terça-feira, 21 de agosto de 2012

Diário de Viagem - TURQUIA - 2° dia - Conhecendo Istambul


Depois de uma noite infernal com o ar-condicionado maluco (o termostato simplesmente não funcionava, e o bicho passou a noite inteira ligando e desligando, só que ele fazia isso de forma muito escandalosa), acordamos mais tarde do que o previsto, o que ainda assim era bem cedo. Eu levantei primeiro, porque como sou mais lenta no banho e demoro mais para me arrumar, então é mais lógico que seja assim.

Depois de nos arrumarmos descemos para o café da manhã, só para descobrir que o lugar do café ficava na cobertura :-) Mas que café da manhã diferente! Além de suco de cereja (que obviamente experimentamos, mas nos arrependemos porque mais parece um xarope de tão doce), tinha salada (com direito a tomate, pepino, alface, azeitonas e hortelã), diversos tipos de queijo (todos branquinhos, com jeitão saudável, inclusive o denominado queijo amarelo era bem branquelo), pães diversos, iogurtes (com direito a diversas geléias para misturar), cereais (alguns não dava nem para reconhecer), café, leite, chá e bolos (ah, sim, entre os "bolos" tinha helwa, que é um doce maravilhoso feito de gergelim, mas que não é bolo).

Primeiro café da manhã da viagem!

Comemos até dizer chega, passamos no quarto para escovar os dentes e descemos novamente para a recepção, onde tentamos telefonar para a agência de viagens para confirmar o horário do nosso tour no dia seguinte (quem disse que eu confiava no cara que falava espanhol tosco?), mas infelizmente a agência ainda estava fechada e não conseguimos falar com ninguém. Mas enquanto o Caike resolvia essa história com o telefone eu fui numa vendinha ao lado do hotel (uma das tais lojas de souvenir/mercearia) para comprar nosso suprimento de água para o dia. Dica: comprem garrafas de água nessas vendinhas perto dos hotéis, é mais barato do que nos restaurantes ou nos camelôs, e, claro, muito mais baratas do que no frigobar, só não são mais baratas do que no supermercado, mas supermercados não ficam em qualquer esquina. O vendedor foi logo perguntando de onde eu era, porque ele achava que eu tinha cara de turca (sério???), eu respondi que era brasileira e aproveitei para perguntar para ele como se dizia "obrigada" em turco: teşekkür ederim. Complicado. E sim, tem cedilha no "s", e quando isso acontece o som é de "x" (até que aprendi alguma coisa, viu?).Mas o vendedor foi muito simpático e no final eu consegui agradecer em turco. :-)

Saímos do hotel e resolvemos pegar um taxi na praça Taksim (na rua do hotel não passava taxi, daí teríamos de chamar um... ficamos com medo de ter outro preço e não ser taxímetro -- medo comprovado mais tarde, mais ainda vamos chegar lá), e no caminho vimos uma loja de câmbio aberta, pois estávamos atrasados e já eram 9h, hora que eu queria já estar na porta do Palácio Topkapi, mas enfim. Dinheiro trocado, pegamos um TAKSI (fácil, né?) e pedimos para irmos para o Palácio. O motorista era um turco muito simpático que não falava nem uma palavra de inglês, só turco e alemão (juro que era alemão a segunda língua dele, achei muito bizarro). Ainda bem que alemão tem lá suas semelhanças com o inglês porque conseguimos manter os rudimentos de uma conversa, com ele perguntando de onde éramos (com a esperada resposta falando de futebol... mas que surpreendeu porque ao invés de falar sobre os craques da nossa seleção, o motorista começou a desfiar a lista de jogadores brasileiros que atualmente jogam na Turquia, e, claro, precisei de uma explicação do Caike para entender isso), a gente perguntando por qual ponte estávamos passando e uma tentativa absolutamente frustrada do motorista de nos explicar as ruínas pelas quais passamos (o caminho que o motorista fez passava pela orla do Chifre de Ouro e do Bósforo, margeando o palácio Topkapi e de onde ainda se vê um grande conjunto de antigas muralhas do palácio, algumas partes dessa muralha datam no Império Bizantino - nada como o google :-) ).

Finalmente chegamos em Sultanahmet, o bairro mais turístico de Istambul, onde fica a Mesquita Azul, a Hagia Sofia e o Palácio Topkapi. Como pedimos para ele nos deixar no palácio quando saímos do taksi achei que estávamos entre a Hagia Sofia e o Palácio, mas depois entendi que na verdade estávamos entre as duas mesquitas (Azul e Sofia), e, gente, que visão! Mas, esse dia era sexta-feira, a primeira sexta-feira do Ramadã, e eu não queria visitar mesquitas nessas condições (imagina como elas estariam no dia mais sagrado da semana durante o mês mais sagrado do ano?), portanto nossa programação só incluía museus.

Mesquita Azul

Hagia Sofia
Pegamos nosso lindo mapa arrancado do guia de viagens e, depois de finalmente nos localizarmos, pegamos uma ruazinha estreita sugerida pelo guia, e que coisa mais bucólica! Era uma ruazinha chamada Soğukçeşme Sokağı, cheia de casas de madeira, de no máximo 3 andares, cada uma de uma cor diferente! Segundo o guia, são casas antigas do século XIX e XX, e em uma delas vimos uma placa indicando que a Rainha Sofia da Espanha ficou hospedada lá, olha que chique! Depois descobri que parte dessas casas funciona hoje como hotel, o que faz sentido. Outra vantagem dessa rua é uma visão bem diferente da Hagia Sofia, e uma porta muito diferente dela perto da Fonte de Ahmed 3° (que é muito bonita e que estava cercada de japoneses. Aliás, os japoneses estão em todo canto! E eles são muito mal educados quando não estão no Japão).

Soğukçeşme Sokağı

Porta diferente da Hagia Sofia

Fonte de Ahmed 3° com os japoneses
Chegamos então à Porta Imperial, a primeira porta para o Palácio Topkapi, que fica em frente a Fonte (que a título de informação, data do século XVIII). Passando dessa primeira porta (onde não se cobra entrada), se tem acesso a um imenso jardim, onde fica à esquerda: a Hagia Irene, a Casa da Moeda Imperial, o Museu Arqueológico e do Antigo Oriente, o Pavilhão Çinili e o Parque Gülhane. Do lado direito encontramos a bilheteria do Palácio, uma lojinha de souvenires do Palácio, a Fonte do Carrasco (onde, dizem, o carrasco limpava as mãos e a espada depois do "serviço") e no final à direita fica a entrada do Palácio Topkapi. Como vocês podem perceber, o Palácio faz parte de uma imensa estrutura, que foi modificada diversas vezes ao longo dos 4 séculos em que foi usada como palácio imperial pelos sultões. E isso é muito perceptível por dentro, pois dá para ver que, por exemplo, metade de uma parede é de um jeito e a outra metade é de outro. Depois, os sultões aparentemente se cansaram daquele castelo velho e fora de moda (a moda era Versalhes!) e construíram o Palácio de Dolmabahçe, mas enfim... gente rica de verdade é outra coisa.
Porta Imperial!
Dentro do primeiro pátio, resolvemos começar pela esquerda, porque queríamos passar primeiro na Hagia Irene, a única igreja bizantina que nunca foi usada como mesquita (mas foi usada como depósito de armas... grande coisa, o Pártenon de Atenas também foi -- o ser humano é muito sem noção), mas infelizmente ela estava fechada, então fomos direto para a bilheteria, que é arrumada de uma forma que na saída, já com o seu ingresso, você é obrigado a passar por um cara com uma máquina fotográfica e dois homens vestidos como guerreiros otomanos. Já sabem pra quê, né? Você chega lá, eles fazem umas 3 poses com você, com a entrada do Palácio ao fundo, e incluindo as versões "os turistas degolados" e "os turistas que vencem os otomanos". Bonitinho, mas eles obviamente não te deixam usar a sua máquina e você ganha um número para ver as suas fotos quando sair do Palácio e decidir se vai comprá-las ou não. :-P
Hagia Irene
A segunda porta, a do Palácio mesmo, parece um mini-castelo, com duas torres bem típicas de castelos europeus, e ela dá para um segundo pátio com um belo jardim. Esse segundo pátio é menor do que o primeiro, e como o Harem (que tem uma bilhereria própria separada) ficava à esquerda, resolvemos ver o palácio dando a volta e começando pela direita, para deixar o Harem para o final. Com sorte chegaríamos no restaurante do último pátio na hora do almoço, já que já era 10h da manhã.

Porta do Palácio Topkapi
Entrando pela direita nesse segundo pátio temos 2 exposições diferentes, uma de carruagens e outra, que fica dentro das cozinhas, de cerâmica, cristais e pratarias. Infelizmente as cozinhas estavam em reforma :-( mas as carruagens foram interessantes, apesar delas copiarem o estilo europeu e serem todas "modernas" (para um palácio que começou a ser construído em 1459 ter uma exposição de carruagens dos séculos XVIII e XIX é querer mostrar seu acervo mais moderno mesmo rsrsrs). Mas pelo menos pudemos admirar os achados arqueológicos da área do Palácio, que estão dispostos pelo jardim no segundo pátio.

Segundo jardim do Palácio
Ah, muito importante parar e explicar rapidinho isso, o Palácio Topkapi é enorme, tipo gigantesco mesmo, e tem salas muito bonitas e outras não tão ricamente decoradas. Essas últimas são usadas para exposições fixas e temporárias do acervo do Palácio. Conforme eu for descrevendo nosso passeio, falarei de cada exposição.

Chegando no final desse segundo jardim, temos a famosa Porta da Felicidade (não é lindo esse nome?). Na frente dessa porta tem um pequeno marco no chão, bem pequeno mesmo (tipo, se não tivesse a proteção em volta qualquer um passaria por cima sem nem olhar), cercado por uma proteção mixuruca, que é onde se fixava o estandarte de Maomé em ocasiões especiais (como a guerra, por exemplo). A Porta dá para o terceiro pátio, que já era considerado exclusivo do uso do sultão e de sua família, e era usado em algumas ocasiões recebendo a corte, como as coroações. Mas antes de você poder ver o jardim, há uma porta para um pequeno pavilhão que é a sala do trono, ou sala das audiências, muito bonita, e que, claro, tem um trono baixinho e extremamente largo e fundo (eram sultões, não reis, portanto eles ficavam recostados naquelas imensas almofadas... e dá para visualizar isso direitinho). Saindo desse pavilhão, finalmente podemos ver o terceiro jardim, com a biblioteca de Ahmed 3° no centro, e mais um monte de salas com exposições em volta.

Porta da Felicidade, dá pra reparar no cercadinho no chão?
Para não nos confundirmos, continuamos no esquema: círculo começando pela direita, e, portanto, começamos pela exposição de trajes imperiais. Algumas considerações sobre essa linda exposição: os otomanos gostavam de roupas absurdamente folgadas, porque as peças expostas são enormes!!! E não há uma diferença clara entre os cortes das roupas masculinas e femininas (não para mim pelo menos). Os padrões são todos belíssimos e alguns incluem tulipas (mais tarde aprendi que as tulipas são originárias da Turquia! E que há alguns anos os turcos começaram a replantar tulipas em Istambul na época da primavera, fazendo um grande festival na cidade, isso depois de séculos sem nenhuma tulipazinha ser vista na Turquia -- aparentemente as tulipas foram extintas por lá porque só o sultão podia tê-las e aconteceu alguma tragédia que todos os bulbos que eles tinham foram destruídos, ainda bem que a Holanda tinha se apaixonado por essas flores e elas não foram extintas de verdade). Mas as roupas de baixo são as mais interessantes! Aparentemente os otomanos eram muito superticiosos, e as suas roupas de baixo são cobertas por fórmulas mágicas de proteção, incluindo quadrados mágicos (aqueles cheios de números dentro), passagens do corão e formas geométricas. O mais legal é que cada roupa dessa é extremamente diferente da outra... será que eram baseadas no mapa astral dos seus donos e por isso cada um tinha uma fórmula mágica própria?

A exposição seguinte era a do Tesouro Imperial! Ah, que coisa mais linda! Amei! Claro que o diamante de, sei lá, uns 20 quilates, ficaria mais bonito na minha mochila do que naquela vitrine, mas as peças expostas eram todas muito lindas... fiquei especialmente espantada com as caixas de escrever feitas de pedras preciosas, uns pingentes gigantescos que eu não sei como alguém conseguiu usar, e alguns exemplares de adornos de turbantes (parecia que os meus livros de história se tornavam realidade na minha frente!). E tudo feito com cada detalhe... realmente espantoso.

A próxima exposição descrita no nosso guia era a de miniaturas e de manuscritos, mas juro que não encontramos a entrada. Provavelmente também estava fechada :-(

Então resolvemos dar uma volta pelo jardim e visitar a biblioteca de Ahmed 3°, um pequeno pavilhão bem no centro do jardim, com uma fonte absurda entre as duas escadas que dão acesso a entrada. Absurda porque além dela ter 3 torneiras  no nível do jardim (já descobri que o lance dos turcos é ter fonte, eles adoram uma fonte... tem em cada esquina, e uma torneira só é considerado pouco, sempre tem mais), tinha mais uma no nível da biblioteca, no alto das escadas. Exagero, né? Mas a biblioteca é linda! Além de ser ricamente decorada, ela é cheia de lugares para se sentar para ler... tudo no chão, à moda árabe mesmo, e com almofadões... adoraria passar o tempo ali naquelas almofadas lendo...

Biblioteca de Ahmed 3°

A fonte na entrada da biblioteca

O outro lado da fonte, em cima da escada

Dentro da biblioteca!
Dali fomos para o lado esquerdo do jardim, para procurar a exposição de relógios (já não tínhamos achado uma exposição, começamos a achar que o problema podia ser nosso), e gente, fiquei emocionada, porque lembrei do meu pai, que era aficionado por relógios. E nessa exposição tinha todo tipo de relógio que você pode imaginar... tinha até um com o ciclo da lua e dos planetas! E tinha um em forma de pistola que eu tenho certeza que vi num livro de relógios bizarros que eu dei para o meu pai. Enfim, vale a pena a visita.

Ao lado dessa exposição tinha a única sala com uma fila na porta: a sala que guarda as relíquias de Maomé. Você acha que só os cristãos têm pedaços da cruz o suficiente para fazer uma caravela? Precisa ver os muçulmanos com as barbas do profeta! Sim, finalmente entendi de onde vem essa expressão. Ela é literal mesmo! Mas, a exposição é muito interessante, além de ter roupas que foram de Maomé, e utensílios de seus, ah, seria o equivalente aos apóstolos, incluindo suas armas (sim!!! armas!!!), a exposição tem exemplares das barbas do profeta (claro, não podia faltar!) e relíquias da Caaba (como as suas chaves, portas antigas e calhas de chuva - de ouro!!!!). A quantidade de muçulmanos e mulheres de véu nessa sala é imensa! E eles rezam e passam a mão em algumas peças... e as mulheres cheiram as barbas do profeta. Sério. Elas cheiram mesmo! Enfim, cada povo com a sua esquisitice.

Depois disso, finalmente fomos para o quarto e último pátio do Palácio, que é onde o sultão passava o dia fora do harem. Esse pátio é composto de diversos pavilhões, todos lindamente decorados, e jardins entre eles (essa parte do palácio não tem o formato cercado de pavilhões dos pátios anteriores). Ali ficam dois restaurantes, um mais chique e outro ao ar livre, com uma linda vista para o Bósforo, o pavilhão das circuncisões (descobri que os muçulmanos fazem da circuncisão um ritual de iniciação no islamismo, e ela é feita quando o menino tem uns 7 anos de idade! fiquei com pena), o pavilhão Bagdá (construído em 1639 para comemorar a tomada de Bagdá) e o pavilhão Iftariey, que tem uma vista linda. Essa parte do Palácio não tem exposições, só lindos salões decorados para visitar, e é ótimo sentar num dos banquinhos do jardim para tomar uma água e descansar os pés.

Um dos pavilhões para ser visitado!

Jardim com outro pavilhão.
Já era hora do almoço, mas não estávamos com fome, e, na verdade, estávamos preocupados com a hora, porque ainda queríamos visitar o Museu Arqueológico e já era 13h. Resolvemos começar a voltar e ir direto para o que ainda não tínhamos visto, lá no segundo pátio.

Voltando ao segundo pátio, fomos ver o Divan (não, não é um sofá usado para psicanálise, é o nome do pavilhão onde o conselho do estado se reunia com o sultão - que espertamente ficava separado dos seus vizires por detrás de uma treliça, de forma que ninguém poderia ver suas reações ao que era dito na sala), que é uma sala especialmente bonita e muito dourada. Teoricamente a exposição de armas deveria ficar ao lado do Divan, mas também não vimos a entrada.

Entrada do Divan

Treliça de onde o sultão observava as reuniões
Saindo do Divan, compramos nossos ingressos para o Harem (mais baratos que os do Palácio pelo menos) e fomos visitar os apartamentos individuais da família do sultão. É nessa área do palácio que ficam os quartos das concubinas, da sultana, dos príncipes e de alguns dos sultões (alguns preferiam ficar no quarto pátio). Tudo ricamente decorado, e bem fechado. A única vista mais aberta que vimos foi para um pátio interno com uma piscina de pedra gigante (acho que seria equivalente a uma piscina olímpica). Essa parte do palácio é onde fica mais visível as mudanças estruturais feitas através do tempo, onde vemos muito claramente as adições feitas de quartos e estruturas, porque simplesmente nada combina com nada. As janelas são diferentes umas das outras, o material usado para fazer as paredes são diferentes... as alturas e tamanhos das coisas variam. Uma loucura.

Dentro do Harem

Repare como cada pedaço da construção é diferente

Gamei nessa foto... a luz é natural, vinda de aberturas no teto!
Saímos do Harem cansados e, finalmente, com fome. Mas como não queríamos ir de novo até o restaurante dentro do Palácio resolvemos comer na saída, já a caminho do Museu. E na saída, bem a nossa direita, tinha uma lanchonete vazia. Fomos até lá e comemos sanduíches. O Caike pediu um suco Cappi (o suco DelValle deles) e eu resolvi experimentar um suco de flor de papoula. Era até interessante, mas extremamente doce. Matou a vontade de sobremesa, mas me deixou com sede.

Nosso almoço/lanche!
A esse ponto já era quase 15h da tarde, e já estávamos mortos por conta do jetlag, mas fomos bravamente até o Museu Arqueológico, onde descobrimos que ficava junto com o Museu do Antigo Oriente (ótimo, dois por um!). Na entrada havia uma placa com letras garrafais "AQUI NÃO É O TOPKAPI", o que eu achei muito engraçado, e honesto. O mesmo aviso se encontrava na bilheteria, para caso o turista distraído ainda não tivesse percebido. Compramos nossas entradas (ainda mais baratas que as do Harem) e entramos num grande pátio cercado de prédios imensos. No jardim, à direita, tinha uma lanchonete, cujas mesas ficavam entre diversas peças arqueológicas com jeitão grego-romano. E antes desse jardim ficava o menor prédio do complexo, que era o Museu do Antigo Oriente, e que visitamos primeiro.

O caminho para os Museus

Os achados arqueológicos expostos ao ar livre... bem amostra grátis com direito a poder tocar, sentar em cima...
Me senti uma criança num parque de diversões: tanta coisa linda para ver! E incluía pedaços do portão de Ishtar da Babilônia, que eu ADORO! E também o tratado de Kadesh (o primeiro tratado de paz da história! feito entre os Egípcios e os Hititas, há uma descrição da batalha que levou a esse tratado nos livros da série Ramsés do Christian Jacq, detalhes sobre essa série aqui), e muitas outras coisas todas lindas! O único problema é que o prédio é quente. E não tem ar condicionado. E para variar, dá um certo nervoso ver tudo aquilo exposto sem nenhuma proteção.

Saindo desse Museu, fomos para o próximo pavilhão, um prédio baixo todo branquinho e com uma entrada deslumbrante de azulejos. Adivinha o que tinha dentro? Mais azulejos e porcelanas! Uma exposição muito bonita e colorida. Mas novamente o prédio não tinha ar condicionado e era quente... algumas salas mais do que outras, por conta das janelas.

A entrada maravilhosa de mosaicos do pavilhão de cerâmicas

Essa era uma cópia de um quadro bastante conhecido que estava...

Em frente ao lugar onde ele foi pintado!!! O.O
Finalmente fomos para o prédio "novo" do museu, que tem 3 andares, além do térreo. Confesso que conforme fomos andando por esse prédio, minha atenção foi diminuindo, por conta tanto do cansaço quanto do calor, e quando finalmente chegamos no último andar, tudo o que víamos era "pedra", "vaso" e "tralha". Certamente é um museu para visitar numa época mais amena do ano, e com um dia inteiro só para ele. Nós estávamos tão cansados que teve uma hora que o Caike pediu para sentar e cochilar por 5 minutos (ele já estava dormindo em pé, coitado, e ele ainda por cima não é tão resistente ao calor como eu).

Para piorar, o caminho da exposição não é claro, e o prédio é um grande labirinto, em outras palavras, nos perdemos diversas vezes, e quase desistimos de ir ao terceiro andar quando descobrimos que ele existia. Mas fomos mesmo assim. E valeu uma vista no mínimo inusitada da parte de trás do prédio, onde se pode ver um conjunto imenso de ruínas cobertos por trepadeiras. Não sei que ruínas eram, mas eram bonitas.

Ruínas não identificadas
Apesar do cansaço, consegui notar que o museu tem uma linda coleção de sarcófagos romanos, muitas estátuas de estilo clássico e dentro dele há sessões de achados arqueológicos encontrados por toda Istambul e também de toda Anatólia (parte asiática da Turquia). Com mais tempo e disposição a visita teria sido mais proveitosa, mas mesmo assim o museu deixou uma impressão muito boa. Adoramos a visita.

Nesse ponto estávamos exaustos, e tudo o que queríamos era voltar para o hotel. Mas na saída do museu, depois de passar rapidamente pela entrada do Parque Gülhane, eu cismei que queria terminar de ver a área, e arrastei o Caike para a Mesquita de Zeynep (uma princesa otomana, muito devota, que mandou construir uma Mesquita para si mesma em 1769), que, comparada ao que vimos depois era muito sem graça, além de bem pequena. Mas foi a primeira mesquita que visitamos, então vale a pena mencionar. Como não estava no horário de nenhuma oração, a visita foi super tranquila, nem precisei cobrir a cabeça para entrar.

Parque Gülhane
Depois eu cismei em entrar numa galeria de arte, o que foi bom, porque ela era climatizada! E vimos algumas obras muito interessantes, e todas extremamente caras. Mas conversando com a vendedora, descobrimos que estávamos do lado de uma escola de artes, e novamente arrastei o Caike comigo. E ainda bem que fiz isso, pois descobrimos um lugar lindo! Construída em 1559 como uma medresse (escola muçulmana) por um eunuco, hoje o Pátio Cafer Aga é uma escola de artes, com um lindo café no centro, onde além de se vender artesanato típico turco, você poder fazer aula de caligrafia, música, desenho, pintura e porcelana.

A entrada do Pátio Cafer Aga
Despencamos numa das mesas do café e o Caike pediu um café turco, enquanto eu fiz um repeteco no Ayran. Aproveitei para tirar algumas fotos desse lugar bucólico e olhar as lojinhas, todas muito lindas e cheias de peças interessantes. Finalmente refeitos do Museu Arqueológico, resolvemos voltar ao hotel, mas na saída da escola paramos numa loja belíssima de cerâmicas, onde eu aumentei a minha coleção de gatos e o Caike bateu o maior papo com o vendedor.

Para ter uma ideia do café do Cafer Aga
Agora carregados e cansados, passamos pelo Pavilhão Alay e pela Porta Sublime (uma porta realmente muito bonita de um prédio do governo) e fomos para a estação de bonde Gülhane. Enquanto esperávamos pela "composição", avaliamos o nosso mapa, e chegamos a conclusão que a estação de Findikili era a mais próxima da praça Taksim. Saltamos todos felizes e de mapinha na mão. E nos demos mal, muito mal. Não havíamos reparado que a tal Praça fica num ponto extremamente alto da parte nova da cidade (dá pra ver o mar, inclusive, mas eu só reparei nisso depois), e quando entramos na rua indicada pelo mapa demos de cara com uma ladeira dessas que desanima só de olhar.

A Porta Sublime!
Estávamos cansados e com sono, mas pegamos nossas últimas energias e encaramos a subida. E a distância que parecia uma caminhadinha de 10 minutos virou um passeio de quase 1 hora. Claro que parte desse tempo foi dedicado a única coisa interessante que tinha nessa rua: um supermercado. Não sei quanto a vocês, mas eu acho extremamente interessante visitar supermercados estrangeiros. E o supermercado turco não foi diferente! Nele encontramos diversas marcas de ayran e de queijos de nomes impronunciáveis na sessão de frios. Descobri que o pistache é o amendoim turco: tem de tudo quanto é marca, é baratinho, e é uma das castanhas mais usadas nos chocolates (com direito a chocolate ao leite, amargo e com altos percentuais de cacau, nham!) e nos biscoitos. Na sessão de sopas prontas, o mais diferente que vimos foi uma sopa sabor kofte (aquelas almôndegas achatadinhas divinas de carneiro). Acabei comprando pistaches. E na fila do caixa, na minha frente tinha brasileiros! Somos as novas baratas do turismo, estamos em todo canto!

Saindo do pequeno paraíso, voltamos a enfrentar a ladeira, e chegamos exaustos no hotel. Mas daí já estávamos com fome! Claro, depois de tanto exercício, né? Então esvaziamos as mochilas, telefonamos novamente para a agência de turismo (que confirmou apenas o horário da excursão do dia seguinte, ainda não havia previsão de mais nenhum horário... mas pelo menos o cara do espanhol tosco estava certo) e saímos para jantar.

Na volta ao hotel, o Caike tinha visto um restaurante com um nome engraçado, onde ele cismou que queria jantar: Zeugma (uma figura de linguagem! O Caike tem uma memória e tanto para algumas coisas muito estranhas...). Então foi para lá que nos dirigimos, e no caminho tivemos que nos livrar de mais um cara querendo nos levar para algum restaurante desconhecido... mas pelo menos dessa vez o cara realmente trabalhava no restaurante, veio com o menu e tudo! E tentou de tudo para nos convencer, ficava na nossa frente mostrando o cardápio (cheio de fotos dos pratos, como no Japão), prometeu que se nós não gostássemos da carne não precisávamos pagar... enfim, foi muito insistente. Mas nós queríamos figura de linguagem!!!

Finalmente chegamos no tal restaurante, que tinha um cardápio muito parecido com o que o tal cara queria nos levar, diga-se de passagem, e pedimos um espeto de cordeiro e kebab (que era igual a nossa kafta na aparência, só que mais gostosa). Para beber pedimos chá, o Caike de maçã (eu já tinha ouvido falar bem desse chá) e eu um turco (que na verdade era chá preto, mas estava muito bom). Eu ainda ganhei um chá extra, porque quando estava no finalzinho o garçom tentou levar minha xícara embora e eu a pedi de volta, daí ele disse que retornaria com uma nova por conta da casa :-) De sobremesa eu pedi baklava (um doce que tem muito por aqui também, que é um folheado com castanhas e mel por cima), mas não consegui comer tudo porque vinham muitos pedaços! E olha que a porção era individual!

Meu belo jantar com chá turco!
Na volta ao hotel ainda parei numa loja linda de bijoux feitas inteiramente de metal... umas coisas muito diferentes e interessantes... e me abasteci para as próximas temporadas de dança! Chegando no hotel ainda gastamos o que tínhamos de energia (que era bem pouca) para testar a internet do lobby, que era surpreendentemente boa, apesar de bloquear alguns sites, como blogs. E depois fomos dormir, porque o dia seguinte começaria muito mais cedo, e não poderíamos nos atrasar.

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