terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Eu matei Sherazade - confissões de uma árabe enfurecida

Por Lalitha


Depois de algum tempo sem falar de livros (eu sou viciada, como vocês podem ver aqui) resolvi voltar ao tema por causa de livro aí em cima.

A autora, Joumana Haddah, é uma libanesa de família cristã (o Líbano é um país com uma parcela grande de cristãos, apesar de serem minoria - em comparação com os muçulmanos - há décadas que eles detêm o poder político, o que causa alguns problemas), mãe e "feminista" (ela não se descreve assim, mas muitas das suas causas podem ser assim descritas). Além disso ela é poetisa, tradutora, jornalista e editora de uma revista chamada JASAD (que significa "corpo" em árabe), que causa bastante polêmica no mundo árabe.

A razão que a levou a escrever esse livro foi uma pergunta de uma jornalista ocidental: "como uma mulher árabe como você consegue publicar uma revista erótica controvertida como JASAD em sua língua materna? No Ocidente não estamos familiarizados com a possibilidade de existirem mulheres árabes liberadas como você."

E a partir desse ponto, se prepare para sacudir as suas convicções! Joumana mostra que apesar do Ocidente ser mais livre para a mulher, ainda temos MUITOS problemas em comum, e as mulheres árabes não são tão diferentes de nós mesmas, ocidentais.

Afinal, querendo ou não, ainda temos muitas limitações... nossa sexualidade, por exemplo, ainda é muito podada (já repararam que quase não existe material erótico voltado para mulheres?), nossos corpos ainda são tratados como mercadoria (e ainda devemos mantê-lo dentro dos padrões: jovem e magra), nossas roupas são vigiadas (ainda somos tachadas de "puta" se usamos saia curta e decote, não é?), não podemos mostrar desejo em público senão também somos "putas". Aliás, é um problema essa história de "puta", porque ou você é "santa" ou "puta", não existe nada entre esses dois extremos, já repararam?

Para piorar, nós ocidentais, sofremos de outro problema em comum com as árabes: desunião.

Quantas vezes não são as próprias mulheres que nos julgam? Quantas vezes não somos nós mesmas que dizemos aquelas infelizes frases tipicamente machistas?

E no mundo da dança do ventre? É realmente diferente? Quantas vezes julgamos umas às outras pela escolha da roupa ("que fenda é aquela?"), pelo corpo ("hum, ela tá gordinha"), ou, vamos liberar nosso vocabulário, por inveja mesmo?

Enfim, além de uma grande reflexão sobre o mundo árabe feminino, o livro faz refletir sobre nós mesmas. Para quem estuda cultura árabe ou o feminino, é uma leitura imperdível!!

Fica a dica :-)

Quem quiser mais detalhes do livro, a Lu Ain-Zaila está fazendo posts ótimos sobre ele, vale a pena conferir, aqui.

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