sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher

E chegamos a mais um dia da mulher...

Fui reler o meu post do ano passado nesse dia, e fiquei muito triste ao descobrir que ele ainda é muito válido hoje, um ano depois. Se ele fosse verdadeiro apenas com relação à sociedade e à comunidade da dança do ventre (porque sei que essas coisas não mudam em um ano), eu já estaria satisfeita. Mas, acho que não consegui introduzir aqui no Ventre da Dança tudo o que eu queria naquele último dia 8 de março.

Espero ter mudado pelo menos um pouco o tom dos meus textos, e fico satisfeita que o assunto não tenha morrido, especialmente por conta das traduções que fiz desde então do Kisses from Kairo que tratavam do assunto mulher e violência, que é uma das razões de existir do dia de hoje (a outra consiste na concessão de direitos iguais aos do homem). Mas eu teria ficado mais feliz se eu tivesse conseguido escrever mais sobre o tema, o que eu sei que consegui fazer no meu outro blog (sobre livros).

Então, eu queria aproveitar esse dia para trazer para vocês um filme/livro que eu adoro trabalhar com as minhas alunas: Os Monólogos da Vagina.

Quem estuda comigo há muitos anos já deve ter visto o filme pelo menos duas vezes em aula, e eu não me canso de utilizá-lo e reutilizá-lo, porque as histórias são tão ricas e variadas, que a cada vez que se assiste temos uma nova percepção sobre algum assunto. Esqueçam a peça que foi apresentada há alguns (muitos) anos no Brasil, porque aquilo era apenas uma sombra do texto original, e focava na parte cômica e deixava completamente de lado a discussão séria (não por isso menos engraçada). Talvez a versão que está atualmente em cartaz seja melhor, mas eu ainda não vi. Levando em consideração que o texto ainda é a mesma adaptação do Miguel Falabella (que nada entende do que é ser mulher, por mais que ele tente) eu não levo muita fé.

Para quem curte livros, existe a versão em português da peça escrita pela americana Eve Ensler (o nome dela é perfeito!), que é interessante, mas também deixa a desejar com relação ao filme, e que no momento só se encontra em sebos, ou em pdf aqui.

Mas o filme feito em 2002 com a Eve é tudo de bom, gente! O único defeito dele é que é difícil de encontrar (ainda tem na Americanas.com e no Shoptime)! Mas isso também se entende, afinal Vagina é um assunto que tanto se tenta esconder que até o iTunes andou censurando quando essa palavra foi escolhida como título de um livro da Naomi Wolf (que também trata desse problema crônico de não se falar sobre os genitais femininos). Mas o YouTube existe e lá temos o filme com legendas em português!!!! (coloquei lá no final do post, veja depois de ler tudo, por favor)

Aí eu pergunto a grande questão: por que temos medo da vagina? Por que detestamos tanto assim o seu nome que precisamos arranjar apelidos, e pior, por que esses apelidos são sempre infantis? Por que achamos que ela é tão feia e suja que precisamos depila-la 100%, colocar perfume, e deixa-la mais "bonita" com cirurgias plásticas? O que tudo isso diz de nós? Tanto mulheres quanto homens também.

O que tem de gente (em sua maioria mulheres) pensando sobre essas questões não está no gibi! E confesso que tudo o que já li, vi e ouvi sobre o assunto me assusta. E me deixa muito triste! Fico à beira da depressão quando vejo que vivemos numa sociedade em que apesar de todos nós só existirmos por causa de uma vagina, as pessoas prefiram ignorar a sua existência, ou tratá-la como algo que precisa ser dominado.

E o que isso tem a ver com dança do ventre? TUDO! Porque a dança do ventre nos desperta para o nosso corpo feminino, para as nossas zonas erógenas e para a nossa sexualidade, quer a gente queira admitir ou não. E ela vive cercada de discussões que tratam justamente sobre isso: a dança é considerada vulgar demais? A roupa da Dina é um absurdo? A bailarina está gorda demais para dançar em público? Ou velha demais? O que fazer quando estamos tratando de uma dança cheia de movimentos pélvicos e de quadril numa sociedade em que a mulher só pode se encaixar em duas categorias: santa ou puta? E, claro, tem toda a problemática da mulher no Oriente Médio, que já tratamos diversas vezes no blog (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Enfim, eu queria dedicar esse dia 8 de março à reflexão: até quando vamos precisar de um dia para nos marcar como uma minoria que precisa lutar para garantir seus direitos e ser ouvida? Até quando os corpos femininos estarão sujeitos à ditadura? (da moda, da beleza, do comportamento dito aceitável a uma mulher "direita", e tantas outras restrições) E até quando vamos aceitar ser tratadas como inferiores?


Esse post é dedicado a todas as mulheres que nos fazem pensar! 


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