terça-feira, 13 de março de 2012

Ma liberté de danser - Cap. 4 - Se tornando Dina - Parte I


Por Lalitha

AVISO IMPORTANTE:

Então, gente, antes de entrarmos no material relativo ao quarto capítulo do livro da Dina. Eu considero o quarto capítulo o mais importante do livro, pois trata da essência da Dina como bailarina e do porque dela ser tão controversa, portanto é o capítulo mais longo dentre os posts. Por conta disso vou dividí-lo em duas partes, para que fique menos cansativo. Além disso, quero ressaltar que apenas as partes em itálico e entre aspas são trechos traduzidos do livro ou de outras fontes (as traduções são minhas e às vezes contem alguma adaptação para facilitar o entendimento do trecho fora do texto completo), e deixo claro que não traduzi o livro inteiro, apenas algumas passagens que julguei importantes ou bonitas. Todo o resto do material é uma compilação de informações contidas no livro e de pesquisa própria minha feita na internet ou na minha biblioteca particular.

O material aqui exposto está todo dividido por capítulo (um capítulo por post, sempre) e cada capítulo está dividido em tópicos para tornar a apresentação mais dinâmica. Adotei essa divisão por pura comodidade e para tornar o material mais didático, o livro não está dividido dessa forma.

4. Se tornando Dina

          Tarek


Numa manhã de 1982, Dina tem 20 anos e está apaixonada. O amor de sua vida se chama Tarek, um DJ que trabalha com a companhia de dança folclórica. Ele é o amor da sua vida, mas é um amor infantil, inocente. Como amor de irmã. Eles se conhecem há muitos anos, mesmo antes do seu primeiro casamento. E ele quer casar com ela, apesar de não ter dinheiro para isso. Nesse dia ela acordou tarde e cansada porque ficou até tarde com Tarek no telefone. Ele estava muito chateado por ser obrigado a servir no serviço militar.

Após ficar longas horas animando Tarek, dizendo pra ele que tudo vai dar certo, que o serviço será por pouco tempo, que ele vai conseguir passar por essa fase e prometendo que iria esperá-lo voltar do serviço militar, ela vai dormir certa de que ele está mais calmo.

Ao acordar ela telefona para ele, mas quem atende é o seu pai. Ela pede pra falar com ele, mas recebe uma notícia chocante: Tarek se matou naquela noite.
"Algo se quebra dentro de mim. Por mais de um ano eu me visto de preto, certa de que jamais me apaixonaria novamente. Eu me martirizo no trabalho, emendando uma turnê atrás da outra com a companhia de dança folclórica, no Iêmen, Jordânia, Síria... Dançar e não pensar. Quando me oferecem um contrato de um mês em Dubai, eu aceito, feliz por mudar de ares."

  • Dubai



O contrato de 1 mês, vira uma temporada de 7 meses. Dina dança sem questionar nada. Ela percebe que faz sucesso e começa a ganhar dinheiro, que ela gasta logo em seguida. Falta a ela maturidade.

  • O retorno ao Cairo

Quando ela retorna ao Cairo, ela não tem ideia do que a aguarda, se ela vai continuar no folclore ou na dança do ventre. Mas a incerteza não dura muito tempo, pois o seu sucesso em Dubai chegou aos ouvidos dos cairotas. Nesse momento Sahar Hamdy (bailarina egípcia de grande sucesso, que se aposentou no início dos anos 90, aparentemente por conta de problemas com o álcool – mais detalhes sobre ela aqui) precisa quebrar o seu contrato com um grande hotel. Lá ela comandava um show com a sua companhia e sua própria orquestra, e Dina é convidada a substituí-la. Ela aceita, e faz modificações no show, colocando a sua marca em cada detalhe. Dina faz tanto sucesso que oferecem a ela um contrato fixo.

Sahar Hamdy

Mas uma bailarina de dança do ventre no Egito não é só mais uma bailarina, é a chefe de toda uma orquestra, com seus músicos e cantores, é estilista, porque as roupas são importantes para cada música. E Dina não quer uma roupa qualquer, porém, ela não tem dinheiro para fazer uma roupa sob medida. E ela precisa ter pelo menos 2 roupas novas.

Ela acaba na casa de Nelly Fouad, que está se desfazendo de algumas peças. Ela se apaixona por 2 modelos, mas não tem dinheiro para comprá-los. Nelly os cede pra ela com a promessa de um pagamento futuro e Dina se comove com esse raro gesto de solidariedade, pois o mundo competitivo da dança é muito duro.

Nelly Fouad
 
"Pegue-os. Você me paga depois, quando puder. – Meus olhos brilham de alegria. No mundo da dança, tão duro, onde há tanta competição, a solidariedade existe."

          Palme de Majorque

Alguns meses depois, o seu público começa a ficar fiel, e um gerente responsável pelo Oriente Médio de uma rede internacional de hotéis a vê dançando. Samir Zoghby oferece a ela a oportunidade de dançar numa noite num festival em Palma de Majorque, um balneário na Espanha. Toda feliz, Dina aceita. Mas a noite num festival acaba virando duas semanas.

Quando ela volta o gerente do hotel onde ela trabalhava está furioso porque ela quebrou o seu contrato. Ele quer humilhá-la por isso. Dina não se deixa derrubar, e mesmo sabendo que está errada discute com ele e vai embora do hotel, indignada.


"Sei que sou culpada. Levei as coisas na brincadeira, sem me dar conta que a dança é um trabalho de verdade. Não é só um hobby. Se quero que respeitem o meu trabalho, se quero que respeitem a bailarina que eu sou, devo ser irrepreensível. Eu quero ser a maior? Quero ter a liberdade de escolher? Eu devo ser a melhor, e isso não é possível sem um trabalho duro."

          Levando a dança a sério

Sem se deixar abater, Dina entra novamente em contato com Samir Zoghby, que arranja outro contrato para ela, pelo dobro do salário. Imediatamente ela contrata diversos músicos, encomenda novas composições a Hassan Abou Saoud e Hamdou. É a primeira vez que Dina está montando todo o espetáculo sozinha.

Logo na sua estréia uma grande atriz, Shérihan, está platéia.


"Estou anestesiada de medo. De angústia. Não tenho o direito de falhar. Nem de ser medíocre. Eu devo isso àqueles que acreditaram em mim e me trouxeram até aqui. Eu devo isso a mim mesma, ao meu trabalho, à Dina, a menininha de Agouza, estudante que dançava a caminho da escola."


"Eu venci. E é assim que começa a minha carreira. Mas essa é uma vida de lutas, cada dia a briga recomeça. Porque nesses tempos, as bailarinas de primeira categoria são muitas e eu preciso sobressair."

          Vida dupla

Ao mesmo tempo que sua carreira começa, Dina está na faculdade de filosofia e na academia de artes. Ela dança a noite e estuda de dia. Na faculdade, Aristóteles lhe interessa muito, por conta das suas teorias sobre a arte, pois ele foi o primeiro a dizer que o artista é mais do que um imitador da natureza, que ele a transcende e sente grandes paixões. Outra paixão é Freud, que a fascina com suas teorias sobre a formação da pessoa na infância, onde se pode encontrar a origem de todo o seu comportamento e seus atos. Ao mesmo tempo, ela estuda dança e teatro na academia de artes.

Ela fica atarefada o dia inteiro, correndo de um curso para o outro e emendando com os shows à noite.

Dina começa a fazer sucesso, e ela é cada vez mais requisitada, e chega a ser chamada por uma família libanesa para dançar no casamento de um dos seus filhos ao lado de Nagwa Fouad. Logo após esse evento, a própria Nagwa a convida para ir num dos seus shows, e a apresenta ao público no final do espetáculo, pedindo que ela faça um pequeno número, com roupas comuns mesmo.

Nessa época tem uma descrição de como Nagwa a chama para dançar no final de um dos seus últimos shows, um momento descrito como uma passagem de bastão. Para entender o que isso significa, primeiro é preciso entender que Nagwa Fouad era a maior estrela da época, sua banda (a importância da bailarina era medida pelo tamanho da banda) tinha mais de 50 músicos (a título de comparação, as bandas de Fifi Abdou chegavam, no máximo, a 30).


“Pouco antes do seu número final, Nagwa parou de cantar para falar. Ela queria apresentar alguém muito especial para o público. Todos olharam para ver quem era essa pessoa, e Nagwa chamou a jovem bailarina Dina. Dina era, na época, uma bailarina em ascensão, que se dizia ter alguns problemas pessoais. Eu me lembro de ter pensado comigo mesma: Dina quem? Então, uma jovem tímida, vestida com roupas comuns veio do meio da platéia e dançou um número tão comovente e pungente que eu jamais vou esquecer. Dina dançou de coração, e o meu coração podia sentir isso.”
The Gilded Serpent, original aqui 

Dina quer ser diferente. E desde essa época Dina já era criticada. Isso não é dança. Quem ela acha que é? Por que ela não faz como as outras?  


"Eu sou assim. Eu invento passos, novas coreografias, deslocamentos que mais ninguém consegue fazer. Eu, que por tanto tempo estudei balé, não quero fazer como as bailarinas clássicas, de quem se exige que mantenha o olhar longínquo, além do público, num horizonte imaginário que só ela vê. Eu olho para aqueles que me aplaudem, eu danço para eles, com eles, eu até falo com eles, mantenho o contato."

          Samia Gamal

E uma noite, quando ela está se arrumando para entrar, o gerente do hotel bate na porta do camarim para lhe mostrar um nome na lista de reserva: Samia Gamal, seu ídolo.


"Eu fico petrificada. Não consigo parar a tremedeira que toma conta de todo o meu corpo. A pressão é enorme. Mas, mais uma vez, quando entro em cena, acompanhada pelos instrumentos, esqueço o mundo a minha volta. E começo a dançar. Quando as luzes se apagam, quase uma hora depois, eu fujo para os bastidores. Mas me pegam: Samia me chama à sua mesa. - Dina... me escute. Eu sei, você vai se tornar uma grande bailarina."

 
Aguardem a continuação do capítulo! 

Capítulos anteriores:

Um comentário:

  1. Aguardo avidamente o próximo capitulo. Muito, muito, muito , muito , muito obrigada por compartilhar sua leitura conosco.

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