram mais a chegar mesmo.

A previsão era de ficarmos pelo menos 4 horas e meia dentro do ônibus (sem contar as duas paradas técnicas programadas) até chegar a Konya, a capital espiritual da Turquia. Na primeira parada técnica aproveitamos apenas para ir ao banheiro, pois dormimos direto, com direito a música sufi de fundo, que a nossa guia colocou justamente para a galera poder descansar mais um pouco. Na segunda parada técnica fizemos um lanche/almoço. Paramos num tipo de restaurante, mas que só serve lanchinho, e comemos um prato típico da região: bidê (se fala bidê mesmo!), conhecido também como pizza turca, mas que também lembra uma esfirra aberta. O prato tinha 3 sabores disponíveis: carne, queijo ou misto, e sem saber que a carne era apimentada pedimos o misto, o que foi um erro, pois foi difícil de comer e como eu pedi um chá que veio muito doce, a bebida não ajudou a aliviar o ardido da pimenta.

Vista do Castelo de Algodão ao caminho de Konya...
Aproveitamos novamente para ir ao banheiro, só que o lugar era tão grande que eu me perdi. O inglês tosco dos funcionários também não ajudou em nada. A única vantagem é que eu não paguei para entrar no banheiro, pois entrei pelo lado errado (desconfio que era a entrada dos funcionários) e não passei pelo controle.

Saindo do restaurante e voltando para o ônibus, nossa guia começou a nossa aula sobre o interior da Turquia e o Sufismo, tão presente e importante nessa região. O Sufismo é o lado místico do islamismo e durante muitos anos (e em alguns países até hoje) ele foi proibido por ser considerado uma heresia (no caso da Turquia acredito que ele tenha sido banido pelo Ataturk porque era considerado uma ameaça à laicidade do estado). O Sufismo tem diversas vertentes diferentes, mas na Turquia é muito associado ao poeta e mestre Rumi, que apesar de ser persa e ter nascido numa região que hoje pertence ao Tadjiquistão, ele morou a maior parte da sua vida em Konya, e foi lá que ele escreveu todas as suas obras de importância. Mevlana Jalal ad-Adin Rumi, viveu no século XIII e sua obra influenciou o mundo todo. A maior parte dos grandes pensadores que vieram depois dele leu sua obra e foi influenciado por ela de alguma forma.

Outro personagem importante no folclore dessa região é o famoso Nasrudin, que apesar de ter histórias absolutamente folclóricas, foi um personagem real. Suas anedotas são mundialmente conhecidas e ele encarna o papel do sábio tolo, que assim como o bobo da corte medieval, se utiliza de sua própria tolice para dizer a verdade que ninguém tem coragem de dizer. Mestre Nasrudin também é utilizado no sufismo, onde através de suas anedotas e histórias engraçadas são passados diversos ensinamentos (a tradição oriental sempre foi muito baseada em histórias, e os ensinamentos são passados diversas vezes de forma oral, através de histórias curtas e anedotas).

Para amenizar a chatice do ônibus, nossa guia, Tina, passou as horas depois do almoço contando histórias dele, o que tornou a viagem até Konya muito mais interessante e divertida. Mas chegando a Konya, nós fomos visitar o a escola criada por Rumi, que é mais conhecido por suas poesias, especialmente as de amor.

A escola de Rumi hoje é um museu, e peregrinos sufis e muçulmanos do mundo inteiro vão até lá para rezar no seu túmulo. Com um ambiente agradável e um lindo jardim em torno das construções, hoje se visita o seu túmulo como se fosse mesmo um museu. Seu imenso caixão de pedra, coberto por um tecido verde, fica numa grande sala, juntamente com os caixões de outros mestres e sufis proeminentes, e todos têm turbantes em cima, e o tamanho do turbante indica a importância do morto. Por ser um local de peregrinação, apesar da quantidade imensa de pessoas visitando o museu, a sala permanece em silêncio. É proibido tirar fotos (apesar de algumas pessoas tirarem mesmo assim, especialmente os chineses e japoneses), e muitos aproveitam para orar o mais perto possível de Rumi, e outros aproveitam para orar para as diversas relíquias que também estão dispostas no local.

Museu Rumi
Nos antigos quartos destinados aos sufis que viviam ou visitavam a escola, hoje há uma exposição sobre a cultura sufi, suas vestimentas, hábitos e instrumentos musicais. Ah, sim, os sufis são muito conhecidos pela sua música, e Rumi fundou uma das ordens sufis mais conhecidas do mundo: a ordem dos dervixes rodopiantes. Rumi criou um ritual onde alguns sufis tocavam música, enquanto outros entravam em estado meditativo e em êxtase rodopiando sem parar, tudo sob a tutela de um mestre, que conduz a cerimônia, chamada de Sema na Turquia. Aliás, é dessa cerimônia que deriva a dança egípcia Tanoura.

Nays - flautas de madeira muito usadas na música sufi
Rababas - uma espécie de violino antigo, também muito presentes na música Sufi
Kudum - um dos instrumentos de percussão usados pelos sufis
Infelizmente nossa visita ao museu foi muito curta, e não pude meditar perto do túmulo de Rumi. Além disso, precisei ir ao banheiro, que tinha uma fila simplesmente gigantesca, e acabei também não podendo aproveitar o jardim do museu... pelo menos na saída consegui comprar uma das obras de Rumi que é muito difícil de encontrar.

O jardim do museu
Um exemplo da sua poesia:

Seja como o sol pela graça e misericórdia
Seja como a noite para cobrir as faltas dos outros
Seja como a água corrente pela generosidade
Seja como a morte para a raiva e o ódio
Seja como a terra pela modéstia
Pareça ser aquilo que você é
Seja aquilo que você parece ser

É ou não é apaixonante?

Aproveitando o clima do museu, nossa guia, Tina, aproveitou para ler alguns dos seus poemas durante o resto da viagem para a Capadócia. Dessa vez, fizemos apenas uma parada técnica antes de ir para o nosso hotel. Nessa parada aproveitamos para lanchar, eu e o Caike pedimos uma tost (um tipo de sanduíche na chapa), e eu pedi minha bebida turca favorita: o ayran. O serviço do lugar era muito confuso, e foi complicado conseguir o nosso lanche. Quando a Tina me viu com aquele copo de iogurte na mão ela comentou que eu estava realmente parecendo uma turca, visto que a maioria dos turistas não gosta dessa bebida salgada.

Chegando na Capadócia, pela primeira vez o grupo se dividiu, pois parte do grupo havia pago o adicional para ficar no hotel da caverna, enquanto os outros ficariam num hotel comum. Por isso aqueles que ficariam nos hotéis das cavernas (um grupo de paulistas escolheu um hotel diferente daquele sugerido pela agência de viagens, apesar dos hotéis serem um do lado do outro) seguiram viagem numa van, enquanto o resto seguiu no ônibus junto com a guia e Selim, nosso motorista.

A Capadócia vista do nosso hotel
Agora vou dizer uma coisa: valeu cada centavo o extra que pagamos pelo hotel na caverna. É o hotel mais chique que já fiquei ou vi ao vivo. Era tão chique que fomos recebidos com uma linda bebida gelada feita com especiariais! O hotel em si era uma atração! Encravado numa montanha, com absolutamente todos os cômodos feitos de pedra, o hotel era um luxo só! E não só na construção e na vista simplesmente divina, mas também nos detalhes, tudo dentro do hotel era lindo. Ele era bem decorado, o serviço impecável, e o quarto... nossa! O que era aquilo! O banheiro era gigantesco e tinha uma jacuzzi imensa para duas pessoas e um chuveiro daqueles bem modernos, com jatos de água saindo das paredes.

A recepção do nosso hotel
Fomos recebidos com uma bebida gelada a base de especiarias que era uma delícia!
A decoração do hotel era uma atração à parte, e atrás do hotel vemos as antigas cavernas usadas por séculos pelos moradores da região
Como ainda tínhamos que jantar antes do show da dança que assistiríamos a noite, tomamos banho no chuveiro modernoso, o que foi uma experiência muito interessante, pois ajustar os jatos para eles baterem nos locais certos o não na sua cara não é uma tarefa tão simples assim. E como eu e o Caike temos alturas muito diferentes, cada um precisou ajustar o chuveiro para si.

Apesar de termos combinado com outras pessoas que estavam na nossa excursão para jantarmos juntos, quando chegamos no local combinado não havia ninguém, e como na espécie de barzinho aberto estava muito quente e ventava muito, resolvemos jantar no restaurante do hotel. O cardápio era extremamente variado e não era proibitivo, apesar do restaurante ser absurdamente chique. Eu pedi um kebab (todo prato com carne se chama kebab na Turquia) ao molho de iogurte com ervas e purê de berinjela, que estava tão divino que nem dá para descrever. O Caike pediu um prato típico turco: o kebab de pote. Esse prato tem uma apresentação realmente única: o kebab é cozido dentro de um pote de barro, que precisa ser quebrado para se servir da carne feita no molho de tomate e especiarias. É realmente algo bonito se ver, apesar de eu ter preferido o sabor do meu prato.

Nosso jantar super chique! Repare no pote de barro no prato do Caike
Terminando o jantar, encontramos os demais turistas para pegar o nosso transfer para o show de danças típicas no Harmandali. O transfer era uma van muito modernosa, cheia de luzes coloridas por dentro e o interior imitava madeira. A idéia era ser chique, mas o resultado não era bem esse.
Euzinha na entrada do Harmandali
Eu fiquei super feliz por ter conseguido ir nesse show, pois a estrela da noite não é ninguém menos do que a nossa carioquíssima Clara Sussekind! Eu já conhecia o trabalho da Clara há muitos anos e sempre fui fã, mas desde que ela foi para a Turquia eu só pude vê-la uma vez, e para variar ela havia arrasado no show. Como eu poderia ir à Capadócia e não ver a mais famosa bailarina de dança do ventre atualmente na Turquia??? Até a nossa guia (que a conhece pessoalmente) contou que os turcos vão à Capadócia só para assisti-la. E agora ela vai fazer o maior sucesso por aqui também por conta da nova novela da Globo, onde ela aparece dançando...

Enfim, chegamos ao Harmandali, que é na verdade um restaurante com show de danças. O salão onde acontece o show é uma grande arena que lembra um ouriço, pois ao redor da arena tem corredores amplos com níveis onde eles colocam as mesas para as pessoas assistirem o espetáculo. Nesse restaurante se apresentam a Clara e uma companhia de danças folclóricas turcas. E nós ficamos bem de frente para a entrada! O lugar perfeito para ver o show!

Durante o show, os espectadores são servidos com pratos de frutas e alguns petiscos, para serem consumidos à vontade, além de bebidas de todo tipo, tudo à vontade também (incluindo bebidas alcoólicas), eu aproveitei para tomar Raki, um tipo de cachaça feita de anis, conhecida no mundo árabe como arak e na Grécia como uzo.

A nossa mesa ainda desfalcada do pessoal que não ficou no hotel da caverna
A primeira dança foi uma dança da companhia de danças folclóricas, e era uma dança típica de casamento (ou assim pareceu rsrsrsrs), teve muito interação com o público, pois foi escolhida uma mulher da platéia para ser a “noiva” e então ela precisava escolher entre homens (também da platéia) qual seria o “noivo”. A brincadeira teve direito a fazer o público dançar em roda e tudo o mais, os turcos sabem fazer um show!

A dança de casamento
Antes da interação com o público rolou algo parecido com dabke, mas era mais suave...
Depois veio uma apresentação de uma dança de roda, de homens e mulheres, que eu classificaria como dabke turco, pois é feita em linha e a pessoa que está na ponta vai puxando os passos para os demais seguirem segurando um lenço. No final novamente o público foi chamado a participar da roda, e eu fui dançar cheia de raki nas idéia... e a dança turca, assim como o dabke árabe, exige muito das pernas, com muitos agachamentos... novamente foi muito divertido. Em seguida entrou a nossa querida Clara numa tanoura... ah, que coisa linda que é vê-la dançando e rodopiando... fiz questão de filmar!

Esse sim seria o dabke turco, com muito trabalho de pernas e marcação de ritmo!



Logo depois entraram novamente as mulheres do grupo de dança folclórica, interpretando a dança cigana turca! Gente, eu não curto dança cigana, mas amo a dança cigana turca de paixão! Que coisa linda e forte! Adoro os seus movimentos de força pélvicos, a forma como elas batem no próprio corpo e suas expressões! E essa apresentação foi longa, pois depois entraram os homens, fazendo uma dança cigana mista, seguida da representação de um duelo entre ciganos! Eu mencionei que os turcos sabem fazer um bom espetáculo?

Dança cigana turca
Adorei o chapéu cigano dos bailarinos
Depois de toda a emoção, veio um pequeno intervalo, com direito a salsa de música ambiente, e um casal jovem e muito sem noção resolveu se exibir... coisa mais desnecessária... a menina estava um pouco sem graça, mas o rapaz queria mostrar como ele era bom e podia passar a mão na bunda da menina, que estava com uma saia curta digna de baile funk... o grupo deles aplaudiu muito, mas o resto dos espectadores estava meio sem graça. Quando eles se sentaram, um casal de senhores (de uns 60 anos) resolveu mostrar o que é dança de salão de verdade... e gente, que diferença! Tão elegantes... era realmente uma dama e um cavalheiro dançando... lindos de morrer! Foram muito mais aplaudidos.

Depois do intervalo, o show recomeçou com uma apresentação do grupo de dança folclórica, uma apresentação muito feia e ruinzinha de dança do ventre (as bailarinas desse grupo não eram muito boas... sabe bailarina que “não entra em cena”? Fica repetindo mecanicamente a coreografia pensando em outra coisa? Agora acrescente uma técnica visivelmente ruim). E logo depois delas entra novamente a Clara! Não teve para ninguém! Nossa brasileira arrasou com uma linda dança dos 7 véus, seguida de espada, solo de derbake e dança cigana! Clarinha ficou 20 minutos em cena, e saiu com o público pedindo mais!

Uma das coisas mais estranhas que eu já vi... o shimmie delas era de pé! Sério, ao invés de usar os joelhos ou quadril elas usavam mini saltinho para fazer shimmie... algo bem africano na verdade...





Em seguida voltaram as mulheres do grupo de dança folclórica com uma dança muito diferente, todas vestidas de branco e algo que parecia taças e pratos com velas nas mãos. Depois vieram os homens do grupo, para fazer o fechamento do show, e que despedida sensacional que eles fizeram! Foi o momento em que cada bailarino desafiava o outro a fazer algo ainda mais complicado! Esses homens têm pernas, meu deus! Em seguida abriu-se uma espécie de pista de dança, e adivinha o que tocou? Michel Telo!!!! E Conga!!! Eu não sabia se ria, chorava ou dançava.

Dança esquisita...
Resolvi que era melhor correr atrás da Clarinha para bater um papo rápido e tirar pelo menos uma foto com ela!

Eu e Clara Sussekind! Não é uma fofa?
O resto do pessoal do nosso hotel também não ficou muito animado com a pista, e logo estávamos todos de volta no transfer. Chegando ao hotel, e ainda animados com o show da noite, fomos para o tal barzinho ao ar livre do hotel para tomar um çay (chá), quando o sono bateu de verdade, fomos todos dormir... o dia seguinte também prometia!

sábado, 3 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - Lamba os meus pés



Domingo, 15 de abril de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha     

Esse post é para todos os caras, reais e virtuais, que já disseram que querem beijar, lamber, morder, massagear, chupar, lavar ou comer os meus pés. Caros senhores, sintam-se a vontade. Eu tenho OS pés mais nojentos do mundo. Pés de bailarina. Tem anos de balé e de dança do ventre sobre eles. (Tem alguns homens embaixo também! :O ). Na verdade, eles estão mais para ferramentas do que para pés. Eu tenho os dedos do pé em martelo, unhas encravadas, calos, bolhas, feridas, ossos quebrados, artrite prematura, pele morta e calcanhares permanentemente enegrecidos. Inchaços são comuns na minha família. Eu ando e danço descalça em superfícies que você não encostaria nem com uma vara de 3 metros. Meus pés são tão nojentos, que até a pedicure faz cara feia quando tiro meus sapatos. Na realidade, eles são tão indomáveis que eu desisti deles. Nem me dou o trabalho de pintar as unhas. Quem eu estaria enganando? Além disso, 90% dos esmaltes saem depois de um único show. Eu também não corto as unhas, mas também, elas parecem não crescer depois de certo ponto. Aha! Elas provavelmente são lixadas com todo o atrito que acontece quando danço em chão de madeira e de concreto. Eu ainda as limpo com freqüência, apesar disso não fazer a menor diferença. Elas ficam sujas novamente.

:D

Eu compenso o problema dos meus pés mantendo uma boa manicure. Unhas postiças de uma polegada da Kiss, Sally Hansen e Broadway. Elas não são vendidas aqui, então eu reponho o meu estoque toda vez que volto aos EUA para uma visita. Eu compro em torno de 6 a 7 caixas, que duram uns 6 meses. Unhas postiças não são exatamente a coisa mais saudável, mas adoro o comprimento que elas dão para os meus dedos.

A última vez que fui fazer compras de unhas postiças na CVS (N.T.: rede de farmácias famosa nos EUA), cruzei com uma prateleira de unhas dos pés postiças. Imagina só! Você pode fazer você mesma uma pedicure instantânea. Por um segundo eu pensei que elas poderiam ser a solução perfeita para os meus pés horrorosos. Mas no final das contas, decidi que não era uma boa ideia; tenho certeza que eles ainda não fazem unhas com o formato para “dedos em martelo”. E, dado o que acontece com as minhas unhas postiças, eu simplesmente sei que unhas dos pés postiças simplesmente voariam enquanto eu danço e aterrissariam dentro do prato de alguém. ;)~

Mas teve uma ocasião em que unhas dos pés postiças teriam caído muito bem. Foi depois de um show que eu fiz num clube da alta sociedade no Cairo. O senhor que me contratou, que já passava dos 80 anos, decidiu me dar um “feedback”, como bons expectadores egípcios sempre fazem. ;) Ele disse que tudo no meu show estava “berfeito”, exceto por uma coisa. “ A unha do seu dedo gande (ele quis dizer dedão do pé) é muito bequena. Bocê brecisa ter ela gande e pontuda, como as ladies de classe orientais tem”.

Meu deus do céu. O velhinho acabou de me dizer para manter unhas do pé grandes e pontudas! >*D

“Mas... POR QUÊ?!?” Perguntei a ele.

“Borque aqui no Iiiigito, uma lady não será de resbeito se ela não tiver uma unha cumbrida. As bessoas vão dizer que ela é de baixa categoria. Desculbe, mas bocê não quer que ninguém de chame de sharmoota. Então, bara a bróxima festa, inshallah bocê terá unhas dos dedos (i.e. do pé) gandes.”

Pára tudo.

O que o tamanho das unhas do pé tem a ver com as pessoas achando que eu sou prostituta? Se alguém pensa isso de mim é porque sou bailarina de dança do ventre, não porque as unhas dos meus dedões dos pés são “pequenas”!

E então respondi. “Sabe, de onde eu venho, é o oposto. Unhas dos pés grandes e pontudas é uma coisa de gueto. Além disso, não acho que seria confortável.”

Como sempre, eu não estava chegando a lugar algum com esse papo. Mas, bem, vocês sabem o que se diz. O cliente tem sempre razão. :D

Mas parando para pensar nisso, eu acho que o homem tinha mesmo alguma ponta de razão (piada proposital). Eu vi algumas unhas dos pés pontudas desde que me mudei para cá. Eu simplesmente nunca soube que era intencional, ou que era um símbolo de status! É uma dessas coisas que eu via e pensava “OK”, e então pensava em coisas mais importantes, como unhas dos mindinhos pontudas (e eu realmente quero dizer das mãos). De fato, uma das coisas mais curiosas no Egito é o fenômeno da unha do mindinho cumprida. Se você examinar as mãos de alguns homens egípcios, você vai reparar que eles têm pelo menos um dos mindinhos com unha cumprida. Eles mantêm todas as outras unhas curtas, exceto a do mindinho que salta pra fora, como uma lâmina de um canivete pequeno. Parece coisa de pirata, e meio que me lembra o Capitão Gancho. :)

Bom, eu nunca pesquisei de verdade sobre a utilidade dessas unhas de mindinho cumpridas, mas aparentemente também é algo disseminado por países da Ásia. Deixo isso para a minha imaginação. E até agora consegui pensar em: palito de dentes, para limpar o nariz, palheta, cotonete, abridor de cartas, arma, colher de chá, colher de cocaína...

Não importa o quanto eu tente, eu acho que nunca vou entender a unha do mindinho cumprida. E ela meio que me dá nojo, especialmente quando a vejo em homens bonitos. Quer dizer, quem quer imaginar um gato usando a sua unha do mindinho das formas que eu descrevi? Definitivamente brochante. Assim como dentes ruins, mau hálito, e os meus pés. :)

Falando neles, eu tenho certeza de que se mais homens vissem os meus pés, eles pensariam duas vezes antes de me assediar ou tentar me pegar no colo. Especialmente se eles os vissem logo depois de eu terminar um show. Como danço descalça, meus pés ficam grudados com todo tipo de sujeira quando termino de dançar. E como normalmente preciso sair correndo para outro show, não tenho tempo de lavá-los. Eu apenas coloco de volta as minhas meias, ou sandálias se for verão, e vou cuidar da minha vida. Tanto a parte de dentro das minhas meias quanto das minhas sandálias ficam pretas muito rápido, e eu acabo tendo de esfregá-las loucamente quando chego em casa. Eu tenho uma esponja especial para eles também. De jeito nenhum que eu usaria a mesma esponja no meu corpo e nos meus pés. Mesmo que eu a lavasse antes de usar no corpo. Porque pés têm o potencial para ficarem muito sujos, especialmente aqui, e é considerado um grande insulto se você sentar com as pernas cruzadas e a parte de baixo dos seus pés ficarem de frente para alguém. Se você fizer isso, você poderia muito bem também xingar a mãe dessa pessoa. Você está basicamente dizendo que ela é tão suja e baixa quanto os seus pés. Sapatos também são ofensivos nessa parte do mundo. Por isso o famoso caso do sapato sendo jogado em cima do George Bush no Iraque faz um tempo atrás. :) Apesar de ser censura-livre para a gente, “filho de um sapato” é um grande insulto por aqui. Assim como chamar alguém de sapato. Fica pior se envolver chinelos. “Shib-shib” em árabe egípcio. Dizer que você quer bater em alguém na cabeça com os seus shib-shib pode deixá-los realmente com raiva. :)

Eu nunca havia percebido quão ofensivos pés e sapatos podem ser até concluir o quão nojento os meus são. Seria simplesmente rude da minha parte deixar qualquer um ver os meus pés, ainda mais deixar colocá-los na boca. Tão rude quanto todos os arrepiantes ditos homens que andam por aí e que resolvem dividir comigo detalhes dos seus fetiches e fantasias nojentos sobre pés. Que pena que eu nunca sou rude. ( :O ). Senão, esses caras provavelmente teriam que colocar os meus pés na boca deles.

Aqui outro post muito legal sobre pés da única Princesa Farhana: “Dancer’s feet” (em inglês)