sexta-feira, 22 de março de 2013

Kisses from Kairo - Ai do Egito

Segunda-feira, 2  de julho de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha   


Eu teria feito esse post na semana passada, mas tenho estado enlouquecidamente ocupada. E peço desculpas com antecedência, porque não vou deixar de falar de tabus. Se você tem algum, não leia.

Sinto como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo. Só que esse pesadelo continua enquanto estou acordada. Islamitas venceram as eleições para a presidência do Egito honestamente. E isso depois de ganharem 70% do (agora dissolvido) parlamento. Sem querer dar uma de chata, mas eu bem que avisei.

Bem antes dessa dita revolução, eu sabia que os fanáticos religiosos eventualmente chegariam ao poder. Era apenas uma questão de tempo. Acho que o fato de ter estudado sobre o Oriente Médio em Harvard é o responsável pela minha previsão política. Mas, sinceramente, qualquer um com meio neurônio podia ter chegado à mesma conclusão. Os sinais estavam muito claros. O Egito estava no ponto certo para a islamização já há algum tempo. Só tínhamos que reparar no número crescente de mulheres usando véu e homens de barba, no analfabetismo, na pobreza e no desemprego pandêmicos para chegar a essa conclusão. Se essa não é a receita perfeita para um governo islâmico, eu não sei qual seria.

Nada disso estaria acontecendo se não fosse pela recém descoberta “democracia” do Egito. Com isso em mente, me sinto com vontade de ser politicamente incorreta. Beirando o limite do ofensivo. Tenho vontade de fazer você reavaliar os seus conceitos mais queridos sobre democracia, direitos humanos, religião, violência, e mais do que tudo, essa imerecidamente chamada de sagrada “revolução”.

E aqui vai...

Fanáticos religiosos com aspirações políticas devem ficar atrás das grades, e não num governo. A razão não é necessariamente que eles tenham cometido crimes (apesar de ser verdade em muitos casos). É porque a ideologia islamita é por si só criminosa. Ao lado do nazismo. Mesmo que seja religiosa, ao invés de racial, o Islamismo ensina uma supremacia que é perigosa para a humanidade. Ele ensina que a forma Islâmica de governar é a única forma de se obter justiça e prosperidade, e que ela deve ser alcançada a qualquer custo. E aqueles que são contra – tanto não-muçulmanos quanto muçulmanos, são infiéis e que devem ser tratados como tal.

Assim como no nazismo, o principal objetivo do Islamismo é a dominação mundial. Atingida não apenas matando-se os infiéis (o equivalente às raças não-arianas no nazismo), mas através da constituição do califado, e é claro, da conversão. É por isso que uma interpretação tão patológica da religião traz riscos para as minorias, os muçulmanos liberais, mulheres, crianças, e os pobres. Realmente, com a exceção da Turquia (que, desculpem, não é islamita de verdade), em todos os lugares onde eles chegaram ao poder, os islamitas começaram a cortar publicamente as cabeças e as mãos das pessoas, apedrejar mulheres que cometem “crimes” sexuais, patrocinar atentados terroristas ao redor do mundo, perseguir minorias religiosas e sexuais, destruir locais considerados patrimônios da humanidade que não sejam Islâmicos. Isso é muito pior do que Mubarak, sem dúvida.

É por isso que precisamos perguntar a nós mesmos: o mundo realmente precisa de um Egito islamita? Além da Arábia Saudita, Irã, Paquistão, Afeganistão, Iraque, Nigéria, e agora Tunísia e Líbia?

Eu acho que não... a não ser que você seja um animal zangado, cabeludo, que odeia mulheres, homofóbico e sádico que gosta de ver os outros sofrerem. Ou uma mulher que sofreu de uma séria lavagem cerebral. Ou então, que você seja um liberal promotor da democracia, que não sabe nada de democracia nem no seu próprio país. :) Dado que você não pertence a nenhuma dessas categorias, eu acho que você vai concordar que é mais sábio e preferível aplicar a justiça contra esses meliantes, do que dar a eles uma outra chance de provar o quão vis eles são.

Espera. Você quer argumentar que a Irmandade Muçulmana é composta por indivíduos bem educados que estão mais interessados em ganhar dinheiro do que em qualquer outra coisa. E daí? Educação e fanatismo religioso não são mutuamente excludentes. Só porque alguém é engenheiro não quer dizer que ele não queira destruir as suas liberdades ou impor castigos corporais.

Falando de educação, eu acho que vale notar que os islamitas são exclusivamente educados em ciências exatas, como física, engenharia ou medicina. Você nunca vai encontrar um fanático religioso com diploma em ciências humanas, como escrita criativa, ciência política, filosofia etc., disciplinas em que a) alguém deveria ter familiaridade antes de governar um país, b) promovem os direitos humanos e são anti-religiosas, com uma boa razão.

Mais importante, antes que se esqueça, é que a Irmandade Muçulmana foi exposta ao processo eleitoral. Eles perceberam que eles precisam parecer mais “moderados” para não assustar os eleitores. Isso se chama mentir. Se você não acredita em mim, é só ver como as posições da Irmandade foram, ah, “evoluindo” conforme foi chegando perto das eleições. Dê uma olhada nas tantas vezes em que eles mentiram sobre as suas intenções, mais notadamente sobre não querer dominar o Parlamento. Ah, e sobre não querer nomear um candidato à presidência.

Eu tenho mais respeito pelos Salafistas “linha dura”. Ao menos eles não mentem. Eles são diretos ao ponto e dizem que eles querem transformar esse lugar numa Arábia do séc.VII (ou uma Arábia moderna, dá no mesmo). Diferentemente de alguns Irmãos mais espertos politicamente, eles são estúpidos o suficiente para nos deixar saber contra o quê estamos lutando.

Por causa do histórico assustador dos islamitas ao redor do mundo, eu apoiei completamente a dissolução que os militares fizeram do Parlamento mês passado. Cara, eu estava até torcendo que eles manipulassem as eleições para que o secular Ahmed Shafiq ganhasse. Isso é tão antidemocrático da minha parte, você deve estar pensando. E você está certo. No Egito, eu não sou democrática. Contrariamente do que eu aprendi nas minhas aulas sobre direitos humanos lá em casa, eu NÃO acredito que todas as pessoas tenham direito a autodeterminação (N.T.: autodeterminação: direito de um grupo de pessoas em determinar se querem fazer parte do estado ou de um movimento), isto é, à democracia. Não quando há uma grande chance de que eles, em sua santa ignorância, coloquem fanáticos no poder.

Porque, veja, eleger um governo é uma grande responsabilidade. É algo que afeta a vida de milhares de pessoas dentro e fora das suas fronteiras. É por isso que não deveria ser cedida para patetas e idiotas. No Egito, onde mais da metade da população é analfabeta e quase todo o mundo é religioso, a autodeterminação leva os islamitas a chegar ao poder. Por que deveríamos permitir que uma população, na sua maioria sem educação, coloque esses criminosos no poder? Por que eles querem? Diabéticos querem açúcar e alcoólatras querem álcool, mas isso não significa que seja bom pra eles. Por que deveríamos permitir que uma população, que pode ser facilmente intimidada a votar em candidatos religiosos, possa determinar como o resto de nós deverá levar as nossas vidas? Por que, afinal de contas, é uma democracia, e isso é a coisa mais importante do mundo?

Então talvez seja a hora de acabar com a democracia...

Os liberais egípcios – você sabe, os responsáveis por toda essa bagunça – conseguiram inverter as suas prioridades. Ao invés de lutar por segurança e prosperidade, eles lutaram por democracia. GRANDE erro. Democracia não é o mesmo que essas coisas, nem as garante. Claro, existe uma alta correlação entre elas, mas não necessariamente uma conexão. Estabilidade e prosperidade são objetivos. Democracia é uma forma de atingir esses objetivos. Um processo.

Os liberais cometeram o erro de fazer da democracia o objetivo. Eles não conseguiram perceber que porque é um processo, ela pode trazer uma variedade de resultados. Em sociedades com população alfabetizada, um nível satisfatório de educação, e de secularismo, a democracia traz paz, prosperidade e estabilidade. Mas em sociedades com as chagas do analfabetismo e da religião, a democracia traz fanatismo religioso, conflitos civis, sectarismo, e um monte de outras mazelas que prefiro não mencionar.

Sabendo disso, porque diabos alguém gostaria de apoiar a democracia no Egito?!?

Ah, mas veja bem, a palavra chave aqui é sabendo. Para o detrimento da nação, os liberais egípcios não sabiam disso. Eles não sabem nada sobre democracia, e sabem muito menos ainda sobre a sua própria nação. Eles não sabem o quão profundamente religioso e sem educação é o Egito. Mas, sério, o que mais se poderia esperar? Eles não vivem no Egito, vivem no Facebook. Eles não falam árabe, falam arabinglês. Eles bebem e festejam em casas noturnas de estilo ocidental, e fazem compras no City Stars. Eles freqüentam escolas americanas. Pelo amor de Deus, EU sou mais egípcia do que eles!

Nunca vou me esquecer daquela despedida de solteira onde dancei no mês passado. As meninas que me contrataram eram ricas e super liberadas. Crème de la crème. Entre os pênis e bonecos de homens nus infláveis, tinha muita coisa para se admirar. Mas nada me espantou tanto quanto a garota egípcia que veio falar comigo depois do show e me perguntou em árabe, com um forte sotaque americano, se eu tinha visto a bolsa dela. Vendo o quão ruim era o seu árabe, eu disse a ela que falava inglês. Aliviada, ela começou a falar comigo num inglês impecável. Eu contei para ela que era americana, e não egípcia, mas que trabalhava como bailarina de dança do ventre aqui. Ela me disse que nasceu e foi criada no Egito, e que freqüenta a universidade americana.

A menina era simpática, mas dá para ver como esse tipo de pessoa pode ficar sem contato com a realidade? Dá para perceber o porquê que pessoas que vivem protegidas nos seus ninhos de elite não devem começar revoluções em nome de um povo com quem eles não têm nada em comum?

E se começar essa maldita revolução não fosse o suficiente, esses chamados liberais ainda cometeram outro erro grave: soltaram um monte de islamitas da cadeia. Eles achavam que essa seria uma boa forma de aumentar os seus aliados para intimidar ainda mais o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF em inglês) a abrir mão do poder. Eles também queriam tirar proveito da popularidade da Irmandade Muçulmana.

E foi assim que a revolução egípcia se transformou na revolução iraniana. Foi isso que colocou um ponto final na revolução egípcia e a tornou um pesadelo islamita. Não o SCAF.

Talvez o maior erro dos liberais depois de pedir por democracia tenha sido permitir que esses loucos pudessem se candidatar. Islamitas não são democratas. Eles são teocratas. Eles acreditam na imposição da Shariah, que vai contra as noções modernas dos direitos humanos (e sua legislação). Eles podem estar no jogo da democracia agora, mas o seu objetivo principal não tem nada a ver com democracia. E é por isso que eles deviam ter sido proibidos de participar das eleições em primeiro lugar.

O SCAF percebeu isso, mesmo que um tanto tarde.  Foi por isso que eles dissolveram o parlamento islamita pouco antes das eleições. E é por isso que eles estavam cogitando a possibilidade de entregar a presidência para Shafiq, apesar de, obviamente, isso não ter acontecido. Eles ficaram com medo. Os islamitas ameaçaram se envolver em atos de violência se Morsi não ganhasse as eleições! Na verdade mesmo, eles ficaram tão assustados que eles teriam dado a presidência ao Morsi mesmo que ele não tivesse ganhado, que é o que muita gente diz que aconteceu.

Isso se chama conciliação, e é perigoso. É o que alimentou a megalomania de Hitler, e é o que atualmente está encorajando os islamitas. O exército pode achar que está mantendo a paz dessa forma, mas o que ele não percebe é que está apenas postergando a violência. O derramamento de sangue é inevitável. Chegará um momento em que os fanáticos irão realmente enfurecer ou o exército ou o povo, e as coisas vão ficar feias. Feias de verdade. Nesse momento, já será tarde demais. Os islamitas terão consolidado o seu poder, acumulado muito mais armas, e aumentado os seus números. O Egito vai acabar igual à Síria.

Quanto mais o exército esperar, mais sangrentas as coisas vão ficar quando a merda começar a feder. É por isso que eles deviam ter entregado a presidência a Shafiq, mesmo que as coisas ficassem um pouco violentas. É como um relacionamento não saudável. Você sabe que o melhor pra você é terminar com ele, mas tudo o que você pode fazer é pensar é em quão doloroso será isso. Então, você fica no relacionamento, sem pensar em quão mais doloroso será terminar no futuro, quando vocês dois estiverem ainda mais envolvidos emocionalmente. No caso do Egito, não é a questão do exército e dos islamitas se aproximarem (apesar de que isso poderia acontecer à moda do Paquistão), mas sim dos islamitas ficarem mais apegados ao poder e às armas. É por isso que o exército deveria terminar esse relacionamento AGORA. Teria sido doloroso, mas também teria dado uma boa desculpa para se livrar de uma vez dos islamitas, colocando-os de volta na cadeia, prevenindo futuros desastres.

O que eu acho mais interessante é a reação dos egípcios a tudo isso. Por um lado, tem aqueles que estão voluntariamente e prematuramente se “saudificando”. Nem posso contar quantas mulheres estão agora utilizando roupas ninjas, e quantos homens deixaram suas barbas crescerem nos últimos meses. E agora que Morsi entrou no gabinete, eles estão começando a pressionar. Não tem nem duas semanas que Morsi “ganhou” a presidência, e as pessoas já estão abertamente fazendo pressão para que as mulheres se cubram e ajam de forma mais islâmica.

Por outro lado, tem os egípcios que votaram no Shafiq. A reação deles é muito intrigante. Os mesmos muçulmanos e cristãos que estavam morrendo de medo de uma vitória da Irmandade Muçulmana estão agora me chamando de maluca por pensar que algo ruim vai acontecer. Mas hein?!? Como assim? Como você passa de aterrorizado antes das eleições para totalmente à vontade depois? Por acaso você engoliu o discurso sobre tolerância e inclusão do Morsi? Ele tranquilizou os seus temores tão lógicos? Ou estão todos vocês inconscientemente transformando os seus medos em negação otimista porque seus espíritos cansados não aguentam mais a realidade? Vocês realmente acreditam que podem voltar à Praça Tahrir e se livrar da Irmandade da mesma forma que se livraram de Mubarak? Será que o seu excesso de confiança faraônico levou a melhor? Vocês não percebem que os islamitas têm talento para perdurar? E que a única forma de se livrar deles é fazer outro país como os EUA fisicamente expulsá-los? ...(depois de eles mesmos os terem colocado lá, é claro :D)

Eu não gosto de ficar apontando dedo, mas dessa vez eu vou apontar. E vou começar apontando o meu dedo para os tão chamados “liberais” que colocaram em risco o bem estar de toda uma nação.

Primeiramente, a grande maioria desses tão chamados “liberais” não merecem tal título. Não votar nem em Shafiq nem em Morsi não faz de vocês liberais. Faz de vocês uns idiotas. Apoiar os fanáticos porque eles são a sua única opção contra o “Mubarakismo” não faz de vocês liberais. Faz de vocês uns covardes. Salvar a “revolução” entregando o seu país para nazistas religiosos não faz de vocês liberais. Faz de vocês traidores. E vocês deveriam ser enforcados por causa disso. Mas o mais provável é que vocês façam as suas malas e fujam para a Amériiica, porque não querem deixar a barba crescer ou cobrirem o rosto. E porque vocês não querem se incomodar revidando. Vocês são bons demais para arrumarem a sua própria bagunça. Vocês são crianças mimadas e abastadas que estão acostumadas com os outros fazendo de tudo para vocês.

Segundo, não há revolução. Os “liberais” não começaram uma revolução. Eles apenas copiaram a Tunísia e depuseram o seu presidente. Macaco vê, macaco copia. Na verdade, nem isso eles fizeram. Foi o exército que deu o ultimato a Mubarak. Não porque o exército e o povo estivessem unidos, como no enganoso slogan, mas porque os generais não queriam o filho de Mubarak, Gamal, como o seu comandante. Eles não queriam um filhinho de papai que não tem respeito pelas forças armadas dando ordens para eles. Se o interesse do povo e das forças armadas não tivesse coincidido, esse lugar teria sucumbido a uma guerra civil. Os “liberais” precisam entender isso e parar de se vangloriarem pela queda de Mubarak.

Agora que eu tirei esse peso de mim, gostaria de terminar deixando uma coisa para pensar. Os egípcios parecem sofrer de algum tipo de complexo de inferioridade cultural. A elite copia o Ocidente com suas calças jeans, música Techno e “democracia”, enquanto o povão quer ser como os sauditas, com suas barbas e roupas ninja. Para o meu completo horror, essas duas partes se uniram e criaram um governo democraticamente eleito que vai rapidamente virar Saudita. A parte triste disso tudo é que é desnecessário. O Egito tem uma das culturas mais maravilhosas, lindas e ricas do mundo. Ela não é apelidada de “Um il-dunya”, Mãe do Mundo, sem motivo. Ela tem mais de 7 mil anos de história. Nem o Ocidente nem a Arábia Saudita chegam perto disso. Eu gostaria que os egípcios tivessem orgulho disso. Eu gostaria que eles parassem de procurar inspiração no exterior. No dia em que isso acontecer, aí sim nós poderemos dizer honestamente que houve uma revolução.


~~~~~~~~~~~~~

Esse texto é de autoria exclusiva da Luna do Cairo e o Ventre da Dança não concorda com todas as colocações aqui expostas. O trabalho mostrado aqui é uma tradução direta do texto original.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Show Estrelas do Oriente



Nessa sexta grande festa das alunas do Asmahan!!! Com a participação especial das professoras Lalitha, Nadhirra e Noor Farag! Você não pode perder essa!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher

E chegamos a mais um dia da mulher...

Fui reler o meu post do ano passado nesse dia, e fiquei muito triste ao descobrir que ele ainda é muito válido hoje, um ano depois. Se ele fosse verdadeiro apenas com relação à sociedade e à comunidade da dança do ventre (porque sei que essas coisas não mudam em um ano), eu já estaria satisfeita. Mas, acho que não consegui introduzir aqui no Ventre da Dança tudo o que eu queria naquele último dia 8 de março.

Espero ter mudado pelo menos um pouco o tom dos meus textos, e fico satisfeita que o assunto não tenha morrido, especialmente por conta das traduções que fiz desde então do Kisses from Kairo que tratavam do assunto mulher e violência, que é uma das razões de existir do dia de hoje (a outra consiste na concessão de direitos iguais aos do homem). Mas eu teria ficado mais feliz se eu tivesse conseguido escrever mais sobre o tema, o que eu sei que consegui fazer no meu outro blog (sobre livros).

Então, eu queria aproveitar esse dia para trazer para vocês um filme/livro que eu adoro trabalhar com as minhas alunas: Os Monólogos da Vagina.

Quem estuda comigo há muitos anos já deve ter visto o filme pelo menos duas vezes em aula, e eu não me canso de utilizá-lo e reutilizá-lo, porque as histórias são tão ricas e variadas, que a cada vez que se assiste temos uma nova percepção sobre algum assunto. Esqueçam a peça que foi apresentada há alguns (muitos) anos no Brasil, porque aquilo era apenas uma sombra do texto original, e focava na parte cômica e deixava completamente de lado a discussão séria (não por isso menos engraçada). Talvez a versão que está atualmente em cartaz seja melhor, mas eu ainda não vi. Levando em consideração que o texto ainda é a mesma adaptação do Miguel Falabella (que nada entende do que é ser mulher, por mais que ele tente) eu não levo muita fé.

Para quem curte livros, existe a versão em português da peça escrita pela americana Eve Ensler (o nome dela é perfeito!), que é interessante, mas também deixa a desejar com relação ao filme, e que no momento só se encontra em sebos, ou em pdf aqui.

Mas o filme feito em 2002 com a Eve é tudo de bom, gente! O único defeito dele é que é difícil de encontrar (ainda tem na Americanas.com e no Shoptime)! Mas isso também se entende, afinal Vagina é um assunto que tanto se tenta esconder que até o iTunes andou censurando quando essa palavra foi escolhida como título de um livro da Naomi Wolf (que também trata desse problema crônico de não se falar sobre os genitais femininos). Mas o YouTube existe e lá temos o filme com legendas em português!!!! (coloquei lá no final do post, veja depois de ler tudo, por favor)

Aí eu pergunto a grande questão: por que temos medo da vagina? Por que detestamos tanto assim o seu nome que precisamos arranjar apelidos, e pior, por que esses apelidos são sempre infantis? Por que achamos que ela é tão feia e suja que precisamos depila-la 100%, colocar perfume, e deixa-la mais "bonita" com cirurgias plásticas? O que tudo isso diz de nós? Tanto mulheres quanto homens também.

O que tem de gente (em sua maioria mulheres) pensando sobre essas questões não está no gibi! E confesso que tudo o que já li, vi e ouvi sobre o assunto me assusta. E me deixa muito triste! Fico à beira da depressão quando vejo que vivemos numa sociedade em que apesar de todos nós só existirmos por causa de uma vagina, as pessoas prefiram ignorar a sua existência, ou tratá-la como algo que precisa ser dominado.

E o que isso tem a ver com dança do ventre? TUDO! Porque a dança do ventre nos desperta para o nosso corpo feminino, para as nossas zonas erógenas e para a nossa sexualidade, quer a gente queira admitir ou não. E ela vive cercada de discussões que tratam justamente sobre isso: a dança é considerada vulgar demais? A roupa da Dina é um absurdo? A bailarina está gorda demais para dançar em público? Ou velha demais? O que fazer quando estamos tratando de uma dança cheia de movimentos pélvicos e de quadril numa sociedade em que a mulher só pode se encaixar em duas categorias: santa ou puta? E, claro, tem toda a problemática da mulher no Oriente Médio, que já tratamos diversas vezes no blog (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Enfim, eu queria dedicar esse dia 8 de março à reflexão: até quando vamos precisar de um dia para nos marcar como uma minoria que precisa lutar para garantir seus direitos e ser ouvida? Até quando os corpos femininos estarão sujeitos à ditadura? (da moda, da beleza, do comportamento dito aceitável a uma mulher "direita", e tantas outras restrições) E até quando vamos aceitar ser tratadas como inferiores?


Esse post é dedicado a todas as mulheres que nos fazem pensar! 


Gostou do assunto? Links sugeridos:
Blogueiras Feministas
Biscate Social Club
Mulher Alternativa
Avec Beauvoir
Cem homens

Sugestões de leitura sobre o dia de hoje:
Dia da Mulher não é nada disso
Dia de Princesa
Sugestões de Livros Feministas da Lola
Dia Internacional da Mulher
No dia da mulher desejo uma sociedade menos idiota



terça-feira, 5 de março de 2013

Livro (e filme) do mês: Persépolis


Esse mês vamos falar de quadrinhos! Para quem tem preconceito segue uma dica: reveja a sua opinião, porque temos muitas Graphic Novels interessantíssimas com a temática árabe ou oriental para descobrir!

E vamos conhecer hoje o trabalho de uma iraniana atualmente radicada na França: Marjane Satrapi! De origem persa e muçulmana, Marjane nos conta nessa auto-biografia como foi viver ainda pequena a revolução do Irã (que também pode ser vista no Oscar desse ano, com o filme "Argo") e todas as mudanças sociais que se seguiram. Mais tarde Marjane vai viver sozinha na Europa, e quando volta ao Irã ela sente todos os contrastes entre o Oriente e o Ocidente, falando de um tema muito caro a todos aqueles que vivem no exterior: a sensação de não pertencer mais a lugar nenhum. De quebra, o livro ainda mostra o lado iraniano da guerra Irã-Iraque.

Ilustrado pela própria autora, Persépolis é de uma delicadeza e de profundidade incríveis, apesar dos desenhos serem simples, o traço da autora é muito expressivo, e a história que ela tem para contar é simplesmente cativante! E nos ajuda a entender muito melhor esse país que é retratado de forma tão deturpada na mídia.

Para melhorar ainda mais, Persépolis virou filme! No caso uma animação que estreou em 2007, levou o Prêmio do Juri no Festival de Cannes e de quebra concorreu ao Oscar naquele ano de animação. E realmente o filme merecia!

Por sorte o YouTube existe, e portanto segue aqui o vídeo disponível com legendas em português:

Vale a pena tanto assistir quanto ler o livro! Não se limite a apenas uma forma :-)

E boa leitura!!!

Quem quiser ver minha outra resenha sobre essa Graphic Novel pode ler aqui.