quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Kisses from Kairo - O Grande “M” Amarelo



Sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha    

Sim, eu estou falando daquele M. McDonalds. O lugar que nenhum americano viajando pelo exterior e com algum respeito por si mesmo seria encontrado, nem morto. Nós, americanos que viajamos pelo exterior, sofremos de uma espécie de “complexo do McDonalds”. Somos dolorosamente conscientes de que o resto do mundo nos vê dentro de um estereótipo de provincianos, sem experiência de viagens, caubóis sem cultura que só sabem falar a sua própria língua e que só comem fast food. Então, para provar para o mundo (e nós mesmos) do contrário, uma das coisas que evitamos é comer no Mcdonalds. Mesmo que seja para o nosso próprio bem.

Eu sou uma dessas americanas que sofre do complexo do Mcdonalds. Não só porque comer no McDonalds é um indício de mentalidade estreita, mas por causa de tudo que a fast food passou a simbolizar ao longo dos anos. Especialmente aqui no Oriente Médio. Sendo uma das maiores corporações do mundo, é um símbolo da hegemonia econômica e cultural americana. E, portanto, não é de admirar que os restaurantes do McDonalds se tornassem um dos alvos favoritos da violência antiamericana no mundo árabe.

Tendo isso em mente, eu tento evitar comer no McDonalds quando estou aqui no Egito, ou em qualquer outro lugar, em se tratando desse assunto. Não só pelo o quê simboliza, mas também porque é uma comida ruim. E eu gosto de experimentar as comidas locais. Isso sem mencionar que eu nunca comia no McDonalds quando eu estava morando nos EUA. Então porque eu iria adquirir esse hábito agora que estou morando no exterior?

PORQUE EU JÁ PERDI A CONTA DE QUANTAS VEZES EU TIVE INTOXICAÇÃO ALIMENTAR DESDE QUE COMECEI A VIAJAR 8 ANOS ATRÁS, TUDO PARA NÃO SER UMA AMERICANA IGNORANTE E FREQUENTADORA DO MCDONALDS!

Até agora, eu consegui ter uma intoxicação alimentar em quase todos os países que visitei. O último foi a Polônia. Eu sempre sonhei em conhecer a Polônia desde que comecei a estudar a Segunda Guerra Mundial no colégio. Então quando surgiu a oportunidade de ensinar no Suraiya and Mansour’s Euro Raks Festival na Polônia, eu aceitei de bom grado. Mas assim que saí do avião, comi algo que não devia, e antes que eu percebesse já estava correndo atrás de um banheiro.

O que aconteceu é que eu tive uma escala de 9 horas em Warsaw antes de seguir para a cidade de Katowice, onde o Euro Raks Festival estava acontecendo. E com todo o meu entusiasmo turístico, eu perambulei pela cidade até chegar a hora da minha conexão. Admito que não falo nem uma palavra de polonês, e que não sabia nada sobre os lugares que estava visitando, mas não importava. Eu estava feliz só de sentir o ar frio, fresco da Polônia, e de ver cores tão vívidas a minha volta, especialmente o verde! (Faz um tempo que não vejo essa cor.) Eu estava especialmente intrigada com a arquitetura... e as igrejas! Eu não sou religiosa nem nada, mas ver as igrejas me deu uma sensação de calma que eu não sentia há tempos. Era uma sensação tão boa que eu quis intensificar ainda mais entrando em uma das igrejas. E como foi intenso. Sem nenhuma razão aparente, de repente comecei a chorar copiosamente. Eu não sei por qual razão estava chorando. Ou porque, de todos os lugares, eu estava chorando na Igreja de São João Batista na Polônia. Especialmente se levar em consideração que eu não chorava há muuuuuuuuuuito tempo. Era a primeira vez que eu pisava numa igreja depois de muitos anos, entretanto. Talvez tenha a ver com isso.

De qualquer forma, eu me recuperei e continuei andando pela linda cidade até que senti fome. As coisas foram ladeira abaixo a partir desse ponto. Tinha um grande “M” amarelo bem na minha frente. Me chamando. Ah, se eu soubesse. Ao invés disso, resolvi comer num restaurante polonês, e corajosamente pedi sopa de ervilha com uma porção de kielbasa, e bolinhos de espinafre com queijo. Eu normalmente não como porco. Não por razões religiosas, mas porque eu não gosto muito. Mas, bem, o que seria de uma viagem à Polônia sem kielbasa? E qual é a graça de sair do Cairo sem aproveitar para fazer todas as coisas não dá pra fazer lá, como comer porco, tomar cerveja, e andar por aí seminua? Então a infiel dentro de mim pediu porco.

E então, Deus me puniu. Ele me mandou direto para as entranhas do inferno – ou melhor dizendo, mandou o inferno direto para as minhas entranhas! No banheiro do avião da minha conexão para Katowice, claro. Se você nunca passou por isso, deixe-me ser a primeira a te contar que não há nada pior do que ter diarreia a 9 mil metros de altura. Se já é ruim o suficiente NO nível do mar, imagine numa altura dessas!

E para a minha sorte, a intoxicação alimentar foi ficando cada vez pior ao longo da noite até o dia seguinte, no qual eu estava escalada para dar aula. Eu estava completamente desidratada, com dores, exausta e com fome, comecei a pensar em trocar de lugar com alguém que daria workshop em algum outro dia. Parecia simples, mas aparentemente teria sido um pesadelo logístico. Então eu tinha apenas uma escolha: ou cancelar a aula e perder a oportunidade, ou dar a aula de qualquer jeito, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse. Escolhi a segunda opção. Sendo os anfitriões magníficos que eles são, Surayia e o seu marido me entupiram de Stoperan, ou “rolha” como eu gosto de chamar (:D), um remédio para diarreia muito comum na Polônia. Eu tomei tanto quanto era humanamente possível, esperando que o meu problema fosse resolvido antes da aula.

Não tive sorte. Na verdade, eu acabei por vomitar uma hora antes da aula. Nessa hora, qualquer pessoa em sã consciência teria provavelmente cancelado o workshop. Mas eu não. Entrei no banho (de novo), taquei maquiagem na cara e arrestei a minha bund@ para a aula.

O que aconteceu logo depois foi uma espécie de milagre. Consegui ensinar minha entrada super energética com sucesso, para uma sala cheia de lindas, talentosas e notáveis jovens mulheres. Elas já tinham ouvido falar que eu estava doente, então elas souberam ser pacientes comigo. Elas até me levaram uma bandeja cheia de cookies, e brincaram sobre a ironia de eu sair do Cairo para ficar doente na Polônia! Entre os cookies, a bondade e as gargalhadas delas, eu consegui ir até o final da aula, não obstante as tonturas. Louvado seja o Senhor que me puniu por ter comido porco! :D

Moral da história. Eu deveria ter comido no McDonalds. Tem vezes que vale a pena ter mentalidade estreita, provinciana e sem-vergonhadamente americana, e seguir com o já conhecido, testado e aprovado. Especialmente quando as alternativas incluem fois gras (gansos forçados a comer), kielbasa, wienerschnitzel, mumbar (intestinos recheados), cérebro de boi frito, testículos de boi fritos... Apesar dos pontos negativos, pelo menos você sabe o que esperar no McDonalds. E você nunca vai passar mal por comer um Big Mac (a não ser que inclua ratos! >D). Sensação de culpa, sim. Intoxicação alimentar, não.

Essa experiência me ensinou mais uma coisa. Localizar o McDonalds mais próximo quando estiver visitando um país estrangeiro é tão importante quanto saber onde fica a embaixada americana. Em momentos de crise, ambos podem ser os salvadores da pátria. Na verdade, eu acho isso tão importante hoje, que acho que pequenos “M” amarelos deveriam ser marcados nos mapas turísticos junto com os museus, igrejas e hospitais. :)

E realmente, eu me lembro especificamente de outra ocasião em que um McDonalds teria caído muito bem. Foi quando eu estava num hospital na Síria 5 anos atrás. Só que não há McDonalds na Síria.

No final da minha estadia de 2 meses para estudar em Damasco, eu visitei a família sírio-americana de um ex-namorado meu em Idlib. Eu não me lembro o que comi, mas deve ter sido algo muito ruim, porque a próxima coisa que me lembro é que eu estava num hospital com febre, completamente desidratada e delirando depois de 24 horas de diarreia contínua (com banheiros turcos, para tornar a situação pior). O médico me informou que minha única opção era tomar uma injeção com uma agulha absurdamente grande e não-descartável no traseiro. Percebendo o pânico no meu rosto, ele me empurrou para que eu ficasse de lado e me segurou para dar a injeção. Só que eu resisti. Nós continuamos a nos empurrar e a nos bater até que as irmãs do meu ex, que estavam vendo o que estava acontecendo, se sentiram mal por minha causa e me arrastaram para o banheiro (que também era estilo turco).

Sem querer correr o risco de pegar AIDS por conta daquela agulha, a única coisa que me restava era induzir o vômito para tirar o estava me envenenando do meu corpo. Fácil de falar. Eu nunca tinha feito isso, e estava com medo de tentar. Então as irmãs dele me ofereceram os dedos delas! Hum, não... apesar de apreciar o gesto. Como eu queria acabar com o problema o mais rápido possível, coloquei 2 dedos na garganta e consegui, na frente de duas mulheres. Nojento e vergonhoso.

Aqui no Egito, é fácil arranjar uma intoxicação alimentar também. Apesar de o culpado ser geralmente a água. Mas como nunca bebo água da bica, e quase sempre cozinho, eu normalmente não fico tão doente como costumava ficar quando visitei o Egito pela primeira vez 7 anos atrás. Além disso, devo ter ficado imune a mais coisas do que posso imaginar. Aqui eu nunca nem menciono a palavra McDonalds, a não ser como ponto de referência, ou um lugar onde marquei de encontrar alguém na frente.

Ok, ok. Isso não é totalmente verdade. Admito que de vez em quando sinto um tipo de “desejo” por um Big Mac. Mas eu acho que isso significa que estou com saudades de casa. Não porque eu comesse isso em casa. Mas porque é um símbolo de tudo o que é americano, é como se eu tivesse comendo um pedaço da própria América. Isso, além de soluçar toda vez que escuto Whitney Houston, Celine Dion, ou Madonna tocando num taxi ou num café, é certamente um sinal de que você está com saudade de casa e algo precisa ser feito com relação a isso. :)

A melhor coisa do McDonalds aqui no Egito, entretanto, é que eles fazem entrega – na sua mesa e na sua casa! Não é exatamente fast food, já que serviço é bem lerdo, mas tudo o que você precisa fazer é pedir no caixa, escolher um lugar e esperar um garçom trazer a sua comida. Ou então, telefonar pra um número especial do seu celular, e esperar o entregador do McDonalds trazer o seu McLanche Feliz numa motocicleta vermelha especial. A McMotor. ;)

E eu não acredito que acabei de escrevei um post inteiro sobre o McDonalds. Eles deviam me pagar por isso!

Um comentário:

  1. Nossa eu adoro acompanhar este relatos. Amoooo! Obrigada por trazer para nós!
    Bjs, Paz e Luz!

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