quarta-feira, 10 de abril de 2013

As Dançarinas do Futuro Somos Nós - O que Isadora Duncan doou para o mundo da dança


Texto de Paola Blanton

Isadora Duncan

Isadora Duncan, a mãe da dança contemporânea, foi uma mulher pioneira, americana e de espírito livre, uma artista de alma e um ser à frente de seu tempo. Em sua curta vida, de 1877 a 1927, ela revolucionou a dança durante uma época em que a moralidade e a estética vitoriana deixavam pouco espaço para as artes do movimento além do balé, da dança de salão, ou das montagens ordinárias de “Vaudeville” nas Feiras do Estado ou teatros urbanos.

Ela tinha uma visão ousada de uma nova dança e de uma nova mulher - a dança e a dançarina do Futuro. Ela escreveu que a "Dança do Futuro" teria que recuperar seu lugar como uma forma de arte sacra, do jeito que era para com os gregos antigos. A dançarina não dança para surpreender, mas para aumentar a consciência e agir como um canal de energias universais. Em muitos aspectos, a motivação para a dança voltaria às suas raízes antigas - a comunhão sagrada do corpo, da mente, do espírito e da comunidade. Só que agora, a comunidade virou a humanidade inteira em seu contexto cósmico.

A "Dançarina do Futuro", de acordo com Isadora, seria

 "uma em que corpo e a alma têm crescido tão harmoniosamente, que a linguagem natural da alma se tornará o movimento do corpo. A dançarina não pertence a nenhuma nação, mas a toda humanidade. Ela vai dançar não na forma de ninfa, nem de fada, nem coquete, mas em forma de mulher na sua expressão maior e mais pura. Ela vai perceber a missão do corpo feminino e da santidade de suas partes. Ela vai dançar os ciclos da natureza.... De todas as partes de seu corpo vai brilhar uma inteligência radiante, trazendo para o mundo a mensagem dos pensamentos e aspirações de milhares de mulheres. Ela vai dançar a liberdade da mulher " - De seu Magnus opus, A Arte da Dança.


Nos escritos de Duncan, encontramos referências freqüentes ao "futuro", e como será a dança e dançarina do futuro. Isadora foi uma profetisa, sabendo que a liberdade do corpo, da mente e do espírito que ela personificou ainda não tinham encontrado o seu melhor momento histórico, mas que chegaria um momento no futuro, quando a Mulher Moderna estaria pronta para a sua mensagem, e o espaço para a dança do futuro se abrir. Eu acredito que esse tempo é agora.

Qual é a mensagem de Isadora Duncan para dançarinas modernas dentro desta visão da dançarina do futuro? Quais descobertas fez esta artista revolucionária e feminista para preparar a cena da dança para que ela pudesse evoluir como uma forma de arte sagrada e universal? Para isso ela nos traz uma riqueza de abordagem para a arte da dança - transformacional na motivação, na inspiração e na técnica de expressão.

Sim, a expressão pode ser ensinada e aprendida, - "Ou você tem ou você não tem" -  não é necessariamente inata como muitos afirmam. Duncan revelou uma metodologia de expressão que se tornou essencial para diversas formas de dança moderna e de artes cênicas – não há literalmente nenhuma arte expressiva que não pode ser melhorada através da aplicação desta técnica. Centra-se na articulação seqüencial de motivação - envolvendo primeiro os olhos, ou a percepção inteligente de estímulos. Em segundo lugar vem o plexo solar, ou a intenção emocional, e em terceiro lugar, o gesto real do corpo. Um grande exemplo é o ato de se apaixonar. Nós "vemos" o amado primeiro (quantas vezes nós dizemos "amor à primeira vista"?). Depois de ver a pessoa, nosso coração se mexe e estamos emocionalmente atraídos por eles – lançando a luz do nosso plexo solar e coração em sua direção. E em terceiro lugar vem o nosso gesto, se andamos na direção deles, estendemos nossas mãos, ou abrimos os braços. A seqüência de expressão faz sentido em muitos níveis, porque é natural e segue a ordem natural das coisas, que é o que Isadora reverenciava em suas filosofias de dança e de vida.

A natureza foi sua primeira musa. Ela estudou as linhas, formas e movimentos dos elementos e do universo, localizando o corpo humano como figura central na grande cena do Universo natural. Ela escreveu (AOTD):

 "Se procurarmos a verdadeira fonte da dança, se formos à natureza, vemos que a dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, e tem sido e será sempre a mesma. O movimento das ondas, dos ventos, da terra é sempre a mesma harmonia duradoura. Nós não ficamos na praia perguntando ao oceano qual foi o movimento no passado e qual será o seu movimento no futuro ..."

Como cada um de nós é parte do universo, estamos sujeitos às mesmas leis do movimento e gravitação que o governam, Isadora imaginou nossa dança como uma "tradução humana da gravitação do universo."

Cada movimento propaga o próximo em ciclos intermináveis de movimento, como as ondas, os ventos, átomos e galáxias.

Agora, mais do que nunca, estamos redescobrindo a sacralidade da Mãe Terra e nos re-conectando com seus ritmos em nossa espiritualidade. Filosofias e práticas ecos-feministas estão entrando no centro do palco da cultura do mundo e as mulheres estão se re-conectando com o seu destino como sacerdotisas do mundo natural. Nós trazemos a dança para as praias, montanhas e desertos, em conexão com as correntes da Terra e do Céu através de seus ritmos, formas e movimentos. Quando dançamos em sintonia com a natureza, nos abrimos para suas inúmeras belezas - respiramos ar puro, levantamos o rosto para o sol como flores, balançamos com as ondas e árvores, e caímos para a Terra na poesia em forma e repouso. "Como em cima, assim é embaixo" - o antigo decreto soa mais verdadeiro do que nunca, e nós, as Dançarinas do Futuro, pisamos descalças na terra e levantamos nossos braços e espíritos para as alturas do Universo, as linhas de nossos corpos transmitindo energias universais em ciclos intermináveis.

Como disse Isadora, a mulher deve ser um "elo da cadeia, e seu movimento deve ser um com o grande movimento que atravessa o universo."

Ela destilou a nobreza da linha de corpo grego clássico, tornado famoso na escultura e na pintura, e aplicou sua qualidade universal para o corpo da mulher moderna - descontraído, natural e equilibrado; suas formas e linhas canalizando uma força maior do que a si mesma. Em AOTD, ela descreveu sua fascinação com a estética grega humanista e sua conexão com a natureza:

 "Os gregos em todas suas (artes) evoluíram seus movimentos a partir dos movimentos da natureza, como claramente se expressam em todas as representações dos deuses gregos, que, sendo representantes das forças naturais, são sempre projetados em uma pose que expressa a concentração e evolução dessas forças. É por isso que a arte grega não é nacional ou característica, mas tem sido e será a arte de toda a humanidade de todos os tempos. Portanto, dançando nua sobre a terra, eu naturalmente caio em posições gregas, porque as posições gregas são apenas posições da terra."

Não em desafio da lei natural, como ela viu no balé, que se esforça para superar a atração gravitacional da Terra, e que localizou o centro da dançarina na região lombar. Tinha que haver outro centro, outra fonte da qual emana o movimento verdadeiro. Seus instintos a levaram buscando esta fonte, e ela a encontrou no meio do peito.

Isadora Duncan foi a primeira dançarina a identificar o plexo solar como a fonte de todo movimento expressivo. Ela escreveu em AOTD:

 "... Eu passei longos dias e noites no estúdio buscando a dança que podia ser a expressão divina do espírito humano por meio do movimento do corpo. Ficava por horas com minhas duas mãos cruzadas entre os meus seios, cobrindo o plexo solar... eu estava buscando e, finalmente, descobri o motor central de todo o movimento, a cratera de potência, a unidade a partir da qual todas as diversidades de movimento nascem, o espelho da visão para a criação da dança."



O plexo solar é a sede da intenção emocional - o cruzamento dos eixos do corpo a partir do qual emanam os servos expressivos do coração - os braços. Suas descobertas em relação ao plexo solar enriqueceram cada forma de dança, abrindo a porta do desenvolvimento para dançarinas famosas como Martha Graham. Presença, postura, expressão, equilíbrio, dinâmica, alcance, e linhas emanam todos de um plexo ativado. Sua dinâmica harmoniza perfeitamente com a expansão e contração do diafragma na respiração, alinhando o movimento automático da respiração com a técnica de expressão.

Descobrir e ativar o plexo solar é tocar uma nova fonte de energia emotiva pessoal, com o coração e o plexo solar juntos formando uma esfera energética sentada em cima do diafragma. O plexo solar irradia coragem, efervescência, alegria e desejo. Expandir sua luz para o externo é projetar essas emoções, enquanto contraí-la para dentro é a expressão de solidão, introspecção, perda, dor e tristeza. Através do trabalho com o plexo solar, ganhamos acesso mais completo a vasta gama de emoções humanas, e  começamos a sentir que a sua expressão tem profundas qualidades terapêuticas. Quando movimentamos o corpo, movimentamos a alma, e ambos podem se curar através deste movimento. Aprender a liberar, dirigir e transformar as energias emocionais armazenadas no plexo solar são passos notáveis sobre os caminhos do autoconhecimento que as mulheres modernas procuram hoje. É o "Sol" interno que resplandece o seu brilho radiante, iluminando cada parte do corpo da dançarina do futuro.

Com tantas visões e sonhos no alvorecer da era moderna, a dançarina do futuro se tornou uma realidade. Cada vez mais estamos vendo qualidades espirituais retornando para a dança. Cada vez mais estamos nos tornando conscientes de que existem motivos mais elevados para esta forma de arte, motivos mais universais e humanistas. A dançarina do futuro falou através de Isadora e de suas contemporâneas como Ruth St. Denis, que escreveu que vai chegar um dia em que "vamos dançar para curar e abençoar" em vez de apenas "surpreender".


Com toda a generosidade, a dança de Isadora Duncan traz para a comunidade da dança moderna a técnica expressiva, o alinhamento com a Natureza e suas forças, e o poder do plexo solar, eu acho que o dom mais importante que ela nos deu é uma nova motivação para a dança. Um novo motivo para dançar, que é muito parecido com os motivos antigos dos nossos antepassados - para a comunidade, para a conexão com as forças naturais, para liberar o Eu em favor de um Eu mais nobre, para invocar novas realidades e para alcançar algo maior e superior a nós mesmos. Isadora falou da evolução das motivações para a dança no AOTD:

"Há três tipos de dançarinos: primeiro, aqueles que consideram a dança como uma espécie de ginástica, composta de arabescos impessoais e graciosos, em segundo lugar, aqueles que, ao concentrar suas mentes, levam o corpo ao ritmo de uma emoção desejada, expressando um sentimento ou experiência lembrada. E, finalmente, há aqueles que convertem o corpo em uma fluidez luminosa, entregando-o para a inspiração da alma."

A dançarina do futuro vive dentro dessa fluidez luminosa. Esse é o elixir alquímico que a dança pode e deve procurar - além do ego, figurino, maquiagem e palco. Além de musicalidade, coreografia e performance. Estes são todos ingredientes na mistura, mas o elixir vem do processo e da vivência, dos rituais e cerimônias da Dança do Futuro, da eventual mudança de atitude sobre a dança e da realização de fins mais elevados para ela. Dançar se tornou uma busca de iluminação.

"Ouça a música com a sua alma", ela nos diz. "Você não sente que está se movendo em direção à luz?"

Enxergar a dança dessa forma é ver o Eu mesmo como um trabalho em progresso – uma ânfora sempre em evolução na sua capacidade de atrair, transmitir e repousar nesta fluidez luminosa.

"Imagine então uma dançarina que, após longo estudo, oração e inspiração alcançou um grau de entendimento em que seu corpo é simplesmente a manifestação luminosa da sua alma; cujo corpo dança de acordo com uma música ouvida interiormente, em uma expressão de .... um outro mundo, mais profundo. Esta é a bailarina verdadeiramente criativa, natural mas não imitativa, se expressando em si mesma e em algo maior do que todos os seres."

Se conectar a algo maior do que nós mesmos - a Dança do Futuro é a dança do passado e de todos os tempos. Seu ciclo veio redondo e eu posso vê-lo - Eu nos vejo dançando unidos no espírito da beleza universal - natural, cada um de nós "bastante digno" para participar. Eu posso ver a dança da alma como uma forma de curar nós mesmos, nossas tribos, nossas comunidades e nosso planeta. Eu posso sentir a competitividade substituída por uma alegria compartilhada, e eu posso sentir que o ego pode dar lugar ao sentimento oceânico de conexão enquanto abrimos nossos canais para os ritmos do universo. O futuro está aqui, e nós somos as Dançarinas do Futuro.



2 comentários:

  1. Oi Lalitha, adorei o texto. É maravilhoso e instigante... deu vontade de fazer o workshop... nada bruxa, vc hein! hahaha
    Quanto é o workshop do dia 27 de abril? Bjs Mahayla Saahirah

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    1. Oi Mahayla!
      O workshop no dia 27 de abril é R$170,00 até dia 12 de abril, após essa data sairá a R$190,00, podendo pagar 50% na inscrição e os outros 50% no dia do curso. Para mais detalhes me mande um email! lalitha.bellydance@gmail.com
      Beijos

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