terça-feira, 3 de julho de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 9 - Amanhã



Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no último capítulo do material relativo ao livro da Dina (que tristeza!!!!), quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.



9 - Amanhã



•          Casamentos no Egito

O que acontece hoje no Egito com relação aos casamentos é grave. Hoje para se casar o homem precisa ter muito dinheiro, a família da noiva normalmente exige uma infinidade de condições, o que torna os casamentos tardios cada vez mais comuns. Quem não tem  como manter relações sexuais por não ter como pagar por uma cirurgia de reconstituição do hímen antes do casamento (muito comum no Egito), acaba sofrendo de frustrações sexuais.

•          Sexualidade

Dina fica muito preocupada com essas coisas, porque isso deixa as pessoas doentes e incontroladas. Existem cada vez mais notícias de homens que abusam de mulheres nas ruas. E já se chegou ao ponto em que foi dito na imprensa que esse problema foi incitado pela própria Dina, por ela ter dançado em público na ocasião do lançamento de um dos seus filmes.

É preciso entender também, que enquanto no ocidente o sexo é visto como pecado, para os muçulmanos ele faz parte da vida. Tanto que o corão fala de sexo de forma aberta, em como o homem deve trazer prazer à mulher e em como ele não deve forçá-la se ela não quiser.

Então, levando tudo isso em conta, como é que funciona a história do véu? O véu serve, a princípio, para exercitar a modéstia feminina, e não para protegê-la dos olhares dos homens. Mas, esse conceito sofreu modificações com o tempo.

"É preciso ter o espírito limpo, e não perverso. Se, ao olhar uma mulher, só se vê um objeto sexual, o problema não está na mulher, mas na cabeça perturbada do homem que a olha, que é incapaz de controlar seus impulsos."

Pausa para um pouco de história: Historicamente, o véu surgiu para diferenciar as mulheres livres, muçulmanas, das escravas, que não usavam véu, e, portanto, eram disponíveis para os homens sem qualquer tipo de obrigação. Quando a escravidão foi abolida no Oriente Médio a diferenciação entre as mulheres pelo fato de usarem ou não véu deixou de existir. Mas ao longo da história os momentos em que o uso do véu era visto como obrigatório ou não foram sendo alternados por motivos históricos e culturais. E o Egito está num momento histórico de obrigação do uso do véu para a mulher ser bem vista. Para um discurso inflamado e maravilhoso sobre a obrigatoriedade do véu vejam o filme “A Fonte dasMulheres”

Nesse ponto é que podemos concluir como é importante no Egito a presença de bailarinas como a Dina, pois elas são um contraponto, uma oportunidade de ver uma mulher como ela é.

•          O Egito é minha casa

Apesar disso tudo, Dina não quer saber de sair do Egito, ela conta que já dançou por todo o mundo, e nos lugares mais lindos, e que ainda tem alguns sonhos, como montar um show num cassino em Las Vegas. Porém, o Egito é a sua casa e lá que ela quer morar. Ela sabe que muitos jovens hoje abandonam o país, mas ela não vai desistir.

•          Lidando com a fama

Dina sempre soube que era diferente e sempre quis ser o centro das atenções. Mas ela teve que aprender a lidar com o preço de ser famosa. Há anos que ela não comemora um aniversário, e enquanto os outros se divertem ela está sempre trabalhando. Essa é a vida da bailarina.

"É preciso se conhecer, saber porquê você é boa. Nunca tomar as coisas como conquistadas. É preciso construir quem nós somos. Dina sou eu. Dina também é um produto que eu construí, e que continuo construindo." "Eu sou uma estrela, e trabalhei duro para chegar aqui, mas às vezes me pergunto: o que sobra de mim realmente, pra mim?" 

As bailarinas egípcias são praticamente empresas, pois são diversas pessoas trabalhando para elas entre músicos, assistentes, costureiras e agentes. Dina, por exemplo, emprega 70 pessoas.


•          A dança no resto do mundo

Hoje quando a Dina dança no Egito, ela sempre recebe depois, no camarim, visitas de mulheres de todos os continentes querendo falar com ela, só pra dizer que estão ali para vê-la. Quando ela dá suas aulas no Ahlan Wa Sahlam (festival anual no Egito organizado pela Raqia Hassan), quase todas as suas alunas são estrangeiras. Pois a dança do ventre está presente no mundo inteiro hoje.

Dina nunca imaginou que um dia daria aulas, até porque antigamente isso era visto como sinal de que ela estaria se aposentando. Mas hoje ela se sente feliz com isso.

"Adoro ensinar, perceber em cada nova bailarina sua capacidade além da técnica, ajudando-a a encontrar a alma da música. E adoro dançar para elas, diante de um público que conhece a dança e a sua complexidade. Quando dançamos num casamento é pra distrair o público, levá-lo conosco no calor da festa. Mas diante de profissionais, o desafio está lá, e adoro ter que me superar, dar o máximo da minha técnica, mostrar que eu sou a melhor. O que me entristece é não ver mais egípcias prontas para virar bailarinas. Muitos no Egito não conseguem nem mais ver a dança oriental como uma arte."

•          Futuro no Egito?

Hoje no Egito é proibido abrir uma escola de dança do ventre, o máximo que se pode fazer é abrir uma academia de ginástica, colocar uns aparelhos, mas dar aula de dança, mas só pra distrair as pessoas. A partir de 2004 o estado começou até mesmo a dificultar a renovação da permissão das bailarinas estrangeiras para dançar, dizendo que isso era demanda das egípcias, mas a verdade é que sem as estrangeiras no Egito hoje, não haveria mais dança.

"Hoje eu não vejo mais futuro para as bailarinas do Egito. Enquanto a mentalidade não mudar, não há esperança.Eu danço e não me escondo. Nos salões mais luxuosos, em casamentos de contos de fadas, nos hotéis mais prestigiados, eu ainda sou requisitada.Mas e depois de mim?Quando eu me aposentar, haverá novas bailarinas a formar? Poderei transmitir o que aprendi? Poderei passar adiante a tradição das filhas do Nilo?O mundo inteiro nos admira, mas não mais os nossos compatriotas.Eu nunca vou parar de dançar. Claro que eu dia eu vou deixarei de me apresentar em público, e sairei dos holofotes.Mas serei eternamente uma raqa'sa.Porque toda vez que a música se elevar meu corpo vai responder.Trarei sempre comigo a herança das bailarinas do Egito.Uma dança que morre, é uma cultura que morre. Uma história. Várias histórias.A minha ainda não acabou de ser escrita. E deve-se deixar o amanhã dançar com o amanhã..."



Capítulos anteriores:


Finalmente terminamos o livro da Dina! E juro que fiquei triste... foi muito legal trabalhar o livro aqui no blog durante tanto tempo e vou sentir falta. Mas vamos que vamos! Quem sabe arranjo outro livro ou tema para fazer outro trabalho de longo prazo por aqui? Continuem de olho no blog, ainda tem muita coisa legal para se falar e ver!

4 comentários:

  1. Estou amando cada capitulo. Muito obrigada por suas postagens.

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  2. Lalitha. Muito obrigada por seu trabalho tão generoso... disponibilizar a tradução deste material tão importante para nós que trabalhamos e somos apaixonadas elas Danças orientais Árabes.

    Virei sua seguidora e coloquei no meu blog um link do Ventre da Dança.

    Bjs!!!

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  3. Amei e me emocionei a cada capítulo, parabéns e obrigada pela iniciativa.
    Ah, sim, continue po favor, escolha outro livro pra compartilhar conosco.
    Abraços Fraterno.

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  4. Parabéns!! Li todos os posts de uma vez, ainda bem que não sofri a ânsia das publicações!! Rss, e já estou divulgando seu blog. Parabéns por tudo mesmo, fiquei imensamente feliz em descobrir uma fonte tão importante de estudos!

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