Sexta-feira, 1° de junho de 2012
Por Luna do Cairo
“El-Tet” TV 24h de
dança do ventre
Desculpem, mas será um
texto longo. Eu tenho muito a dizer.
Se existe alguma coisa positiva vindo do Egito
pós-revolucionário, é o novo canal de TV de dança do ventre “El-Tet”. El-Tet,
que é sediado no Bahrain e tem um escritório no Cairo, tem uma programação de
apresentações de dança do ventre de bailarinas egípcias e estrangeiras 24 horas
por dia. É isso mesmo. Shimmies e ondulações o dia inteiro na TV nacional egípcia.
O canal, que tem um pouco mais de um ano, tira o seu nome da palavra árabe que
denomina a parte com acordeão/tabla de uma música baladi. Na verdade se pronuncia “tit”, que obviamente traz à mente
uma imagem equivocada para os falantes da língua inglesa (N.T.: em inglês a
palavra “tit” pode significar seios). É por isso que você verá quase sempre
transliterado como “El-Tet”. Com “e”, não “i”. :)
A primeira vez que ouvi falar sobre o novo canal foi em
dezembro, quando alguns dos meus músicos insistiram que tinham me visto na TV.
Eu nunca tinha ouvido falar do canal, e não tinha a menor idéia do porquê que eles
estavam dizendo isso, apesar de achar muito engraçada a idéia de haver um canal
chamado “The Tit” (N.T.: em inglês, “O Seio”). Então presumi que eles
provavelmente haviam visto outra bailarina que se parecia comigo. E eu estava
certa. Meu derbakista me mostrou o
clipe no seu telefone celular da bailarina em questão, e com certeza não era
eu. Não sei como me confundiram com ela, mas, novamente, os egípcios tendem a
achar que nós, estrangeiras, somos todas iguais. :)
Dançando ao som de “Ya Helwa Sabah” no El-Tet
Naquela noite, cheguei em casa e sintonizei no El-Tet. Achei
estranho ver tantas bailarinas não-egípcias, muitas das quais eu conheço, dançando
na TV egípcia. Dos EUA eu reconheci a Sadie, Sabah e Virginia. Eu vi a Saida da
Argentina. Do leste europeu, eu vi Maria Shashkova, Dariya, e um monte de
outras bailarinas russas e ucranianas das quais eu nunca tinha ouvido falar.
Hum. Como isso funciona, me perguntei. Seriam vídeos do YouTube? As bailarinas
de fora do Egito sabiam do canal e mandavam os seus vídeos? Por que não
apareciam as bailarinas estrangeiras que trabalham no Egito? E mais importante,
onde estavam as bailarinas egípcias?
E então, como que para responder a minha última pergunta, o
canal passou um monte de performances de bailarinas egípcias. Nenhum nome
importante, nem nada. Apenas bailarinas medianas do mercado. De 5 egípcias, eu
conhecia 1 e gostava de 2. Suas danças nada tinham de extraordinário, mas
fiquei feliz de vê-las no canal. Diferentemente das estrangeiras, elas foram
filmadas em cenários, pela equipe de produção do canal. Pela primeira vez, eles
alugaram um espaço e contrataram uma banda. Só que a banda não tocava. Eles
apenas ficavam nos seus lugares atrás das bailarinas, fazendo parte do cenário,
enquanto as bailarinas dançavam ao som de CD. Cada uma tinha 3 ou 4 clipes – 1
ou 2 junto com um cantor, e 2 ou 3 sozinhas. A maioria das músicas que elas
dançavam eram canções shaabi mais
novas, daquelas que você escuta nos cabarés ou nos took-tooks – você sabe, aqueles carros pretos pequenininhos que
andam pelas ruas do Cairo? E a dança era mais do tipo Cabaré Haram do que raqs sharqi, mas tudo bem. (N.T.: Haram
em árabe quer dizer “pecado”, “proibido”, e raqs sharqi é o nome da dança do
ventre em árabe). Esse é o estado da arte.
Controvérsia Comercial
Depois de passar dois dias assistindo exclusivamente ao
canal, eu comecei a reparar nos comerciais, que foram o pretexto para a prisão
do dono do El-Tet na semana passada (por sinal, ele já foi libertado). Eles
eram comerciais caseiros descarados, nojentos, que anunciavam quase que
exclusivamente todos os tipos de produto para melhorar o desempenho sexual,
para aumento dos seios e do pênis, e poções mágicas para esse ou aquele
problema. O comercial para disfunção erétil é o meu favorito. Ele mostra as
fotos de antes e depois de um homem com um grande bigode caído e cheio de gel. Na
foto do depois aparece o bigode mudando de direção e em progressão constante
para cima. Sutil, né? Também têm anúncios de detectores de mentiras e câmeras
com raio-x, coisas que estou morrendo de vontade de comprar. :)
Brincadeiras à parte, os anúncios são de mau gosto.
Quer dizer, se eles fossem um pouco mais sutis e profissionais, daria para
passar. Mas combinados com os anúncios pessoais (N.T.: tipos de anúncio de pessoas procurando alguém para um encontro) que vão passando
na parte de baixo da tela durante os vídeos das danças das bailarinas, eles
passam a ser revoltantes. Sem mencionar que eles dão uma má reputação imerecida
ao canal e à dança.
Dando uma olhada no resultado da filmagem com o produtor |
Ótimo. Então eu já disse o que tinha a dizer. Já dei vazão
ao sentimento de muitas bailarinas de dança do ventre ao redor do globo que acham
que o canal é humilhante, e que ficaram satisfeitas com a prisão do dono por
conta dos anúncios que foram ao ar. Agora escutem o que tenho a dizer sobre porque eu
apoio o canal, ou melhor, porque estou disposta a fazer vista grossa com a
existência desses comerciais.
Colocando de forma direta, de um lado, o El-Tet tem como
opção aceitar esses anúncios de produtos sexuais, ou do outro, fechar as
portas. E na minha nem tão humilde opinião, manter o canal funcionando com
comerciais desleixados é dos males o menor. Esse canal não só devolve a dança
às pessoas, mas é um avanço para as mulheres, para a arte, a cultura, e para a
razão. Além disso, é um tapa na cara dos fanáticos religiosos, da misoginia, do
irracional, da ignorância e do ódio. Assim, eu os saúdo a resistir à maré de
fanatismo religioso que tem tomado o país de assalto.
Como qualquer um da área de comunicação sabe, comerciais são
uma fonte indispensável de recursos. Sem comerciais, não há dinheiro. Sem
dinheiro, não há meio de comunicação. No momento, esses anúncios são a única
fonte de renda disponível para esse jovem canal de dança do ventre. E como
dança do ventre no Egito é equivalente à prostituição, nenhuma companhia
respeitável está disposta a anunciar num canal que mostra dança do ventre. Nenhuma
companhia de celular ou de móveis, em seu perfeito juízo, iria pagar para ter
os seus produtos associados à prostituição. Para piorar as coisas, o El-Tet não
recebe dinheiro de nenhum artista. E mesmo que recebesse, não seria suficiente
para sustentar o canal. Então, ele é forçado a aceitar esses anúncios para
sobreviver. Eu estou disposta a perdoar isso. Como o canal faz mais bem do que
mal, nós podemos considerar em aceitar que, nesse momento da história, o canal
precisa funcionar em circunstâncias não ideais.
Guerra à cultura?
Mais importante, entretanto, é que eu vejo esse incidente com o
El-Tet como o último numa guerra de larga escala contra cultura que tem
acontecido no Egito. Desde a queda de Mubarak, forças religiosas têm atacado a
cultura de forma nunca vista no Egito. Eles estão se opondo a tudo, desde dança
do ventre ao cinema e à cultura faraônica. Nem mesmo a esfinge ficou imune! De fato, antes da prisão do dono do El-Tet, o famoso ator egípcio, Adel Imam,
corria o risco de ser sentenciado à prisão por “blasfêmia”. A máfia barbuda agrediu
fisicamente estudantes de cinema na Universidade Ain Shems por fazer uma
reconstituição da época de Sadat. Muitos cabarés ou foram queimados ou
comprados por grupos religiosos, ou fechados por falta de clientes. E hotéis
como o Grand Hyatt e o Mena House cancelaram todos os seus shows de dança do
ventre. Você pode ler mais sobre esse tipo de coisa aqui.
De forma similar, a prisão feita semana passada foi um
ataque à dança e às mulheres. Apesar do dono ter sido preso sob acusação de
“facilitação à prostituição” por mostrar anúncios durante os clipes de dança, o
problema “real” é que tem mulheres semi-nuas rodopiando pela rede nacional de
TV. E todos nós sabemos o que as pessoas religiosas acham disso. Os
espectadores reclamaram dos comerciais, sim, mas isso apenas deu às autoridades
uma desculpa para atacar o canal. Isso fica claro à luz do fato de que o Egito
já tem um canal de TV que mostra anúncios pessoais 24h por dia, e que a
polícia da moral não fez nenhum barulho com relação a isso – por mais visuais
que esses anúncios possam ser, são apenas palavras. Lembrem-se que nem todos
conseguem ler. Mas quase todo o mundo pode ver. E eu aposto que a maioria dos
espectadores está muito ocupado prestando atenção nas bailarinas para notar os
comerciais na parte de baixo do vídeo.
Eu não estou defendendo o canal porque fiz alguns vídeos com
eles, diga-se de passagem. Não há nenhum interesse pessoal aqui. Mesmo antes de
eles me pedirem para me filmar, eu já havia percebido o grande avanço que esse
canal representa para a dança, e mais importante, para o Egito. Se posso dizer
alguma coisa, minha colaboração com o canal me deu a rara oportunidade de
conhecê-los pessoalmente e ver suas verdadeiras intenções. E eu posso dizer que
são as melhores.
Minha experiência com
o El-Tet
Ao contrário do que eu esperava inicialmente, todas as
pessoas que trabalham no canal são decentes e respeitáveis. Não há nenhum
cafajeste, como se espera encontrar no mundo da dança do Egito. Desde o próprio
dono do canal, até os produtores e maquiadores, cada um tem como compromisso
promover a dança do ventre como arte. E mais, eles gastam milhares de dólares
para garantir que os clipes que eles filmam serão agradáveis e respeitáveis. Se
você der uma olhada nos vídeos, você verá que eles são gravados em lindas casas
de campo com lareiras, móveis bacanas, relógios de parede e confete (!) etc. É
óbvio que eles estão dando o máximo de si para criar uma imagem positiva.
Trabalhar com eles tem sido um grande prazer. Nas duas vezes
em que fui filmada, eu iria aparecer na locação com os meus figurinos. A equipe
de produção iria dar uma olhada neles e escolher aqueles de que gostava mais.
Eles ficaram especialmente intrigados com a minha roupa da bandeira americana,
e me pediriam para usá-la, mas em ambas as vezes eu recusei. O clima político
atual me deixa um pouco desconfortável. Então, ao invés dele concordamos na
minha roupa de recortes de jornal. :)
Sendo montada pelo maquiador do “El-Tet” antes da filmagem |
A primeira filmagem que eu fiz foi muito interessante. Eu
não sabia bem o que esperar. Cheguei à casa de campo às 10h da manhã, cansada e
com fome, e bebi copos de café além da conta enquanto esperava para ser arrumada.
Havia mais 4 bailarinas egípcias passeando pelo complexo da casa. Algumas
estavam sendo filmadas. Outras estavam fazendo ou o cabelo ou a maquiagem.
Depois de algum tempo de espera, chegou a minha vez de ser embonecada. Os
maquiadores e cabeleireiros estavam sob ordens restritas de me manter com um
jeito “estrangeiro”. Isso significa uma base branca, sem delineador preto, sem
sombras escuras, batom de tom nude e o cabelo preso e liso. A única coisa
“egípcia” em mim eram as sobrancelhas. Você sabe, aquelas sobrancelhas zangadas
em forma de V que são a marca registrada da maquiagem egípcia? :)
Quando eu sugeri que usassem um pouco de delineador preto em
mim eles responderam brincando que delineador preto é coisa de prostituta! :) E
quando eu sugeri que eles me fizessem parecer mais exótica eles responderam que
eu já era exótica. Bom, para eles eu era. Para mim, eu apenas não conseguia me
reconhecer. E nem me sentia como uma bailarina de dança do ventre. Mas deixei pra lá. Talvez eles vissem algo que eu não conseguia ver.
Pouco depois, um jovem se aproximou com uma bandeja cheia de
glitter numa mão, e um batom vermelho na outra. Ele encheu todo o meu corpo de
glitter – braços, pernas, barriga, colo e tudo o mais – com as próprias mãos. Então
ele esfregou o batom nos meus joelhos, decote e axilas! Essa foi a primeira vez
que eu deixei um egípcio desconhecido colocar as mãos em mim. Eu não pensaria duas
vezes se fosse nos EUA, mas aqui as coisas são diferentes. Entretanto,
estranhamente ele foi rápido e profissional, e não havia nada de estranho
naquilo.
Depois era hora da filmagem. A equipe de produção queria que
eu dançasse num corredor estreito, insistindo que ficaria lindo no vídeo. E
ficou, exceto que eu não tinha espaço para me mexer e esticar os braços. Eu me
senti como a Jeanie dançando dentro da garrafa. E eu usei um véu para a minha entrada de “Set el hosen”. Fora que os meus braços pareciam amassados e que
tinha alguns cortes feios na edição, fiquei satisfeita com o produto final.
O próximo clipe que filmei foi com o cantor Ahmed Salah.
Ahmed é um cantor popular de shaabi
do circuito noturno, e meio que se parece com o Baha Sultan (N.T.: cantor
egípcio famoso). :) Ele cantou uma música fofinha chamada “Salamtak ya Dimaghi” que podemos
traduzir livremente como “tchau tchau meu cérebro”. A ideia é que ele perde a
cabeça toda a vez que vê uma garota que ele gosta. Eu usei a minha roupa de
recortes de jornal para esse clipe, e me diverti muito na filmagem. Principalmente
porque houve muitos erros. O melhor deles foi quando uma parede de isopor caiu
na cabeça do Ahmed enquanto ele estava cantando. Nós dois começamos a rir e não
conseguimos mais parar até o final da filmagem. :D
Com Ahmed Salah, “Salamtak
ya Dimaghi”
O último clipe que fiz foi com a famosa música da Warda, “Esmaooni”, com arranjo e voz da
orquestra Safa Farid. Eu usei uma roupa com uma impressão de pele de leopardo
azul com lantejoulas para essa filmagem. Nesse momento eu já estava cansada,
morrendo de fome, irritada, e não queria fazer mais nada além de ir para casa.
E eu teria ido. Exceto que eu não queria ser grossa e ir embora depois de ter
prometido filmar 3 clipes. Então continuei em frente e fiz uma execução corrida
de Esmaooni, plenamente consciente de
que não estava dando o meu melhor, e não dando a mínima pra isso. De alguma
forma, entretanto, os planetas se alinharam ao meu favor. Esmaooni se tornou o clipe mais famoso de todo o canal, recebendo
mais telefonemas e votos on-line do que qualquer outro clipe desde que o canal
começou. Desde então, tive platéias egípcias cantando “Esmaooni” até eu ceder e dançar para eles. :)
O segundo round da minha experiência com o El-Tet foi muito
melhor. Pelo menos eu sabia o que esperar, e eu sabia que devia trazer comida e
minha própria maquiagem! Dessa vez, eu filmei 4 clipes. O primeiro foi uma
versão da Safa Farid de “Ye Helwa Sabah”.
O segundo foi um improviso para uma música de entrada moderna, e o terceiro foi
um improviso de solo de derbake. Eu filmei
o quarto clipe com outro cantor popular de shaabi,
Ragab El-Prince. Eu ainda não sei o nome da música, e ainda não consegui uma
cópia do vídeo, mas era sobre uma garota fazendo de tudo para ficar com o seu
amor. Trabalhar com Ragab foi tão divertido quanto trabalhar com Ahmed. Apesar
dos dois terem estilos completamente diferentes. E é claro, que não pudemos
terminar a filmagem sem um erro ou outro, o mais notável foi o meu bustiê
abrindo na frente das câmeras! Graças a Deus que eles não passaram nenhum dos
erros no ar!
No set com o cantor shaabi Ragab :) |
Críticas
El-Tet recebeu muitas críticas. A maioria de egípcios
conservadores, e daqueles que odeiam as mulheres e a dança. Entretanto, algumas
das críticas vieram de bailarinas de dança do ventre, surpreendentemente.
Porém, eu acho que isso era esperado. Tudo que é novo e “revolucionário” está
destinado a encontrar resistência. Qualquer coisa. Direitos civis, direito das
mulheres, direitos dos gays, dança do ventre na TV egípcia etc. É apenas a trajetória
natural do progresso.
Forças conservadores no Egito amaldiçoaram o canal por
supostamente “corromper a sociedade”. Você sabe, toda aquela coisa das mulheres
seminuas se balançando? Isso era esperado. O que eu não esperava foi o
criticismo alastrado por toda a comunidade internacional da dança.
Como eu mencionei anteriormente, muitas bailarinas ficaram
chateadas pelo canal transmitir anúncios de mau gosto e anúncios pessoais. Mas as
críticas não se restringiram a isso. Muitas, incluindo algumas estrelas
aposentadas, criticaram o canal por apresentar a dança pela dança. Elas alegaram que a forma “correta” de apresentar a dança era num contexto de um filme, com uma história, um pano de fundo, e eventos dramáticos. Apesar disso
ser legal, eu não vejo nada de errado em assistir a velha e boa dança do
ventre. Sem mencionar que muitos desses filmes antigos são muito orientalistas
em se tratando das cenas de dança do ventre. E as bailarinas sempre fazem algum
papel indesejável, como uma prostituta, uma criminosa ou espiã. Isso sem dúvida
reforçou a imagem negativa das bailarinas de dança do ventre ao longo dos anos.
E aqui é ao contrário, ninguém faz esses papéis no El-Tet. As bailarinas só
dançam.
Outra bailarina famosa criticou o canal por surgir no “momento
errado”. Ela disse que um canal como esse não tem lugar num momento de
revolução... que a mídia deveria estar educando as pessoas, e ensinando como
elas devem respeitar umas às outras. Enquanto eu definitivamente concordo que a
mídia poderia fazer mais para educar as pessoas (ao invés de doutrinar), a
idéia de que estamos numa revolução e de que não precisamos da dança para nos
distrair é perigosa para a dança. Alguns lugares estão num estado constante de
revolução. Devemos esperar sairmos desse estado antes de darmos à dança a
atenção que ela merece? Ela não terá morrido até lá? Dos milhares de canais de
TV disponíveis para os egípcios nem UM pode ser dedicado à dança? Todos eles
têm de mostrar programas “educacionais” que ensinam religião aos egípcios, ou
tolerância, ou respeito etc.? Certamente que tem lugar para 1 ou 2 canais de
dança do ventre! Além disso, quem disse que eles não são educacionais à sua
própria maneira?!?
A última crítica que ouvi, e provavelmente a mais válida,
foi sobre a prática do canal de passar vídeos do YouTube de bailarinas sem a
permissão delas. Eu sei que isso enfureceu muita gente. E eu entendo isso.
Entretanto, eu gostaria de apontar que todo o conceito de direito autoral é
novo no Egito. Isso não os exime de usar filmagens de outras pessoas, mas
explica porque está acontecendo. Pelas minhas conversas com o pessoal do canal
sobre o assunto, parece que eles estão começando a pensar sobre isso.
No set com Ahmed Salah |
Benefícios
Apesar de todos os pontos negativos que as pessoas já
apontaram, na verdade eu acho que o El-Tet faz mais bem do mal. E esses são os
motivos:
Primeiro e mais importante, ele está levando de volta a
dança para as pessoas. Graças ao El-Tet, qualquer um pode ligar a sua televisão
e se deleitar com uma apresentação de dança do ventre. Esse não era o caso
antes do canal aparecer. Isso porque os preços para ir num show de dança do
ventre são tão caros que a maioria dos egípcios não pode pagar. A dança do
ventre, então, se tornou um entretenimento exclusivo dos ricos e de outras
bailarinas estrangeiras. O El-Tet mudou isso da noite para o dia. Ele devolveu
uma grande parte da cultura para o povo egípcio. Por sua vez, os egípcios estão
levando isso muito a sério. Eles estão tendo todo tipo de conversa inteligente
sobre a dança. Eles discutem quais são as suas bailarinas favoritas e porque, o
quê eles acham das roupas, das músicas, etc. Em resumo, eles estão ficando
animados com a dança, o que é uma coisa boa de qualquer ângulo que você olhe.
Segundo, e eu nem precisava dizer isso, o El-Tet é um passo
na direção certa para as mulheres, o secularismo e as artes. E eu acho que não
preciso dizer mais nada sobre isso.
Terceiro, a dança do ventre televisionada está gerando uma
competição saudável entre as bailarinas. Vou explicar o que quero dizer.
Geralmente existem duas formas de lidar com a competição. Uma forma é
prejudicando a sua competição ao acabar com a sua reputação, vandalizar seus
pertences pessoais, ou se envolvendo em outras ações destrutivas. É isso que
normalmente acontece por aqui. A segunda forma é superando a sua competição.
Observar o trabalho delas e tentar fazer melhor. É isso que o El-Tet está
encorajando, mesmo sem saber. O que está acontecendo é que agora as bailarinas
estão sendo vistas umas pelas outras através da televisão. Elas estão
observando os movimentos das outras, suas roupas, visual, seleção musical, e
estão se empenhando em superar umas às outras nos vídeos seguintes. Isso é algo
positivo. Confiem em mim. Está motivando as bailarinas a melhorarem a sua dança ao
observar as outras e a criar coisas novas. No final das contas isso vai trazer
uma melhora geral no nível da dança por aqui.
Além disso, o El-Tet está disponibilizando exposição para
toda uma nova geração de bailarinas. Antes desse canal os egípcios só conheciam
a Dina. Agora eles estão contratando outras bailarinas, incluindo eu mesma,
para as suas festas. O que é ótimo. Tem muitas bailarinas por aí que precisam
do trabalho e dessa exposição, e algumas delas são realmente muito talentosas.
Desde que os barbudos não destruam a dança, esse canal está preparando uma nova
geração de estrelas que serão conhecidas pelo público egípcio da mesma forma
que Samia, Fifi, Souheir e Nagwa já foram.
Pessoalmente falando, eu já me beneficiei de ter aparecido
no canal. Publicidade é sempre uma coisa boa. Eu também gosto de ouvir e ler os
comentários dos egípcios sobre a minha dança. Mas não me entendam mal. Só de
pensar de aparecer em rede nacional da televisão egípcia é de deixar os nervos
à flor da pele. Isso quer dizer que todos estão me vendo. Todos. Homens, mulheres, jovens, idosos, fanáticos religiosos,
outras bailarinas, agentes, produtores, e a lista não termina. É muita pressão.
Eu não fico muito feliz que donos de apartamentos e meus vizinhos assistam o
canal, já que eu poderia e já fui expulsa de um apartamento por ser bailarina
de dança do ventre. E eu não tenho muita certeza de como me sinto quando
pessoas desconhecidas cantam as músicas que eu dancei quando elas me vêem na
rua. Quer dizer, estou acostumada a andar “disfarçada”, e essas pessoas estão
acabando com o meu disfarce! Mas é legal ver que as pessoas me reconhecem. :)
Dançando “Set El-Hosen” no corredor estreito :) |
Eu também já fui pessoalmente criticada por ter aparecido no
canal. Alguns disseram que pelo nível da dança que aparece é muito baixo (e de
classe baixa), eu me arruinaria se aparecesse lá. Outros disseram que as
pessoas se cansariam de ver a minha cara. Outros ainda sugeriram que eu seria
exposta a muito assédio e criticismo desnecessário. Eu considerei isso tudo
antes de concordar em ser filmada, e no final eu decidi que, diabos, só se vive
uma vez. Eu sou viciada em novas experiências, mesmo que elas não sejam sempre
positivas. Essa experiência, entretanto, acabou se revelando mais do que boa, e
eu estou muito feliz de ter aceitado a oferta deles de ser filmada. No mínimo,
me inspirou a escrever o maior post da história!
Adorei! Sim, já havia ouvido falar do canal mas não sabia como isto estava se dando, e Luna, colocou todos os detalhes da questão, obrigada, Lalitha!
ResponderExcluirÉ possível acessar este canal via on line?
ResponderExcluirOi Saly!
ExcluirNão sei se esse canal é acessível ao vivo on-line, mas tem muitos vídeos deles no youtube :-)
Beijos!
Nossa, isso é uma novidade boa, não? Pelo menos, pareceu! O pontapé inicial foi dado então!
ResponderExcluirsó vi agora o post, e achei bastante informativo, sucesso para vc!
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