Depois de passar alguns dias acordando inumanamente cedo e
tendo que fazer as malas todo dia de manhã, finalmente acordamos num horário
razoável, programados para sair às 8h da manhã numa excursão de um dia pelo
Bósforo.
Como em todas as excursões, primeiro o guia faz diversas
paradas em diversos hotéis para pegar todos os turistas participantes, e
enquanto fazia isso ele aproveitou para falar sobre a vida dos sultões na época
do Império Otomano.
A nossa primeira parada seria, na verdade, o Bazar das
Especiarias, conhecido também como Bazar Egípcio, que é menor do que o Grande
Bazar, e, adivinha, é especializado em especiarias e artigos relacionados
(perfumes, essências, temperos, comidas em geral e, claro, quinquilharias). O
Bazar foi construído do lado da Mesquita Nova, e data do século XVII, e ganhou
o nome Egípcio porque foi construído com receitas vindas do Egito. Ali vale à
pena visitar a parte de dentro do Bazar, que é linda, extremamente colorida e
com um cheiro estonteante (de bom!!!), porém, se a sua idéia é fazer compras
por um bom preço, faça-as do lado de fora, onde tudo é mais barato, e mais
confuso também, com alguma probabilidade dos vendedores só falarem turco.
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bancada "básica" de chás |
As lojas são dividas meio que por temas, tem lojas só de
doces, outras só de ervas e chás, outras só de temperos. Acabamos por visitar
algumas, comprando uma quantidade absurda de chá (tenho chá para alguns anos em
casa agora), algumas castanhas, doces e essências (adoro um cheirinho). A loja
de essências que visitamos também vendia chás, o que facilitou muito o regateio
final com o vendedor. Aliás, aquela loja foi uma visita à parte, pois ficamos
muito tempo batendo papo com o vendedor, que era muito simpático, e dava para
ver como ele suava frio quando percebeu que eu é que estava negociando. Ah,
sim, na Turquia na maioria das vezes a mulher escolhe o que ela quer levar e
depois o marido se encarrega de negociar o preço (isso acontece tanto com os
turcos quanto com os estrangeiros), mas nesse caso o vendedor já conta com a
venda, pois a mulher já decidiu o que ela quer. Só que não era esse o caso, e o
vendedor ficou para morrer, e passou toda a negociação dizendo para o meu
marido que ele tinha muita sorte comigo. Fica a dica, mulheres, negociem vocês
mesmas! Só não se esqueçam de duas regras: se você aceitar levar alguma coisa,
depois não pode desistir, eles ficam extremamente ofendidos. Se você disser que
não quer levar, também é complicado mudar de idéia, eles não abaixam o preço se
perceberem que você está só fazendo charme. O lance é manter o “poker face”.
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prateleira de essências da tal loja onde ficamos muito tempo batendo papo |
Depois de passar uma hora e meia nesse império dos sentidos,
pegamos novamente o ônibus para atravessar a rua. É sério. Aparentemente o guia
não podia atravessar a rua com o grupo inteiro. Do outro lado da rua ficava a
marina, onde pegamos um barco para passear pelo Bósforo, uma excursão de mais
uma hora e meia fazendo um ziguezague e vendo todos os pontos importantes desde
o Chifre de Ouro. Acho que nesse ponto demos um certo azar com o nosso guia,
que apesar de conhecer bem todos os pontos que chamavam atenção nas margens do
Bósforo, às vezes mais parecia um corretor de imóveis. Era “casa de 1,5 milhão”
pra cá, “casa de 3 milhões” pra lá... entremeadas de informações realmente interessantes,
como a escola onde estudou o Ataturk, ruínas de uma fortaleza, casa onde
atualmente fica a boate mais badalada da cidade e palácios importantes do
governo e do Império Otomano. A mini-viagem em si é muito linda, as casas e a
vista são desbundantes e valem muito a pena o passeio. Além de ser muito
agradável, naquele calor forte de verão, um belo passeio de barco, com um bom
vento refrescante. Falando em refrescante, outro ponto negativo é que no barco
são oferecidas diversas bebidas, mas esquecem de te avisar que elas não são de
graça.
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A vista do passeio é deslembrante! |
Depois do passeio, saltamos do lado europeu da cidade para
almoçar num restaurante especializado em peixes, e peixes tivemos no almoço!
Primeiro serviram diversas entradas: uma espécie de sardinha servida em forma
de filés, arroz com mexilhão servido em conchas (como a nossa casquinha de
siri), uma salada de frutos de mar, outra salada (essa mais “normal”, de pepino
e tomate), mais uma salada de batatas com iogurte e especiarias e pão. Depois
vieram outros tipos de comida quente, especialmente frituras: um tipo de
pastel, uma coisa esquisita feita de batata, abobrinha frita e um feixe que
parecia dourado, servido inteiro e grelhado. De sobremesa foi servido melancia.
Claro que aproveitei para beber mais ayran, a bebida nacional turca, feita de
iogurte salgado.
Depois do almoço, voltamos a pegar o ônibus e atravessamos
para a parte asiática da cidade, para visitarmos o palácio de veraneio do
sultão, chamado de Palácio Beylerbeyi. Claro que esse palácio é considerado
pequeno, afinal ele é de veraneio, mas ainda é um palácio do sultão, e,
portanto, ele tem “apenas” 24
quartos e salões, e apenas 6 banheiros, o que é uma
grande vantagem com relação a qualquer palácio europeu, que nem banheiro tem,
né? Os orientais sempre foram mais preocupados com a higiene. Um detalhe
interessante sobre esse palácio é que ele não possui cozinha, porque o palácio
original pegou fogo justamente na cozinha, e a sultana decidiu que não queria
mais correr o risco.
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única foto que consegui tirar dentro do palácio antes de ser repreendida |
Infelizmente não é permitido tirar fotos dentro do palácio,
mas ele segue um estilo bem mais moderno do que o Topkapi, com muito ouro,
muitos detalhes e pinturas em estilo ocidental nas paredes. De uma forma geral,
esse palácio é bem modernoso e ocidentalizado, já que ele foi construído em
torno de 1860. E a visita vale a pena não só do ponto de vista arquitetônico,
mas porque o palácio é praticamente um museu, recheado de objetos e mobiliário
do mundo inteiro. Um detalhe importante sobre a visita: para entrar no
Beylerbeyi é preciso estar acompanhado de um guia, e os horários de visita são
extremamente restritos, praticamente com hora marcada, entrando apenas um
número limitado de pessoas por vez, e um grupo só pode entrar depois que o
grupo anterior tiver saído. Portanto, quem quiser visitar o palácio sozinho,
tome cuidado e se prepare para ficar algum tempo passeando pelo jardim,
esperando a sua vez para entrar. Mas não se desespere, o jardim é um passeio à
parte, e é muito bonito também.
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O jardim é muito agradável, e tem uma vista linda também |
Depois do Palácio, a excursão nos levou a um lugar conhecido
como Colina dos Namorados, que nada mais é do que um bistrô com uma vista muito
bonita de Istambul. Em outras palavras, foi uma
enxeção de lingüiça com vista, pois ficamos muito mais tempo do que
o razoável por lá. Eu e o Caike aproveitamos para tomar um chá, eu pedi um
quente e ele um frio.
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vista da Colina dos Namorados |
Voltando do tour, saltamos do ônibus na praça Taksim, pois
queríamos aproveitar para trocar nossos euros por liras turcas, o que é muito
fácil de fazer nessa região, que é cheia de casas de câmbio.
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rotatória da Praça Taksim |
Depois demos uma passada no nosso hotel para um pit-stop, e
acabamos por encontrar o casal paulista simpático que nos acompanhou durante
boa parte da viagem, e novamente trocamos impressões sobre o tour do Bósforo,
onde concordamos que valia a pena, mas que podia ser melhor, especialmente se
tivéssemos outro guia mais simpático e menos estilo corretor de imóveis.
Como já estava tarde para fazer um passeio distante,
resolvemos passear pela rua mais famosa do bairro Taksim, que é uma espécie de
“calçadão”, onde se encontram todos os tipos de loja que você pode imaginar,
numa espécie de Saara de Istambul, só que muito mais chique e limpo, com
direito a muitos barzinhos e restaurantes no meio do caminho. Além de muitas
lojas de marca! Claro que eu aproveitei para fazer compras, porque não sou de
ferro.
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as lojas antigas são belíssimas por dentro! |
Mas o passeio é interessante de uma forma não-consumista
também, pois nessa rua passa um bonde daqueles antigos, de trilho e todo
aberto, que nesse dia (provavelmente por conta do Ramadã) estava com convidados
especiais: uma banda pop tocando ao vivo! As lojas são todas muito bonitas, e
algumas ficam em prédios bem antigos, que vale a pena entrar só para dar uma
olhada. E claro, tem o tradicional sorvete turco! Essa é uma atração à parte!
Mesmo que você não goste de sorvete, compre um, porque é uma aventura! O
vendedor de sorvete é um malabarista, e a graça dos seus truques é justamente
sacanear o comprador, que tenta em vão ficar com o seu sorvete nas mãos. Como
era Ramadã, quando chegamos ao vendedor de sorvete, a loja estava absolutamente
vazia, pois ainda era dia, e, portanto, os turistas estavam evitando comer em
público, já que a maior parte dos turcos é muçulmana, e por isso estavam
jejuando até o pôr do sol. Só que estávamos com fome, e faltava muito pouco tempo
para a noite cair, e decidimos pedir o tal sorvete (que por sinal também é
muito gostoso), e o vendedor fez um show tão bonito que logo depois a fila para
comprar sorvete ficou lotada.
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o simpático bonde de Istambul |
Também passeamos por um shopping imenso em busca de uma loja
de eletrônicos indicada pelo casal paulista, que não nos agradou muito, porém
quando estávamos saindo do shopping nos deparamos com um show de dervixes na
porta! O Ramadã realmente é uma época interessante! Acabamos por jantar numa
espécie de
fast food de massas, que
além de não ser
fast, não era muito
gostoso. Mas ficava ao lado de uma loja de chocolates que foi uma perdição!
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O "calçadão" de Taksim a noite, completamente iluminado! |
Já cansados e carregados de compras, finalmente voltamos ao
hotel para dormir, pois o dia seguinte prometia ser muito mais animado e cansativo.
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