sexta-feira, 15 de junho de 2012

Kisses from Kairo - Condomonium






Domingo, 10 de julho, 2011

Condomonium*
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha



...sim, isso quer dizer exatamente o que você está pensando :)

*N.T.: Aqui Luna faz um trocadilho intraduzível misturando as palavras condom (camisinha) e pandemonium (pandemônio)

Aquele Pequeno Pedaço de “Papel Azul”
Aqui está um conselho sincero da sua bailarina de dança do ventre estrangeira – NUNCA carregue camisinhas com você ou em nenhum lugar perto de você enquanto estiver viajando pelo Egito. O mesmo é válido para tampões. A maior parte das pessoas não sabe o que são essas coisas, e quando a curiosidade é mais forte do que elas, a situação fica esquisita. Para dizer o mínimo.

Então, aconteceu  no ano passado, enquanto eu estava voltando para o Cairo depois de um show na região do Mar Vermelho, os policiais do posto de segurança decidiram parar o nosso carro e fazer uma busca na nossa bagagem – minha, do DJ, do dervixe rodopiante e do motorista. Os três homens saíram do carro para serem revistados pelos policiais. Eu, sendo a única mulher, fui instruída a permanecer dentro do carro até a busca terminar. Eu sentia o carro subindo e descendo enquanto os policiais abriam a mala do carro e reviravam as nossas coisas. E então, um por um, os rapazes voltaram para o carro, cada um deles com um olhar de pavor no rosto.

“O que deu errado? Os policiais acharam alguma coisa que não deveriam?” eu perguntei a eles. “Eu não tenho certeza”, respondeu Mahmoud, o DJ de 20 anos. “Eles tiraram alguma coisa da sua bolsa”. “O quê?! Eles roubaram alguma coisa? Minhas bijuterias?” perguntei. “Não, eles pegaram um pequeno pedaço de papel azul com coisas escritas nele”, ele disse. “Hein? Que pedaço pequeno de papel azul? Um recibo de supermercado? Por que ele pegaria isso!?” eu perguntei. “Eu não sei o que era aquilo”, ele continuou, “mas o policial disse que era muito ruim, e ele queria prender a gente.” Depois de pensar um pouco sobre o que tinha acontecido, eu percebi que o tal pedaço de papel azul ao qual Mahmoud estava se referindo era uma camisinha!

Agora, eu não me lembrava de ter posto nenhuma camisinha na minha mala de dança do ventre (não é que eu precise disso para trabalhar ou algo parecido! :D), nem me disporia a explicar a nenhum dos 3 jovens egípcios o que era o tal pedaço de “papel azul”. Ao invés disso, fiquei calada pelo resto da viagem de 2 horas, imaginando o que os policiais devem ter pensado quando eles acharam aquela camisinha num carro com 3 homens egípcios e uma mulher estrangeira usando maquiagem demais! Então foi por ISSO que o Mahmoud disse que os policiais queriam nos prender – eles acharam que eu era uma prostituta e os rapazes eram meus clientes! Tão típico isso.

“Então por que eles decidiram nos deixar passar?” eu perguntei ao Mahmoud no final da viagem. “Porque você é americana”, ele respondeu. “O que isso quer dizer?” perguntei. “Os policiais estavam prestes a nos prender quando eu disse que você é americana. No Egito os americanos estão acima da lei.” “Isso não é verdade”, eu repliquei, mas não adiantou. Mahmoud começou a explicar como os egípcios e as autoridades egípcias têm medo dos americanos e evitam ao máximo chateá-los. Eu acho que eles sofrem com a síndrome Bush! :)

Então, não posso negar isso, não é mesmo?

Salva Pelas Baratas
Não é mais fácil com tampões. Mas esses eu SEI que coloco na minha bolsa de dança do ventre, porque são úteis de vez em quando :) . Mas o problema é que a maioria das mulheres egípcias não usa tampão, nem mesmo sabem o que é isso. No Egito, assim como na maioria dos países dessa região, tampões são tabu. De acordo com a Mentalidade Machista Dominante (MMD) endêmica nesses países, tampões tiram a virgindade. Mas espera só. Fica pior. MMD divide as mulheres que não são virgens em 2 categorias: esposas e putas. Bom, eu não sou esposa de ninguém nem sou virgem, então isso deve fazer de mim uma...

...estrangeira muito sem graça quando um policial num posto de inspeção, fazendo uma vistoria nas minhas coisas, em alguma situação encontra um tampão e tenta abrir por pura curiosidade! Ó céus, será que a minha vida poderia ficar AINDA pior nesse momento? Não é suficiente que eu estava parada na frente das autoridades egípcias sem passaporte, sem meu visto de trabalho, usando quilos de maquiagem e glitter nos lábios? Agora esse homem resolve abrir o meu tampão?

Rios de suor começam a escorrer pelo meu rosto vermelho enquanto o policial brinca com o tampão fechado. Como eu poderia explicar o que é um tampão pra ele? Batom? Não. Um cotonete gigante? Não. Caneta com tinta invisível? NÃO!

Então, nem na hora, uma horda de baratas voadoras invadiram o posto de inspeção provisório e pousaram em cima da gente. É sério. Foi como uma cena saída diretamente de um filme de terror, mas era uma benção disfarçada. Minha reação pra-lá-de-enlouquecida com as baratas, que consistiu basicamente em gritar, pular e sair estapeando tudo a minha volta (inclusive um dos policiais), distraiu completamente a atenção dos policiais dos tampões! Nada disso foi calculado, deixe-me deixar isso claro. Eu realmente tenho uma fobia incontrolável com baratas. Ela é tão forte que eu me mudei do meu primeiro apartamento no Cairo porque eu vi uma barata no banheiro. E isso foi só depois de uma semana morando lá! Eu perdi o que já havia pago de aluguel, de depósito de garantia, E uma conta de luz que não era nem minha. E eu não liguei a mínima!

Por mais loucas que as coisas sejam no Egito, tudo parece dar certo no final. Se não fosse por essas baratas, o policial teria aberto o tampão e começado e me fazer perguntas sobre ele. E isso NÃO teria sido legal. Ao invés disso, os policiais se divertiram com a minha reação às baratas, e pelo fato de eu falar árabe. Eu acho que eu gritei algo como “Ó meu Deus! Eu vou morrer! Me tirem de perto dessas baratas #&$@?&%@!” em árabe. Eles riram a beça, e depois me disseram que não acreditavam que eu era americana. Eu jurei para eles que era, mas eu não estava com o meu passaporte para provar. Nem nenhum tipo de identificação (o que foi muito estúpido da minha parte).

No final das contas, trocamos algumas cordialidades e os policiais me deixaram ir. Você pensaria que isso me ensinaria a manter meus tampões FORA da minha mala de dança do ventre. Mas NÃÃÃÃÃO! Eu tenho que cometer o mesmo erro de novo e de novo e de novo. Até que...

...Ladrões Roubam o Meu Dinheiro e Abrem os Meus Tampões!
Isso é mesmo patético, mas meu dinheiro já foi roubado da minha mala de dança do ventre em 3 ocasiões enquanto eu estava me apresentando no Cairo. Eu sei, é minha culpa por ter deixado o dinheiro lá. Mas a parte engraçada é que TODA VEZ que roubam o meu dinheiro, eu acho um dos meus tampões aberto! Nunca falha.

Isso leva a todo tipo de pergunta. Primeiro, por que o ladrão deixaria algum indício de que a bolsa foi mexida? Segundo, era mesmo tão importante que ele satisfizesse a sua curiosidade abrindo um dos tampões ao invés de só pegar o dinheiro e ir embora? Terceiro, depois que ele já abriu o tampão, e não tinha a menor idéia do que se tratava, porque não simplesmente o jogou fora para não deixar pistas de que alguém mexeu na mala?

Eu não consigo responder nenhuma dessas perguntas, mas posso dizer que essas experiências mostram a extensão da desinformação dessas pessoas sobre educação sexual. Meu instinto me diz que isso não é bom, mas não vou dizer nada sobre isso. Eu só espero que esse país passe por algum tipo de “revolução sexual” além da grande revolução pela qual ele supostamente está passando.


Um comentário:

  1. Além de informativo, adoro estas cartas pois, são muito divertidas, rolei de rir.

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