O livro desse mês é bem diferente do que recomendei até agora. Apesar do autor ser indiano, a sua obra tem forte teor islâmico, e sua estrutura narrativa é bem característica dos escritores orientais. A gente às vezes esquece que na Índia há uma parcela razoavelmente grande da população que é muçulmana, e Salman Rushdie viveu, portanto, numa sociedade que mistura hinduísmo e islamismo, e, como ele ainda por cima estudou na Inglaterra, acrescente o cristianismo no hall de religiões que o influenciaram.
Versos Satânicos é uma obra extremamente polêmica, e foi proibida na maioria dos países muçulmanos. Quando o livro foi lançado, em 1988, os muçulmanos ingleses protestaram queimando exemplares em praça pública. Além disso, o livro ainda rendeu uma sentença de morte ao autor em forma de fatwa dada pelo então aiotalá do Irã, Khomeini. Apesar de Salman Rushdie nunca ter sofrido um atentado (ele viveu durante anos com escolta policial), um dos tradutores do livro foi morto por um extremista.
E tudo isso porque o livro traz uma versão bem polêmica da história de Maomé (chamado no livro por um nome pejorativo fácil de reconhecer), além de fazer alusão a alguns versos no Corão que seriam pagãos, e posteriormente foram retirados do livro sagrado (eles seriam versos que poderiam ser usados para adorar as antigas deusas de Meca: Al-Lat, Al-Uzza e Manat). Não é a toa que o livro causou tanta confusão.
Mas o livro não é feito só de histórias pouco ortodoxas do profeta, a história se passa nos anos 80 e fala sobre a vida de dois indianos que sobrevivem a um atentato terrorista, e a partir de então um deles desenvolve chifres e pés de bode, enquanto o outro ganha uma auréola. Acho que o livro seria banido no mundo islâmico mesmo sem Maomé no meio! E apesar de ser bem fantasioso, o autor aproveita para lidar com assuntos muito mundanos, como os problemas e preconceitos enfrentados pelos imigrantes muçulmanos na Inglaterra e o choque de culturas.
Para bailarinas de dança do ventre a leitura é interessante para começar a entender as críticas feitas ao islamismo, entrar em contato com outros muçulmanos além dos egípcios, e ver como é complicado ser imigrante e muçulmano na Europa. Além, de claro, acrescentar no currículo a leitura de um livro proibido em terras islâmicas!
Além disso, a leitura é recomendada simplesmente porque o livro é muito bom mesmo, literatura de primeira, e isso é sempre bem vindo!
Capa da edição de bolso |
E então, alguém já leu o livro? Deixe o seu comentário!
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