Por Lalitha
Depois de algum tempo sem falar de livros (eu sou viciada, como vocês podem ver aqui) resolvi voltar ao tema por causa de livro aí em cima.
A autora, Joumana Haddah, é uma libanesa de família cristã (o Líbano é um país com uma parcela grande de cristãos, apesar de serem minoria - em comparação com os muçulmanos - há décadas que eles detêm o poder político, o que causa alguns problemas), mãe e "feminista" (ela não se descreve assim, mas muitas das suas causas podem ser assim descritas). Além disso ela é poetisa, tradutora, jornalista e editora de uma revista chamada JASAD (que significa "corpo" em árabe), que causa bastante polêmica no mundo árabe.
A razão que a levou a escrever esse livro foi uma pergunta de uma jornalista ocidental: "como uma mulher árabe como você consegue publicar uma revista erótica controvertida como JASAD em sua língua materna? No Ocidente não estamos familiarizados com a possibilidade de existirem mulheres árabes liberadas como você."
E a partir desse ponto, se prepare para sacudir as suas convicções! Joumana mostra que apesar do Ocidente ser mais livre para a mulher, ainda temos MUITOS problemas em comum, e as mulheres árabes não são tão diferentes de nós mesmas, ocidentais.
Afinal, querendo ou não, ainda temos muitas limitações... nossa sexualidade, por exemplo, ainda é muito podada (já repararam que quase não existe material erótico voltado para mulheres?), nossos corpos ainda são tratados como mercadoria (e ainda devemos mantê-lo dentro dos padrões: jovem e magra), nossas roupas são vigiadas (ainda somos tachadas de "puta" se usamos saia curta e decote, não é?), não podemos mostrar desejo em público senão também somos "putas". Aliás, é um problema essa história de "puta", porque ou você é "santa" ou "puta", não existe nada entre esses dois extremos, já repararam?
Para piorar, nós ocidentais, sofremos de outro problema em comum com as árabes: desunião.
Quantas vezes não são as próprias mulheres que nos julgam? Quantas vezes não somos nós mesmas que dizemos aquelas infelizes frases tipicamente machistas?
E no mundo da dança do ventre? É realmente diferente? Quantas vezes julgamos umas às outras pela escolha da roupa ("que fenda é aquela?"), pelo corpo ("hum, ela tá gordinha"), ou, vamos liberar nosso vocabulário, por inveja mesmo?
Enfim, além de uma grande reflexão sobre o mundo árabe feminino, o livro faz refletir sobre nós mesmas. Para quem estuda cultura árabe ou o feminino, é uma leitura imperdível!!
Fica a dica :-)
Quem quiser mais detalhes do livro, a Lu Ain-Zaila está fazendo posts ótimos sobre ele, vale a pena conferir, aqui.
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