Texto de Paola Blanton
Isadora Duncan |
Isadora Duncan, a mãe da
dança contemporânea, foi uma mulher pioneira, americana e de espírito livre, uma
artista de alma e um ser à frente de seu tempo. Em sua curta vida, de 1877 a 1927, ela
revolucionou a dança durante uma época em que a moralidade e a estética
vitoriana deixavam pouco espaço para as artes do movimento além do balé, da
dança de salão, ou das montagens ordinárias de “Vaudeville” nas Feiras do
Estado ou teatros urbanos.
Ela tinha uma visão
ousada de uma nova dança e de uma nova mulher - a dança e a dançarina do
Futuro. Ela escreveu que a "Dança do Futuro" teria que recuperar seu
lugar como uma forma de arte sacra, do jeito que era para com os gregos antigos.
A dançarina não dança para surpreender, mas para aumentar a consciência e agir
como um canal de energias universais. Em muitos aspectos, a motivação para a
dança voltaria às suas raízes antigas - a comunhão sagrada do corpo, da mente,
do espírito e da comunidade. Só que agora, a comunidade virou a humanidade
inteira em seu contexto cósmico.
A "Dançarina do
Futuro", de acordo com Isadora, seria
"uma em que corpo e a alma têm crescido tão
harmoniosamente, que a linguagem natural da alma se tornará o movimento do
corpo. A dançarina não pertence a nenhuma nação, mas a toda humanidade. Ela vai
dançar não na forma de ninfa, nem de fada, nem coquete, mas em forma de mulher
na sua expressão maior e mais pura. Ela vai perceber a missão do corpo feminino
e da santidade de suas partes. Ela vai dançar os ciclos da natureza.... De
todas as partes de seu corpo vai brilhar uma inteligência radiante, trazendo
para o mundo a mensagem dos pensamentos e aspirações de milhares de mulheres.
Ela vai dançar a liberdade da mulher " - De seu Magnus opus, A Arte da
Dança.
Nos escritos de
Duncan, encontramos referências freqüentes ao "futuro", e como será a
dança e dançarina do futuro. Isadora foi uma profetisa, sabendo que a liberdade
do corpo, da mente e do espírito que ela personificou ainda não tinham
encontrado o seu melhor momento histórico, mas que chegaria um momento no futuro,
quando a Mulher Moderna estaria pronta para a sua mensagem, e o espaço para a
dança do futuro se abrir. Eu acredito que esse tempo é agora.
Qual é a mensagem de
Isadora Duncan para dançarinas modernas dentro desta visão da dançarina do
futuro? Quais descobertas fez esta artista revolucionária e feminista para
preparar a cena da dança para que ela pudesse evoluir como uma forma de arte
sagrada e universal? Para isso ela nos traz uma riqueza de abordagem para a
arte da dança - transformacional na motivação, na inspiração e na técnica de
expressão.
Sim, a expressão pode ser
ensinada e aprendida, - "Ou você tem ou você não tem" - não é
necessariamente inata como muitos afirmam. Duncan revelou uma metodologia de
expressão que se tornou essencial para diversas formas de dança moderna e de artes
cênicas – não há literalmente nenhuma arte expressiva que não pode ser melhorada
através da aplicação desta técnica. Centra-se na articulação seqüencial de
motivação - envolvendo primeiro os olhos, ou a percepção inteligente de
estímulos. Em segundo lugar vem o plexo solar, ou a intenção emocional, e em
terceiro lugar, o gesto real do corpo. Um grande exemplo é o ato de se
apaixonar. Nós "vemos" o amado primeiro (quantas vezes nós dizemos
"amor à primeira vista"?). Depois de ver a pessoa, nosso coração se
mexe e estamos emocionalmente atraídos por eles – lançando a luz do nosso plexo
solar e coração em sua direção. E em terceiro lugar vem o nosso gesto, se
andamos na direção deles, estendemos nossas mãos, ou abrimos os braços. A
seqüência de expressão faz sentido em muitos níveis, porque é natural e segue a
ordem natural das coisas, que é o que Isadora reverenciava em suas filosofias
de dança e de vida.
A natureza foi sua
primeira musa. Ela estudou as linhas, formas e movimentos dos elementos e do
universo, localizando o corpo humano como figura central na grande cena do
Universo natural. Ela escreveu (AOTD):
"Se
procurarmos a verdadeira fonte da dança, se formos à natureza, vemos que a
dança do futuro é a dança do passado, a dança da eternidade, e tem sido e será
sempre a mesma. O movimento das ondas, dos ventos, da terra é sempre a mesma
harmonia duradoura. Nós não ficamos na praia perguntando ao oceano qual foi o
movimento no passado e qual será o seu movimento no futuro ..."
Como cada um de nós é
parte do universo, estamos sujeitos às mesmas leis do movimento e gravitação
que o governam, Isadora imaginou nossa dança como uma "tradução humana da gravitação do
universo."
Cada movimento
propaga o próximo em ciclos intermináveis de movimento, como as ondas, os
ventos, átomos e galáxias.
Agora, mais do que nunca,
estamos redescobrindo a sacralidade da Mãe Terra e nos re-conectando com seus
ritmos em nossa espiritualidade. Filosofias e práticas ecos-feministas estão
entrando no centro do palco da cultura do mundo e as mulheres estão se
re-conectando com o seu destino como sacerdotisas do mundo natural. Nós trazemos
a dança para as praias, montanhas e desertos, em conexão com as correntes da
Terra e do Céu através de seus ritmos, formas e movimentos. Quando dançamos em
sintonia com a natureza, nos abrimos para suas inúmeras belezas - respiramos ar
puro, levantamos o rosto para o sol como flores, balançamos com as ondas e
árvores, e caímos para a Terra na poesia em forma e repouso. "Como em
cima, assim é embaixo" - o antigo decreto soa mais verdadeiro do que
nunca, e nós, as Dançarinas do Futuro, pisamos descalças na terra e levantamos
nossos braços e espíritos para as alturas do Universo, as linhas de nossos
corpos transmitindo energias universais em ciclos intermináveis.
Como disse Isadora, a
mulher deve ser um "elo da
cadeia, e seu movimento deve ser um com o grande movimento que atravessa o
universo."
Ela destilou a
nobreza da linha de corpo grego clássico, tornado famoso na escultura e na
pintura, e aplicou sua qualidade universal para o corpo da mulher moderna -
descontraído, natural e equilibrado; suas formas e linhas canalizando uma força
maior do que a si mesma. Em AOTD, ela descreveu sua fascinação com a estética
grega humanista e sua conexão com a natureza:
"Os gregos
em todas suas (artes) evoluíram seus movimentos a partir dos movimentos da
natureza, como claramente se expressam em todas as representações dos deuses
gregos, que, sendo representantes das forças naturais, são sempre projetados em
uma pose que expressa a concentração e evolução dessas forças. É por isso que a
arte grega não é nacional ou característica, mas tem sido e será a arte de toda
a humanidade de todos os tempos. Portanto, dançando nua sobre a terra, eu
naturalmente caio em posições gregas, porque as posições gregas são apenas
posições da terra."
Não em desafio da lei
natural, como ela viu no balé, que se esforça para superar a atração
gravitacional da Terra, e que localizou o centro da dançarina na região lombar.
Tinha que haver outro centro, outra fonte da qual emana o movimento verdadeiro.
Seus instintos a levaram buscando esta fonte, e ela a encontrou no meio do
peito.
Isadora Duncan foi a
primeira dançarina a identificar o plexo solar como a fonte de todo movimento
expressivo. Ela escreveu em AOTD:
"... Eu
passei longos dias e noites no estúdio buscando a dança que podia ser a
expressão divina do espírito humano por meio do movimento do corpo. Ficava por
horas com minhas duas mãos cruzadas entre os meus seios, cobrindo o plexo
solar... eu estava buscando e, finalmente, descobri o motor central de todo o
movimento, a cratera de potência, a unidade a partir da qual todas as
diversidades de movimento nascem, o espelho da visão para a criação da
dança."
O plexo solar é a sede da
intenção emocional - o cruzamento dos eixos do corpo a partir do qual emanam os
servos expressivos do coração - os braços. Suas descobertas em relação ao plexo
solar enriqueceram cada forma de dança, abrindo a porta do desenvolvimento para
dançarinas famosas como Martha Graham. Presença, postura, expressão,
equilíbrio, dinâmica, alcance, e linhas emanam todos de um plexo ativado. Sua
dinâmica harmoniza perfeitamente com a expansão e contração do diafragma na
respiração, alinhando o movimento automático da respiração com a técnica de
expressão.
Descobrir e ativar o
plexo solar é tocar uma nova fonte de energia emotiva pessoal, com o coração e
o plexo solar juntos formando uma esfera energética sentada em cima do
diafragma. O plexo solar irradia coragem, efervescência, alegria e desejo.
Expandir sua luz para o externo é projetar essas emoções, enquanto contraí-la
para dentro é a expressão de solidão, introspecção, perda, dor e tristeza.
Através do trabalho com o plexo solar, ganhamos acesso mais completo a vasta gama de
emoções humanas, e começamos a sentir que a sua expressão tem profundas
qualidades terapêuticas. Quando movimentamos o corpo, movimentamos a alma, e
ambos podem se curar através deste movimento. Aprender a liberar, dirigir e
transformar as energias emocionais armazenadas no plexo solar são passos
notáveis sobre os caminhos do autoconhecimento que as mulheres modernas
procuram hoje. É o "Sol" interno que resplandece o seu brilho
radiante, iluminando cada parte do corpo da dançarina do futuro.
Com tantas visões e
sonhos no alvorecer da era moderna, a dançarina do futuro se tornou uma realidade.
Cada vez mais estamos vendo qualidades espirituais retornando para a dança.
Cada vez mais estamos nos tornando conscientes de que existem motivos mais
elevados para esta forma de arte, motivos mais universais e humanistas. A
dançarina do futuro falou através de Isadora e de suas contemporâneas como Ruth
St. Denis, que escreveu que vai chegar um dia em que "vamos dançar para
curar e abençoar" em vez de apenas "surpreender".
Com toda a
generosidade, a dança de Isadora Duncan traz para a comunidade da dança moderna
a técnica expressiva, o alinhamento com a Natureza e suas forças, e o poder do
plexo solar, eu acho que o dom mais importante que ela nos deu é uma nova
motivação para a dança. Um novo motivo para dançar, que é muito parecido com os
motivos antigos dos nossos antepassados - para a comunidade, para a
conexão com as forças naturais, para liberar o Eu em favor de um Eu mais nobre,
para invocar novas realidades e para alcançar algo maior e superior a nós
mesmos. Isadora falou da evolução das motivações para a dança no AOTD:
"Há três tipos
de dançarinos: primeiro, aqueles que consideram a dança como uma espécie de
ginástica, composta de arabescos impessoais e graciosos, em segundo lugar,
aqueles que, ao concentrar suas mentes, levam o corpo ao ritmo de uma emoção
desejada, expressando um sentimento ou experiência lembrada. E, finalmente, há
aqueles que convertem o corpo em uma fluidez luminosa, entregando-o para a
inspiração da alma."
A dançarina do futuro
vive dentro dessa fluidez luminosa. Esse é o elixir alquímico que a dança pode
e deve procurar - além do ego, figurino, maquiagem e palco. Além de
musicalidade, coreografia e performance. Estes são todos ingredientes na
mistura, mas o elixir vem do processo e da vivência, dos rituais e cerimônias
da Dança do Futuro, da eventual mudança de atitude sobre a dança e da realização
de fins mais elevados para ela. Dançar se tornou uma busca de iluminação.
"Ouça a música com a
sua alma", ela nos diz. "Você
não sente que está se movendo em direção à luz?"
Enxergar a dança dessa
forma é ver o Eu mesmo como um trabalho em progresso – uma ânfora sempre em
evolução na sua capacidade de atrair, transmitir e repousar nesta fluidez
luminosa.
"Imagine então uma
dançarina que, após longo estudo, oração e inspiração alcançou um grau de
entendimento em que seu corpo é simplesmente a manifestação luminosa da sua
alma; cujo corpo dança de acordo com uma música ouvida interiormente, em uma
expressão de .... um outro mundo, mais profundo. Esta é a bailarina verdadeiramente
criativa, natural mas não imitativa, se expressando em si mesma e em algo maior
do que todos os seres."
Se conectar a algo maior
do que nós mesmos - a Dança do Futuro é a dança do passado e de todos os
tempos. Seu ciclo veio redondo e eu posso vê-lo - Eu nos vejo dançando unidos
no espírito da beleza universal - natural, cada um de nós "bastante
digno" para participar. Eu posso ver a dança da alma como uma forma de
curar nós mesmos, nossas tribos, nossas comunidades e nosso planeta. Eu posso
sentir a competitividade substituída por uma alegria compartilhada, e eu posso
sentir que o ego pode dar lugar ao sentimento oceânico de conexão enquanto
abrimos nossos canais para os ritmos do universo. O futuro está aqui, e nós
somos as Dançarinas do Futuro.
Oi Lalitha, adorei o texto. É maravilhoso e instigante... deu vontade de fazer o workshop... nada bruxa, vc hein! hahaha
ResponderExcluirQuanto é o workshop do dia 27 de abril? Bjs Mahayla Saahirah
Oi Mahayla!
ExcluirO workshop no dia 27 de abril é R$170,00 até dia 12 de abril, após essa data sairá a R$190,00, podendo pagar 50% na inscrição e os outros 50% no dia do curso. Para mais detalhes me mande um email! lalitha.bellydance@gmail.com
Beijos