Gente, depois de um comentário no post sobre o livro da Dina, lembrei que li mais livros interessantes sobre a cultura árabe, mas não cheguei a postar sobre eles aqui porque os li antes de criar esse blog. Mas então resolvi consertar esse lapso e escrever esse post, mais voltado para o público da dança do ventre :-)
Inicialmente vou falar de uma trilogia disponível em português (yes!), escrita pelo único prêmio nobel da literatura de língua árabe, o egípcio Nagib Mahfouz (essa é só uma das grafias do nome dele, você ainda encontra as variações Naguib e Mahfuz), e se chama A Trilogia do Cairo. Você vai achar meus posts originais sobre esses livros no meu outro blog sobre livros, aqui, aqui e aqui.
Aí em cima é a capa da versão de bolso do primeiro volume :-)
A vantagem da versão de bolso BestBolso são as notas de rodapé, recheadas de explicações históricas, de quem são os cantores (sim!!! muitos cantores conhecidos e outros nem tanto, Oum Kalsoum, por exemplo, está lá), poetas (esses bem mais desconhecidos, infelizmente) e filósofos, além de explicações de expressões e palavras árabes! Fora as descrições das comidas... ah, as comidas!
Devo confessar que me senti maravilhada ao ler um romance recheado de palavras árabes que eu conhecia, como meleya :-) e que de quebra me ensinou muito sobre a história do Egito.
Os três volumes cobrem cerca de 40 anos da história do Egito, especialmente do Cairo, no início do século XX, contando a história de uma família muito tradicionalista. E ainda descreve eventos importantes na história do país, que inclusive te ajudam a entender a origem da primavera árabe egípcia que aconteceu esse ano. Como eu li os livros justamente durante as manifestações contra Mubarak foi especialmente emocionante e esclarecedor para mim.
E essa é a capa do segundo volume.
O primeiro volume no início é meio lento e difícil de ler, pois trata da apresentação dos personagens, mas vale a pena insistir e passar desse ponto. "Entre dois palácios" tem como título original o nome do bairro onde se situa a casa do patriarca da família, mas a tradução/adaptação (vinda da versão em francês) ficou perfeita, pois a história se passa o tempo inteiro entre a casa do patriarca e a casa onde vão morar as suas filhas após o casamento. Ah, sim, para nós bailarinas, é especialmente interessante a descrição das bodas! E também das músicas e dos músicos que participam das festividades!
Como pano de fundo, o Cairo está em ebulição por conta das revoltas populares contra o domínio dos ingleses, que não querem que se instale um parlamento democraticamente eleito no país (não soa familiar isso?), o que ajuda a mostrar o nacionalismo dos personagens e a mudança do papel da mulher ao longo do tempo (esse tema me é especialmente caro, e está muito bem retratado nos três livros e explica MUITA coisa).
O segundo volume trata especialmente de relações amorosas, evidenciando ainda mais o papel feminino na sociedade, o que justifica também a adaptação do título do livro (novamente da tradução francesa), que no original leva o nome do bairro onde vai morar o primogênito do patriarca. Nesse momento histórico as mulheres já andam sem véu na rua e começam a pensar em outras coisas além de casar e ter filhos, como ir para a faculdade (que aceitam turmas mistas), é bem interessante.
Mas o auge da liberdade feminina aparece mesmo no terceiro volume.
E esse é o terceiro volume.
O último volume da trilogia retrata uma época conturbada também, quando diversas novas vertentes políticas surgem no Egito (inclusive a Irmandade Muçulmana que tanto ouvimos falar hoje em dia), e quando a mulher egípcia entra no mercado de trabalho. Nesse ponto da história, os personagens que guiam a história já são os netos do patriarca, o que é muito legal, pois podemos ver claramente como as gerações foram mudando a sua forma de pensar e de agir. Inclusive, o título original do livro é o nome do bairro onde eles moram, fechando a trilogia.
São 3 livros grandes, mas que vale a pena gastar um tempo lendo. Mas vale lembrar que só retratam o passado do Egito! Hoje em dia, o mundo árabe em geral deu uma guinada em direção à religiosidade, e muita coisa mudou, especialmente com relação à mulher e à dança do ventre. Fazer o quê? É o ciclo da vida.
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